Brown Eyes escrita por Leonardo, Leonardo Alexandre


Capítulo 5
Capítulo 5- Esther


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores...
Talvez seja melhor vcs darem uma relida rápida nos cap's anteriores pk eu mudei o nome de alguns personagens... Ou não, pela personalidade já dá de sacar...
Se vcs acharam que o capítulo anterior foi tiro... Melhor abaixar que esse é mais forte ainda... Ministério da saúde sugere aos leitores cardíacos que tenham cautela...
Um beijo pras gostoooooooooooooooooooooosas que estão comentando... Turma, Bia, Camilaaaaa ♥ e Anninhaaaaaaaaaaaaa... :* Suas lieeeeeeendas... Ques lindas lindas, tãos lindas, lindas...
Enfim, boa leitura...

P.s.: Música do capítulo Daughter - Youth https://www.youtube.com/watch?v=65MDGX0lZPo&feature=youtu.be
P.s2: Sim, eu stalkeio o perfil de vcs... :*



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— Vo... Você fa... Vo-você falou. — A professora gaguejou perplexa.

— Eu sei. — A voz doce e suave de Karen soou novamente através de seus dedos antes que seus braços finos e pálidos por falta de sol rodeassem o corpo de Shinara que não sabia se podia lhe retribuir ou não. — É a primeira vez que eu falo em meses! Me abraça, mulher!

— Oh meu Deus! — Exclamou erguendo a menina e apertando o corpinho pequeno sem força o bastante para machucar. — A sua voz é ainda mais linda do que eu imaginava.

— Eu nem me lembrava mais dela. — Confessou enquanto afagava os cabelos loiros. — Já pode me soltar, ainda é estranho ser tocada. Embora também seja bom. Quer saber? Solta ainda não.

— Tá bom, mas a gente tem que ir pra sala alguma hora. — Divagou com um sorriso de canto, estava mesmo literalmente conversando com Karen Pfeifer.

— Então é melhor me soltar mesmo. — A pequena suspirou enquanto seus pés voltavam para o chão. — Vamos. — Caminharam em silencio até a porta da sala, então Karen segurou o braço da professora quando ela ia alcançar a maçaneta. — Shi... Você... Acha mesmo aquilo?

–O queAaaaaah. –falou tudo junto ao entender que se tratava de Gusta. –É claro que eu acho isso mesmo. Você é um amor, não tem como não gostar de você. Ele é um amor, não tem como não gostar dele. Ou seja, obviamente vocês se dariam super bem. Agora a gente tem mesmo que entrar.

— Ah, claro! — A baixinha quase saltitou para dentro da sala. Por algum motivo era bom saber que Gustavo gostaria de ser seu amigo.

No dia seguinte, Shinara incentivou Karen a ficar com Anninha e Ceci na hora do intervalo, afinal, as duas também eram tímidas e procuravam ficar em um lugar mais sossegado da escola. Karen decidiu ir e descobriu que esse lugar sossegado era muito conhecido seu de vista, o gramado do jardim da escola, onde sempre admirava um ponto imaginário.

— Hm. — Despois de um tempo de um silêncio confortável, Anna Luíza decidiu falar. — Como você está? — Se dirigia a Cecília.

— Eu to bem. — A garota respondeu muito baixo, como se estivesse contando um segredo. — E você, Anninha?

— Eu também.

— E você... An... — Fechou os olhos um segundo tentando lembrar o nome da colega. — Karen, né? Como você está?

E Karen abriu a boca, mas nenhum som saiu de lá. Que estranho, havia sido tão fácil com Shinara, tão natural. Bom, ela era sua melhor amiga. Levaria tempo para criar tal intimidade com as duas colegas. Aquilo foi um tanto quanto frustrante, mas não pôde fazer nada além de franzir o cenho.

— Eu te disse, Ceci. A Karen não é de falar, então você tem que ser mais precisa. — Anna Luíza voltou à conversa sorrindo gentilmente para Cecília e depois para Karen. — Você tá bem?

Karen assentiu e o sorriso de Anninha aumentou minimamente como se dissesse “que bom”, então o silêncio voltou e continuava sendo confortável. Às vezes Ceci sorria para Anna e ela sorria de volta e vice-versa, e então as duas ao mesmo tempo sorriam para Karen e ela também retribuía. E isso era bom, elas não precisavam dizer nada para se sentirem bem uma com a outra. Anna Luíza tinha razão, era menos estranho quando elas eram estranhas juntas.

Voltaram para a sala quase por ultimo, pois esperaram até que o fluxo de alunos diminuísse nos corredores. Shinara já tinha as copias das folhas de tarefas em número exato para fazer um trabalho em dupla no qual Karen ficaria sobrando novamente, mas aproveitando que ela estava se entrosando com as outras duas meninas tímidas, decidiu que passaria em trio.

— Eu respondo a primeira, você a segunda e você a terceira. — Anna apontou primeiro para Ceci e depois para Karen. — Depois volta pra mim e assim vai.

— Mas aí você vai responder quatro e a gente três. — Cecília falou não muito mais alto que no intervalo, apenas o bastante para o barulho dos outros grupos não atrapalhar.

— Eu não ligo. — Anna apenas não queria ter que falar muito, embora já considerasse as duas meninas suas amigas, a timidez era muito grande.

O dia seguinte era uma sexta-feira, então Karen definitivamente ficaria na sala para devorar algumas páginas de seu novo livro e Shinara não ficou preocupada porque trocaram algumas palavras, então o progresso continuava.

Se consultar com aquela doutorazinha continuava a ser péssimo e ainda mais depois das consultas ter que assistir (ou, no caso, ouvir) o flerte descarado que sua mãe insistia em ignorar. Mas como tinha coisa muito melhor para pensar do que isso, não estava permitindo que essa uma hora e quinze minutos estragasse seu humor.

Os dias foram se passando e se transformando de novo e de novo em semanas e Karen estava feliz com sua rotina até perceber que faltava apenas uma semana para as férias de meio de ano. Como seriam seus dias sem ser estranha com Anna Luíza Lorenzo e Cecília Santos? Sem quase topar com Gustavo no bebedouro depois das aulas de educação física e ver seu sorriso fofo enquanto ele dizia “Foi mal, lindinha. Cuidado ou da próxima vez a gente se topa”? E principalmente, como suportar as sextas-feiras sem as conversas com Shinara e os livros?

Mais Shinara que os livros, sinceramente. Claro que ganhar livros era ótimo e foi inicialmente isso que transformou as sextas em algo suportável, mas na verdade, só era possível porque eram dados pela professora. Era por causa dela que sua vida havia ganhado um pouco de normalidade novamente, um pouco de alegria depois daquela... Daquela noite. E pensar em perder isso por quatro semanas era horrível.

— Algum problema, pequena? — A professora perguntou segurando o embrulho retangular quando percebeu que o semblante da castanha estava desanimado.

— O que? Não! Problema nenhum. — Tentou forçar um sorriso, mas a sobrancelha de Shinara se ergueu como um “até parece que eu não te conheço”. — Okay, talvez tenha.

— E o que seria? — Shinara sentou na cadeira à frente deixando o livro de lado um minuto.

— As férias estão chegando. — Karen suspirou e apoiou o rosto nas mãos.

— Isso não é bom? Assim você tem mais tempo pra ler. — A professora acariciou o cabelo de Karen e a ouviu suspirar de novo.

— Mas eu não vou poder falar com você sobre os livros. E também eu vou ter que aturar as sextas-feiras sem ganhar livros que sejam realmente meus.

— O que afinal tem nas sextas-feiras pra você não gostar delas?

A pequena parou alguns segundos analisando em sua mente se devia ou não falar sobre o assunto com a professora, em seguida suspirou pela terceira vez e soltou a frase. — É o dia da minha consulta com a psicóloga.

— E...

— E eu não a suporto.

— Por quê?

— Primeiro que ela meio que me trata feito retardada, o que eu relevo porque só tenho oito anos pra ser tão inteligente e não sou muito de falar pra ela perceber, mas ainda assim é incomodo. Segundo que ela não consegue simplesmente entender o fato de que eu não gosto que me toquem e continua insistindo e insistindo toda bendita sexta-feira. — revirou os olhos e bufou antes de prosseguir. — Mas não é só isso. Além de tudo, ela não se importa comigo nem um pouquinho, ela só não me despacha pra outra psicóloga por causa da minha mãe.

— Como assim por causa da sua mãe? — A professora franziu o cenho.

— Uma vez, depois da consulta, eu fui ao banheiro da clínica e enquanto eu tava na cabine, a Nicole entrou com uma tal de Amanda, que eu não sei quem é, e, meio que sem querer querendo, eu ouvi uma conversa no mínimo esclarecedora...

Flashback Onn

— Trabalho estressante? — A voz conhecida e irritante da doutora Nicole soou no banheiro e Karen revirou os olhos.

— Argh, totalmente! — outra voz, dessa vez desconhecida, respondeu. — São um bando de adolescentes mimados querendo remédios pra TDAH. Já to me arrependendo de ter escolhido essa profissão. Ah não ser por uma... Uma menina aí.

— Ela é boa? — Doutora Lira assumiu um tom malicioso.

— Oh se é. 16 aninhos. Me dá mole descaradamente e eu to fingindo que não saquei ainda, mas pode crer que eu vou tratar muito bem dessa paciente logo, logo.

As duas riram e houve uma breve pausa antes que Nicole perguntasse. — E como é o nome da garota?

— Simone.

— Que sexy.

— Pena que você não tem essas vantagens, Nike.

— É...

— Que tom é esse, doutora Nike? Você é psicóloga infantil.

— Crianças tem mães, Doutora Amy.

— Hmmmm. E você tem uma presa em vista. — Não era uma pergunta, era uma afirmação escorrendo malicia.

— Tenho. Meu Deus, como aquela morena é gostosa! Só tem um probleminha... A pirralha da filha não tem jeito. Queria mais era mandar a garota pra outra psicóloga ou despachar pra uma clinica psiquiátrica.

— Ai que maldade, Nike.

— Não é maldade, Amy. Eu ainda to tentando, não to? Se eu chegar à Karen, a mãezinha vai ficar muito feliz e eu posso tirar proveito disso.

— Você não presta mesmo, Nicole.

— Obrigada, Amanda.

As vozes risonhas foram se afastando até sumir e Karen ficou lá por alguns instantes digerindo aquela conversa, então saiu bufando de raiva.

Flashback Off

— Pelas calças de Merlin. — Exclamou Shinara ao fim do relato. — Você não pode estar falando sério, pequena.

— É, não posso. Mas infelizmente estou. (suspiro exasperado). Agora me diz se essa mulherzinha não é uma grandessíssima de uma... — Antes de concluir, Karen inspirou profundamente para controlar a raiva. — “Palavra inapropriada pra minha idade”.

— Sem sombra de dúvida ela é uma baita de uma “palavra inapropriada pra sua idade”! Eu vou matar essa... Argh! Como a sua mãe ainda não te tirou de lá?

— É que... Bem, ela não... E-ela não... — a aluna suspirou e fechou os olhos. — Ela não sabe. Não sabe de nada disso.

— Por que você não contou?

— Eu não falo com a minha mãe desde... Quer dizer, eu não falo com ninguém desde que... E não é como se... Não é como se não desse pra notar que eu odiava as sextas-feiras. Você sabe, era tão óbvio.

— Tá, mas você podia ter escrito um bilhete ou algo assim. E essa outra mulher, a tal Amanda, ela podia até ter sido presa. Isso é grave, pequena.

— Eu sei, mas... Eu não consigo. Não com ela. Com ninguém além de você. Eu não sei por que, mas eu consigo me abrir com você.

— Mas você não consegue nem mesmo com a sua mãe?

— Principalmente com ela. Não consigo nem olhá-la.

— Por quê?

— Shi, eu... — Os olhos achocolatados brilharam com as lágrimas que começavam a se formar. — Eu não quero falar sobre isso.

— Sim, você quer. Seja o que for, eu sei que você quer falar sobre isso. Você é só uma criança, não pode e nem quer carregar o peso do mundo nas costas. Você confia em mim, sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, mas está com medo de falar por algum motivo. Eu sei por que te conheço, pequena. E você me conhece, sabe que eu não vou te abandonar e nem desistir de você porque eu me importo de verdade contigo. Conta pra mim.

— Eu não posso. — Karen cobriu o rosto com as mãos e deixou que o choro fluísse livremente.

O sinal para o fim do intervalo soou e Shinara acariciou as costas da castanha, mas ela fez sinal para que a professora se afastasse.

— Karen...

— Tudo be-em. — Disse soluçando. — Continue a aula, e-eu vo-ou ficar bem.

— Karen...

— Eu vou! Só... Vai. No fim da aula a gente conversa direito.

Shinara abriu a boca para relutar, porém os alunos começaram a entrar na sala, juntando-se a Gustavo que já estava lá, mas tivera o bom-senso de não interferir. Então, mesmo que muito relutante, a professora pôs o embrulho retangular na mesa de Karen e se levantou, encaminhando-se até a frente da sala.

As duas horas seguintes foram as mais longas da vida de Shinara, ela mal conseguia se concentrar em dar a aula, seus olhos insistiam em focar o cantinho da sala onde Karen soluçava discretamente.

Depois que todos saíram da sala, a loira se encaminhou até sua aluna e voltou a afagar suas costas, como quando ela havia começado a chorar. — Olha, me desculpe. Eu não queria te forçar nem nada, eu só...

— E-eu sei. Você só quer ajudar e está certa sobre o que disse. Eu que-ero falar sobre i-isso com alguém. — Soluçou ainda de cabeça abaixada. — Eu só-ó-ó não co-onsigo. Dói demais, um bolo se forma na minha ga-arganta e eu só... E-eu só...Dói muito, Shi. Dói muito.

— Oh, pequena. — Shinara se ajoelhou ao lado da cadeira de Karen e a abraçou, sendo retribuída com toda a força que os bracinhos pálidos e finos tinham. — Vai ficar tudo bem, meu amor.

— Não vai. Isso nunca, nunca vai melhorar. Eu posso esquecer por algumas horas mais sempre vai voltar, talvez cada vez mais forte.

— Não, pequena, não diga isso. Vai passar, vai passar. Tudo vai ficar bem. — Enquanto falava docemente, ia acariciando as costas da aluna. Como um corpo tão pequeno podia carregar tanta dor? Não podia, apenas carregava.

Aos pouquinhos, os soluços iam ficando menos violentos, até que por fim pararam. Shinara puxou um pouco o corpo para trás, fazendo com que Karen retomasse sua postura, então enxugou as lágrimas que banhavam as bochechas coradas.

— Tá melhor.

— Não sei como você consegue me transmitir tanta paz, mas... Sim, estou muito melhor.

— Oh Deus. — Exclamou uma mulher morena da porta da sala.

Karen congelou exatamente como estava e Shinara virou por instinto ao ouvir aquela voz.

— Ah. An... Oi, eu posso ajudar? — A professora se levantou um tanto quanto confusa.

— Ela tava... Tava... Ela falou com você. — O corpo da mulher começou a tremer por completo.

— Senhora, mantenha a calma. — Shinara usou o mesmo tom ameno que usava com seus alunos.

— Calma? Eu não ouvia a voz da minha filha há oito meses e vinte e sete longos dias. A senhorita não tem o direito de me pedir calma.

As lágrimas voltaram a brotar nos olhos de Karen, mas dessa vez ela não sabia a razão. Sua única atitude foi pegar a mochila de rodinhas com a estampa do filme Enrolados e sair correndo sala a fora passando o mais longe possível da mãe.

A morena queria correr atrás, queria muito. Mas sabia que se desse um passo sequer, suas pernas falhariam e a levariam diretamente para o chão.

— Ei, vem aqui. — Shinara se alarmou com o estado trêmulo da mãe de sua aluna e foi até ela, ajudando-a a sentar em sua cadeira. — Como é o seu nome?

— Esther. Esther Pfei... Lohane. Esther Lohane. — A morena respondeu cobrindo o rosto com as mãos.

— Esther, eu vou pegar um copo com água pra você se acalmar. Eu conheço a Karen, e a senhora também, então sabemos que ela não está em um lugar perigoso. Só sossegado.

A mulher assentiu freneticamente, devido à tremedeira. Shinara foi até a porta, olhou para ela uma última vez e foi até o bebedouro mais próximo.

Demorou mais de dez minutos para que Esther conseguisse se acalmar e parar de tremer.

— Me desculpe pelo surto, eu... — Seu olhar brilhou em lágrimas que logo tratou de conter. — Eu senti tanta falta de ouvir a voz da minha bebê. Fazia tanto tempo...

— Oito meses e vinte e sete dias? É sério?

— Sim. Ela... Ela me odeia. — Sem conseguir mais se controlar, Esther começou a chorar compulsivamente enquanto voltava a tremer dos pés à cabeça.

— EI, não. Não diga isso. — A professora se aproximou na intenção de por as mãos nos ombros da morena, mas tomou um grande susto quando ela a agarrou e a apertou contra si de repente.

— É verdade. Ela não olha nem na minha cara desde o acidente. Eu sei que ela me odeia, ela me culpa por isso. Eu só queria que aquela maldita noite nunca tivesse existido.

O primeiro pensamento de Shinara foi perguntar afinal de que acidente a mãe de sua aluna estava falando, mas percebeu que seria muito indelicado naquele momento, então apenas fez o mesmo que fez com Karen minutos atrás: lhe afagou as costas e ficou murmurando. — Shiii. Vai ficar tudo bem, tudo bem. Shiii.

Continua...


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Estão ansiosos pro próximo? Pena que só falta mais um...
AAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!!!! Terça a gente descobre o que afinal aconteceu naquela noite...
E aí, Bia? O colete adiantou ou esse foi de bazuca?
xoxo
Atenciosamente, Leoa Santana...

P.s: Se vc entendeu a referência no flashback, vemk e me abraça!!!!!!