Fet e Dutch escrita por Van Vet


Capítulo 4
Voltando




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Inicialmente o doutor Ephraim Goodweather estava bêbedo demais para conseguir fórmulas frases com o mínimo de coerência. Fet carregou-o pelo braço, colocou-o debaixo do chuveiro e ligou a ducha na temperatura gelada para acabar com qualquer vestígio da bebedeira.

— Merda...! — Eph xingou, engolindo água.

— Coloque a cabeça debaixo d’água senão esse porre não passará. — Fet instruiu observando-o de longe.

Eph aceitou a sugestão e ficou um bom tempo deixando a água cair em sua nuca. Ao encostar o corpo na parede novamente seu rosto estava mais alerta, embora devastado.

— Onde estão Nora e Zack, hã? — Fet abaixou a tampa do vaso sanitário e sentou-se próximo ao Doutor.

— Mortos.

Ele repetiu sem vestígios de delírio.

— Como isso aconteceu? — perguntou o outro atônito.

Ephraim narrou passo a passo, desde a saída do trio de Red Hook até o desfecho de Nora Martinez na linha férrea. Tudo foi amargamente detalhado, motivado por um ódio que só alguém que perdera tanto nessa guerra quanto Eph, poderia narrar.

Somente o barulho do chuveiro ligado permaneceu após a conclusão dos fatos. Isso e a tristeza que invadiu Fet pela descoberta das baixas. A Dra. Martinez era uma combatente de primeira linha. Corajosa e valorosa. Valorosa até seu último suspiro. Nem deixou para o doutor a horrível obrigação de acabar com sua vida após a infecção. E Zack... ele havia aprendido a gostar do amargurado garoto...

— Seu filho pode estar vivo.

— Não pretendo nutrir esperanças.

— Então talvez você não seja o pai que ele mereça, afinal. — respondeu enfático.

Eph olhou-o exasperado.

— O que você sabe sobre relações entre pais e filhos, seu ucraniano de merda?

Fet ignorou o xinagamento em virtude da dor do outro, entretanto continuou:

— Sei que Kelly mesmo morta e transformada nessas criaturas imundas deu seu jeito de lutar pelo filho. Não importa se isso aconteceu pela vontade do Mestre, a determinação que vi nela quando nos encontramos não era apenas produto de uma marionete.

O olhar que o Doutor lhe devolveu mostrou que sua mensagem chegou como ele desejava.

— Encontraram o Lumen?

— Hã... Aí está o velho Doc. Encontramos mas as coisas não saíram como planejado.

— Como sempre. Onde está Setrakian?

— Na nossa nova muralha. — Fet levantou e caminhou para a porta — Vamos, termine seu banho, pegue seus pertences e me siga. Red Hook não é um lugar para boas lembranças, muito menos segura o suficiente para nos concentramos no nosso plano de resgatar Zack!

***

Dutch não pretendia deixar seu apartamento, portanto aquela seria apenas uma inocente visita para saber se todos estavam bem. Se Fet estava bem. Ela percorreu as várias quadras que distanciavam seu lar do dele decidindo-se se contava ou não que Nikki partira. Essa seria a primeira pergunta de Fet, certamente. “Onde está Nikki? Tudo bem entre vocês?” Coisas assim certamente sairiam da boca dele. Ele havia saído do jogo espontaneamente, mostrando que a amava muito assim, mas a sondaria se tivesse a oportunidade. Não era justo confundi-lo contando a verdade. Ficaria parecendo a segunda escolha desesperada de Dutch e ela não gostaria que ele pensasse desse modo de si próprio.

Á esquina de Red Hook ficou decidido dentro de sua cabeça que ela mentiria sobre o afastamento permanecente da ex-namorada. Melhor... por enquanto.

Logo que viu o grande cadeado transpassado na reforçada entrada de ferro, Dutch desanimou. Nunca havia ninguém lá dentro quando o cadeado estava a mostra. Contudo, bateu algumas vezes na porta e nas janelas do térreo para se certificar. Ninguém veio em resposta. Sem querer desistir da viagem ela sentou-se na calçada e aguardou... Cinco pessoas moravam ali dentro. A qualquer momento uma delas daria as caras.

À tarde passou rapidamente e com o sol prestes a mergulhar nas sombras, as criaturas noturnas logo estariam se banqueteando pelas ruas. Dutch não trouxera granadas de prata, nem munição suficiente para permanecer na vista e muito menos para retornar para seu apartamento. Também continuava preocupada que ninguém aparecia e queria permanecer na espreita.

Imaginando como passaria a noite por ali, contornou o prédio de Fet da esquerda para direita e então viu onde poderia ficar menos vulnerável. Escadas enferrujadas, mas resistentes suficiente para aguentar seu peso, a levariam para o teclado. A hacker colocou a bolsa nas costas e escalou.

Uma vez lá em cima, observou a claraboia gradeada do apartamento, vendo apenas sombras do lado de dentro. Ela temeu que o abandono a Red Hook não fosse intencional e seus tremores voltaram com força total. A lembrança imediata da presença de Fet a assolou. Recordou a noite em que, em um outro telhado, o do velho Setrakian, disse como havia se especializado em relacionamentos amorosos destrutivos.


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