Reinos de Neve e Areia escrita por Gerome Séchan


Capítulo 1
Prologo: Monstro


Notas iniciais do capítulo

Elsa se recorda da infância e de um dos muitos momentos passados com a mãe, no qual ela conta à filha tudo sobre heróis e vilões, príncipes e monstros.



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Quando criança, os pais de Elsa lhe contavam muitas lendas sobre seres mágicos que protegiam em segredo todas as crianças do mundo. Cada um possuía uma aparência diferente e se aproximava de cada criança de seu jeito particular. Isso acontecia porque nenhum perigo era igual ao outro, e, portanto, cada guardião era agraciado com certos poderes e atributos para poder cumprir bem sua função.

A menina crescera ouvindo histórias do Papai Noel, do Coelho da Páscoa, da Fada do Dente, e também do Bicho Papão, e de como ele se escondia debaixo da cama de crianças más e puxava-as pelo pé de noite, arrastando-as consigo para a dimensão dos pesadelos através do armário.

Deitada na cama durante uma das muitas noites em que sua mãe se sentava em seu colchão para contar-lhe histórias de ninar, Elsa ouvia as lendas com o fascínio típico das crianças por tudo que era fantástico e que excitava sua fértil imaginação.

- Não tem ninguém para lutar contra o Bicho Papão? – a menina de dois anos perguntou. Seus pequenos olhos azuis fitavam a mãe com ávido interesse.

A mãe sorriu. Há muito tempo ela havia descoberto que a filha era impressionável. Um dos traços que ela mais amava em Elsa.

- Sim. Se tem um vilão, então também tem de ter um herói. Assim o é com todas as boas histórias.

A mulher contou à filha da existência de um guardião que protegia os sonhos das crianças, chamado Sandman, ou o Homem da Areia. Ele recebia esse nome por toda noite visitar as pessoas e soprar a areia dos sonhos nos olhos dos adormecidos para levá-los para passear no Sonhar, um vasto reino imaginário que Sandman governava sozinho.

- Por que Sandman não acaba com o Bicho Papão? Ele não tem poder para isso?

- Eu não sei, minha filha. Talvez ele não saiba como derrotar o monstro. Ou talvez ele acredite que as crianças devam crescer e aprender a enfrentar seus medos. Assim, elas acabam derrotando o Bicho Papão e muitos outros vilões sozinhas, sem precisar de ajuda.

A menina ergueu o rostinho emoldurado por duas tranças loiras, pensando na figura do monstro e em como a criatura poderia ter surgido.

- Ele sempre foi feio e mau?

- Ah, ele nem sempre foi o Bicho Papão. –respondeu a mãe, acariciando os cabelos da filha - Diz a lenda que um dia ele foi um príncipe, belo e justo e adorado por seus súditos. Mas como acontece com todos os vilões, seus atos de maldade distorceram sua aparência e refletiram o que ele era de verdade em seu íntimo. Assim, ele virou uma criatura cheia de rancor e malícia, como há tantas nesse mundo. –ela disse, pensativa.

- Por que ele ficou mau?

- Ganância. Poder. Todas as coisas que fazem os homens perderem a alma e deixarem de acreditar no bem.

- Todo mundo sente isso? Então... eu também posso sentir essas coisas?

A mãe se virou para a filha, e a menina sentiu que ela estava prestes a lhe dizer algo importante. Uma das lições de mãe e filha que Elsa adorava ter.

- Elsa, me escute. Só porque você pode sentir o lado negro dentro de você, não quer dizer que ele possa te dominar. Todo mundo é feito de luz e trevas. Ninguém é totalmente bonzinho ou malvado.

A menina insistiu em saber por que então havia pessoas separadas entre boas e más. A mãe se viu obrigada a pensar um pouco para responder e finalmente explicou à filha que algumas pessoas eram tão solitárias, abandonadas por aqueles que deveriam amá-las e protegê-las que elas não tinham mais ninguém que fizesse seu lado bom aflorar e lhes desse forças para resistir ao mal. Então, elas seguiam vida afora acreditando que eram pessoas ruins e que não eram merecedoras nem do amor de outras, nem de seu perdão.

- Foi isso que aconteceu com o príncipe dos pesadelos?

- Acho que foi, meu amor.

Elsa baixou a cabeça, desapontada.

- Que história triste.

- Nem todo mundo tem um final feliz, Elsa. –a mãe disse, beijando a filha na testa - Você vai descobrir essa verdade quando ficar adulta.

Anos depois, Elsa se lembraria daquela conversa e da ironia de como as palavras da mãe pareciam contar a sua própria história de vida. Pois hoje, já crescida e tendo de governar um reino sozinha, ela não tinha dúvidas de que, se não fosse pelo amor de sua irmã Anna, ela teria perdido seu final feliz para sempre.

Elsa foi até a sacada do quarto, admirando os lírios de neve que ela esculpiu tão logo a primeira geada do inverno se precipitou. No passado, Elsa usara a neve muitas vezes para entreter a irmã caçula durante a ausência dos pais. Não era incomum o rei e a rainha passarem longas semanas fora, resolvendo assuntos de política com emissários de reinos distantes. Mas não importava o quanto Anna acreditasse na bondade inata da irmã, a população de Arendelle sempre a veria como seus pais a viram no dia do acidente com Anna e que ela nunca foi capaz de esquecer: com olhares assustados e cheios de temor pelo que os poderes da filha haviam transformado a menina...

Em um monstro.


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Notas finais do capítulo

-A fic está no comecinho e os caps. serão postados conforme vou trabalhando as ideias.
—No 2º cap, um certo guardião do inverno faz sua aparição.
—Sandman é um quadrinho adulto. Porém, como Frozen e AOdG são universos juvenis, vou deixar de fora boa parte do grotesco apresentado na obra de Gaiman.
—A fic não será um trabalho infantil, mas não conterá elementos como estupro, drogas e outros que comumente aparecem no quadrinho.



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