Descobertas Paralelas escrita por Capitã Nana, lynandread


Capítulo 5
Simetria e conflitos


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos!
Não teremos música hoje... mas temos tretas!
Segurem os forninhos!



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Naquela sexta feira Jill acordou sozinha. Ada não estava em casa. Ao menos não precisava comer Cheetos escondida no café da manhã. Vestiu-se rapidamente para ir a aula, mais uma vez estava atrasada. Algo que já havia se tornado corriqueiro.

 A faculdade não ficava muito longe de sua casa. De  cara avistou o rapaz que sempre andava com ela pela universidade: Jake Muller; Jake era músico de uma banda de rock que formou com uns amigos de semestres mais avançados. Ele havia ficado pra trás por não dar a mínima pro estudo, por mais prazeroso que ele fosse. E agora estava estudando com Jill.

A garota não tinha amigos de faculdade. A maioria deles já eram velhos que ainda tinham sonho de viverem seus talentos. E a outra metade eram os estranhos que ela tentou apresentar a Ada. Jake era o mais "aceitável" ali. Por isso se davam tão bem.

Ele a esperava do lado de fora da sala, de braços cruzados, entediado e matando aula — o que não era novidade — escorado na parede.

— Você perdeu a chamada.

— Dane-se a chamada. Ada está viajando e meu despertador não funcionou. Dessa vez o atraso não foi proposital, se é isso que quer saber.

—  Relaxa. Se eu estiver certo, o seu atraso vai me tirar do tédio. – Jake deu um leve sorriso – Diz ai, você vendeu os ingressos da professora “Disneylândia”?

— Puta que pariu! – Jill exclamou ao se lembrar deles e Jake riu. – Se eu não distribuir essa merda agora, a velha me reprova. O que eu faço, Jake? Eu ainda estou com todos os ingressos.

— Bem vinda ao meu mundo, gatinha. Eu pedi para um calouro vender pra mim, ameaçando-o. Tenta, quem sabe funcione pra você também – Concluiu, querendo retornar à sala. – Soube que ninguém vendeu na ala dos nerds por antipatia. E te desejo sorte ao encarar aquele universo paralelo.

— Jake espera! – Jill exclamou impedindo o rapaz adentrar a sala de aula – O que quer para me ajudar a vender? – A garota sabia que Jake jamais faria um favor a alguém se não fosse retribuído.

— Bem... – sorriu vitorioso – Dividimos os ingressos e veremos quem vende todos primeiro. Se você vencer eu não cobro nada... mas caso o contrário, você vai ficar me devendo um favor que eu com certeza cobrarei um dia. É pegar ou largar, superstar.

 – Seu mercenário miserável... – Jill resmungou observando ele colocar os óculos escuros e esbanjar aquele maldito sorriso sacana – Dever favor a você é o mesmo que fazer um pacto com o demônio – Ela entregou a ele metade dos ingressos.

Os dois seguiram para a ala que mais detestavam: Direito, Contábeis, Economia e Administração. As pessoas ali eram muito prepotentes ou muito inteligentes. Aquela ala era conhecida por ser a ala das revoltas, rebeliões, festinhas em repúblicas e coisas mais obscuras.

Eram sessenta ingressos para oito salas. Então após olhar para Jake com um olhar desafiador, Jill entrou na primeira sala com os trinta que lhe pertenciam. Chegou bem tímida, por mais estranho que fosse depois de pedir permissão ao professor responsável. E para seu desespero, apenas duas pessoas compraram.

Na outra sala o fracasso não tinha sido tão humilhante. Foram cinco e somando com os outros dois... ainda faltavam vinte e três.

Ao chegar na terceira sala, Jill observou que havia uma garota promovendo uma campanha de seu grupo, Jessica Sherawat era uma das universitarias mais sexy e extrovertida da faculdade. Ela tinha um modo de falar e se mexer que prendia a atenção de qualquer um. Jill avistou Jake no corredor balançando apenas oito ingressos. Teria que ser mais convincente se queria está livre de qualquer divida com Muller.

— Se ela consegue, eu também consigo... – Sussurrou a garota para si mesmo, tendo em mente que não poderia falhar em sua tentativa.

Assim que Jessica terminou, o professor permitiu que Jill oferecesse seus ingressos, conseguiu vender vinte com sua nova persuasão.

Então, ao voltar a oferecer os ingressos nas salas restantes e ver que sua mudança fez com que apenas sobrassem três ingressos em suas mãos, ela foi à última sala, depois de ler “Administração” na porta. Pediu permissão ao professor, que achou um jeito de fugir da aula a fim de tomar um café.

Ela entrou na sala e parou de costas para o quadro. Então, levantou os ingressos na altura de seu peito, falando o mantra que tinha falado nas salas anteriores. 

— Bom dia pessoal, eu sou da turma de música e estou aqui com os três últimos ingressos para o conserto que iremos apresentar na semana que vem... – disse ao mudar o tom de voz para um tom provocante – e sei que aqui tem pessoas cultas, interessantes o suficiente para apreciar uma boa arte e música. – Concluiu um sorriso aparentemente inocente. – Alguma dúvida? Quem vai ser o primeiro?

— Gracinha, se eu comprar os três últimos ingressos, você vem de brinde? – Disse uma voz grave e sedutora de um grupo de garotos. Imediatamente, todos na sala riram. Aquilo despertou em Jill más lembranças. Recebeu muitas cantadas naquela manhã, mas aquela ali foi muito chocante para a musicista, porque se lembrou de alguém indesejado.

Gracinha, eu só pago hotelzinho se você vier de brinde.

Seu sorriso simpático foi trocado por um olhar fulminante, ao seguir a voz de onde tinha vindo a mesma cantada de dias atrás. Era finalmente quem ela tinha procurado tanto.

— Desculpe, mas a minha sanidade mental está perfeita. Ou seja, a menos que eu queira levar um novo calote, jamais faria negócios com você, Chris.

O rapaz semicerrou os olhos tentando identificar aquela garota que o chamava pelo primeiro nome com autoridade. Logo sua mente lhe mostrou o incidente de quase um mês atrás. Todos estavam rindo e isso o irritou.

— Ah! Não diga que foi tão pouco e tem mais, só pago serviço completo. – Chris respondeu com um sorriso sacana, não ia deixar aquela garota o constranger na frente de todos

Jill ficou vermelha ao entender a "brincadeira" de Chris.

— Mas que cretino... – sussurrou para si. – Querido, pra exigir serviço completo, no mínino tem que da conta do recado, que no seu caso... – Jill retrucou tendo uma expressão de reprovação em seu rosto.

— Não diga o que não sabe! – Chris exclamou nervoso.

— Oh! Como assim não sei? Está dizendo que não dormiu comigo? Acho que temos um mentiroso aqui... Bem, como já dizia Gregory House: Todo mundo mente. – Jill finalizou com um sorriso e vendo o olhar furioso de Chris para si. – E eu ainda quero meu dinheiro, imbecil. – A sala estava eufórica pela discussão, o rapaz foi vaiado e ouviu varias piadas a seu respeito.

No fim das contas o professor retornou e Jill ainda estava com os três ingressos. Seu tempo havia acabando então a garota seguiu para sua ala desapontada. O que a conformava era o fato de que agora sabia onde encontrar o maldito Chris e infernizá-lo até ser reembolsada. Avistou Jake na área livre destruindo seus pulmões com um cigarro qualquer.

— Pensei que tinha voltado pra casa para chorar pela nota quase conquistada – Jake brincou mantendo a expressão de descaso. Ele havia vendido todos os ingressos.

— Toma. – Ela entregou a ele os ingressos restantes – Já que vendi minha alma pra você, seja ao menos gentil, e se vira com esses. – A garota passou por ele em seguida olhou para trás – E vai pro inferno. – Ela continuou o caminho para a sala enquanto Jake sorria discretamente. Ele se livraria dos ingressos restantes, afinal era apenas três.

— - -

Depois de ter conseguido nota, com a professora apelidada de “Disneylandia”, por sempre propor espetáculos na instituição, Jill saiu de sua sala, procurando o tal Chris pela sala dele, para lhe cobrar. Mas encontrou essa vazia, o pessoal já tinha sido liberado. Era sexta-feira. Ela teria que esperar o fim de semana inteiro para cobrá-lo novamente.

Já Chris comentava com os amigos sobre a prepotência da garota que foi em sua sala. Explicou o ocorrido aos amigos e todos eles fomentaram mais a vontade de vingança do jovem administrador. Depois de várias idéias e planos, Chris ligou para sua irmã Claire, a fim de pedir dinheiro. Precisava dele para dar a lição na garota desbocada, que ele nem se lembrava do nome. Seu próximo passeio seria naquela mesma noite no Chiaroscuro.

Infelizmente, Claire não havia depositado o dinheiro que ele pediu naquele mesmo dia. Então depois de ele ligar bravo, sua irmã deu um jeito de depositar boa quantia para ele no dia posterior.

Ele já tinha planos para sábado à noite: dar o troco na garçonetezinha arrogante.

— - -

Leon e Ada já pareciam um casal, embora tentassem esconder isso no ambiente de trabalho. Mas depois do expediente, assim que cruzavam a rua, ele procurava sorrateiramente a mão dela, para entrelaçar á sua. Já na faculdade, costumavam trocar de alas para se encontrarem, por pertencerem a cursos de áreas distintas.

E era assim de semana em semana. Alunos desconfiados pela troca de olhares que aconteciam no meio dos intervalos de aula e as visitas constantes nas salas um do outro para entregar um “documento” que era apenas recados românticos como poemas e encontros. Mesmo sem uma definição, Ada e Leon não dormiam mais separados, sempre alternando de um apartamento a outro. Jill já estava se acostumando a tomar café com Leon pela manhã e Chris de assistir televisão com o casal algumas noites.

Até que Leon foi convidado pra representar a escola em um evento em Springfield como palestrante em uma conferência. Seria a primeira semana que ele passaria fora depois de completarem um mês desde o início do romance.

Ada estava impaciente com a ausência de Leon  e tudo que fazia era motivos para as lembranças e a saudade aumentarem. No meio do tédio e da solidão, Jill a motivou a encontrar seu amado na outra cidade que era próxima da deles. Ela então tomou sua bolsa, e seguiu ao seu encontro. Ada teria uma folga próximo ao fim de semana; a deixa perfeita.

Leon levou um susto ao ver a jovem ali enquanto palestrava, sentada em um a das fileiras principais. Até então não tinha conhecimento de que ela estaria na cidade. Seria a última palestra da semana e ela chegou para fechar com êxito.

A morena apareceu com uma câmera profissional, já que um dos seus maiores hobbies era a fotografia. Geralmente ela usava a fotografia como  inspiração para a arte. E também havia despertado o mesmo amor pela fotografia em Jill, que tinha o quarto cheio de fotos aleatórias, e principalmente de pessoas desprevenidas.

Ada tirou algumas fotos dele, que segundo ela, estava lindo no terno cinza e gravata rubra. Pensou em tomar aquela foto e passar para a tela assim que chegasse em casa. No final do evento ela se encontrou com ele e os dois foram conhecer a cidade que ainda era desconhecida por ambos. Leon a levou nos lugares que conheceu antes que ela chegasse. Por isso, alugou um carro e saíram para conhecer a linda capital de Illinois. Os modelos antigos das casas e alguns pontos turísticos eram maravilhas para a jovem artista. E finalmente, eles ali puderam tirar as primeiras fotos juntos, sempre pedindo ajuda para algumas pessoas. Leon não sabia posar para fotos. Sempre parecia perdido e com um sorriso contido. Sendo assim, Ada fez o que mais amava: tirar fotos espontâneas dele.

— Ada...para, não sou fotogênico – Leon disse tímido enquanto tentava se esconder dos cliques da jovem.

— Não seja bobo Leon! – Ela abaixou a câmera e se aproximou dele o suficiente para sentirem a respiração um do outro – Você é tudo...tudo que me completa – Ela o beijou de maneira doce. Enquanto era correspondida ergueu o braço com a câmera e um clic foi ouvido pelo loiro.

 – Ada, não! – Repreendeu a garota que sorria divertindo-se com a situação.

Eram um casal de amigos que ficavam. Porque antes do relacionamento, Leon sempre deixou claro que a amizade deles faria tudo valer a pena antes que firmassem um compromisso. Sabia que podia contar para ele coisas que nem mesmo Jill sabia e sentimentos que nem ela sabia que tinha dentro de si.

Leon pensou muito em pedi-la em namoro o tempo todo durante o fim de semana em Springfield, mas ainda estava receoso. Não sabia se ela estava gostando apenas da aventura ou se queria realmente um compromisso devido a fragilidade que o anterior deixou nela. E por enquanto, aproveitaria a companhia da amada.

Para ele, Ada era a mulher mais forte e mais vulnerável que já passou em sua vida. Forte pela sua mente, e vulnerável de coração pelas marcas pela qual foi oprimida no passado. E foi naquele dia que ele percebeu aquilo. 

Naquele dia, ao retornarem para o hotel levaram a garrafa de vinho que tinham comprado em uma mercearia. Vinho barato. No final eles compraram apenas para criticá-lo enquanto ouviam boa música que vinha de um bar ao lado. O quarto de hotel era muito pequeno, mas muito aconchegante devido ao frio que aumentava do lado de fora quanto mais tarde ficava.

Ele estava abrindo a garrafa enquanto esperava Ada sair do banho. Quando ela retornou ao quarto, notou que Leon a esperava sentado em uma cadeira próxima ao criado mudo com taças de vidro sobre ele e a garrafa de vinho semi-aberta. Ele tinha conseguido as taças enquanto ela tomava banho. Pediu através do telefone os objetos.

Ela sorriu surpresa quando percebeu que ele havia desligado as luzes, deixando apenas luminárias e abajures ligados enquanto firmava o nó do seu roupão.

— Esse ambiente está surpreendente, Sr. Kennedy. Se incomoda se eu ficar assim? De roupão? – Disse colocando uma das mãos sobre a testa, com um desânimo evidente, por mais que ela tentasse esconder atrás de um sorriso mirrado. 

Leon imediatamente notou que seus olhos e nariz estavam vermelhos. “Ela estaria chorando?”

— O que aconteceu? Você mal ligou o chuveiro? – Perguntou preocupado, indo na direção dela para verificar se estava certo.

— Nada… eu só. Não me sinto bem, desculpa… Eu sei que eu vim aqui pra ficar com você, e passarmos um bom tempo só nos dois, mas... Mas não me sinto bem. – Disse abraçando a si mesma olhando para baixo, para não encará-lo.

Leon imediatamente a abraçou. Um medo passou por ele. “Será que aquilo seria uma despedida?” “Será que ela cansou de mim?” Pensou. Mas imediatamente, sentiu ela desarmando os braços para abraçá-lo também. Um alívio correu em sua mente enquanto passava as mãos sobre o cabelo molhado da morena, consolando-a.

— Ada... Eu notei você bem distraída hoje. E senti que... Você quer falar um pouco do que está acontecendo com você? Fui eu que te causei isso? 

— Não, Leon... o erro sou eu. Todos os anos a mesma coisa, a mesma culpa e eu não sei o que fazer para me livrar disso. Nunca te contei sobre Carla, certo?

— Quem é ela? – Perguntou afastando ela para ver como estava seu rosto. Ela ainda estava firme, mas a tristeza era evidente. Logo a guiou para a cama onde os dois sentaram na borda.

— Longa história... – Disse servindo os dois copos com a garrafa enquanto se preparava para contar para ele, por mais que sua mente insistisse que ele não deveria saber. Assim como todo mundo. Sua mente sempre se travava em repetir a história mas naquela noite, ela tomou Leon como uma exceção.

Ada então explicou a ele que Carla era uma sombra escura que tinha ficado nas memórias dela. Até mesmo o motivo de sua infelicidade e de discórdia com seus pais. Disse que desde que Carla havia sumido, seus pais desprezaram o que Ada era. Forçando ela a se tornar como Carla, que era a gêmea prodígio.

Ada era irmã mais velha de Carla, com minutos de diferença. Sendo assim, se sentia no dever de cuidar da irmã o tempo todo e por isso ela se tornou muito maternal. Mas um dia, depois da escola, quando tinham dez anos, Carla desapareceu. Ada apenas se lembra de relances daquele dia trágico que estava completando doze anos naquela semana. Policiais, faixas e aglomeração de pessoas perguntando para ela quando foi a última vez que havia visto a irmã. E ela nunca soube responder. Se sentia culpada por isso.

— Então o quadro no canto do quarto...? – Leon se recordou da tela que havia visto na primeira vez que foi ao apartamento da moça. A morena apenas assentiu.

Ada era espontânea, gostava de artes, coisas naturais. Carla era centrada, séria, inteligente. Quando Carla desapareceu, os pais de Ada invisivelmente a induziram a ser como a gêmea, ser estudiosa, centrada e quieta. E Ada fazia aquilo como a forma de finalmente seus pais admirar-la, como faziam com Carla. Achou que seria a melhor forma para compensar a culpa de não ter cuidado da irmã.

Mas quando chegou aos dezesseis anos, conheceu um jovem artista, assim como ela. Seu professor de artes, a única pessoa que realmente demonstrou carinho por ela e ensinou tudo o que ela sempre quis saber para seguir aquilo que tinha em mente: artes plásticas, que aprendeu desde pequena.

E na empolgação de ser como ele, ela usou sua arte para ir atrás do sonho em Chicago. A vontade de seguir aquilo que ela sempre almejou, fez com que ela permanecesse na cidade e voltasse a ser a Ada que seus pais tinham manipulado. Porque finalmente se via livre de Carla e de toda a opressão que passou quando seus pais a mantinham em um quarto estudando, enquanto ela secretamente desenhava.

Ada contou a Leon que desde que tinha saído de casa, não falava mais com seus pais. Eles cortaram vínculos com a morena por questão de desonra, quando antes de ela sair, explicar o real motivo disso: Carla. Para eles, Ada odiava Carla e por mais que ela tentasse explicar que não era aquilo, eles nunca entenderiam.

E ela se sentia sozinha, sem família. Quando Jill apareceu, foi um conforto muito grande ter alguém para cuidar e ter como família.

Leon ouvia atentamente a ela, desde quando começou a explicar tudo com cautela até o momento em que deixou lágrimas que conteve por tanto tempo caírem. Nem mesmo Jill sabia profundamente da história como Leon soube naquela noite. Ada encontrou nele uma espécie de refúgio porque sabia no fim que ele a amava de verdade.

Ela contava a estória aninhada nele, que acariciava sua cabeça, sobre o seu ombro. E de repente, sentiu a janela do quarto tremer com o vento que tinha ficado mais forte. Ela se calou e olhou para a janela por um momento. Levantou-se e seguiu até esta, olhando do terceiro andar a baixo, encontrando pessoas do lado de fora agasalhadas enquanto passavam nas ruas.

— Sabe Leon, às vezes eu me olho no espelho e acho que ela está olhando para mim. Éramos tão semelhantes e agora eu não faço idéia de onde ela está. Não sei se está viva... Eu nem mesmo sei se ela está lá fora... Com frio e sem agasalho. – Disse ao passar os dedos sobre o vidro da janela. – Eu ainda tenho o sonho de encontrar ela, e de qualquer maneira eu ficaria feliz. Se viva, eu passaria a minha vida tentando compensar o que eu não consegui fazer quando eu tinha que cuidar dela. Se ela estiver morta, eu vou ficar feliz, sei que ao menos ela descansou. Mas a aflição de não fazer idéia de como ela está... Faz-me sentir desolada também. Meus pais fizeram eu me sentir assim. Eles me abandonaram, Carla se foi e eu não sei o que é se sentir em casa há muito tempo...– Leon se levantou e foi em direção a ela. – A verdade é que nessa época do ano, eu me lembro que tanto ela quanto eu... Nós ficamos anônimas. – Ada terminou sua fala, passando as mãos sobre os olhos a fim de secar as lágrimas. Não gostava que pessoas a vissem chorando, muito menos Leon, que já tinha visto muitas lágrimas que ela não conseguiu conter. 

Leon a abraçou pelas costas, depositando um beijo no alto de sua cabeça, ao sentir o carinho a jovem se virou para fitar-lo. O loiro a acalmou com beijos, beijos de consolo, que tomaram o coração triste e pesado e o trocou por um confortado.

— Mostra pra mim que você me ama? – A voz de Ada estava suave. Os dois se olhavam tão cúmplices naquele momento especial. – Só me prometa que mesmo que não dê certo... Nunca iremos dizer adeus – Os olhos marejados dela refletiam as luzes da cidade e Leon estava maravilhado com a bela visão.

— A eternidade está bom pra você? – Leon respondeu e os lábios dela se curvou em um sorriso satisfeito.

 O rapaz a beijou suavemente os lábios finos de sua amada, em seguida desceu as carícias pela extensão de seu pescoço. Ada fechou os olhos, apreciando ainda mais a suavidade do toque. Sua pele ouriçava mas não pelo vento que vinha daquela noite fria, mas sim pelas sensação prazerosa que estava sentindo. Leon se afastou um pouco, sem tirar seu olhar dos olhos da morena. Ele desmanchou o nó do roupão de Ada, revelando um corpo perfeito, uma pele branca com um dragão formado por flores que seguia de sua costela até a virilha. Leon já havia visto a tatuagem, mas ela estava mais bela do que nunca, porque dessa vez, a via por completo.

Ada movimentou os ombros para que a peça fosse ao chão. O nervosismo e as mãos suadas faziam com que ela se sentisse em sua primeira vez. Leon também estava nervoso, mas não aparentava, pois ele tinha em mente que era seu dever passar segurança a jovem.

O loiro a pegou no colo e seguiu para a cama. Ada mordia o lábio inferior tudo estava tão diferente... Ela desabotoou os botões da camisa de Leon devagar e passou as unhas pintadas de vermelho pelo abdômen que tanto admirava. Não demorou para que o jovem já estivesse despido assim como ela.

Cada beijo, cada toque, cada sensação, não havia como explicar o quanto era mágico. O som de prazer vindo de Ada era como música para os ouvidos de Leon. Suas costas ardiam por conta dos vários arranhões em sua pele. Mas ele não se importava, pois Ada era a criadora daquela dor que tanto lhe dava prazer.

Entre alguns sussurros abafados, ambos trocavam juras de amor. Já não haveria mais limites para eles. E foi como sempre desejaram. A espera para tê-la foi longa, mas satisfatória para ambos. Ele finalmente mostrou da forma mais bonita que a amava e que ela não estava sozinha, trocando todo o luto que ela sentia por amor. Por fazer daquela noite, uma noite especial.

 Após retomarem o fôlego Leon passava os dedos pelo contorno da imagem no corpo de sua amada. As gotículas de suor faziam com que o desenho brilhasse.

 – Eu pensei em varias formas de te pedir isso, mas com você não dá pra presumir os acontecimentos. Então... Quer namorar comigo? – Leon a fitou, observou que Ada mantinha os olhos fechados, mas um sorriso radiante no rosto.

Ada não respondeu, mas assentiu. Então Leon sorriu, assim que se aconchegou na cama a jovem se aninhou a ele sonolenta. Não precisava responder e de fato o rapaz sabia disso, o que haviam acabado de vivenciar valia mais do que qual palavra.

— - -

— Olá, boa noite! A senhorita é...? – Chris se deparou com uma jovem de cabelos escuros e bem curtos na entrada do restaurante.

— Moira Burton, senhor, e o que deseja? – Moira respondeu com um sorriso ao homem a sua frente. Ela estava gostando do que estava vendo e tratou de atendê-lo com empenho.

— Na verdade, eu vim aqui por uma pessoa. Uma atendente, de olhos bem azuis e cabelos longos e castanhos... Quero que ela me atenda, como da última vez que estive aqui e fui bem tratado por ela. – Chris propôs olhando pelo restaurante.

Por um momento, sua mente se lembrou da garota que deu bolo nele no basquete, tentando fazer uma comparação estranha das duas, que realmente se pareciam. Mas isso caiu por terra ao ver a garota que Moira havia chamado, se aproximando com um sorriso simpático.

Jill se aproximou dos dois. Seu olhar sério se tornou por um momento alegre. “Ele realmente veio me reembolsar e se explicar, que gentil.” Pensou inocentemente. “E ele não é tão mal assim...”

— Valentine, esse é o Senhor... – Moira foi interrompida pela mesma.

— Chris, eu o conheço. Fico muito admirada pela sua surpresa aqui, senhor. Tenho certeza que veio acertar sua dívida, não é?

— Claro que sim. E não pensei duas vezes em ser atendido em exclusividade por uma atendente tão competente. Obrigada pela atenção, Srta. Burton. Agora eu prefiro que a atendente mais nobre desse estabelecimento me atenda.

Moira deu de costas, imaginando que Chris era mais um dos fãs ou amigos de Jill que gostavam de ser atendidos por ela. Apenas ignorou os dois e saiu ao notar que estava sobrando.

— Então Chris, ainda magoado pela brincadeira insana que você começou ontem? – Jill amigavelmente comentou ao levá-lo para uma mesa em um bom lugar.

— Você que plantou a discórdia. Era só me tratar com respeito que eu te trataria da mesma maneira. E te reembolsaria, mas... Acredito que você já tenha pagado tudo, então estamos quitados. – Chris disse se sentando na cadeira.

Jill olhou séria para ele que esbanjava um sorriso muito maléfico.

— O que você quer dizer?

— Que não tem como você comprovar que sou eu, a pessoa que te deu calote. E quer saber um segredo? Não estou aqui para ser seu amiguinho, Valentine. Estou aqui para fazer da sua noite um inferno. Vai lá pegar o cardápio pra mim, agora. – Disse com autoridade.

Jill olhou para ele, desacreditada e ficou imóvel por um momento.

— Valentine? Você é lerda ou o que? Eu estou faminto. – Comentou levantando a voz no ambiente, fazendo todos olhar para ela. – E como eu disse: Essa noite só está começando. – Sussurrou sorrindo. 

Jill saiu furiosa em direção ao balcão para pegar o cardápio, recebendo um olhar de repreensão de Moira. Em seguida entregou ao cliente que tanto odiava.

Chris começou enrolando. Depois de quase dez minutos de Jill impaciente com a demanda de outros clientes que ela estava sob supervisão, sem poder sair até que Chris finalmente escolhesse seu pedido depois de comentar sobre cada detalhe do cardápio, ela deixou a mesa dele.

Ela tentava equilibrar seu emocional, atendendo seus outros clientes, recebendo, um olhar malicioso de Chris ao passar por ele várias vezes.

A salvação do seu estado de espírito foi alguém inesperado que surgiu do nada para alegrar a sua noite. Harris Norrington. Ver ele a fez ao menos sorrir do nada, completamente ignorando as demandas loucas que vinham de Chris. Agora, ela tinha estímulos o bastante para fazer qualquer coisa. Antes que fosse ir até ele, Parker já havia tomado seu lugar. “Menos mal.” Ela pensou. Ainda tinha um diabo no seu pé que poderia complicar tudo, caso ela quisesse atender seu paquera.

— Valentine, você está surda? Cadê o meu azeite? Não vou engolir essa comida ate você me trazer o azeite. E se ela esfriar, eu vou querer outro prato.

Jill parou de sonhar acordada e foi buscar o “azeite”. Pelo menos era a última demanda do “babaca”. E não havia sido são ruim afinal.

Ao continuar atendendo os outros clientes e ouvindo Chris gritar seu nome por coisas banais, como comentar sobre a comida, sobre restaurantes da Califórnia e dizer que o azeite não era de boa qualidade, Jill notou que ao lado de Norrington sentou-se uma moça bem vestida, vestido reto, saltos. Seus cabelos curtos e postura mostraram logo o quão culta e civilizada que ela era. Diferente de si.

Ela o cumprimentou com um beijo no rosto mas isso poderia ser apenas o início de uma "bela amizade". E isso fez Jill tremer da cabeça aos pés. Por um momento ela se esqueceu de onde estava e quem era. Apenas sentiu uma vontade deixar aquele lugar imediatamente. Aquele momento foi interrompido com a “praga” ao seu lado.

— O que você ainda quer cara? – Jill gritou com Chris, fazendo com que todo o restaurante olhasse pra ela. Foi a deixa perfeita pra Chris que limpou o rosto e jogou o guardanapo na mesa.

— Ei, não se deve gritar com o cliente, moça. – Chris gritou se levantando da mesa. – Que tipo de profissional você é desse jeito? Pessoas como você não deveriam trabalhar em estabelecimento como esse.

Moira apareceu imediatamente ao lado dos dois. Jill estava com os olhos lacrimejando e mal sabia se era porque tinha ouvido aquilo, visto Moira se aproximar ou ver Norrington com outra garota, ou melhor, assistindo aquela cena.

— Essa moça aqui é a pior atendente que eu já vi. Não deveriam contratar pessoas que não sabem lidar com pessoas para um ambiente desse, Srta. Burton. Eu me cansei desse lugar e dessa incompetente.

— Seu babaca, você me perturbou até a última gota de paciência e ainda está me devendo quinhentos dólares de pratos italianos idiotas. – Jill retrucou ignorando Moira e os outros clientes. Seus nervos já estavam aflorados demais.

— Ah, é mesmo, dinheiro. Você quer  dinheiro ? Então toma – Chris tirou sua carteira do bolso jogando muitas  notas na mesa, muito mais do que devia pela última vez e que havia consumido naquela noite. – Fique com a droga do dinheiro e nunca mais me procure na minha sala pra cobrar essa porra. Tem até um dinheirinho a mais, faça bom aproveito.

Assim que disse, passou por entre as duas mulheres indo embora. Moira olhou para Jill com ódio.

— Pra cozinha, agora. – Moira abaixou o tom ao falar com ela e ela obedeceu imediatamente.

Ela ficou sentada na cozinha até o Sr. Jones aparecer pra conversar com ela. E ela estava fria, respondia tudo o que ele perguntava e se explicava com poucas palavras. E no final, ele viu que ela não estava bem. Mandou ela ir para casa, descansar e que depois eles conversariam.

A dor da humilhação que o tal Chris tinha feito não se comparava em ver o cara que ela tanto era interessada com outra. E nem mesmo Ada estava em casa pra ouvir suas lamúrias.


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Notas finais do capítulo

Apertem os cintos, e fiquem atentos aos próximos capítulos, bjs!



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