Passaram-se alguns dias, e estava no dia de ir ao curso. Havia terminado aquele curso que fazia na época que Gil também fazia, mas gostava de me manter atualizada, e como cliente fiel sempre tinha bons descontos ali.

Este curso ficava em um prédio comercial, em uma rua bem movimentada. Isto me dava um ar de segurança, exceto pelo elevador. Quando este elevador não estava quebrado? Poderia contar nos dedos as vezes que consegui usá-lo, porém confesso que depois de ficar presa duas horas nele, não o uso mais mesmo que funcione.

“Escadas novamente”, pensei.

Sim, era do tipo sedentária. Eram apenas quatro andares, mas para mim parecia quarenta. O terceiro andar era o pior de todos, fazia anos que estava desativado e nunca soube o motivo, por isso passava por ele rapidamente. Porém, algo me travou.

– Gil? – Me assustei ao vê-lo ali, não só por ser ele, mas por que sempre tive medo de alguém se esconder naquele andar. Dos males o menor. Ele me segurou pelos braços. – O que está fazendo aqui? – Meu coração estava disparado, não apenas pelo susto, mas pelo seu toque.

Sara, como podia render-se assim? Não o valia a pena. Pensei comigo mesma e suspirei fitando-o.

– Sara, que história é essa dos gêmeos? Por que inventou tudo isso? Queria me incomodar? – Ele gritava de modo autoritário, talvez até um pouco agressivo, me condenava em suas palavras e suas mãos seguraram meu braço com mais força que ele se deu conta.

Puxei meu braço. Ele não tinha o direito de apertá-lo. Tinha perdido esse direito a mais de três anos.

– E quem te falou que não é verdade? – Sorri maliciosamente, sabia que levaria isto até o fim.

– Então você realmente tem um filho? – Ele olhou para baixo, talvez decepcionado. Sabia que se uma criança existisse não era dele. Pude perceber essa decepção, confesso que me surgiu um ponto de esperança.

– Dois. – Eu mantive meu ar vitorioso, meu sorriso nos lábios e meu olhar malicioso. – Mas veio aqui por quê? Queria saber se os gêmeos são seus? Bem, deve saber que não. – Eu sabia que não deveria me divertir com isto, mas estava, estava gostando disso, era como se por um momento me vingasse por tudo que já havia passado por conta dele e sua família.

– É que... – Ele baixou a cabeça, dando uma pausa. – Sei lá. – Ele se afastou de mim, estava submisso. Meu coração se quebrou por dentro, mas não podia parar, e nem conseguiria.

– Olha, sua namorada não irá gostar nada de ver você perto da sua ex, então, por favor, me deixe ir. Vou me atrasar para a aula. – Tentei contorna-lo para poder chegar às escadas.

– Você sabe que eu não tenho namorada Sar. – Sorri inevitavelmente ao ouvir ele me chamar de “Sar”. Na verdade eu não sabia que ele não estava namorando, mas havia adorado saber. Ele continuava trancando minha passagem.

– Isso não me interessa Gil! - Claro que interessava, só não podia deixa-lo ter ciência disto.

– E se os gêmeos forem meus? – Ele me encarou nos olhos, seus olhos azuis eram divinos. Queria que fossem, porém não existiam, mas se existissem, tinham que ter aqueles olhos. Por um momento quase me rendi.

– Você não acabou de dizer que a gente nunca transou? – Coloquei a mão sobre a testa e comecei a rir. No fim, tudo voltava a ser divertido, alias tudo ganhou mais graça depois de ele admitir que não estava com ninguém.