Lisa acordou naquele dia sentindo como se cada centímetro de seu corpo pesasse vinte quilos. Tentou abrir os olhos, mas aquela cama confortável com a leve brisa que batia pela janela a impedia. Infelizmente ela não podia se dar ao lucho de dormir naquelas circunstâncias pois o primeiro show estava prestes a chegar e ela não podia parar, ainda mais agora que finalmente conseguia dançar e cantar ao mesmo tempo. Sorriu ao ter a lembrança do dia anterior quando estava treinando e ouviu de Jimin “nossa. Você aprende muito rápido. Bem mais rápido que a maioria de nós”. Foi difícil acreditar em suas palavras, e quem acreditaria? Mas essas simples palavras contribuíram para que sua autoestima subisse.

“Será que essa vida podia ser minha? ” Pensava a garota enquanto se espreguiçava “Pelo menos eu posso cantar, fazer o que realmente gosto”, mas rapidamente afastou esses pensamentos balançando a cabeça. “Não. Eu faço faculdade, provavelmente vou ser uma professora, porque não usar a música em sala de aula? ” Com isso em mente, se levantou e viu que sua irmã não estava mais no quarto. Olhou para o relógio e já se passava das 13:00, vendo isso, se levantou com um pulo e seguiu rapidamente para a sala de treino, mas passando pela cozinha ouviu:

— Ei. Pra onde acha que tá indo, mocinha? – Lisa olhou e viu Laura com um prato de macarronada sentada ao lado de J-Hope e V.

— Tenho que ensaiar. Depois eu volto – a garota continuou a andar quando sentiu alguém segurando seu ombro. Se virou e era Hobie.

— Senta com a gente, Lisa. A gente nunca mais conversou.

— É, Lisaaa. Desse jeito, tu vai acabar morrendo! – Completou a irmã dando três batidinhas com os nós dos dedos na mesa.

Realmente. No começo de tudo Lisa conversava muito com J-Hope, mas com o decorrer do tempo, ela se dedicou tanto aos ensaios que não conversava nem com a própria irmã direito. Parou e olhou para os três em sua frente e Hope fez logo uma cara fofa

— Sério que vai me deixar sozinho com esses dois aqui? Chega eles me dão arrepios – disse ele se tremendo.

— Huuuuuuummmmmmm.... Então vocês tão namorando, né? – Perguntou Lisa com uma cara safada.

— AI. NÃO ME FAÇA MAIS VER ESSA CARA NO NAMJOON, PELAMORDIDEUS! – todos começaram a rir e quando se amenizou, Laura completou - E a gente não tá namorando.

— Não? – Perguntou V que logo tapou a boca como se tivesse deixado escapar algo.

O silêncio constrangedor que eles se encontraram logo foi cortado pela Lisa.

— Ahn... Hobie... Me ajuda com uma coisinha lá em cima? – Perguntou a garota pegando um prato de comida e puxando J-Hope que nada entendia.

— Ajudar em quê? Eu quero ficar mais um pouco aqui.

— Veeeem. Eu te mostro lá em cima.

Chegaram à sala de ensaios e se sentaram apoiados no espelho.

— Sabe, Hobie, você tem que saber quando deixar os outros a sós – disse a garota rindo e colocando um bocado de macarronada na boca.

— O que eu fiz? – perguntou o garoto rindo também.

Os dois ficaram conversando sobre tudo usando como apoio aquele espelho. Era bom conversar com alguém e rir, esquecer um pouco os problemas, ainda mais com Hoseok que sem mais nem menos cutucava uma parte estratégica de sua costela que a fazia rir. Quando o assunto acabou, ficaram um pouco sentados no silêncio curtindo aquele pequeno momento até que J-Hope quebrou o silêncio:

— E então? Quer ensaiar?

— Claro!

Quando se posicionaram, Hope perguntou a olhando pelo reflexo:

— E quando você vai me chamar de oppa?

— Nunca! – falou rindo – não sou acostumada, não, Hobie.

— Ainda vou fazer você me chamar assim...

Logo já estavam dançando e cantando. Era incrível como Hoseok dançava, suas expressões faziam a gente sentir a música e a dança. Lisa tinha até vergonha de se ver dançando junto com ele, mas o garoto sempre teve muita paciência em ensinar os passos e a fazer com que Lisa dance de forma correta que fazia com que Lisa ficasse mais à vontade. Enquanto treinavam, ouviram uma batidinha na porta e olhando pelo reflexo, viram JungKook com um sorrisinho no rosto.

— Espero não incomodar, mas chegou uma encomenda pra você, Lisa.

— Anh? – a garota nem acreditava no que estava ouvindo. O que será que a mãe dela tinha mandado? Sem pensar em mais nada, correu, seguida por Hope e JungKook, quase caindo pelas escadas até chegar à sala, onde encontrou Laura com uma faca na mão pronta para estraçalhar a caixa com V a olhando em forma de desaprovação.

— Ah. Eu não abri – disse a garota escondendo a faca – veio com uma carta, ó.

Lisa segurou a carta e olhou para a caixa enorme no chão. O que poderia ser? Abriu então a carta e leu:

“Querida Lisa que esquece dos amigos,

Foi só ir pra Coreia que esqueceu da gente, foi? Que metida u.u kkkkk brincadeiras à parte. Sei que deve ser difícil, provavelmente eles não deixam vocês conversarem com a gente ou com qualquer outra pessoa além da família, mas a gente tinha que escrever pra cê voltar logo e não decidir morar aí pra sempre. Bom, claro que cê já deve saber que é o Cláudio que tá escrevendo com esse garrancho de letra, o Afonso não parava de falar que tava sentindo que a sua aura tava meio “perdida”, que precisava ser guiada e essas doideiras dele. Então a gente fez uma Lisa, opa, uma vaquinha, pra comprar isso pra ti. Eu sei que você deve tá com saudade disso, e talvez ele te guie. Tomara que cê receba isso, se não vou meter o pau aí com esses japa.

Com amor, Cláudio e Afonso”

Lisa olhava para aquela pequena carta com um sorriso perpassando seus lábios. Ela só conseguia pensar que tinha sorte no quesito “amizade” e leu a carta mais duas vezes vendo os traços de escrita de um dos seus melhores amigos. Finalmente percebeu a saudade que sentia do Brasil, da universidade, do seu quarto confortável em casa, da família... Desviou, então, os olhos da carta e viu que Laura tinha cortado disfarçadamente uma fresta na caixa e tentava olhar o seu conteúdo.

— Pode abrir, Laura – ria Lisa

Quando a caixa estava aberta, para sua surpresa, viu um violão. O coração de Lisa parou enquanto os garotos exclamavam. Afonso e Cláudio poderiam simplesmente ter enviado o violão que estava no quarto de Lisa, mas não, eles compraram um Tagima para ela, um lindo Tagima cor de madeira.

Com o cuidado de um cirurgião, a garota retirou o violão da caixa, sentou cruzando as pernas em uma poltrona e, sem pensar, apenas deixou seus dedos deslizarem pelas cordas e tocou Tears in Heaven, de Eric Clapton. À cada nota tocada, a cada acorde feito, era como se sua alma esquentasse lembrando dos bons momentos no Brasil e com essa alma morna, começou a cantar liberando todo o sentimento contido em seu peito.

Todos ali presentes a observavam estupefatos. Laura que se encontrava sentada ao chão limpou uma lágrima e disse “essa é minha irmã!” fazendo Lisa perder um pouco a concentração enquanto ria, mas continuou cantando e tocando até o fim da música.

Todos aplaudiram, inclusive Laura que se levantou do chão para aplaudir de pé.

— Nossa, Lisa. Tu melhorou bastante. Tu cantava bem, mas nunca passou sentimento assim.

— Eu tive os melhores professores – respondeu a garota sorrindo para os três meninos à sua frente – e falando nos professores, onde estão os outros? – perguntou a garota dando uma varredura no aposento com o olhar.

— Foram pra Big Hit. O menager queria falar sobre os próximos shows. E falando nisso, a gente tem que gravar e tirar umas fotos – falou JungKook sentando sem tirar os olhos do violão

— Pro show? Pensei que era só a gente ir e cantar, ainda tem que gravar?

— Essa é nossa vida, colega – disse J-Hope sonolento se jogando no sofá.

— Lisa, posso falar contigo? – JungKook perguntou indo para seu quarto.

Quando lá chegaram, ele perguntou com um pouco de vergonha:

— Sabe tocar boyfriend no violão?

— Não, por que?

— Nada, não. Er... Vamos voltar, então.

— É pra Amanda?

JungKook só abaixou a cabeça envergonhado.

— Não precisa ficar com vergonha Kook, eu tenho uma música bem melhor.

E assim os dois prepararam o que fariam para quando Amanda chegasse à noite.