POV´s James

A culpa pesava em minha mente. A Que ponto eu cheguei?

Matar pessoas

Colaborar com sequestros e torturas

Sim, eu sou um monstro!

Minha mãe teria vergonha de mim, eu mesmo tenho. Me sinto sujo, impuro, um verdadeiro imbecil.

Meus nervos estão à flor da pele e minha consciência pesa, com se 100 kg estivessem sobre minha cabeça.

“Eu era (sou) apenas um cara de boa. Até minha mãe morrer de câncer de pulmão e minha vida virar um verdadeiro inferno. Meu pai ficou depressivo após a morte desta, começou a encher a cara em bares para se “animar” e virou um viciado. Sem grana e sozinho no mundo, ah esqueci-me de mencionar o fato que tenho duas irmãs mais novas para cuidar, Amber, com cinco anos, e Juliet com dois”.

“Meu pai nos largou a própria sorte, saiu de casa para viver com uma vagabunda que conheceu em um dos bares. Cheio de contas para pagar, duas crianças para cuidar e me manter, tive que apelar e ir vender doces no semáforo, mas a grana tava tão curta que não tinha mais dinheiro para comprar doces para vender e muito menos comida para eu e minhas irmãs. Restou-me apenas uma saída: roubar”.

“Eu roubava apenas o suficiente para viver, roubava apenas comida para minhas irmãs, muitas vezes quem passava fome era eu. Tive que parar quando quase fui pego em flagrante. Por dois anos me sustentei apenas de esmolas e furtos. Quando as esmolas encurtaram e parei de furtar, Juliet quase morreu, literalmente, de fome”.

“Após um ano de dificuldades e miséria, eu consegui um emprego de garçom em uma lanchonete. Tudo ia bem, até a crise chegar, como muitos, fui demitido. De volta a miséria, voltei a passar fome e minhas irmãs adoeceram, os medicamentos eram caros, caros demais. Solução: virei garoto objeto”.

“Essa foi definitivamente a época mais obscura da minha vida, eu vomitava todos os dias assim que chegava em casa e chorava até amanhecer. Pensei em me suicidar, mas se o fizesse Amber e Juliet ficariam sozinhas no mundo”

“Foram poucas as semanas, mas definitivamente as piores da minha existência, logo consegui o dinheiro para os remédios e deixei aquela vida humilhante”.

Durante dois anos minha vida (se é que isso pode ser chamado de vida) se resumi a alimentar e cuidar das minhas pequenas irmãs e me manter vivo.

Por elas eu daria meu coração

Elas são a causa do meu viver

E agora estão nas mãos da Regina. Correndo risco de vida...

Esse emprego seria minha salvação. Um emprego digno, com bom salário, sem uma carga horária pesada. Seria, senão fosse pelo fato que destruí-o resto da minha vida.

As únicas pessoas que eu me importo estão nas mãos da Regina, e eu farei tudo para recupera-las. Absolutamente tudo, nem que eu precise atropelar meus princípios.

Amber sempre foi decidida e corajosa, uma ruivinha alegre que apesar de toda sua história triste de vida nunca se deixou abater, encarando tudo com sorriso no rosto.

Juliet tem apenas dois anos, ela tinha apenas alguns meses quando a mamãe morreu e aquele ser sair de casa. Nunca tive coragem de contar a verdade sobre nossa família. Eu criei Amber, eu e Harper somos a família dela, nunca precisou ter mais que isto.

Eu realmente sentia pena da família da tal Manuela, realmente ela é uma menina corajosa apesar de tudo. Ela é linda, não posso negar! Mas sua chatice ofusca tudo que a garota tem de bom.

Nas poucas oportunidades que tive de conversar com Manuela, ela se mostrou extremamente chata, irritante e arrogante, ah não posso esquecer bipolar, uma hora a menina estar sorrindo e em outra berrando feito louca. Estranha é a palavra que melhor define a pessoinha.

– Garoto, você está voando? – ouço alguém me chamar.

Viro imediatamente na direção da voz e encontro uma Laura irritada com uma bandeja de alimentos nas mãos.

– Ainda não criei asas, o dia que eu tiver eu respondo a pergunta Laurinha – digo debochado.

Percebo que suas bochechas estão vermelhas, acho que de raiva.

– Cala boca e leva o almoço da Isabela – fala me entregando a bandeja. – ordens da Dona Regina.

E é nessas horas que eu me pergunto como alguém pode ser tão burra e tapada como a Laura.

Vou até o quarto da mimadinha e Sandro me cumprimenta com um sorriso camarada, esse é outro tapado.

– Sua refeição, milady – ponho a bandeja a sua frente, ela permanece calada – não vai dizer nada? Manuela permanece imóvel, com a cabeça baixa.

– Não estou com fome – diz pausadamente ainda com a cabeça baixa. Percebo que vários curativos estão espalhados pelo seu corpo, principalmente na cabeça.

Confesso que me senti culpado por isso, afinal eu também ajudei a tortura-la.

Quer saber?

Dane-se!

Já tenho muitos problemas, não preciso da culpa assolando minha mente. Foco James. Foco!

Me levanto de sua cama, mas sinto meu pulso ser puxado, viro e encontro

Manuela com o olhar vazio, me encarando.

– Algum problema? – pergunto realmente confuso

– Preciso que entregue isso para o Joaquim – me estende a mão com um bilhete. Agora deu. Virei pombo correio de casal apaixonado.

– O que eu ganho em troca? – ela me encara confusa – não acha que eu vou sair por ai entregando cartinha para o seu namorado de graça, não é?

– Não tenho nada para oferecer

– Grana é o que não te falta – digo cínico.

– Não tenho acesso a quantias de dinheiro – fala seria. Penso por um instante. Regina não teria motivos para dar dinheiro para ela.

– Um laço de cabelo então

– Pra que você quer um laço de cabelo?

– Isso não é da sua conta. Quer que eu entregue a carta ou não? Ela revira os olhos e vai até a penteadeira.

– Satisfeito? – me entrega o laço impaciente

O guardo em meu bolso.

– Muito – sorrio pegando a carta e colocando no bolso da frente. Saio do quarto e encontro o Sandro cochilando no batente da porta. Aproveito para pegar o molho de chaves em seu bolso do paletó.

As chaves tem etiquetas, como: porão, cativeiro/1, cativeiro/2.

Pego a chave do porão e devolvo o molho para o bolso.

[...]

Quando destranco a porta do porão lágrimas correm meu rosto sem que eu perceba.

Minhas duas irmãzinhas abraçadas em um pequeno sofá, encolhidas por conta do frio.

Chego de fininho e me junto ao abraço

– Maninho – Juliet grita pulando em meus braços

– Já tava na hora né Jah – Amber sorri me abraçando de lado.

Não sei por quanto tempo fiquei com Juliet em meus braços enquanto afagava o cabelo comprido da minha outra maninha.

– Vocês estão bem? – pergunto preocupado analisando-as.

– Hun hun– respondem em uníssono balançando negativamente a cabeça.

– Machucam meu ‘blaçinho’ – Juliet diz com cara de choro.

Verifico seu pequeno e frágil braço, vejo marcas de unhas e machucados. Sinto meu sangue ferver e uma vontade incontrolável de socar a cara de alguém.

– Jah – Amber puxa a barra da minha camiseta me obrigando a olhar para baixo – um cara grandão puxou meu cabelo.

– Quem fez isso com vocês? – pergunto tentando compassar a respiração

– Era uma mulher com cabelo grande e laranja – responde Amber escondendo a cabeça em meu peito.

– E um cara bem grande – Juliet fala estucando os braços.

Regina e Navarro

Os dois vão pagar por terem encostado em minhas irmãs, ah se vão!

– Que surpresa agradável – Regina entra com um de seus capangas. Ela arranca Juliet dos meus braços e Amber se agarra a mim.

Não penso duas vezes antes de protegê-la com meu corpo.

– Solta minha irmã agora – rosno

– Senão o que? – pergunta debochada beliscando o braço de Juliet.

– Você acha mesmo que sou idiota Regina? – uso meu melhor sorriso cínico – pensou que eu não iria avisar para as autoridades? Achou mesmo que iria me chantagear e sequestrar minhas irmãs e sairia ilesa?

Ela engole seco, meu teatro está funcionando.

– Para quem você avisou? – grita descontrolada.

– Não vou dizer querida, mas tenho parentes que trabalham na justiça. Se quiser continuar mantendo seu joguinho idiota é melhor me devolver minhas irmãs. Façamos o seguinte, você me devolve o que me pertence e eu não abro a boca.

– O que me garante que você não irá falar nada? – ameaça beliscar novamente Juliet

– Eu passarei a viver na mansão, você vai aumentar meu salario, vou passar 24h por dia com minhas irmãs e anoite você me tranca onde quiser.

Ela põe a mão no queixo parecendo pensar. Em seguida solta Juliet, que corre para meus braços.

– Trato feito, não ouse tentar gracinhas, ou nosso acordo é desfeito e suas irmãs pagam.

Saímos do porão, as meninas estão tão assustadas que mal conseguem andar. Regina nos mostra o quarto onde as meninas vão dormir. Já que segundo ela eu me alojarei no porão.

Ela e seus capangas me deixam a sós com minhas irmãs. Amber logo cai no sono. Juliet continua em meus braços.

– Olha só o meu presente para você – tiro o laço de Manuela do bolso e lhe entrego.

Suas mãozinhas frágeis tocam o tecido do laço e um sorriso com covinhas ilumina seu rosto.

– Eu sempre quis ter um. Obrigada Jah, eu te amo muito, muito e muito – me abraça docemente.

– Feliz aniversario de dois anos princesa. Eu também te amo – beijo sua testa levemente.