Descobertas Paralelas escrita por Capitã Nana, lynandread


Capítulo 9
Ação de graças


Notas iniciais do capítulo

Oi oi oi...



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Jill estava atônita com o que acabara de ouvir. Seus olhos pareciam mais azuis que de costume. O sorriso amarelo da garota foi a única reação que ela pode expressar diante da novidade.

Chris por outro lado gargalhou e em seguida degustou de um belo vinho 1988. Claro que em sua mente aquilo era apenas uma brincadeira de “Angel e Brad”. Não seria possível e nem tão pouco provável. Mas os dois certamente se entreolharam quando notaram os traços firmes de seus amigos os observando.

— Ada querida... Vamos até a cozinha, afinal ainda falta a sobremesa.

— É uma excelente idéia Valentine. – Adiantou Chris a fim de ficar a sós com Leon.

Ada sorriu para cobrir a tensão do momento e logo se levantou pedindo licença para os rapazes e sendo imitada por Jill.

Assim que chegaram na cozinha o silêncio implorava pra ser quebrado mas Ada sabia que Jill tinha todo direito de iniciar o diálogo. A garota seguiu até geladeira e retirou uma linda e deliciosa torta de Cream Cheese de lá. Ela havia comprado a guloseima pela manhã na confeitaria próximo ao prédio. Quando se virou Ada estava bem próximo a si, então ela lhe entregou a torta com um largo sorriso e a mais velha suspirou.

— Jill...?

— Estou me sentindo a Bela adormecia moderna, que acabou de acordar depois de um ou dois anos em coma. Aliás, o tempo que seria comum para algo assim acontecer. — A morena articulava as mãos no ar. Precisava desabafar.

Ada revirou os olhos em reprovação a amiga.

— Para uma Aurora moderna você está bem atrasada... Não faça drama Jill. Estamos no século XXI, isso é algo extremamente corriqueiro hoje em dia. — Ada argumenta em falso cansaço na expectativa de que a outra a entendesse o mais breve possível.

        — Mas... Mas foram apenas três meses. Três meses é o tempo para concluir um cursinho básico na internet, quitar a dívida no cartão de crédito ou juntar dinheiro para ir ao show do Erick Clapton. Mas para isso não.
      
        Não havia argumento que fizesse com que Jill entendesse que o amor verdadeiro e intenso  não se explica, apenas acontece sem qualquer pré-aviso.

     – – –

    Horas antes...

     A manhã de quinta-feira começou bem agitada no apartamento... O motivo da euforia era o tão esperado — por Ada — jantar de ação de graças. Ela e Jill já estavam colocando em prática seus dotes culinários ao som de Like a virgen da cantora pop Madonna. Jill subiu em uma cadeira com uma colher de madeira em mãos. Cantava alegremente enquanto Ada criava sua performance digna de vídeos da internet. Enquanto a mais velha usava roupas leves, avental e touca, a outra trajava uma calça de moleton, regata e suas madeixas presas em um rabo de cavalo lateral. Em geral elas se divertiam bastante juntas, mas naquele dia Ada estava muito mais entregue que de costume e isso aquecia mais ainda o coração de Jill.

O telefone residencial tocou interrompendo o showzinho privado das garotas. A asiática logo o atendeu e suas expressões revelavam que a conversa não era nada agradável.

— Sim senhor González... Claro senhor González... Estamos atrapalhando as aulas de pilates da sua esposa pela TV. Perdoe-nos... Entendo... Mil desculpas, não irá se repetir. Tenha um bom dia. – Ela desligou o telefone. E em seguida reduziu o volume do home theater.

— Ah! Nem estava tão alto assim – Reclamou Jill. Ela desceu da cadeira fazendo bico. – O senhor González e a esposa deveriam aprender a política da boa vizinhança.

— Não seja tão rude Jillian, temos que admitir que nosso espetáculo estava nas alturas e considerando que a platéia está logo abaixo. – Ada apontou o dedo para o chão. A família Gonzáles residiam logo abaixo das garotas e sempre reclamavam de barulhos no andar de cima. Até mesmo quando elas não estavam em casa.
       
           
Com mais algumas horas passadas a campainha toca e assim que Jill abre a porta se depara com a figura de Leon com algumas sacolas do supermercado.

— Boa tarde Leon! Está atrasado. Ada e eu já estamos quase acabando os preparativos para o jantar. Entre. – Ela abriu passagem para que ele adentrasse ao apartamento.

— Desculpe a demora, mas está impossível as filas no supermercado hoje. – Leon foi até a cozinha e colocou as coisas sobre a mesa.

— Amor! Nossa eu já estava com saudades... – Ada o abraçou e os dois selaram seus lábios com um beijo um tanto caloroso.

Jill desviou o olhar para o chão, pois ficou tímida com a cena.

— Bem, vou ver como anda os preparados lá em casa. Estou curiosa pra saber quais as delícias que a mamãe e a Becca estão fazendo. – Valentine deixou a cozinha em passos lentos.

— Fala pra eles que mandei um beijo e estou com saudades daqueles canelones que só o Sr. Valentine sabe fazer!

— Pode deixar!

O casal abriu espaço entre eles e a artista logo foi vasculhar as sacolas trazidas pelo namorado.

— E então, ainda convicta de que é uma boa idéia ter nossos amigos dividindo o mesmo espaço?

— Você ainda tem alguma dúvida? Sei que Chris e Jill se darão muito bem juntos. Sei que você deve está pensando que estou jogando a minha responsabilidade nas costas do Chris. Mas não é nada disso, só acho que um fará bem ao outro. – Ada observava uma garrafa de vinho suave ligeiramente cara e não pode evitar um "humm" quando viu de que safra era.

— Passei todo esse tempo me sentindo um traidor. Mas confio em você, e sei que tudo vai dar certo. – Leon sorriu sutilmente e foi retribuído pelo mesmo gesto.

Ada retirou de uma sacola uma travessa de vidro com algo aparentemente apetitoso.

— O que é isso?

— Salada de frutas vermelhas com um leve toque de rum e canela. Receita da minha mãe. – Sorriu orgulhoso.

— Hmm, me parece delicioso... E afrodisíaco. – Ada mudou seu tom de voz para o mais sedutor possível.

        – Não mais do que te ver com esse avental – Leon a agarrou e a encostou na parede. Com certa destreza agarrou a nádega da namorada que soltou um leve gemido.

Os dois se beijaram intensamente. Ada agarrou os cabelos do loiro e levemente puxou. Ele por sua vez segurou com firmeza um dos seios durinhos de Ada. O clima se tornava cada vez mais quente e a presença de Jill no apartamento esquecida. Com a mão livre a morena apertava os músculos definido do braço do rapaz. Desceu sorrateiramente os dedos até o baixo ventre de Leon afim de aprofundar as carícias. Mas algo inesperado quebrou a tensão sexual entre eles.

— Que cheiro é esse? – Perguntou Leon.

— Droga! – exclamou a morena. Ela correu até o fogão e abriu o forno, deixando o cheio de queimado se espalhar pela casa. – Eu não acredito! Meu suflê de batata doce com chocolate belga...

O rapaz não pode evitar torcer o nariz ao ouvir os ingredientes daquela guloseima. Nunca havia ouvido falar sobre aquela iguaria.

— Parecia ser uma ótima pedida...

Nesse instante Jill apareceu correndo até a cozinha.

— Ada o suflê!

— Tarde demais Jill. O suflê está queimado. – Ada respondeu observando sua obra prima deformada.

— Ah amor não fique assim, ainda temos a minha salada de frutas.

— Mas o que vocês estavam fazendo que deixassem isso acontecer?  –   O olhar de cumplicidade entre Ada e Leon foi o suficiente para Jill entender o ocorrido – Certo... Olha, eu vou ver se a confeitaria ainda está aberta, não da tempo de preparar um novo suflê mesmo.

      – – –

A vitrine da confeitaria estava um verdadeiro convite ao pecado da gula. Jill não sabia qual doce escolher. Ela se abaixou para observar melhor os rocamboles da última prateleira. Seus quadris arredondados coberto por um jeans justo chamavam a atenção de quem passava inclusive alguém já conhecido.

Chris sorriu largo com a bela visão antes mesmo de notar que a dona daquele lindo bumbum arrebitado era sua marrenta vizinha. Ela viu o reflexo do rapaz pelo vidro da vitrine e imediatamente se levantou com o rosto avermelhado.

— Agora você espiona as pessoas, Chrisloteiro?

— Só quando elas não são você. Acredite foi coincidência. – O maior respondeu indiferente. Passou por ela e pediu ao atendente algumas rosquinhas de açúcar e canela.

— Vai mesmo ao jantar de ação de graças lá em casa?

— Por quê?

— Sei lá, só achei que iria jantar na casa da Jéssica. Então... Vai levá-la? – Jill estava se sentindo ridícula por ter dito aquilo. Por que sempre que estão juntos o nome de Jessica sempre aparece?

Chris se virou para a garota com um sorriso que indicava mais uma de suas piadas irritantes.

— Relaxa, essa noite serei só seu.

— Imbecil...

O atendente entregou o pedido do rapaz e ele o pagou. Então quando estava de saída notou que a morena mostrava-se indecisa em meio a tanto doces.

— Ei Valentine! Devia optar pela torta de Cream Cheese. Está com uma cara ótima, além do mais é minha sobremesa favorita.

— Por favor, me vê uma torta de limão pra viagem, por favor? – Jill disse ao atendente e em seguida olhou para Chris de maneira desafiadora. O mais velho apenas sorriu e abandonou o estabelecimento.

       – – –

Tudo pronto para o jantar, tudo perfeitamente organizado. Um verdadeiro banquete, um pouco exagerado já que o jantar era apenas para quatro pessoas. Mas quando Ada estava inspirada era uma verdadeira locomotiva. Assim que terminaram os preparos as garotas foram se arrumar e de fato estavam ficaram lindas. Ada usava um vestido sem alças, verde musgo longo, com uma abertura lateral até próximo a virilha, uma renda fina cobria toda parte de baixo do vestido o deixando mais discreto. No pescoço um pequeno colar de prata com um pingente perolado. Sandálias douradas de salto agulha e as madeixas levemente enroladas.

Já Jill trocou a jaqueta e o All Star por um vestido azul céu curto até a metade das coxas e também sem alças, com as barras em tecido preto e um laço na mesma cor que se entrelaçava em sua cintura fina. Calçou um Scarpin prata de salto alto e fino. Os longos cabelos jogados para o lado esquerdo e presos com grampos com pedrarias transparentes.

— Você está divina – Ada elogiou a amiga.

— Você também... Só não entendo por que me fez usar tudo isso. Nem de salto eu sei andar.

— Justamente por isso. Eu sei que você ama seus inúmeros tênis, mas é bom mudar de vez em quando. – Ada sorriu e Jill a abraçou.

A campainha tocou e elas foram para a sala receber os rapazes. Ada abriu a porta e logo corou ao notar os olhares de admiração voltados para ela. Logo se afastou para que eles adentrassem a casa e chegasse a vez de Jill ficar levemente corada.

Ambos também estavam elegantes. Leon como sempre voltado para o social, camisa azul marinho com os dois botões abertos — por insistência de Chris— um terno preto com a calça no mesmo tom e sapatos marrom escuro. Cabelos penteados para trás sem um único fio em desordem. Já Redfield não abriu mão de sua "rebeldia" uma calça jeans escura com uma camisa social branca  com metade por dentro da calça, uma jaqueta preta e um sapatênis bege. Os cabelos levemente bagunçados e a barba por fazer.

— Vocês estão lindas... – Chris se adiantou e beijou as mãos das garotas.

— Nossa quanta cordialidade Chris. Vocês também estão magníficos – Disse Ada abraçando o namorado.

— Obrigado – Leon selou os lábios de sua amada.

Chris e Jill se fitavam por alguns instantes. Não podiam negar que estavam gostando do que viam.

— Bem, vamos tomar um coquetel para abrir a noite – Jill sorriu e seguiu para a cozinha.

        – – –

A noite estava devidamente agradável. Leon e Ada cada vez mais apaixonados, Chris e sua pose de bom moço e Jill e seu violão embalando aquele momento com canções escolhidas pelo seu público.

Algum tempo depois o jantar se deu início. Todos eram só elogios aos alimentos degustados.  Leon abriu uma garrafa de vinho e serviu a todos para um brinde. Então Ada achou que aquele momento seria propício para o assunto tão esperado.

— Antes do brinde eu gostaria quer dizer, Leon e eu gostaríamos de comunicar algo ao nossos melhores amigos. – O coração da morena palpitava tão forte que ela sentia uma pequena dor. – Leon e eu vamos nos casar!

— Ah... Nossa, meus parabéns – Chris estava segurando o riso e as piadas sobre matrimônio, pois tinha uma máscara a manter. – Que repentino... Leon por que não disse nada seu malandrinho?

— Desculpa, mas Ada me fez guardar segredo até o jantar então... E você Jill, não vai dizer nada?

— Oh sim, claro... Parabéns... Mesmo, estou muito feliz por vocês – A garota sorriu, mas era impossível camuflar sua surpresa.

— Então vamos ao brinde! – Chris exclamou erguendo a taça com a bebida escura.

— Espere, ainda não acabou. – A asiática interrompeu e Chris voltou a taça para a mesa. – Bem, nos conversamos muito e decidimos abrir mão do casamento formal por um tempo, sendo assim optamos apenas por morarmos juntos.

— Uau! Sinceramente deveria ter me avisado antes para procurar um lugar pra ficar. – Jill soltou a sinceridade até então camuflada.

— Nesse caso tenho que concordar com a Valentine. Vou precisar de um tempo para procurar um apê em conta.

— Aí vem a melhor parte. – Ada sorriu radiante – Como nos quatro nos damos muito bem, por que nos separarmos não é mesmo? Então pensamos que... Leon se muda pra cá enquanto Jill sobe para o apartamento de vocês. O que acham?

Jill estava atônita com o que acabara de ouvir. Seus olhos pareciam mais azuis que de costume. O sorriso amarelo da garota foi a única reação que ela pode expressar diante da novidade.

Chris por outro lado gargalhou e em seguida degustou de um belo vinho 1988. Claro que em sua mente aquilo era apenas uma brincadeira de "Angel e Brad". Não seria possível e nem tão pouco provável. Mas os dois certamente se entreolharam quando notaram os traços firmes de seus amigos os observando.

— Ada querida vamos até a cozinha,afinal ainda falta a sobremesa.

— É uma excelente idéia Valentine. – Adiantou Chris a fim de ficar a sós com Leon.

Ada sorriu para cobrir a tensão do momento e logo se levantou pedindo licença para os rapazes e sendo imitada por Jill.

Assim que ficaram sozinhos, Chris se levantou passando as mãos sobre os cabelos.

— Chris eu sei parece loucura é loucura, mas os créditos são inteiramente seus.

— Como é que é? – Chris se virou para fitar o outro. – É esse seu argumento para inocentar a sua namoradinha complicada?

— Do que está falando? Se você não tivesse essa mania ridícula de fugir ser o que você não é, a Ada jamais teria proposto algo assim. – Leon respirou profundamente bebendo um pouco de água.

— O problema, Leon, não é esse. O problema é que você só faz o que ela quer que você faça – Ele andava de um lado para o outro impaciente. – Aquela garota, a Valentine... Ela e eu... – Chris pensou em finalmente dizer a Leon que ele e a musicista nunca se entenderam e nunca se entenderiam. Mas optou pelo silêncio.


— Você não parou para pensar que de repente essa seja a minha vontade? Eu amo a Ada e quero me casar com ela e por isso concordei com a idéia de vocês morarem juntos... – Leon se levantou e seguiu até o amigo que observava os carros passarem na rua pouco movimentada. – Christopher eu sei que está querendo me socar agora, mas eu te peço que reconsidere. É só por um tempo. Logo vou alugar um apartamento maior e então Jill voltará a morar conosco.

— Como acha que Jessica vai reagir a essa informação? Propondo um ménage para comemorar? Francamente Leon! – Chris retornou a mesa e bebeu todo o líquido em seu copo em um único gole. – Eu não sei com quem a bonequinha de vocês vai morar, mas uma coisa é certa, comigo é que não é. Amanhã mesmo procuro outro lugar pra morar. – Finalizou.

— Chris...

Nesse instante eles notaram que as garotas retornavam ao ambiente. As duas esboçavam sorrisos simpáticos e isso os intrigou. 

— Aqui está a sobremesa que parece muito apetitosa – Ada colocou sobre a mesa a torta de Cream Cheese.

Assim que Chris viu a guloseima olhou para Jill. Ela esperava por algum sorriso sacana ou piada desagradável. Mas o rapaz nada fez.

Todos se serviram  e os silêncios de suas palavras ecoavam em suas mentes gritantes. Cada um tinha algo a dizer, mas a insegurança os impediam.

       – – –

Depois que os meninos se foram, Jill se jogou no sofá, meio cabisbaixa. Principalmente por sorrir falsamente, quando necessário, desde que ouviu a proposta da sua amiga. A proposta que muito a machucou por ser entoada daquela maneira surpreendente. Ada já estava na limpeza do local quando encarou Jill.

— Não quer me ajudar? Acho que temos muita coisa pra fazer, mocinha.

— Não Ada... Simplesmente não estou a fim de te ajudar, se tudo o que você faz é pensando no seu próprio nariz. Fique a vontade para fazer o que você quer fazer que eu não irei interferir em nada.

Ada sorriu revirando os olhos.

— Não acredito que ainda está chateada! Jill... Eu não vou te expulsar daqui. Eu não pensei só em mim, eu inclusive planejei algo para você, como você pode achar que eu fui egoísta quando você sabe que eu tenho que pensar em nós duas para fazer qualquer coisa?

— Nada mais vai ser como antes Ada.

— Só se você quiser. Foi apenas uma proposta. Se não quiser aceitar, tudo bem. Leon lá, eu cá e você sem esse bico.

Jill observou a frieza de Ada e se incomodou com isso. Estava completamente irritada com a situação e não poderia ao menos dizer a amiga o porquê de tanto aborrecimento, já que ela nunca imaginaria o que era. Pelo bem da amiga, Jill se mudaria a qualquer momento. Mas se mudar para morar com Chris era uma história completamente diferente. Ela jamais se submeteria a tal idéia. Era a pessoa em que ela menos confiava na vida e conversar com ele por esses tempos só mostrou que ela sempre esteve certa.

— – –

Depois de alguns dias, do jantar de ação de graças, Leon conversou com Ada sobre a proposta porque até então, acabou confessando para ela que Chris estava um pouco desanimado com que tinha ouvido no jantar. Ada não conseguiu entender o porquê de tanta relutância dos amigos se não tinha nenhum problema na idéia que ela teve. Sendo assim seu faro investigativo não a deixou em paz. Tinha que entender o que estava acontecendo entre os amigos para encontrar uma peça faltante no quebra cabeça.

Assim que encontrou Chris na faculdade, abraçado com a namorada, pode ter uma idéia da relutância do rapaz. Com certeza era a namorada que o impedia de uma aceitação. Quando ela se afastou, Ada se aproximou do amigo.

— Podemos conversar? Te pago um café lá na frente.

Chris aceitou a proposta, e enquanto degustavam de um macchiato, Ada finalmente começou.

— Chris, lembra do jantar...

— A proposta de casamento? – O moreno a interrompeu amigavelmente. – Vá direto ao ponto, não posso me atrasar para a próxima aula.

— Seria um problema morar com alguém a não ser o Leon?

— Olha... Por mais que eu goste da companhia do meu irmão e dos seus serviços em casa, eu nunca veria problema se ele sair da casa para morar com você.

— Ah, claro. – Ada sorriu animada. – E sobre a troca do apartamento. Você veria problema em receber a Jill?

Chris sorriu e tomou um gole do macchiato, escondendo o sorriso em descontentamento dentro do copo.

— Eu não... Mas... a Jessica... É complicado. Ela vive me pedindo para morar com ela. Eu não vou porque o apartamento dela ficaria muito distante do meu trabalho e da faculdade. Mas, ter outra mulher em casa, não me traria muitos benefícios, por mais que eu adore a companhia da Jill.

— Eu entendo. Eu ainda vou manter a proposta de pé e é melhor que eu olhe um apartamento ao redor para mim e para o Leon. O único problema vai ser o preço, tendo em vista que apartamentos grandes na região não são tão baratos. Mas vai ter que caber confortavelmente eu, Leon e Jill.

Nesse momento Chris soltou uma gargalhada de deboche e Ada pode entender exatamente o que ele quis dizer com a atitude.

— Eu sei Chris. Deve estar se perguntando o porquê que vou ter que levar a Jill comigo. Mas eu faço questão de te explicar: Jill só veio para Chicago por minha causa. Somos de Maryland, de uma cidade interiorana. Os pais dela são muito cuidadosos e ela está aqui por um sonho, se não, estaria lá até hoje. E se os pais dela soubessem que eu a tiraria da minha casa para casar, ela voltaria imediatamente para Maryland e trancaria os estudos que ela sempre se empenhou para colocar em realização. E era aí que você entraria. Eu preciso de alguém de confiança para colocar a Jill morando junto. E apesar de eu quase não ter gostado do fato que você surrou o... Individuo lá, você foi a defesa do seu amigo. Só Deus sabe o que aconteceria com o Leon se você não tivesse interferido.

— Ah, então você gostou daquilo.

— Em partes... A maior delas. Mas apenas por uma razão. Por saber que ninguém correria perigo ao seu lado. E foi por isso que eu não hesitei em colocar você para essa situação...

Chris soltou um sorriso tímido e ficou completamente lisonjeado pelas palavras da “cunhadinha”. E pela primeira vez ouviu um elogio por fazer uma atitude não inventada, mas sendo ele mesmo.

—... E foi por isso que eu propus aquilo. Acho que a Jill ficou meio sem graça pela proposta ou até assustada. Ainda tenho que parar para conversar com ela seriamente sobre esse assunto. Mas... Eu queria saber de você, se você estaria disposto em recebê-la. E não precisa responder por agora. Pensa bem... Vê se isso não vai te atrapalhar e então me fale a sua resposta mais sincera possível, está bem?

— Tudo bem… vou pensar com carinho… tudo para o casamento dos meus melhores amigos. – Disse sendo realmente sincero.

— Você é um amor, Chris. – Ada disse se levantando para retornar a faculdade enquanto Chris ainda se perdia em pensamentos. – Acho que alguém vai se atrasar para a aula se permanecer no mundo da lua.

Chris voltou do transe e a acompanhou até a faculdade e então tomou seu caminho.

— - -

Chris ainda estava intrigado quando chegou do trabalho e encontrou seu amigo preparando sanduiches.

— Já prepara três para mim, volto do banho em segundos. – Disse ao aparecer na porta da cozinha e então continuar seu caminho até o banheiro depois de ver Leon assentindo.

Ao se despir e finalmente alternar o chuveiro para o gelado, porque sua mente estava estourando de quente. Desde a conversa com Ada, ele tinha ficado pensativo e aéreo e não costumava ficar assim por um assunto tão casual. Mas ao fechar os olhos e colocar sua cabeça pra dentro do chuveiro, pensou seriamente na possibilidade de ter Jill em sua casa sem pensar em um conflito com Jessica.

Pensou se morar com ela seria um empecilho a mais para se preocupar, ou se seria divertido ter alguém para implicar, como costumava brincar com Claire. Mas Jill era bem mais marrenta que a irmã. E bem mais levada, bocuda, irritante. Não valia a pena uma “irmãzinha” como ela. Até mesmo porque o sentimento para com Claire era algo bem ingênuo e paternal e para com Jill ainda tinha um resquício de atração que ele negava todas as vezes que ela o irritava. E ainda tinha Jessica... Afinal, o que ele diria para ela sobre isso? Omitiria a presença de Jill na casa? Seria essa a solução?

Mas então, voltando se para o “assunto Jill”, ainda tinha algo que ele se perguntou o dia inteiro: “Por que essa maldita proteção com aquela pirralha?” Ela já era bem velhinha para aquele tipo de cuidado, que no ponto de vista dele era mais da própria Ada do que dos pais.

— Só se ela for servir para… não… é impossível... Muito improvável. Ela até que é bem gostosinha.

Deixou o banheiro com um sorriso maroto, tentando tirar da mente os pensamentos indecentes que poderia acontecer caso conseguisse uma amizade colorida com a “chatinha”.

Ao ir para a sala, encontrou Leon assistindo basquete na televisão e revirou os olhos ao perceber que já fazia um tempo que ele acompanhava os campeonatos. Seus sanduiches estavam na mesinha, a sua espera. Pegou uma bebida qualquer e foi matar sua fome ao lado do amigo.

— Adivinha quem apareceu lá no nosso bloco de manhã?

— A Ada… ela foi lá conversar comigo.

— O que você não sabe é que ela foi lá falar comigo também. – Chris jogou um verde.

— Ela me contou antes de ir conversar com você que iria fazer isso. Não tenho segredos com minha namorada se era isso que você estava implicando. Mas e ai? Já pensou em morar com a Jill?  

— Cara... Eu sei que você já quer descer, morar com uma mulher que faça seus sanduiches, mas... a Jill sabe fazer esse sanduiche? Só você sabe fazer isso cara. E sabe muito bem organizar a casa? Você sempre deixou tudo limpinho! E também cozinha bem... até leva minhas roupas para a lavanderia quando dá!

— Chris, eu não sou sua mulher. Pode parar com esses apelos?

— Ah, já devia saber. Você realmente quer ir embora para trazer a pirralha para cá.

— Jill não é pirralha. – Leon o repreendeu. – É mais madura que a sua namorada, desculpe a sinceridade.

— Ah, claro... Jill não é pirralha. – Chris se corrigiu a tempo. – Mas se ela é madura como parece ser... Ela devia procurar um lugar pra morar longe de vocês e não junto com vocês, como a Ada disse.

— Mas eu estaria invadindo a casa dela. Você não acharia justo sair daqui para Ada vir morar aqui, acharia?

— Sim, mas eu sou homem o suficiente para ir morar com outra pessoa, coisa que eu sinto que não vai acontecer com a Jill já que ela é superprotegida pela Ada. Pra te falar a verdade, eu não entendi ainda essa super proteção dela. Porque ela quer que eu seja o cão de guarda da Jill?

Leon tirou os olhos da televisão para observar o rosto relutante de Chris ao quase choramingar pela questão.

— Ela não quer isso. Se não quer morar com ela aqui, tudo bem Chris. Ela mora com a gente. Fim de papo. Você está me atrapalhando de assistir o jogo.

Chris ainda chateado se levantou e tomou um cigarro com o isqueiro e foi para a janela, abandonando os dois últimos sanduiches pela perda de fome repentina pela situação. Leon ainda continuava cético olhando para a televisão. Isso o frustrou por saber que ele sabia de alguma coisa sobre a Jill e não queria contar, e usava sua eterna arma de perder a concentração quando não queria insistir em um assunto. Então ele vestiu uma camiseta e foi para o térreo do apartamento para fumar e pensar um pouco.

Ao sair e caminhar na calçada de um lado para o outro enquanto olhava a rua para se distrair, sentiu alguém esbarrar forte nele e passar indo em direção ao centro da cidade.

— Ei, não fala mais comigo não, amiguinha?

— Não perdi nada ai. – Ela disse ainda caminhando sem olhar para trás, usando o uniforme do trabalho.

— Pra sua informação, odiaria morar com você. – Disse a tempo de ela escutar antes de atravessar a rua.

— Foda-se sua opinião! – Ela respondeu no mesmo tom ao se virar para trás fria e ele observou admirado enquanto ela se afastava. Isso o intrigou mais.

Então para ele, parecia que ela não queria mesmo morar com ele. E se ela não queria morar com ele, realmente quem forçava a barra era a Ada. E ele tinha que entender o motivo para isso urgente. Pisou no cigarro e subiu as escadas indo em direção ao próprio apartamento. Leon já estava deitado conversando com Ada por mensagem quando Chris empurrou a porta do quarto dele com força.

— EU NÃO VOU MORAR COM A JILL! – Bradou fazendo Leon o encarar com susto em seus olhos.

— Está bem, Chris. Como quiser. Vou adorar pagar um aluguel mais caro por isso. – O loiro ironizou voltando se ao celular.

— Cara… não é pelo aluguel. Eu sei que você e a sua namoradinha estão escondendo algum passado obscuro dessa garota. Ela se envolveu com drogas? Teve algum namorado traficante? Esquema de prostituição? Se envolveria em crimes hediondos se morar sozinha? Ou tenta suicídio com freqüência?

Leon riu das possibilidades e observou Chris se sentando ao se lado, estressado.

— Tudo bem… na verdade, a Jill é uma irmã postiça da Ada. Se alguém machucar a Jill, Ada não pensaria duas vezes em ferrar a vida desse “indigente”. É como daquela vez que você bateu no namorado da Claire, sendo bem pior. – Leon terminou a fala e percebeu que Chris olhava com deboche sobre suas palavras. – Você está muito dramático... Olha... Posso te confiar um segredo?

Chris assentiu um pouco assustado pelo que ouviu por não esperar isso da Ada e por sentir um frio na barriga pelo que estava por vir.

— A Jill é bem madura, mas não o suficiente para se defender sozinha, para morar sozinha. É uma garota inexperiente, que ainda sonha com um namorado encantado. Ela nunca teve um, pra falar a verdade.

— Nunca? – Replicou franzindo a sobrancelha.

— E morando sozinha, alguém pode se aproveitar dela, não acha? – Leon disse tentando desviar atenção do rosto assustado de Chris.

— Mas em que sentido alguém se aproveitaria dela? Dá pra ser mais claro? – Chris ainda pensando no que tinha ouvido, não conseguia entender o meio de parábolas que Leon contava. Leon hesitou enquanto Chris esperava com olhos arregalados.

— Ela é virgem, Chris! Nunca saiu da casa dos pais. Apenas para morar com a Ada. E Ada prometeu aos pais dela de que ela nunca se machucaria estando com a “irmã”. Ada só precisa de alguém...

— Não acredito! – Chris exclamou sutilmente, interrompendo o amigo. –... Como aquela... Garota... Então...? – Tropeçou em palavras.

— Então... Tem toda uma parte sentimental, coisa de meninas, as que gostam de esperar um cara decente na vida delas, sei lá. Talvez seja essa a super proteção que você enxerga na Ada para Jill. Isso é algo muito particular dela. É melhor não deixar nem ela, nem a Ada saber. Eu seria o único que poderia contar isso para você. Mas isso é normal cara, não precisa fazer essa cara.

Quando Chris caiu em si, depois da surpresa, ele se jogou para trás e gargalhou tentando evitar ao máximo a atitude ao cobrir os lábios.

— O que é tão engraçado? – Leon perguntou ao voltar-se para o celular que imediatamente vibrou.

— Nunca imaginaria isso… tudo bem que no dia do bar ela parecia um colegial… mas isso... – Chris comenta entre pequenos risos até pausar um pouco e se levantar para sair do quarto. –... Agora tudo faz mais sentido.

— Sentido em que? Espera um momento… que história do bar é essa?

Chris pensou no que tinha dito e já estava tentando achar uma desculpa para mentir, mas ainda se perdia em pensamentos, admirado pelo que ouviu. Pensou em contar a verdade para Leon, mas queria se poupar de perguntas então pensou em dizer a coisa mais sensata que lhe passou pela mente.

— A Ada tem razão, Leon. Jill precisa de alguém para cuidar dela. Alguém que a tenha como uma irmã. E você sabe que eu jamais me aproveitaria dela... Apesar de ser quem eu sou.

— Bem, era exatamente isso que estava me preocupando. Tem certeza que está falando sério? Porque eu abro mão e pago aluguel caro se você não se segurar em suas calças.

— Mas é claro que eu estou… se bem que é um desafio. Mas sempre cuidei da Claire… E posso cuidar muito bem da Jill. Eu vou aceitar a proposta e a Jill pode viver aqui, como minha irmãzinha e ninguém nunca vai se aproveitar dela. – Caminhava para fora.

— Que ótimo, estou orgulhoso de você irmão. Mas... Já pensou sobre a Jessica?

— Eu vou dar um jeito nisso… mas já pode avisar a Ada que por mim está sinal verde. Boa noite, Leon.

Chris saiu do quarto desesperado para acalmar sua mente e tirar um sorriso sádico dos lábios. Esse era um fator que ele nunca imaginava e sabia que Jill não iria gostar nada de saber que ele, logo ele, estava com essa informação na palma das mãos. 


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Notas finais do capítulo

Pessoal espero que tenham gostado do capítulo.

Até mais.



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