Segredos de um namoro fajuto - Degustação escrita por Escr Taty


Capítulo 3
Capítulo 02 - A solução para os problemas




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— Pedro, porra! Espera aí...

— Qual é? Já estou atrasado.

— É só um minuto, deixa de ser ruim.

— Um, dois, três, quatro...

— O que está fazendo?

— Contando os segundos para acabar com seu minuto. Seis, sete...

— Ladrão de uma figa!

As lâmpadas da nossa rua estavam queimadas e de presente havíamos ganhado alguns ladrõezinhos. Como os meninos assaltavam moças desacompanhadas, Manuela havia me pedido para irmos juntos para a faculdade, embora eu tenha quase certeza de que ela não é moça.

O problema de chegarmos e sairmos juntos é que causavam especulações. Tinha uma garota que eu sabia que não falava mal de mim, ao que parecia, ela até me achava fofo! Mas, como ela acreditava que eu estava em um relacionamento sério com Manuela, ela não se aproximava de mim. Isso acontecia também no mercado, lanchonete, pizzaria — pedíamos muita pizza nos fins de semana — e no ônibus quando acabávamos por sair ao mesmo tempo para o trabalho.

— Opa! Enfim os pombinhos chegaram — gritou Xavier passando um braço em meus ombros.

Manuela o olhou torto e se afastou indo em direção ao seu pavilhão. Me chamem de desligado, mas eu não fazia ideia sobre que curso ela estudava. Eu só tinha certeza que era da área de Humanas & Biológicas, a final, aquele pavilhão era para isso.

A nossa faculdade havia sido particular um dia, mas o governo precisava de um lugar espaçoso para a nova federal e como o dono da universidade já estava falindo, resolveu vender o prédio. Colocaram cursos diversos que iam de Artes até Biológicas & Humanas. Era a maior do Estado com um incrível pátio cheio de verde e algumas árvores espalhadas por toda a extensão.

A lanchonete ficava no meio desse pátio em uma área coberta por um grande toldo que também cobria os pequenos corredores abertos responsáveis por interligar os pavilhões até à cantina.

— O que deu nela? TPM? — perguntou Xavier apontando para Manuela com o queixo.

— Ela fica irritada quando falam que a gente está junto — comecei a andar.

— E não estão?

— Claro que não! — fiz careta. Quem teria coragem de namorar aquele troço?

— E que mal tem isso? Ah, Qual é! — fez cara de incrédulo enquanto ria ao mesmo tempo. — Não me diga que você nunca... nunquinha? — O olhei sério, ele desfez o sorriso. — Sério? Que mina careta!

— Careta?

— É ué! Ela deve estar esperando ter certeza de que você é o cara da vida dela. No mínimo, esperando oficializar o casório.

— Porra, Xavier! Eu já disse que não rola nada entre nós dois. A gente só divide o AP.

— Pô... Não precisa ficar irritado.

— É só que eu não entendo essa necessidade de continuar falando nisso.

Eu me soltei e comecei a andar até o meu pavilhão. Mas antes pude ouvir Tomás perguntar para Xavier e deduzi que ele nos observava de longe.

— Ele discutiu com a Manu de novo?

— Sei lá, deve ter sido.

Xavier e Tomás moravam na República em que eu morei e foi lá que nos conhecemos. Xavier fazia o tipo de jogador de futebol americano que as garotas adoram, mas como aqui não tem isso, ele só tinha o charme e músculo. Já Tomás era mais baixo do que eu, com cabelos encaracolados e armados.

Quando cheguei na minha sala senti o ódio diminuir ao vê-la quase vazia. No meio da sala ficava Bernardo e ele estava lendo, muito absorto para notar minha presença. No fundão estavam Tiago e Bruno. Ambos conversavam com os cadernos abertos e... Puts! Dia de prova...

Bruno tinha o meu tipo físico. Aproximadamente 1,75M de altura, ombros largos e bíceps que poderiam ser confundidos com músculos. Mas, diferente de mim, ele tinha os cabelos curtos e negros, olhos negros e pele bronzeada.

— Oi, oi — Puxei uma cadeira me sentando de frente para eles.

— Que cara é essa? Viu um zumbi por aí? — riu Tiago.

— Ah, antes fosse — Então falei mais baixo para que apenas eles escutassem. — É que a galera não para de me encher o saco dizendo que estou casado com a Manuela.

— E que mal tem isso?

— Todo o mal do mundo! Estou cansado de ser alvo de risada de todo mundo.

— Mas quando todos começaram a falar de você e dela, algumas coisas mudaram por aqui — disse Bruno.

— Tipo o quê?

— Pedro, meu caro. Namorar uma garota sempre te deu fama de instável. Sabe por quê? Porque você não aguenta ficar sozinho. Mas como você, supostamente, apareceu casado e não fez questão de quebrar o Bernardo na porrada, só fez todo mundo acreditar que você já pretendia terminar com Annabeth para ficar com a Manuela. É quase como dar a volta por cima, sabe?

— Não, não sei! Se é como dar a volta por cima, porque é que todo mundo ainda me chama de burro por não ter batido nele?

— Porque as pessoas estão descobrindo agora que você e a Manu estão morando juntos. Agora que vocês começaram a vir para faculdade juntos. Agora que os nossos amigos começaram a perceber que o seu endereço é o mesmo do dela. Estão se dando conta só agora que você não sofreu com a traição da Annabeth porque estava ocupado em se manter vivo na casa da Manuela.

Eu recostei na cadeira observando os dois me olharem com aquele ar de “que tapado, como é que ele não percebeu isso?”. Assimilei tudo o que Bruno me disse e isso levou quase um minuto, depois voltei para a posição anterior e questionei o que acho que vocês também estão questionando agora.

— E onde é que estar casado com a Manuela faz com que eu não saia como canalha? Onde é que isso me faz dar a volta por cima? Como é que isso faz com que as pessoas parem de me taxar de corno ou gay?

— Simples — disse Tiago se ajeitando na cadeira e se aproximando mais, como se isso fosse diminuir minha lerdeza. — Você não ficou chorando a dor de ser traído. Seguiu em frente e resolveu tentar com seu verdadeiro amor. E todo mundo acha que é verdadeiro porque nós sabemos que sua criação diz, claramente, que casamento é coisa séria. Pedro, meu amigo, o boato funciona da seguinte forma, preste atenção que eu vou te explicar.

“Dê uma coisa extremamente quente e suja para as pessoas comentarem e elas passarão uma vida comentando e criando histórias em cima disso — continuou. — Mas dê continuação onde mostra que você seguiu em frente e elas vão esquecer a parte podre da primeira história e vão querer saber como, quando e quem te tirou da fossa, da clandestinidade ou da vida bandida. No seu caso, eles querem saber como, quando e quem é que te tirou da vida de irresponsável, tapado e desmiolado.”

— Isso são elogios, certo? — perguntei chateado. Não precisava ser xingado pelas únicas pessoas que eu ainda confiava.

E sim, eles eram as únicas pessoas que sobraram. Bruno era do tipo que se preocupava e cuidava, mas era um pouco mais distante. Da minha altura e um pouco mais atlético do que eu, vivia seus dias para dar conta de seu trabalho como impressor em uma gráfica e conciliar com a faculdade. Seu maior sonho era se formar logo para viver uma vida boa com sua namorada.

As meninas caiam matando em seus olhos verdes.

Já o Tiago, apelidado de galego pela maioria, menos por mim, era um pouco mais baixo do que eu, muito pouco até. Seus cabelos curtos compartilhavam as mesmas cores de suas sobrancelhas e entrava em harmonia com seus olhos azuis.

Ele era bem calmo e bastante amigo, mas tinha seus momentos de palhaço da turma.

— Muito bem pessoal. Todos prontos para a provinha? – Minha professora entrou na sala com um sorriso diabólico.

Eu me virei e notei que a sala estava cheia ao mesmo tempo em que a professora mostrava um bolo de folhas. Merda, merda, merda e merda. Eu não havia estudado para aquela prova. Qual que é o assunto dela mesmo?

— Droga de vida! Preciso de sessões de terapia ou vou enlouquecer — resmunguei enquanto atravessávamos o portão.

— Que tal irmos ao barzinho? Soube que vai ter banda nova por lá — Tiago sugeriu. — Apesar de que você não vai gostar do vocalista.

— Bernardo vai cantar?

— Vai, mas vai lotar de gatinha também.

— Hum... Pior que estou sem grana... Aff! — respirei fundo me perguntando se deveria perder uma chance de transar pelo simples fato de Bernardo estar cantando de fundo. — Vamos esperar a Manu, tenho que deixar ela em casa e então poderemos ir.

— Ir para onde? — Manuela parou do meu lado quase caindo e dando risada de alguma coisa que eu não fazia a menor ideia do que era. Às vezes parecia que ela tinha bebido umas, mesmo não tendo.

— Barzinho – respondeu Tiago.

— Qual?

— Vitrola.

— Eu topo! — Ela riu alto e jogou o braço esquerdo para acima da cabeça dançando sua música imaginária.

— Eu não te convidei! — disse indignado.

— Tiago me convidou, não é Tih?

— Eu? Quando? — riu divertido. Sério que a faculdade dizia que era eu o cara que estava com ela? Acho que falavam da pessoa errada!

— Você. Agorinha.

— Hum... então, vamos?

— Viu? Ele me convidou, mas você paga.

— Quê?! — A olhei indignado. — Quem convida é quem paga!

— Amanhã é sábado... — disse calma enquanto andávamos até o carro de Tiago.

— E?

— E que todo sábado você me pede para cozinhar algo delicioso...

— E?

— E que, talvez, eu resolva fazer só para mim. Estava pensando em fazer empadão. Acho que risoto seria gostoso também. Torta de pão pode ser uma boa pedida...

— Está tentando me chantagear?

— Depende, estou conseguindo?

— Se eu for pagar alguma coisa para você hoje à noite, eu não vou poder pegar ninguém! Eu não vou para um lugar bombando de gostosa sem poder...

— Talvez eu cozinhe ensopado de frango, arroz, feijão tropeiro, uma saladinha de repolho com azeite e...

— Mas que porra! Vamos logo antes que eu mude de ideia — Que é? Ela cozinha bem e algo me dizia que, com ou sem Manuela, eu não amanheceria com dinheiro suficiente para pagar marmita. Ok, ok... comida é meu fascínio. Super-Homem perde para a Kriptonita, eu perco para a comida.

Tiago, aquele filho da puta, ria enquanto ligava o carro. Estávamos quase de saída quando Manuela pediu para ele esperar e vimos ela abrir a porta para Louis e Annabeth. Preciso dizer que eu e Annabeth não havíamos nos falado ainda, mas ela era a melhor amiga de Manuela e se tornou rotina vê-la.

— Para onde vamos? — perguntou Louis. Uma ruiva tingida de peitos grandes e sorriso simpático. Além, é claro, de olhos pretos que pareciam enxergar sua alma.

— Vitrola — respondeu Tiago finalmente saindo do lugar.

— Uou! Faz tempo que não apareço por lá, mas estou sem grana... — disse chateada.

— Relaxa que o Bruno também vai e eu e ele podemos pagar para vocês duas.

— Porque não aproveita e inclui a Manuela nessa lista? Quero dizer, nada contra, mas é que...

— Sem essa, Pedro! Ela intimou você.

Manuela gargalhou e eu quase cometi o ato insano de jogá-la do carro pela janela. Olhei para Annabeth através do retrovisor. Ela estava linda como sempre, aqueles olhos que refletiam o céu em dias claros, um sorriso aberto com os lábios rosados pelo batom e realçados na pele branca com os cabelos louros. Usava um vestido preto sem alça, ela amava vestido. Senti alguma coisa me empurrando e vi Tiago rindo para mim.

— Quer um babador?

Sorri e me concentrei na estrada. Certo, não era eu quem estava dirigindo, mas precisava olhar para algo que não fosse ela.

Passamos em casa para deixar o material da faculdade e fomos todos para o bar. Quando chegamos lá, a casa estava cheia! Lotada, para ser mais honesto. De todos os defeitos que Bernardo tinha, ser péssimo músico e cantor não estava na lista e isso, é claro, atraia gente. Ele cantava bem, tocava bem e tinha um ar de artista apenas no olhar.

Atravessar a massa de gente não foi fácil, mas logo chegamos à mesa que Bruno e Tomás ocupavam. Ele havia juntado duas mesas e conseguiu manter todas as cadeiras.

— E aí, povo! — Bruno sorriu observando as meninas se sentarem. — Meninas — cumprimentou recebendo um sorriso de cada uma. — Cara, porque demoraram tanto?

— Não enche que agora eu vou me embebedar! — disse Tiago se afastando animado.

Manuela olhou para um ponto fixo à esquerda, mas não procurei, estava ocupado tentando entender a razão dela estar desabotoando dois botões de sua camisa e expondo um decote generoso de seus peitos. Ela mordeu o lábio inferior e abaixou a cabeça olhando séria e decepcionada para suas mãos em cima da mesa. Me levantei da ponta onde estava sentado e ocupei a cadeira que antes era de Tiago, ficando ao lado dela e de Louis.

— Está tentando seduzir quem? — sorri divertido. Nunca vi Manuela tão desestimulada.

— Não é da sua conta.

— Qual é! Só quero ajudar.

— Ajudar?

— Se ficar tirando a roupa igual uma desesperada, só vai...

— Não estou desesperada.

— Manu...

— Eu só estava com calor.

— Hum... Dá uns pega no Tiago na frente do cara que você está interessada.

— Quê?!

— Ele vai notar você rapidinho, vai tratar de falar com você e se não quiser nada, nem vai te olhar.

— Não posso fazer isso com o Tih.

— Porque não?

— Como não? Ele é meu amigo. Meu melhor amigo, na verdade.

— Amigos ajudam um ao outro.

— Não rola, seria como beijar meu irmão e... Argh! — Ela fez careta e eu entendi o que ela quis dizer. — Não dá.

— Então o Tomás te ajuda.

— Não mesmo — Ela sorriu e olhou para o Tomás. Segui seu olhar e o vi em uma conversa animada com... Annabeth?! — Eles combinam.

Eu o olhei incrédulo e senti o sangue parar de circular. Não bastava ser corno uma vez, tinha que ser duas e ambas as vezes serem esfregadas na minha cara?

— Eu sei o que está pensando — olhei para o meu lado direito e vi Louis com um sorriso. — E está completamente errado.

— Quê?

— Eles não sabem desse clima que rola. Na verdade, ficam tão entrosados na conversa que não notam o que sentem. Ele não é Bernardo e assim que perceber que gosta dela vai se martirizar porque não pode ficar com a garota que o melhor amigo gosta.

Eu olhei para Tomás mais uma vez e vi os olhos dele brilharem enquanto contava alguma coisa com uma empolgação que nunca notei vindo dele. Annabeth estava tão atenta que nem nos notou olhando.

— Mas que merda... — Me levantei sentindo-me o pior das espécies. Eu e ele não podíamos estar loucos pela mesma garota... — Merda.

Fui para o bar onde vi Tiago segurando um copo de cerveja e conversando com um grupo de homens e mulheres. Pedi uma cerveja e vi Louis e Manuela ficarem ao meu lado, cada uma de um lado.

— Querem alguma coisa?

— Sim — respondeu Louis. — Um lugar silencioso para conversarmos.

— Como?! — A olhei confuso. Louis não era de conversar comigo. Na verdade ela era tão temperamental quanto Manuela. Ok, Manuela é imbatível, mas Louis consegue nos surpreender. Mesmo assim, a gente se surpreende por ter uma ruiva curvilínea te querendo em um lugar calmo.

Elas me puxaram me fazendo choramingar pela cerveja largada na mão do barman e me levaram para fora do Vitrola. Quando chegamos à calçada do outro lado da rua onde havia menos barulho, Louis recomeçou.

— Para começo de conversa, a Anne fez um favor ao tentar transar com o Bernardo.

— Quê?! – Pensei: Tá louca, mulher?

— Todo mundo sabe o quão Bernardo é sanguessuga. Ele estava estragando a sua vida, Pedro! Você não conseguiu aquela promoção porque ele escondeu seu projeto. Ele mesmo disse isso para a Annabeth e ela sabe o quanto você se sacrificou para fazer o melhor projeto entre todos. Ela tinha que te mostrar o amigo que você tinha e como você era muito cego para não ver ele dando em cima dela, ela resolveu te mostrar da pior maneira possível. Ela nunca transou com ele.

— Mas eu vi...

— O que você viu foi Annabeth atuando. Ela sabia que você estava entrando na casa e sabia que você iria bater na porta do quarto dele quando a ouvisse gemer. Ela fez tudo de propósito para abrir seus olhos, mesmo sabendo que poderia perder até a sua amizade.

— Ela sabe que você ainda gosta dela e sabe o que as pessoas da faculdade andam dizendo — disse Manuela de braços cruzados, mas não parecia com vontade de falar — Ela não sabia que Bernardo desceria tão baixo ao ponto de contar para todo mundo e se culpa por isso. Com toda certeza ela vai se culpar mais ainda quando descobrir que está gostando do Tomás, porque ele é seu amigo.

Eu abaixei a cabeça me sentindo numa dessas novelas mexicanas em que o mocinho só se fode. Como posso ser tão azarado ao ponto de ter conseguido um inimigo sem escrúpulos — Bernardo — perder a mulher da minha vida — Annabeth —, ter um dos meus melhores amigos apaixonado e correspondido pela mulher da minha vida — Tomás —, e ainda ter toda a minha vida numa luz fraca e distante? Bote aqui [neste espaço] todos os outros problemas da vida para entender a luz tênue que me cercava naquela hora.

 Mas então tomei uma decisão, eu não teria coragem de tentar reatar com ela sabendo de tudo o que fiquei sabendo agora, e nem antes... eu acho. Dizem que quando a gente ama, a gente não quer a pessoa só para nós, a gente quer é que ela seja feliz e se a felicidade dela era com... Merda de vida!

Resolvi não ficar perto dos pombinhos dando a eles toda a liberdade necessária para se amarem. Como eu estava pagando a despesa de Manuela, ela não se afastou de mim quase para nada, dificultando minha vida quando resolvi trocar olhares com uma rockeira.

— Manuela, eu vou te dar o dinheiro e vê se some da minha frente.

— Que é isso!

— Está vendo aquela gostosa ali? — Apontei para a rockeira que dançava. — Pretendo transar com ela, mas fica difícil com você no meu pé.

— Hum... Só tenho uma pergunta para te fazer.

— Qual?

— Como pretende pagar o motel?

Pisquei algumas vezes depois meti a mão no bolso resgatando minha carteira. Não tinha dinheiro suficiente para pagar a ida e a volta de duas pessoas em um táxi, uma noite no motel e... Ok, mal tinha R$70,00.

— Mas que droga! Você me faliu, Manuela!

— Eu? — Fez cara de santa. Só a cara também.

Neguei com a cabeça e virei para tentar olhar o casal. Tudo o que eu via era a cabeça deles um pouco afastadas, mas visivelmente divertidos.

— Pare de secar eles.

— Eu teria me casado com ela.

— Ah, claro!

— O quê? Teria sim.

— Você a trocava fácil por sua cama.

— Meu trabalho é puxado!

— Pedro, quando a gente ama sempre tem um tempinho para a outra pessoa, mesmo que ela nem saiba que a gente existe.

— Falando em amor, porque não me conta quem é o cara?

— Nem pensar.

Foi a deixa perfeita. Manuela pegou seu copo e se misturou com a multidão, então me preparei para ir até a garota que dançava sensualmente. Quando finalmente consegui vencer a distância, senti uma mão no meu ombro e alguém se aproximar do meu ouvido falando alto para que eu escutasse.

— Bernardo está tentando passar a mão na sua garota.

Olhei para o lado completamente confuso e vi Xavier fazendo careta, depois ele olhou para trás de mim e mostrou Manuela com o queixo. Ela estava um pouco longe e tinha muita gente na minha frente, mas entre uma brecha e outra, dava para ver que ela tentava se livrar de um Bernardo sorridente e pegajoso.

— Mas o que... — Eu olhei para tudo muito confuso.

— Não vai fazer nada? Ela é a sua garota!

Olhei para Xavier e vi a mesma expressão que vi nos conhecidos em volta. Indignação, chacota e reprovação. Pensei em gritar para todos eles que eu e Manuela não estávamos juntos, mas lembrei do que Bruno e Tiago haviam me dito. Se Bernardo conseguisse o que queria com Manuela, eu não seria esquecido nunca mais. Olhei para eles e vi uma Manuela praticamente desesperada sendo assediada. Ela batia no peito dele enquanto ele a abraçava pela cintura e ria. Me enfureci. Aquele filho da puta estava disposto a acabar com a minha vida e eu estava cansado de ser passado para trás.

Andei apressado até eles empurrando tudo quanto fosse gente, até chegar neles. Acho até que amassei o pé de alguém. Quando eu estava perto o suficiente, o ouvi dizer.

—...tapado. Um cara como ele não merece uma gostosa como você.

— E você com certeza também não — gritei chamando sua atenção.

— Pedro?

Ele soltou Manuela devagar a deixando cambalear um pouco. A segurei e ela se apoiou em mim.

— Tudo bem?

— Não — Ela me mostrou seus pulsos, estavam vermelhos. Foi a gota d’água para mim.

— Você sabe como todas elas são vagabun...

— Uhul! Quebra ele, Pedro! — Alguém gritou na hora e o DJ parou a música. Mas só soube disso depois.

O primeiro soco fez Bernardo dar alguns passos para trás e me olhar surpreso. Era a primeira vez em 20 anos que eu o socava. O segundo foi para evitar a reação que estava por vir, mas ao virar o rosto com o impacto, ele trouxe seu corpo para frente e me deu uma joelhada no estômago. Ouvi Manuela gritar e senti minha cabeça ser erguida por um puxão. Logo meu nariz sangrou pelo soco que veio em seguida. A multidão se afastou abrindo uma roda e vi Bernardo vir em minha direção, ergui a perna direita e ataquei seu estômago com o pé fazendo-o cair para trás. Pulei em cima dele e lhe dei mais um soco, em seguida, lhe segurei pela blusa e o olhei furioso.

— Nunca mais encoste nela, está me ouvindo? Da próxima vez eu não vou ter pena de você!

— Pena? — riu alto. — Você é um medroso que não teve coragem de brigar comigo pela Annabeth. Está só irritadinho por que a puta da Manuela me deu bola na frente de to...

Larguei sua blusa e o soquei novamente, depois o segurei novamente vendo que ele havia ficado meio zonzo.

— A Manu não é puta! Lava a boca quando for falar dela — Baixei o tom de voz e o encarei sério. — Nunca mais vou permitir que você roube o que é meu. Vou cuidar muito bem dela.

Senti alguém me puxando e notei que era Tiago e Bruno. Me soltei e andei até a razão da briga que, provavelmente, não havia escutado a última parte.

— Vamos para casa — gritei como se fosse uma ordem.

— Tá.

A puxei pela mão sentindo os olhares atentos de todos. O Vitrola era frequentado pelo pessoal da faculdade e Bernardo era popular por lá enquanto eu fui sua sombra. E era graças a isso que me encaravam, a final, o cara gostosão que faz a as meninas suspirarem enquanto canta havia apanhado por dar em cima — pela segunda vez consecutiva — da mulher de um amigo.

— Caramba! Sempre achei que ele fosse gay.

Naquela frase eu vi algo muito melhor do que o constrangimento. Eu vi a solução para todos os meus problemas atuais — ou quase todos.


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