Só mais um dia escrita por Caroline Bueno


Capítulo 1
Lista




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Falar sobre a vida não era tão fácil para mim. Eu não conseguiria viver a tempo de dizer o que ela é. Numa quarta-feira, dia 4 de junho eu descobri isso. Eu tenho câncer. Ter essa doença é como viver todos os dias como o último. Se a vida era curta para aqueles que vivem 70 ou 80 anos, imagine para mim.

Eu tenho 15 anos. Eu só vivi 13 anos pensando que teria uns 70 pela frente. Essa não é só mais uma história de câncer, é a minha história. Me chamo Evelyn Benetti, e vivo em Londres. Eu havia feito um exame rotineiro e então veio a bomba. Minha mãe Adeline Bennetti vivia em depressão e meu pai Arnold Bennetti, estava desolado. Graças a Deus eu era filha única, não queria um irmãozinho chorando minha morte. No dia em que eu soube, eu não chorei. Eu escrevi na metade de uma folha de fichário velha uma lista de coisas que queria fazer antes de morrer.

1- Ir em uma Fábrica de Chocolates.

2- Montar uma árvore de Natal de 4 metros.

3- Nadar num lago de madrugada.

4- Atrapalhar um peça de teatro aparecendo fantasiada de morte.

Eu tinha escolhido apenas 4 coisas porque ainda tinha a esperança de escrever mais depois que fosse mais velha e tivesse outros sonhos. Eu não realizei nenhum dos itens da minha lista desde os meus 13 anos, só saio de casa para o hospital e vice-versa. De vez em quando eu consigo fugir de madrugada e ir até o parque que fica perto da minha casa. Numa dessas fugas eu fiquei olhando pela janela de um garoto que ficava tocando guitarra em seu quarto, ele era muito bonito. Acho que ele nunca me reparou sentada no balanço olhando para ele.

Eu nunca tive o desejo de amar ninguém em minha vida, eu não teria muito tempo para amar alguém, e só o pensamento de fazer mais alguém à minha volta sofrer não cabia em minha cabeça. Mesmo convivendo com o melodrama de ter câncer, eu queria ter uma vida mais agitada. Ou melhor, queria viver, e não apenas sobreviver. Queria poder fechar meus olhos pela última vez e visualizar todos os momentos loucos e felizes da minha vida e definitivamente não poderia ser dentro do hospital. Minha melhor amiga Violet entendia muito em ser uma rebelde inconsequente, ela havia sido expulsa de 4 colégios e vivia cheia de detenções e sermões. Eu não queria ser como ela nesse ponto, porque ela fazia tudo isso por causa de seus pais terem se separado.

A questão é que eu queria ter uma história, algo pela qual as pessoas se inspirassem, algo que desse um bom livro. Eu só queria não virar apenas mais uma lembrança que as pessoas nem teriam o trabalho de esquecer.


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