O sol brilhava forte, o clima estava bem agradável. Eu estava sentada no balanço do parque que ficava perto da minha casa. Minha mãe e a médica (que se chamava Dra. Emma) resolveram me levar à um lugar a minha escolha. Elas resolveram ir andar para conversarem sobre meu tratamento e me deixaram sentada no balanço. Tudo estava bem calmo, eu ainda sentia algumas dores, mas eu estava feliz, por mais incrível que isso parecesse. Ficava pensando se minha morte seria tão tranquila quanto àquele momento silencioso e agradável. Fechei os olhos e senti a brisa refrescante em meu rosto, enquanto balançava lentamente.
- Oi? - uma voz masculina me assustou.
- Ah, oi. - falei abrindo os olhos bruscamente. Entrei em choque, era o garoto da guitarra.
- Então é você que anda me espionando aqui do parque?
- Eu não ando te espionando, eu já vi você tocar algumas vezes, quando venho aqui.
- Eu toco bem? - Ele riu.
- Garoto - olhei torto para ele - você pode me dizer o seu nome?
- Richard. E o seu?
- Evelyn.
- Evelyn? A garota que mora na Rua 14? Quer dizer... Aquela Evelyn? A ruivinha?
- O que tem de tão interessante? Por que toda essa surpresa?
- Eu sou seu amigo, q-quer dizer... Éramos amigos na quinta série, não se lembra?
- Richardzinho? O garotinho que adorava irritar a professora Mary?
- Isso!
Rimos muito, Richard era um antigo amiguinho meu de infância. Eu era bem calada e ele também e por algum motivo conseguimos ser amigos, mesmo com a timidez. Ele era alto e um pouco magricela, tinha cabelos pretos e olhos castanhos.
- Nossa faz tanto tempo, eu não sabia que estava morando no mesmo bairro que eu. - falei.
- Um amigo meu disse que a viu por aqui e me falou. Nossa você está muito diferente! - ele disse sorrindo.
- Estou careca, é verdade.
- Eu não quis dizer isso, só que...
- Richard eu tenho câncer, não ter cabelo é normal. Anormal seria ter cabelo.
- Eu não sei o que dizer Evelyn, eu não sabia... Meu Deus eu sinto muito. E-eu...
- Você só não esperava me ver assim, morrendo. Eu entendo, relaxa. Eu não vou ficar falando sobre isso, me fala como está a sua vida.
- Bom, está ótima, eu estou terminando a escola, meus pais estão bem e minha irmã também... É, acho que só.
- Você tem banda?
- Eu? Não, não tenho. Os caras não me acham bom o suficiente.
- Você é sim, - eu sorri - um dia vai entrar para uma.
A mãe de Richard apareceu. Ela era igualmente magra e de cabelos pretos. Me cumprimentou sorrindo e chamou Richard para almoçar. Ele se despediu de mim e voltou para casa com a mãe. Continuei sozinha balançando e esperando minha mãe e a Dra. Emma voltarem, eu também já estava com fome. Eu só queria que esse dia não terminasse, assim como minha vida.