—Alô? – Nesse momento, ele começou a falar várias palavras em coreano e eu não entendia nada e foi aí que lembrei que ele era fluente em inglês. Eu não era muito boa, mas comecei a tentar falar a língua para conversar – Hi. My name is Lisa and i think you’re in my body. – Vou traduzir a partir de agora

—Ok... isso é uma pegadinha? Acabei de acordar, esse não é meu quarto.... só pode ser um pesadelo.

—Eu também não entendo, só vi o foco de luz e apaguei. Me ajuda, por favor. Os outros garotos estão do lado de fora do quarto. Como a gente vai destrocar? Eu quero voltar pra casa, não quero viver nesse corpo! – Não consegui me controlar e comecei a chorar e, por um momento, uvi um suspiro enorme do outro lado da linha.

—OK.... Precisamos ficar calmos. Respira fundo e me conta de tudo que você se lembra antes da troca.

—Eu não sei.... Eu estava olhando para o céu e vi um clarão. Depois acordei aqui – Comecei a chorar descontroladamente. O que seria da minha vida e da dele? E minha família?

— Calma, pesadelo ou não, nós temos que nos acalmar. – Ouvi ele respirando fundo mais uma vez – OK. Qual é o seu nome mesmo?

Começamos a tentar entender o que se passava até que ele finalmente me disse para colocar o celular no viva-voz e passar para os garotos.

Respirei fundo e limpei meus olhos.... Atravessei o quarto e parecia que ele nunca ia acabar até eu, finalmente, chegar à porta.

Quando a abrir, cada um me olhava como se eu tivesse uma terrível doença, como se eu fosse desmaiar a qualquer momento. J-Hope estava discando um número no celular e fiz questão de correr e tirar o aparelho das mãos dele. Todos me olhavam como se tivesse enlouquecido e foi quando o Namjoon começou a falar. Via nos olhos dele que eles não estavam acreditando no começo.... Muito tempo depois, a conversa parou e todos olhavam para mim.

Taehyung se aproximou devagar e deu um aceno rápido falando “hi”. Eu travei, todos me olhavam com uma expressão estranha nos olhos. Seria preocupação? Me senti tonta e me encostei na parede limpando o suor que escorria da minha testa. Jin correu até a cozinha e me trouxe um pouco de água para me acalmar. Eles falavam pouquíssimo de inglês e a ligação tinha caído.

Me levantei depois de um tempo, precisava ser forte naquele momento. Olhei vacilante para todos e disse um oi com minha voz rouca costumeira. Pigarreei e repeti depois de bebericar um pouco da água. Todos me olhavam como se eu fosse de outro planeta até Jin falar desajeitado:

— Vem. Vamos resolver isso na sala – Ele estendeu a mão para mim e me puxou direto para a sala enquanto ou outros membros vinham atrás. A sala, podia-se dizer, era enorme com várias poltronas, vasos e uma tv grande o suficiente para eu abraçar esticando totalmente os braços. Pelo menos no meu antigo corpo. Ao chegar no meio da sala, Jin olhou para trás e soltou rapidamente minha mão.

— Acho que você já nos conhece, mas não te conhecemos. Qual é o seu nome? – Jin perguntou por ser o que mais falava inglês entre os membros presentes.

— Quantos anos você tem? – Perguntou Jimin visivelmente interessado.

Tentei responder as perguntas o mais fiel que poderia conseguir, mostrei fotos minhas do Brasil e conversamos sobre música para descontrair.

Conversamos por bastante tempo, o google tradutor ajudou bastante, e comecei a conhecer cada um deles, o jeito de falar, de olhar, de cruzar as pernas, e como alguns ainda estavam sem camisa, com exceção de Jin e Suga. Vi que o Jin não era chato como eu pensava, jungkook é mil vezes mais tímido pessoalmente...

— Bom, precisamos descobrir por quanto tempo isso ficará assim, se não for rápido, nós teremos que te treinar – Falou Suga com aquela mesma cara despreocupada de sempre. Como ele poderia falar assim quando a carreira do grupo estava praticamente perdida? O que seria do BTS sem o líder e rapper principal?

— Tudo bem.... Mas.... Eu poderia dormir um pouco? Não estou acostumada com esse fuso horário e descansei pouco essa noite. A gente pode voltar a conversar sobre isso depois?

— Tudo bem. Se precisar de ajuda, é só dar um grito... Não. Um grito, não. Não quero ouvir o Mon gritando fino. Só de imaginar, me dá arrepios..- Disse J-Hope q estava calado todo o tempo de conversa.

— OK – falei rindo um pouco.

Senti um pouco por mentir para eles.... Eu estava querendo colocar o pensamento em ordem e precisava mesmo ficar sozinha.

Deitei na cama olhando para o teto e imaginando o que seria do bts se as coisas não se ajeitassem, as fãs iam me odiar por anos... E a minha vida? Será que nunca mais vou voltar a ser eu mesma? Foi aí que lembrei que provavelmente o RapMon estaria trancado no meu quarto sem saber de nada da casa que estava e muito menos sobre mim mesma. Tive que ligar para ele.

Rapmonster ~

— E agora? – Sussurrou o líder no quarto escuro. A ligação tinha caído e ele não sabia o que fazer e para onde ir. Tentou ligar para seu número na coreia mas o celular da garota tinha senha e ele não tinha a mínima ideia de qual seria. Resolveu sentar na cama e esperar tentando memorizar cada parte do quarto. Estrelas que brilhavam no escuro estavam penduradas pelo teto com uma estante repleta de livros na parte esquerda do quarto. O armário tinha poucas roupas e nada mais de interessante. Deitou para olhar melhor as estrelas no quarto quando ouviu o celular dela tocando. Praticamente pulou da cama fazendo o maior barulho e atendeu.

Ela foi falando da sua vida e de todos os problemas da sua família... tentei memorizar tudo que podia.

— Eu acho que não vou lembrar de tudo isso.... Tem como escrever e me enviar? – Ouvi ela rindo um pouco e percebi o quanto ela afeminou minha voz. E ri também

— Faz assim: Na cabeceira da cama tem uma chave, é a chave do meu quarto, eu sempre tranco pra não me incomodarem de noite, abre a porta e entra no quarto da direita no corredor. É o quarto da minha irmã. Liga o Skype no notebook e leva pro quarto dela. Quando convencermos ela, ela vai te ajudar aí em casa.

— Ela vai ter que acreditar ou vão acabar pensando que sou louco. Ou que você é louca... isso não faz tanta diferença agora.

RapMon olhou na cabeceira e encontrou uma pequena chave prateada do lado do notebook. Pegou e ligou o note de acordo com as instruções da Lisa e ensinou a garota a ligar o Skype no seu celular. Depois de os dois estarem conectados, ele desligou a ligação e segurou o computador com a mão esquerda enquanto a mão direita segurava a chave. Enfiou a chave na fechadura da porta e a virou com o maior cuidado possível para não acordar os pais de Lisa e depois de encontrar um corredor escuro, esperou a visão se acostumar e seguiu para o quarto da direita onde encontrou a porta destrancada. Entrou devagar e se assustou um pouco. Diferente do quarto da irmã, esse se encontrava com as paredes repletas de pôsteres de grupos de kpop e outros estilos musicais, um guarda-roupa enorme com umas perucas jogadas em lugares estratégicos do quarto. Um espelho enorme na parede. E pela primeira vez, ele se viu no corpo de Lisa. Ela tinha cabelos castanhos e longos, meio despenteados agora, era branca demais, com os olhos negros e bochechas um pouco maiores que o normal. Olhou mais para baixo e viu que usava um baby doll curto que deixava muitas partes do corpo amostra e desviou logo a visão para o rosto de novo e percebeu que a sua face estava totalmente vermelha.

Finalmente virou para a cama, onde a irmã de Lisa se encontrava, a garota estava numa posição estranha com a barriga pra baixo e uma das pernas totalmente jogada para cima. Como uma pessoa poderia conseguir dormir naquela posição? Ele nem conhecia a garota ainda, mas já tinha medo dela.

Cutucou ela devagar e posicionou o note em um lugar da cama onde ficaria longe dos perigos que aquela perna poderia oferecer. Cutucou de novo e de novo... Várias vezes e a menina não acordava enquanto Lisa ficava chamando o nome dela. Pelo que parece, era Laura.

— Não cutuca, balança ela. Se não, ela não acorda.

Quando ele balançou, a perna da garota voou no rosto do líder.