Fanfiction escrita por Tsumikisan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem



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Quando eu pensei que a situação não poderia piorar, aconteceu. É sério, parece que eu atraio todos os desastres desse mundo, como um imã para catástrofes sociais. Eu deveria ser proibida de viver em sociedade. Isso até seria bom para mim, por que eu ficaria menos tempo fazendo nada por ai e mais tempo escrevendo para as minhas historias, mas isso não vem ao caso.

O problema é que, na manhã daquele mesmo dia, eu não havia dado três pulinhos ao acordar. Isso é o que a personagem da minha historia, a Lily, faz sempre. E quando ela esquece, tudo no dia dela da errado, exatamente como no meu. Mas eu estava tão ansiosa que simplesmente não consegui me lembrar do ritual diário. Aquele seria o meu primeiro dia na Faculdade Wireless Fidelity, ou WiFi para os alunos. E depois de tanto sonhar eu finalmente era uma das alunas! Era o suficiente para deixar qualquer um nervoso a ponto de se esquecer da coisa mais importante que definiria o seu dia inteiro. E desde o momento fatídico em que eu não dei os três pulinhos, as coisas saíram de orbita.

Primeiro eu estava escovando os dentes quando uma parte do meu aparelho soltou. Se você, como eu, tem a infelicidade de usar essa coisa, sabe do que estou falando. O metal que liga todo o utensílio simplesmente pula para fora e começa a dilacerar sua bochecha como se estivesse fatiando um filé mignon. Não é nem um pouco legal. E o pior é que quando isso acontece, e com uma frequência maior do que eu gostaria, acabo começando a falar cuspindo até conseguir voltar a parte que soltou para o lugar. Não me importo muito, mas aquele ia ser meu primeiro dia na faculdade! Não poderia causar uma má impressão nas pessoas já enchendo a cara delas de perdigotos na primeira conversa. Tentei arrumar o aparelho sozinha, o que me custou um bom tempo. Quando finalmente consegui, me assustei com o horário e peguei o primeiro suéter que vi em cima da cama, torcendo para que fosse aquele que eu havia separado na noite anterior, coloquei uma saia e desci as escadas apressada. Por precaução minhas coisas já estavam na mala dentro do carro desde a noite anterior, então tudo que precisei fazer foi dar um beijo nos meus pais e prometer que escreveria, ligaria, mandaria sinais de fumaça, etc. Essas coisas de pais.

Nem tive tempo de me despedir da minha irmã mais nova. Apenas pulei dentro do meu carro, que eu ganhei ao completar dezessete anos, e fui o mais rápido possível até o campus. E com o mais rápido possível, quero dizer, dentro dos limites de velocidade aceitáveis, por que como já disse, sou propensa a acidentes.

A WiFi fica a uma hora de viagem da minha pequena cidadezinha. É a maior faculdade nos arredores e atrai todo tipo de pessoas, procurando estudar todo tipo de matéria. Minha irmã mais velha estudou lá antes de mim e é o orgulho da família. Agora é minha vez de provar meu valor. Acho que é algo de família mesmo, já que acabei optando pelo mesmo curso que ela, Escrita Criativa. É arriscado, pois tudo que eu fizer, vão comparar com o que minha irmã fez, e se estiver abaixo dos padrões dela, eu serei motivo de risadas. Escolhi morar no campus exatamente para não ter que aguentar ela e meus pais se intrometendo em todos os assuntos da faculdade. Afinal, com dezoito anos, sei que posso me virar sozinha. Eu não irei falhar.

Estacionei na entrada principal do campus, já ouvindo o primeiro sinal. Eu havia perdido a palestra de boas vindas aos alunos, mas não era exatamente algo importante. Várias pessoas saiam do auditório em pequenos e grandes grupos, seguindo naquela direção. Em alguns minutos, a secretaria estaria lotada de gente perguntando sobre seus quadros de horários e procurando as chaves de seus dormitórios. Tentei não prestar atenção nas pessoas ao meu redor, mas quando se é uma escritora, isso é algo inevitável. Meus olhos eram atraídos como imãs para os diferentes tipos que tinha ali, todos possíveis futuros personagens, prontos para serem moldados. Sorri internamente, já lamentando por não ter papel e caneta ali para anotar uma ideia de plot que estava surgindo. Uma pena.

Enquanto caminhava para o prédio grande a minha frente, me deixei levar pelas conversas ao redor. Dois garotos próximos discutiam o lançamento de algum jogo e um deles afirmava que só compraria durante a promoção de natal. O cara que estava na minha frente usava fones de ouvido bem grandes que pareciam cobrir toda a sua cabeça, mas ele não dava a mínima, dançando despreocupadamente enquanto andava. Bem a minha direita, havia uma garota de estatura média, magra, de cabelo curto e azul. Me interessei especialmente por ela, já que um dos meus sonhos era ter o cabelo naquele tom, até ouvi-la falar. A garota tinha uma voz que lembrava o piar de um passarinho, mas infelizmente não tinha nada de melodioso nisso:

— Cara! #Partiu aula! Não sabia que aqui era tãooooo grande. Isso vai ser IN-SA-NO! Espero encontrar a @Face logo, ela disse que estaria aqui!

Sim, ela disse isso com as arrobas e tudo. Pode parecer estranho no começo, mas conforme a historia for fluindo, você vai se acostumar.

— Exatamente cento e quarenta caracteres, Twi. – A garota ao lado dela disse, rindo. – Como você faz isso? É um dom.

—É só uma mania minha, cara. E você precisa parar de responder as suas próprias perguntas, Ask, é esquisito! Temos que causar boa impressão! – Twi respondeu. Uma contagem rápida me informou que novamente haviam sido cento e quarenta caracteres, incluindo os espaços.

Pensei em me aproximar delas para tentar fazer amizade, mas só pensei mesmo. Apesar do que minha escrita sugere, sou muito tímida. Quando converso com meus leitores, é tudo muito mais fácil, pois tem uma tela de computador nos separando. De qualquer forma, foi uma boa idéia não me aproximar, pois segundos depois, ouvi Ask dizer:

— Ah fala sério, poderíamos estar melhor? Não, não poderíamos. E mais, vai dizer que tem alguém causando uma pior má impressão do que aquela ali? – Senti o peso do olhar dela e de Twi em mim, mas me mantive andando em frente fingindo que não ouvia. Com o canto do olho, vi Ask apontando para o meu suéter e respondendo a própria pergunta. – Não, não tem.

Olhei para baixo e fiquei instantaneamente vermelha. Eu havia me enganado ao trocar de roupa pela manhã e ao invés de pegar o lindo suéter rosa que eu tinha separado, peguei um da pilha de roupas que deveria ter dobrado antes de sair de casa. Infelizmente, era um dos suéteres ridículos tricotados pela minha irmã com o que deveriam ser os membros de alguma banda. Parecia mais uma salsicha deformada com cabelo, mas é claro que ninguém diria isso a ela. E agora eu estava usando aquela coisa horrível em plena luz do dia. Novamente, tudo por causa dos três pulinhos não dados.

Apressei o passo até enfim chegar à secretaria. O ar ali dentro era frio e tinha cheiro de café e papel recém-saído da impressora. Alguns alunos já vagavam ao redor, segurando pastas e folhas com seus dados. Me aproximei da secretaria, respirando fundo e tentando ao maximo ignorar a atrocidade que eu usava. Ela sorriu para mim com doçura, o que me acalmou um pouco.

—Olá. – disse. Ela usava um óculos de armação quadrada e mantinha o cabelo castanho escuro preso em um coque. Um lápis descansava em sua orelha, mas ela parecia ter esquecido que ele estava ali. – Me chamo Yahoo. Você pode vir até mim sempre que tiver alguma duvida e eu terei as respostas.

Ela deu uma piscadela para mim. Sorri, me esquecendo de toda a preocupação acumulada até então. Yahoo parecia saber exatamente com o que estava lidando.

— Hã... Meu nome é Nyah. Nyah Fanfiction. Eu gostaria de saber o numero do meu dormitório e, se possível, meus horários também.

Yahoo não perdeu tempo. Seus dedos iam rápido pelo computador, digitando furiosamente. Nem eu, em todos os meus anos de escritora, digitava tão rápido. Ela só teve que parar um milésimo de segundo para me perguntar:

— Fanfiction? Você não seria a irmã da Net, seria?

— Eu mesma. – dei um sorriso amarelo, mas ela não percebeu, apenas voltou a digitar.

— Sentimos falta dela. – Comentou. – Bem, aqui está. Você está no quarto 413 do dormitório A, tem um mapa ai que pode te guiar. Seu quadro de horários é esse aqui. Se precisar de ajuda, é só pedir a alguém com uma faixa azul no braço. Bem vinda a Wifi, querida.

Ela me entregou um monte de folhas e sorriu novamente, já chamando pelo próximo aluno. Tentei me organizar o melhor que pude sem deixar tudo cair e segui em direção do meu carro, pela primeira vez grata ao meu atraso, já que todos pelos quais eu passava pareciam aborrecidos por terem ficado uma hora assistindo a uma palestra chata. Talvez meu dia não fosse ser um fiasco completo, no final das contas.

— Ei! Olhe por onde anda!

Me assustei com o comentário, já que normalmente isso acontece quando eu trombo com alguém, o que é bem frequente, mas dessa vez eu não tinha feito nada. Ou foi o que pensei, pois, ao olhar ao redor, notei que em minha distração passei bem na frente de um garoto que tentava gravar a discussão de outros dois. Ele agora olhava para a câmera com as sobrancelhas franzidas, fazendo um muxoxo de irritação.

— Ótimo. Você passou bem na parte interessante.

— Hã... Desculpe? – indaguei, com uma risada nervosa.

— Desculpas não vão me render um milhão de views, garota. – Ele ergueu os olhos da câmera e me analisou. – Quem é você afinal?

Haviam olheiras levemente arroxeadas ao redor dos olhos dele, mas isso apenas completava o charme que aquele olhar castanho claro, quase alaranjado, profundo tinha. Fiquei instantaneamente vermelha quando aqueles olhos encontraram os meus, como se eles pudessem ler a minha alma. Seu cabelo era preto e ia até a nuca, escondido por uma touca vermelha. Ele era uns bons centímetros mais alto que eu, mas no momento estava curvado sobre a câmera para poder ver sem que o sol do meio dia atrapalhasse.

— E então? – ele insistiu, baixando a câmera.

Percebi que havia me perdido novamente, pensando na descrição dele. Droga, eu sempre acabo fazendo isso. Balancei a cabeça e me desculpei, novamente:

— M-me chamo Nyah. Sou nova aqui e...

— Ah, jura? – ele revirou os olhos, me interrompendo. – Então vá andando, ou você quer estragar mais um vídeo?

— Eu...

— Foi uma pergunta retórica. Você deve saber o que é isso... – ele colocou a mão nas minhas folhas para dar uma lida por cima delas. – Escrita Criativa? Sério?

Abaixei a cabeça, puxando as folhas para mais perto de mim. O garoto riu sarcasticamente, cruzando os braços.

— Eu deveria saber. Com esse cabelo vermelho e tudo, parece bem com as outras pessoas de lá. Bem, eu não vou te atrapalhar, é melhor ir encontrar seu dormitório, caloura.

Ele deu dois passos para trás e ligou a câmera novamente, apontando para todos os ângulos possíveis, em busca de algo para filmar. Suspirei e voltei a andar, meu carro estando cada vez mais próxima. Aquele realmente não havia sido um dia de boas impressões. Será que todos na WiFi eram daquele jeito? Net não dissera nada sobre isso. Entrei no carro e joguei meus documentos no banco do passageiro, respirando fundo e encostando a cabeça na janela. O primeiro dia não havia nem acabado e eu já queria ligar para os meus pais.

Fechei os olhos. Não, eu não podia desistir tão facilmente. Aquele cara obviamente não estava na minha sala e muito menos as meninas que haviam me julgado mais cedo. Talvez meus colegas de curso fossem diferentes, como eu. E ainda tinha minha colega de quarto! Nós poderíamos ficar acordadas até tarde fazendo maratonas de filmes e comendo pipoca, falar de garotos e todas essas coisas que garotas fazem! E ela poderia ler minhas historias e me dar opiniões como uma leitora comum, não como meus pais ou minhas irmãs faziam. Eu já estava apostando que íamos nos dar super bem. E amanha eu não iria esquecer os três pulinhos!

Coloquei a chave na ignição e dei partida, dirigindo com uma nova confiança. Ao manobrar para sair do estacionamento, passei perto do garoto dos olhos castanhos. Ele me notou e levantou o polegar da mão que não segurava a câmera positivamente para mim. Pega de surpresa, meu coração bateu um pouco mais rápido e eu sorri para ele. Me passou pela cabeça que nem havia perguntado o nome dele.

Peguei o mapa que Yahoo havia me dado e o analisei. O meu dormitório era um dos primeiros do campus, então não seria muito difícil de encontrar. Então decidi explorar um pouco o lugar, não que eu já não tivesse feito isso antes, mas a primeira vez havia sido junto com a Net, e ela estava irritada e queria ir logo para o dormitório dela. A segunda vez fora três meses antes, com meus pais, mas tudo parece novo quando se esta sozinha. Passei em uma lanchonete e comprei meu almoço. A atendente devia ter a minha idade, o que não seria uma surpresa, já que alguns alunos poderiam trabalhar ali para se sustentarem. Como não era o meu caso, apenas peguei meu lanche e dirigi com calma pela longa rua principal.

Parei meia hora mais tarde em frente ao prédio com uma grande letra A na frente. Com uma batata frita na boca, peguei minhas bolsas e minha mala, tentando equilibrar tudo em meus braços para não ter que fazer uma segunda viagem. Passei pela portaria com dificuldade. Estava parcialmente vazia, além de mim só tinha um cara atrás do balcão da recepção que nem se ofereceu para me ajudar, pois estava muito concentrado em um videogame portátil. Ele parecia não lavar o cabelo, nem a blusa por sinal, a dias. Suspirei e continuei em direção ao elevador.

— Está estragado. – O cara do balcão informou, sem nem olhar para mim.

Suspirei. Deveria saber que não seria tão fácil. Ajeitei as coisas e fui em direção a escada, que parecia ser imensa. Pigarreei e olhei novamente para a recepção mas, novamente, o jogo parecia muito mais interessante que eu.

— Você poderia me ajudar, por favor? – perguntei, tentando soar desesperada.

Ele ergueu os olhos surpresos do jogo dele por um segundo, apenas para constar que eu ainda estava ali. Depois voltou para a tela, manejando rápido os analógicos do aparelho.

— Estou no meio de uma missão difícil aqui. Mas se você trocar três turnos comigo, trato feito.

— Três turnos? – indaguei, confusa.

— É. Três turnos na recepção e tal. – ele ergueu os olhos novamente e deu de ombros. – Ah, você é caloura. O negocio é o seguinte, toda semana uma pessoa diferente fica na recepção cuidando das coisas para ganhar crédito extra nas lojas ao redor da universidade.

Eu tinha lido sobre isso também. Era mais ou menos o mesmo esquema que ocorria na lanchonete, mas eu não precisava daquele crédito extra, por isso nem havia me inscrito. Basicamente, o que o cara estava me pedindo era para ganhar dinheiro por ele sem receber nada em troca além de ajuda para subir as escadas.

Ele deve ter notado com o canto dos olhos a minha cara de descrença, por isso apertou um botão do jogo e o guardou em uma gaveta. Espreguiçou-se e levantou da cadeira com um rangido alto que eu não soube dizer se era da própria cadeira ou dos ossos dele.

— Mas como eu sou um cara legal, vou te ajudar por hoje de graça.

— Obrigada. – disse, aliviada. – Me chamo Nyah. E você?

— Steam, muito prazer e seja bem vinda. – ele sorriu e pegou duas das minhas bolsas. – Vamos?

Como eu havia previsto, a viagem até o quarto 413 não era a mais fácil. Steam suava já no primeiro lance de degraus. Era cinco centímetros mais baixo que eu e claramente acima do peso. Reparei que ele tinha cheiro de batinhas fritas e Milk shake, mas não disse nada. Durante toda a trajetória em que ele não estava respirando fundo para recuperar o fôlego, conversamos sobre jogos e os últimos lançamentos. Alguns eu conhecia por já ter lido historias com os personagens, mas ao que deu a entender, Steam não gostava de nenhuma dessas historias em que a personagem principal de Tomb Raider não aparecesse sem roupas.

Finalmente chegamos ao local. Steam parou para respirar ruidosamente, encostado na parede. Coloquei a mala no chão e estendi a mão para agradecê-lo. Vendo seu estado, entendi por que cobrava tanto para ajudar alguém a subir as escadas.

— A... Até a próxima então. – Ele disse, ofegante.

Esperei até que ele, desanimadoramente, descesse as escadas e estivesse a alguns degraus de distancia para pegar a chave da porta. Na semana anterior eu a tinha decorado com uma capinha feita por eu mesma com o rosto dos meus dois personagens favoritos, que por acaso, também era o meu OTP que nunca iria dar certo. Coloquei ela na fechadura e constatei que não seria necessário, pois a porta já estava aberta.

Foi nessa hora que eu percebi que tudo que não poderia dar errado no meu dia, acabou dando.

Assim que entrei, dei de cara com um celular de ultima geração, com uma capinha que o deixava com o dobro do tamanho. Ele estava sendo sustentado por um pau-de-selfie rosa e na outra ponta havia uma garota loira, se debruçando um pouco para o decote ficar a mostra e fazendo um biquinho para tirar a foto.


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