Descobertas Paralelas escrita por Capitã Nana, lynandread


Capítulo 22
O Retorno




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“Não precisa ficar assim... você não vai estar sozinha. Eu vou estar com você.”

Aquelas palavras ecoaram na mente de Jill a viagem inteira. Chris dissera isso assim que eles entraram dentro do avião, depois dela se despedir de sua família. Foi o melhor natal que já vivenciou e deixar seus pais novamente não era uma tarefa fácil para alguém tão apegada a família. Chris notou a aflição que ela sentia naquele momento e simplesmente disse aquela frase. Alguma magia de natal havia transformado ele. Ou talvez tivesse revelado quem ele realmente era. Ele já não parecia o ser mais insuportável do mundo. E sim, perfeitamente encaixado com aquele momento, aquele lugar e aquele ambiente na concepção de Jill. E um tanto silencioso. Talvez um pouco apreensivo.

Na verdade ele estava preocupado com Claire. Encontrar com irmã novamente depois de se esquivar dela não seria tão fácil de reconciliar. Nos últimos dias Claire não atendia seus telefonemas, apenas Leon respondia por ela. Chris imaginava que ela estaria magoada com ele e por isso não queria contato. E entendia isso, depois de viver os últimos dias com uma família de verdade. Nisto, assim que a aeromoça avisou que eles já iriam aterrissar, ele se virou para Jill e depois de adiar muito, finalmente perguntou.

— Vamos contar para todos sobre a minha estadia em Frederick neste natal?

Jill o encarou hesitando em responder e logo desviou o olhar, estando pensativa. Não sabia se era uma boa ideia. Aquela pergunta soou estranha, já que á princípio, até o próprio Chris não tinha qualquer interesse em revelar a alguém sobre o passeio.

— Tinhamos que ter falado sobre isso antes, não é? – Jill comentou chateada.

— É... Tudo bem. Deixe o trabalho da mentira comigo. – Ele sorriu de canto de lábios.  Ele não queria mentir ou omitir. E isso foi espantosamente notado por ambos.

Eles chegaram em plena madrugada  no apartamento. O que foi confortante para ambos, devido a não chamarem tanta atenção. Chris passou pela porta animado com a ideia de que encontraria a irmã provavelmente descansando em seu quarto.

— Acredito que a Claire deve estar dormindo no meu quarto. Ela é uma pedra quando dorme. Mas gostaria de apresentar logo vocês. Eu teria que acordar ela do mesmo jeito pra avisar que já estou aqui. – Chris se dirigia para seu quarto deixando sua mala pelo meio do caminho.

— Não incomode a garota... – Chris parou de andar e se virou para ela. – Você pode dormir em outro lugar. – Jill sorriu maliciosamente ao trancar a porta principal da casa. Acendeu o abajur e se virou. – O sofá não é tão ruim... E também tem a bota que é bem confortável. – Apontou para os móveis se questionando quem seria o escolhido pelo parceiro.

— Não me incomodo de ficar na sua cama com você, amorzinho. – Chris retribuiu a deixa e ela sorriu sem graça.

— Acho que o contrato já acabou. – Ela riu. – Mas será um prazer conhecer sua família. – Jill sorriu animada passando por Chris. – Confesso que eu estava curiosa em conhecer a Claire e ver se ela é tudo aquilo que vocês disseram. – Jill deixou sua mala em seu quarto e voltou ao corredor a tempo de ver Chris abrir cuidadosamente a porta. Quando seu rosto aparentou uma confusão ele abriu a porta com mais veemência e adentrou rapidamente.

— Onde ela se meteu? Será que ela foi embora? – Chris se questionou já se virando para a Jill.

— Ela não está no meu quarto. – Jill argumentou duvidosa, mas ao ver uma preocupação no rosto de Chris que parecia um pouco aflito, ela tentou acalmá-lo. – Mas se ela fez as pazes com o casal, provavelmente vai estar por lá. Ficar aqui sozinha não é uma boa ideia.

— Se ela não fugiu daqui com raiva de mim. – Chris comentou sarcasticamente. – Eu espero mesmo que ela esteja lá embaixo.

— Ela está.  Claire não iria embora porque queria te ver. Que razões para fugir ela teria agora que tudo se acertou com Ada e Leon? – Jill passou confiança tocando levemente no ombro dele. – E eu não sei você, mas acho que merecemos descansar.

Ambos se despediram e cada um entrou em seu próprio quarto.

— - -

O som rock'in roll adentrou aos ouvidos da ruiva, que segundos antes dormia confortavelmente no quarto de hóspedes. Ela abriu os olhos e buscou pelo seu celular, lembrando-se em seguida, que havia o deixando no apartamento do irmão há dias atrás. Levantou ainda sonolenta e fitou o relógio no criando mudo, que indicava oito horas da manhã. Claire seguiu para o banheiro, a fim de fazer sua higiene pessoal e em seguida, guiar-se até aquele som.

Após alguns minutos, a ruiva, caminhava pelo corredor tranquilamente, enquanto amarrava seus belos cabelos em rabo de cavalo, como de costume. Quando chegou a porta do cômodo que estava semiaberta, ela a empurrou de leve e adentrou ao local. O quarto estava uma verdadeira desordem, pilhas de roupas amontoadas sobre uma cadeira giratória, livros e HQs espalhados pelo chão, pôsteres com partes soltas que outrora pareciam ter sido colados com goma de mascar. E as paredes tinham tons escuros.

— Me sinto em casa — Claire sorriu. Algumas prateleiras chamou a atenção da garota, nela um box com todos os álbuns da banda Kiss até mesmo um disco raro que muitos pagariam milhares de dólares apenas para tocá-lo.

Desde que havia encontrado abrigo naquela grande casa, Claire ainda não havia encontrado tempo para “vasculhar” o quarto de seu anfitrião, que por sinal não estava presente naquele momento. Ela encontrou um álbum de fotografias, então animada jogou-se na cama e começou a ver as fotos. As imagens eram infinitamente engraçadas ou curiosas, deixando tão entretida que nem ao menos notou o rapaz escorado no umbral da porta.

— Quando terminar de xeretar as minhas coisas me avisa — Jake expôs.

— Jake! Bom dia! — Claire sorriu, ignorando as palavras do outro. — Essas fotos são incriveis. Quem são esses com você? — A garota virou o álbum na direção do maior.

Jake sorriu de canto, desde que conheceu a ruiva, ele pode notar o quanto ela era diferente, não em um sentido ruim, mas Claire era única, e isso chamava a atenção do rapaz. Ele seguiu até ela, se sentando a beirada da cama para ver a foto.

  — Mark, Trevor, Sputnik e Lola. Nós éramos os Angry thunders. Essa foto foi a última que tiramos antes da Lola ir morar na Suíça, Sputnik ir para uma clínica de reabilitação e Mark, Trevor e eu brigarmos feio. — Jake observava a foto com um leve sorriso nostálgico.

— Uau… este foi o fim da banda então?

— Não exatamente. Voltamos a nos falar. Sputnik está legal, mas não temos a Lola. Ela não largaria a vida boa na Suíça para se juntar a antiga bandinha de garagem.

— Então eu topo! — Exclamou Claire, espalmando as mãos e notando a expressão confusa de Jake. — Ué? Vocês precisam de uma garota para a Angry thunders voltar a ativa, eu adoro “bandinhas de garagem”, não tem como ficar mais perfeito!

O mais velho gargalhou ao ouvir a quimera da garota. Sem dúvida achava aquela ideia impossível.

— Escuta palito de fósforo, eu ouvi sua voz no banheiro ontem, as suas chances de entrar para a banda são elevadas a 0. Além do mais, acho que já encontrei uma vocalista para a A.T...

Claire fez um bico após ter sido contrariada.

— Aposto que deve ser uma garota antissocial, que só bebe Jack Daniels e fuma Marlboro. — Disse revirando os olhos.

— É aí onde você se engana. A Valentine é aquele tipo de garota que transforma tudo em poesia, além de ser fã de blues, a voz dela é suave e o timbre perfeito para contrastar com o meu scremo. — Jake sorriu como se já pudesse ver um show com a nova integrante.

— Ela ao menos sabe dessa insanidade? — Claire riu.

— Ainda não, pretendo convidar ela quando as aulas na facul retornarem. Somos da mesma turma, vou te apresentar ela.

— Seria uma boa, conhecer gente nova me faz esquecer as antigas. — Claire se levantou para guardar o álbum.

Jake a observava, tentando entender a garota a sua frente, que caiu em sua vida tão de repente, que ele mal sabia explicar como aconteceu.

— Não vai mesmo me dizer o que houve?

— Você disse que não se importava. — Ela continuava a sua tour pelos objetos do quarto.

— E continuo não dando a mínima. Não vou te botar pra fora ou chamar a polícia, caso você me diga que ta envolvida com tráfico, que matou alguém ou sei lá. Eu só queria saber por que está fugindo. — Ele a olhava sério.

— Jake acha mesmo que uso drogas ou matei alguém? — Ela riu. — Não que vontade não me falte… — Seu tom de voz soou raivoso ao se lembrar de Chris, Ada e Leon. — Mas acredito que se essa fosse sua suspeita, você não teria me trazido com você. — Sorriu fitando-o em seguida.

— Na verdade eu não tive opção. Pela baixinha você ficaria a mercê da neve e fora do jardim dela. — O mais velho disse divertido, e logo sendo atingido por uma caixa vazia de um fast food. — Ok... okÉ brincadeira, mas o fato é que todo mundo erra ruiva, e se você estava lá, é porque alguém errou.

Nesse instante Claire começou a pensar sobre tudo que houve e no fim havia ficado ainda mais frustrada, pois naquela teia era impossível achar o verdadeiro culpado, pois todos envolvidos tinham sua parcela de culpa e isso incluía a ela. Seus olhos começaram a marejar e um sentimento ruim apossar-se de si. Quando se deu conta, Jake já estava de pé a sua frente, preocupado.

 — Não importa quem errou, o importante são os acertos do presente e futuro. — Ela sorriu tímida. — Mas e então, o que vamos fazer no réveillon?

O rapaz sorriu com a facilidade que a garota tinha em fugir de certos assuntos.

— Vem, tenho algo pra te mostrar.

Ambos seguiram pelo corredor, até as escadas que davam para o hall, à esquerda a sala e à direita o escritório. Jake seguia rapidamente na frente de Claire, não percebendo que a garota havia parado frente ao escritório onde havia um homem alto e loiro, entretido no computador.

 — Ei, o que tá fazendo? — Disse Jake em tom baixo, assim que retornou até Claire.

 — Quem é ele?

  — É o Albert, meu pai.

  — Hm... Ele sabe que eu estou hospedada aqui? — A ruiva perguntou com receio. — E porque eu não o vi antes?

— Ele não precisa saber. E antes que você perceba, ele não vai mais estar aqui.

— Por quê?

— Sem sua história, sem minha história. — Jake respondeu impaciente.

— Isso é... Isso é injusto!

— - -

— Comprou as coisas? – Jill secava os cabelos com um secador no banheiro quando Chris apareceu na porta.

— Sim... Estava uma grande fila no supermercado por causa do fim de ano. Mas ao menos o café da manhã de hoje está garantido. Vamos logo...

— Calma! Já que vamos acordar eles, não há motivo pra ter pressa. – Jill desligou o aparelho e escovou levemente os cabelos.

— Recaptulando: Você chegou ontem a noite e eu cheguei hoje pela manhã, ok? – Chris comentou enquanto olhava para as horas em seu relógio de pulso.

— Certo. Até então, eu não sabia que a Claire estava no apartamento e por isso não senti falta dela até agora. – Jill o seguia até a porta.

— Ótimo; Todo o roteiro montado e revisado. – Chris concluiu. Observando Jill trancar a casa — Só ainda não sei o que dizer sobre a Jéssica.

— Mas você terminou em definitivo com ela ou não? – Jill engoliu seco ao questionar sobre aquilo. Chris hesitou um pouco em responder. – Esqueci que isso não é problema meu. Olha, apenas nunca, jamais comente sobre Carlos, Greg, papai, mamãe, Becka e qualquer outro parente, ok? A Ada os conhece de longe e ela sabe muito bem identificar uma omissão.

Ambos desciam as escadas rapidamente.

— Então serão duas investigadoras. Claire também sabe muito bem persuadir alguém e extrair informações. – Chris tocou a campainha e olhou para Jill ao seu lado da mesma forma carinhosa em que a observou pelos últimos dias. Ela poderia sentir um frio na barriga com aquilo.

— Não somos mais namorados de mentirinha. – Jill sorriu sem graça. – Não precisa me olhar desse jeito.

— Que jeito?

—... Eu sabia que cedo ou tarde ela apareceria! Nossa aflição chegou ao fim! – A voz ecoada de Ada pode ser ouvida pela dupla parada frente a porta. – Finalmente você... – Ada encarou Chris e Jill em frente a porta com um olhar surpreso, até mais intenso do que deveria. – Vocês já voltaram?...

— Surpresa? – Jill disse com um sorriso sem graça, pois não previa aquela recepção tão fria.

 – Podemos entrar ou vamos tomar café aqui na porta mesmo ? – Chris brincou descontraído balançando levemente a sacola de papel. O rapaz não notou nada incomum na amiga.

 – C-claro! – Ela abriu passagem para que os vizinhos adentrassem.

Leon veio receber o amigo que já depositava as sacolas sobre a mesa de centro da sala, enquanto Jill fitava Ada fechar a porta, já preocupada com o que poderia ter ou estar acontecendo.

— Chris... Não pensei que viria antes do Réveillon... – O loiro cumprimentou o outro.

— E passar o ano novo longe de vocês? Até parece que você não me conhece. – Ele riu. – Mas eu fiquei foi surpreso em encontrar a Valentine em casa quando cheguei esta manhã. — Chris iniciou as mentiras.

Nesse instante ela fitou os rapazes com um sorriso de canto.

— Pois é... Eu estava descansando muito bem até você chegar fazendo todo aquele barulho.

— E como foi a viagem? Pensei que iria me avisar quando fosse retornar. – Ada expôs com um sorriso trêmulo já mexendo na sacola que trouxeram.

— Gostei de rever nossa casa. Desculpe, foi tudo de última hora.  E cadê a garota? Chris não parou de falar dela até agora. – Jill observava os cômodos à dentro.

— Levei um susto quando cheguei e não vi a Claire, achei que ela tivesse partido com raiva de mim. Mas então? Ela já acordou? – O questionamento de Chris fez com que Leon e Ada fitassem um ao outro. Dando certeza a Jill, que estavam com problemas.

— Chris escuta... a Claire, ela... – Leon começou. Não havia uma maneira de dizer a verdade, sem que gerasse uma grande tensão.

— Ela foi embora, eu sabia! Deve estar me odiando. Aquela garota tem horas que é  impossível. – Disse desapontado.

— É um pouco mais complicado que isso. – Continuou Ada – Há alguns dias Claire simplesmente desapareceu do seu apartamento.

Jill colocou a mão nos lábios como se tentasse guardar o impacto da notícia.

— Como assim desapareceu? Do que você está falando?! – Redfield estava atônito, queria que aquilo que acabara de ouvir fosse apenas uma brincadeira de mal gosto.

— Olha, já faz alguns dias, ela deixou o apartamento apenas com algumas roupas. Celular, documentos e dinheiro ficaram para trás. Já procuramos por ela por toda a cidade, fomos em hospitais, abrigos, até necrotérios, mas nem um sinal dela. – Leon tentava explicar, observando o amigo se sentar sem reação diante a tudo que ouvia.

— Meu Deus... Vocês foram a polícia ? – Jill se manifestou.

— Não. – Chris ergueu a cabeça e fitou o outro rapaz. Ambos sabiam o que poderia acontecer caso a polícia fosse acionada. E a última coisa que Chris queria era ter seus pais cientes do que estava acontecendo, antes que ele pudesse fazer alguma coisa. – Eu pensei que fosse apenas uma travessura da Claire e que logo era estaria de volta, rindo da nossa cara.

 – Houve alguma coisa ou algum problema com ela antes de notarem a falta dela? – Chris fitou Ada e a mesma se sentiu pressionada.

— N-não. Estava tudo bem até encontrarmos um de seus troféus destruídos no chão.

O rapaz respirou profundamente, se culpando pela fuga da irmã. Até que uma lembrança assolou sua mente o fazendo levantar e encarar Leon bravo.

— Quando me ligou sugerindo que eu continuasse em Aspen e disse que Claire e Ada resolveram suas diferenças era mentira. Ela já havia fugido e você não queria que eu soubesse. Por que fez isso?

— Eu já disse, achei que era apenas uma brincadeira, jamais imaginei que a situação ficaria grave. – Leon explicava – Eu não queria te preocupar.

— Ah sério? Quer dizer que minha irmã foge sem dinheiro e documentos, em meio a uma cidade como Chicago e essa é a sua solução? Brilhante Leon, não poderia ter sido melhor! – Chris mostrava-se irritado.

— Espera aí, está bravo comigo? Eu estou tão preocupado quanto você. Não tenho feito outra coisa que não seja encontrar o paradeiro da Claire todo esse tempo. – Leon se defendeu, notando o sorriso irônico de Chris, o deixando contrariado. – Não foi eu que simplesmente não contei a minha irmã os meus planos para o natal.

— Então a culpa dela fugir é só minha agora?! Quem foi que a deixou criar expectativas todos esses anos? Quem foi que me pediu para não contar a ela sobre a Ada?! Assuma sua responsabilidade Leon! – Chris articulava as mãos no ar nervoso.

 – O que?! Olha o que você está falando! Eu nunca iludi a Claire, ela é como minha irmã. E pedi para não falar sobre Ada, foi unicamente por achar que ela deveria saber por mim! – Ambos já se encaravam frente a frente. – Porra! Não jogue suas frustrações para cima de mim Christopher! Claire fugiu por não aguentar se dá conta que o próprio irmão mente para ela. Essa sua vida ridícula de mentira só afasta as pessoas de você!

— Cala a boca! — Chris exaltado puxa Leon pela camisa.

— Chris está louco? Solta ele, não é assim que se resolve as coisas! – Ada tenta intervir, mas é ignorada por ambos.

— Me solta cara. Eu não quero te machucar, embora você mereça.

— Parem com essas acusações que não levam a nada!  Não importa de quem ou quem tem mais culpa, o fato é que os dois amam e estão preocupados com a Claire! – Jill expôs.

— É, mas parece que seu companheiro de casa não consegue ter maturidade suficiente para perceber isso! Prefere viver fugindo da realidade como sempre do que encarar a verdade!

— Vai se foder Leon!

Nesse instante, Chris tenta socar o rosto de Leon mas o mesmo esquiva de relance. Os dois entram em uma luta física, deixando Ada e Jill uma pilha de nervos ao tentar separá-los.

 — Chega! – Ada segura a mão de Leon que ia em direção ao rosto de Chris quando chama a atenção para si. – A culpa é minha, Claire foi embora por minha culpa! — Ada exclamou, chamando a atenção do trio para si. Leon e Chris se soltaram ofegantes. — Naquela manhã subi ao apartamento de cima para levar algo para Claire se alimentar. Tentei uma reaproximação, mas ela agil de maneira indiferente, então eu... Então eu disse a ela que Leon havia escolhido a mim e ela teria que aceitar isso. Só isso. Não disse para ela ir embora porque não era bem vinda. E eu não sei por que ela decidiu fazer isso por tanto tempo.

Leon e Chris limpavam o sangue em seus lábios por conta da briga. Não sabiam o que dizer.

— Ada por que fez isso? — Leon perguntou se virando para ela.

— Eu não sei! Agi como uma adolescente, acabei piorando as coisas. – Ela segurou seus braços contra si mesmo. – Christopher, Leon, me perdoem!

Chris olhou uma última vez para o outro.

— Eu não vou ficar aqui perdendo tempo enquanto minha irmã pode está em perigo. — Chris seguiu para a saída determinado a fazer o que fosse preciso para trazer Claire para casa.

Confusa, Jill fitou a porta e logo os amigos que estavam abalados com tudo aquilo. Ada olhou para a amiga, notando a indecisão da garota. Então meneou a cabeça indicando que Jill fosse atrás de Chris.  Mesmo hesitante ela partiu. Queria ter certeza que os amigos ficariam bem, mas Chris não poderia ficar sozinho não depois de saber como é não está só e talvez prestes a cometer uma loucura.

A garota encontrou Chris alguns passos a frente do prédio onde moravam. Ela correu para alcançá-lo.

 — Chris espera por favor! – Jill segurou seu braço por trás.

 — Me deixa Jillian. Não quero ser rude com você. – Apertou os passos ao evitar ela, se livrando de suas mãos.

 — E não precisa! – Ele parou de caminhar e fitou a menor. – Apenas se acalme...

— Claire é tudo para mim. Se acontecer alguma coisa com ela eu...  

— Eu sei. Acho que se Rebecca desaparecesse eu ficaria perdida, mas sair por aí ferindo seus amigos com palavras ou fisicamente, não vai ajudar a trazer sua irmã de volta. A irmã de Ada desapareceu quando elas eram crianças, você é o melhor amigo de Leon, você é Claire são os irmãos que ele não teve. Será mesmo que eles se preocupam menos que você? Eles erraram, mas também estão preocupados. Se não souber os detalhes do que aconteceu, acha que vai fazer diferença se sair por aí sem rumo? — Jill estava com a voz embargada, estava tão assustada. Horas antes tudo parecia tão bem e agora tudo parecia desmoronar a sua frente — Eu não a conheço, mas nem consigo imaginar que ela pode estar precisando de nós, nós quatro... — Ambos se encararam por alguns instantes. Até que Jill sentiu que o amigo precisava de um abraço, então sem hesitar abraçou o rapaz que correspondeu ao gesto um pouco aliviado. — Nós vamos achar sua família, eu prometo.

— - -

Assim como Ada e Leon fizeram no decorrer da semana, Chris e Jill também fizeram uma busca pelos arredores aquele dia, mas as notícia não era diferente das anteriores. Ninguém havia visto uma garota ruiva de olhos azuis na região. Era perturbador para Chris imaginar que algo irreversível tivesse acontecido com sua irmã. Tentava ao máximo parecer forte, porém o fato é que sua última opção começava a lhe parecer tentadora. Ele pegou o celular e fitou a tela ao parar próximo a um ponto de taxi. Se a polícia ficasse ciente do acontecido, talvez fosse mais fácil encontrar Claire, viva ou morta.

Quando olhou para o outro lado da rua viu algo que lhe chamou a atenção. Sem pensar duas vezes ele correu até a moradora de rua que trajava uma jaqueta exclusiva igual a da garota ruiva. Chris a abordou deixando-a assustada, mas sem muito detalhes explicou que procurava a antiga dona da peça e que tinha certeza que pertencia a ela, pois abaixo da estampa nas costas, havia uma pequena mancha de tinta de outra cor que ela derramou sem querer enquanto personalizava a peça da última vez que foi visitar o irmão.

A mulher então disse a ele como conseguiu aquela roupa quente e como era agradecida pela bondade no coração da menina. Chris não duvidou do que ouviu, pois com certeza aquela era uma atitude que a irmã faria.  Então, decepcionado e ao mesmo tempo contente, ele deu a pedinte algum dinheiro para se alimentar e seguiu seu caminho para casa. Talvez Jill tivesse alguma notícia.

Quando chegou, ela estava na frente do prédio com um copo de café que havia comprado na rua. Ele a olhou um tanto confuso.

— Eu estava te esperando. De repente você teria dado mais sorte que eu. — Ela sorriu de leve, notando o outro retribuir com outro sorriso ainda mais leve.

— Está muito frio, vamos.

Os dois subiam as escadas enquanto Chris contava a ela o que houvera descoberto. Ela ficou feliz, mesmo sabendo que a atualização não os levaria ao fim da angústia. Quando chegaram ao andar de Leon e Ada, eles pararam e fitaram o apartamento dos amigos.

— Acho que deviam conversar, acredito que eles ficariam felizes em saber o que você descobriu sobre a Claire. — Jill sugeriu.

Depois da discussão entre eles, o quarteto não havia se reunido mais. E mesmo que Chris tivesse admitido o seu erro, ainda não se sentia bem o suficiente para se desculpar.

— É, não é uma má ideia. Mas se não for incomodo, prefiro que você diga a eles. Tenho algumas ligações para fazer e...

— Chris eu sei que não está sendo fácil, mas rejeita-los... — Ela suspirou, vencida pelo momento. — Tudo bem, vou falar com eles. — Jill seguiu até o apartamento, enquanto o amigo seguia para o outro.

— — —

Trinta e um de dezembro, véspera de ano novo. Dois dias depois que eles chegaram em casa.

Enquanto todos lá fora estavam eufóricos com a chegada do novo ano, para Jill, Chris, Leon e Ada, era apenas mais um dia de aflição. Não havia mais para onde ligar, Chris já havia esgotado suas opções de amigos com Claire na lista telefônica. Secretamente teve contato com uma das empregadas da casa de seus pais em São Francisco, mas novamente sem sinal da garota. Quando a noite caiu o rapaz decidiu sair não para procurar sua irmã, mas simplesmente tentar sair por aí sem rumo antes de fazer o que era preciso. Ele deixou um bilhete para Jill e então partiu.

Ela chegou a casa três horas depois, assim que concluiu o expediente no restaurante que fechou antes do normal devido à data comemorativa.  Procurou Chris pelo local, até encontrar o bilhete em seu quarto.

“Não consigo ficar em casa, desculpa.

                                Chris.”

Jill amassou o papel levemente. Não sabia mais o que fazer ou onde procurar. A resistência de Chris e Leon a respeito de alertar as autoridades sobre o desaparecimento da garota não fazia o menor sentido, mas a moça não aguentava mais ver os dias passarem e nada acontecer. Então decidida, pegou seu celular e discou o número do departamento de polícia de Chicago, ainda vestida com seu casaco e com as chaves da casa em mãos. Assim que colocou o telefone ao ouvido ouviu a porta da casa se abrir. Olhando desapontada para Chris, se virou contra ele foi andando pelo corredor de sua própria casa como se pudesse fugir dele.

— Alô, eu quero registrar um desaparecimento...

Chris seguia Jill não acreditando no que ela estava fazendo. Quando ouviu as palavras que vinham dela, ele tomou o telefone dela e encerrou a chamada apertando bruscamente na tecla. Tudo tão rápido que a deixou sem reação.

— O que pensa que está fazendo? — Chris apertava o aparelho em sua mão.

— Contatando a polícia. Chris olha quantos dias já se passaram. Ela não vai voltar por conta própria, se é que ela está lá fora por conta própria! Olha como você está! Não come, não dorme. Acha mesmo que vai aguentar se continuar assim?!

— Não é da sua conta! Você não pode simplesmente tomar esse tipo de decisão sem me consultar!

— Se eu contasse a você, você faria a mesma coisa que fez agora! Pelo amor de Deus Christopher. O que te impede de comunicar a polícia? O que é que você e Leon escondem da gente?!

   — Apenas... Para de se meter na minha vida! — Chris gritou. No mesmo instante notou a expressão assustada no rosto de Jill. Pela segunda vez em dois dias ele estava sendo um idiota. — Merda... — Passou a mão sobre os cabelos e respirou fundo. — Não é nada, tá legal? Eu só... Eu só acho que se tem alguém que deve fazer essa ligação, esse alguém sou eu.

O rapaz entregou o celular de volta para Jill e saiu novamente de casa.

— Chris espera, não faz assim... Chris! — Sem respostas, a garota se jogou em sua bota, sentindo seus olhos lacrimejarem.

— — —

No andar de baixo as coisas não pareciam estar melhores. Desde o dia anterior, após o fim da briga entre Leon e Chris, uma atmosfera pesada se instalou no apartamento. O casal de namorados estava distante. Conversavam apenas o necessário e mal se olhavam nos olhos como de costume. E Ada sentia que aquelas atitudes partia de Leon, mais do que dela. Era noite de ano novo, seu primeiro ano ao lado do seu amado, mas estava longe de ser o melhor.

Ela caminhou até o cômodo onde servia de atelier e escritório para eles. Leon estava focado no computador, em buscas de notícias locais.

— Ainda está bravo comigo? — Ada o fitava ainda de pé na porta.

— Não estou.

— Então por que todo esse gelo?

— Só estou ocupado. — Leon não desviava sua atenção do computador e Ada agora podia sentir como ele ficou quando ela havia feito o mesmo dias atrás.

— Ocupado. — Ela repetiu sarcasticamente, mas não notou nenhuma reação vinda de Leon. Ficou irritada e ficou frente à mesa, batendo as mãos sobre ela com força. — Olha para mim quando eu estiver falando com você.

— Então prossiga. — Ele disse entrelaçando os dedos com o cotovelo apoiado na mesa e então olhando para ela.

— Eu não mandei essa garota mimada ir embora. Se ela resolveu usar mais uma de suas rebeldias contra a gente foi problema dela!

— Ada não me interessa o que você disse a ela. Claire fugiria de qualquer maneira se lhe desse vontade! O que me incomoda é o fato de você ter escondido isso de mim. Se Chris e eu não estivéssemos nos esmurrado, você simplesmente manteria isso em segredo! — Leon retrucou.

 — E o que teria mudado? Hã?! Me diz, ter dito isso a você antes teria feito a diferença?!

— O que teria mudado? Você quer dizer, o que não teria mudado, não é? Ada nós somos um casal, somos um só, como posso confiar em alguém que esconde as coisas de mim por menores que sejam?!

Ada engoliu em seco as palavras ouvidas, pois sua mente a levou as lembranças de John e o beijo que trocaram enquanto Leon estava preso. Ada nunca disse ao namorado sobre tal fato, e com isso aquela era a segunda vez que omitia algo para a pessoa ao qual mais aprendeu a confiar.

— Eu vou sair — Disse Leon.

Ada despertou de seus pensamentos já vendo o rapaz pegar sua jaqueta e passar por ela para o corredor que o levaria a porta.

— Leon espere! — Ela o seguiu. — Não pode sair assim, essa conversa ainda não acabou. Além do mais é ano novo, como pode me deixar sozinha aqui?!

Leon parou frente a porta e fitou Ada.

— Do que adianta ficar em casa se não estamos sabendo lidar com tudo que está acontecendo com a Claire e conosco?

— Eu vou com você.

— Irei dar mais uma olhada por aí, então seria melhor se você ficasse... Para evitar qualquer outra eventualidade desnecessária. Se a Claire aparecer ou você tiver qualquer notícia me avise…

O rapaz passou pela porta e a fechou em seguida deixando uma Ada perdida em suas emoções. Ela se sentou no tapete abraçando os joelhos. Voltando as lembranças que aquele dia trouxe.

“Papai, mamãe eu quero ir com vocês, talvez eu possa ajudar”

“Você não foi capaz de cuidar da sua irmã, acha que vai conseguir encontrá-la? Faça-me favor, Ada”

“Querido. Não seja tão duro com ela.”

“Ora! Com tudo que estamos passando você ainda me vêm pedir paciência?”

“Mamãe, papai, eu acho que consigo encontrar ela.”

“Olha Ada, é melhor que fiquei em casa hm?!”

 “Isso mesmo, quem sabe assim evita mais problemas.”

A asiática não pode conter o choro ao se lembrar daquele maldito dia e como após alguns anos, a história se repetia. Mais uma vez ela parecia ser um estorvo na vida das pessoas importantes para si. Mais uma vez se via sozinha.

— — —

As ruas de Chicago estavam bem agitadas, pessoas sorridentes, embriagadas e felizes, contrastava o cenário melancólico fixado na mente Jill, que caminhava entre essas pessoas até o metrô mais próximo. Faltava menos de uma hora para o início do novo ano e aquelas paredes frias daquele apartamento parecia sufocá-la naquela noite. Então resolveu pegar um metrô para qualquer lugar e ficar lá até que todo aquele sentimento ruim em seu peito se desaparecesse.

Desceu as escadarias até a via de acesso ao transporte com fones de ouvido. Enquanto esperava olhou para o relógio e viu os ponteiros marcarem 23h10min, faltava pouco. Quando olhou além do relógio, viu um senhor tocando violino. Não se recordava de tê-lo visto antes, mas não importava, ele estava ali sozinho assim como ela naquela noite onde nada parecia fazer sentido. As pessoas não prestavam muito atenção na musica, com a correria de chegar aos seus destinos. A musicista foi até o instrumentista e o observou frente a frente com um leve curvar de lábios.

— Você sabe tocar? — A voz do um senhor chamou sua atenção. Ele usava óculos escuros e sua bengala estava ao lado de seu banco, e estava acompanhado de um cão.

— S-sim… como o senhor sabe que eu estou aqui?

— Eu sinto um coração musicista a distância. — Ele sorriu assim como a jovem. — A noite está muito fria, o que acha de tocar para nos aquecer?

— Seria uma honra. — Ela tomou o instrumento em mãos. Fazia tanto tempo que não via um violino e tocava cordas doces. — Gostaria de ouvir algo em especial?

— Siga o seu coração menina.

Convencida de que aquela fora a melhor coisa que já lhe aconteceu aquele dia. Ela respirou fundo, e de seus dedos juntos as cordas formavam notas em tom melancólico e logo Knockin' On Heaven's Door ganhava espaço. A bela voz de Jill apenas em melismas trauteadas, fez com que o senhor abrisse um grande sorriso.

— Ah essa é boa!

Jill não pode evitar um sorriso.

— — —

— Knock- knock -Knockin' On Heaven's Door… — Chris cantarolava a música em outro canto da cidade ao passar por um barzinho onde um homem se apresentava.

Ele tinha em uma das mãos um cigarro e na outra uma garrafa de whisky com menos da metade apenas. Caminhava um pouco relaxado por um gramado congelado. Estava em direção a um parque todo iluminado com luzes natalinas e com o lago congelado, ideal para patinar. Entretanto as poucas pessoas que lá estavam apenas estavam interessadas em preparar os fogos, pois já faltavam minutos para meia noite.

Ele se sentou no banco em uma área isolada e lá continuou a tragar seu cigarro e degustar sua bebida, que aquela altura já havia o deixado um tanto embriagado.

   — Jillian, cadê você? — Mais reclamou do que se perguntou. — Você deve está me odiando assim como a Claire. Leon estava certo, as minhas mentiras afastam as pessoas de mim, principalmente as que eu am… — O rapaz não concluiu seu pensamento, mas abriu um sorriso.

Ele viu ao longe um rapaz brincando com o grupo de amigos animados, comemorando a data com algumas bebidas na mão.

— Eu daria tudo para estar com vocês agora amigos. Jill, Ada, Leon, Claire, família Valentine e colegas de Maryland, Piers que está longe pra cacete… — Chris citou todas as pessoas as quais ele realmente tinha apreço. Sentiu suas pálpebras umidecerem, então olhou para cima. — Aí, eu nunca fui de te pedir nada ou de acreditar nesse lance de pedidos de ano novo, mas… trás a minha irmã de volta ou me deixa saber que ela está bem. Só assim eu vou conseguir dormir de verdade. — Chris sentiu seus olhos se fecharem de cansaço e deitou-se no banco.

 “Não Jake! Eu disse para não me soltar. Eu não sei patinar com tênis como você e a Sherry.”

— Essa voz… — Chris fitou sua visão até o lago congelado e lá estava ela, sorrindo como sempre, acompanhada de pessoas que eram estranhas para ele, mas que aparentemente faziam bem a ela. Ele se levantou, semicerrando os olhos como se não acreditasse no que via. Foi em direção do lago se esforçando para não cambalear. — Claire! Ei, Claire!

A ruiva que tentava se equilibrar, virou-se repentinamente para ele com olhos assustados.

— Chris! Não pode ser. — Chris se aproximava dela e naquele momento, Claire saiu desesperada até chegar a margem do lago e sem falar nada com seus amigos, saiu disparada até a rua.

Chris não acreditou no que estava acontecendo, jogou a garrafa no lixo e apressou seu passo. Quando se deram conta, Chris e Claire estavam numa perseguição estilo gato e rato. Jake e Sherry seguiram os irmãos a fim de verificar o porque de Claire sair correndo de um rapaz que conhecera.

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Jill entregou o instrumento de volta ao senhor.

— Foi um prazer tocar com o senhor. — Jill disse já em tom de despedida. Depois de conhecer o Sr. Clive e entender sua motivação por estar tocando dentro de uma estação e trocar ótimas ideias musicais, Jill tinha feito um novo amigo. — Acho que deveria voltar para casa e conversar com sua esposa. É um novo ano e já que esfriou a cabeça tocando um pouco, tenho certeza que ela vai estar te esperando para uma ceia de ano novo. Não é legal passar a virada sem... alguém que amamos.

Jill naquele momento se sentiu sozinha. Todas as pessoas que amava estavam longe e Chris ainda tinha uma irmã perdida.

— Obrigado criança. — O senhor arrumou o instrumento sem ajuda alguma e tomou seu cão. — Quando quiser nos visitar, eu e a Lea vamos te receber com muita alegria em nossa escola.

— Eu irei com toda certeza. Feliz Ano Novo, Sr. Clive. — Jill já estava animada em saber que ali tinha uma simples escola de musica que Clive e sua esposa Lea montaram.

Ao observar que o homem já estava longe, colocou o fone de ouvido e seguiu para fora do metro pelas escadas que a levaria para cima. Não queria mais ir a lugar algum, então retornaria para casa. Quando de cima da escada uma moça apressada passava distraída. E de tanto ver fotos dela naquela semana Jill sabia exatamente quem era. Mas sabia que uma abordagem de uma desconhecida não seria bem vinda. Claire passou por ela e ela a seguiu.

— Moça... moça, pode me dar uma informação.

— Não, eu to com pressa.

Com seu plano falho Jill partiu para o plano B

— Claire, eu preciso falar com você.

Claire se virou para encarar a mulher que mal tinha a encarado.

— Como você sabe o meu nome?

— Eu sou Jill e eu... Espera!  — Jill notou a moça correr de repente de si ao notar um espanto em seu rosto quando Jill se apresentou. — Claire!

Jill saiu correndo atrás da moça e continuou a perseguir ela enquanto ambas já iam deixando a estação.

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Ada andava para frente e para trás em frente ao prédio observando o pouco movimento da rua. Esperava Leon que tinha saído e não tinha voltado até então. Olhou por uma ultima vez para o relógio de pulso e se deu conta de que agora restavam apenas quinze minutos para a virada.

Ela não queria passar a virada sozinha, Jill não estava em casa, Chris provavelmente iria desprezar ela. E pensava se Claire estava bem depois do mal que ela tinha causado.

Quando de repente, uma moça apressada vinha em sua direção. Quando Ada olhou para a moça e a moça a fitou do outro lado da rua.

— Meu Deus! — Claire voltou a correr ao ouvir o chamar de Ada. Se arrependia de ter se desviado da Jill e optar por passar pela rua em frente ao prédio do irmão. De repente todo mundo finalmente tinha a encontrado

Ainda com Ada gritando seu nome, Claire corria pelo frio, atravessando ruas sem antes olhar para os lados e essa imprudência quase ocasionou um atropelamento duas vezes.

Leon conversava com alguns taxistas na parada de taxi explicando o ocorrido com a moça e perguntando a eles em relação a ela. Eles estavam mostrando a Leon um mapa onde a moça provavelmente poderia estar, baseando-se no interesse da moça.

Logo ouviu a voz de Ada gritando e ele reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Quando olhou para a direção de onde vinha a voz, notou que Claire corria em sua direção, olhando para trás para se desviar de Ada. Com o impulso que ela vinha, não notou Leon a sua frente, inacreditado, ele tentou a segurar até que ambos caíram no chão. Claire ainda no susto, sentiu o cheiro de Leon e o identificou apenas com o olfato. Se levantou assustada e já sairia andando quando Leon segurou-a pelo tornozelo ainda do chão, fazendo a cair de frente um pouco mais a frente. Com raiva, chutou sua perna até que Leon se livrasse dela mas ele, por ser mais forte que ela, segurou a em seus ombros até ela se acalmar, pois xingava sem parar para que ele a soltasse.

 — Claire, escuta! Não faça isso. Se acalma pelo amor de Deus! — Leon segurou forte em seu ombro chacoalhando a moça que começou a chorar como uma criança. — Onde você esteve em todo esse tempo?

 — Me solta! Eu te odeio. E eu odeio ela também. — Claire se referia a Ada que tinha acabado de chegar aonde eles estavam e encarava a morena com os braços cruzados e uma preocupação no rosto. — E o Chris? Avisa a ele que ele não tem mais família. Ele nunca teve uma família mesmo. O papai não liga pra ele e a mamãe nem se lembra de que ele existe. E eu também vou fazer isso.

 — Claire, sabe quanto tempo estamos procurando você? Ficamos sem dormir por dias preocupados. Porque você fez isso? —Leon a soltou aos poucos ao notar que ela tinha parado de se mexer. Claire mordeu os lábios e olhou com raiva para Ada. — Foi por causa da Ada?

Ada não gostou nenhum pouco de Leon ter citado ela dessa forma mas ela não estava em posição de dizer nada contra aquilo.

— Não.— Claire desviou os olhos de Ada e voltou a encarar Leon. —Sou eu mesma. Eu não sou bem vinda aqui. Não queria ser uma pedra de tropeço. Então eu fui procurar novos amigos e adivinhem? Eu encontrei. Estou feliz com eles. Será que agora eu posso voltar a me juntar a eles? Afinal, vocês devem passar a virada do jeito que sempre quiseram... juntos e sozinhos. Tenho certeza que vocês vão ficar bem sem eu por perto.

Ada se ajoelhou perto de Claire e Leon e olhou profundamente nos olhos da menina.

—Eu já me senti assim por muito tempo. Não sabia que você era tão igual a mim. Me desculpe por agir tão egoísta.—Ada tocou na mão da ruiva. —Pode ir se quiser... —Ada olhou para Leon, acalmando-o. —Mas saiba que se quiser ficar, eu jamais a teria por perto como uma pedra de tropeço. Eu sinto muito Claire. Eu gostaria mesmo de reverter essa situação.

Os olhos claros de Claire de repente se encheram de água. Não sabia se ir embora era uma boa ideia depois de notar a sinceridade de Ada. Mas não queria ver seu irmão tão cedo.

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 —Jill!

Chris gritou ao avista-la do outro lado da rua enquanto procurava algo. Assim que ela o viu, ela veio em sua direção desesperada.

— Chris, eu achei ela. Eu juro que eu a vi, era ela mesmo. E ela estava agasalhada, ela está bem Chris.— Jill dizia atônita e emocionada para Chris enquanto ambos pararam em uma esquina.

—Eu também a vi. Ela estava com um grupo de pessoas. Provavelmente está morando com eles. Ela saiu correndo quando me viu. Eu devo ser um péssimo irmão pra ela.— Suspirou chateado.

—Não, você não é. Nós vamos encontrar ela e ai tudo vai se resolver está bem? Acho que ela foi naquela direção. É pra lá que fica o nosso apartamento. É quase meia noite. Talvez ela esteja de volta.

—Não acredito muito que isso vai acontecer.

—Vamos logo. — Jill puxou-o pelo braço e saiu andando pela rua.

Indo em direção ao apartamento eles encontraram Ada, Leon e Claire sentados no chão no meio da calçada. A cena era bizarra, mas era exatamente tudo o que eles estavam procurando.

—Vocês a encontraram?—Assim que Claire ouviu a voz de Chris ainda pensativa em relação entre ficar e ir embora, ela se pôs de pé olhando para ele se aproximar assustada. Ao lado dele, a garota que a abordou poucos minutos antes. E atrás dele, vinha Jake e Sherry desconfiados.

Claire não pensou duas vezes em passar por Chris e abraçar Jake bem apertado. Sherry parecia não entender nada e Jake apenas a envolveu encarando com um olhar desconfiado para o grupo. Quando notou Jill, ele não tirou mais os olhos dela.

— O que vocês fizeram com a palito de fósforo? — Jake questionou levantando as sobrancelhas em direção ao grupo, agora com todos de pé. — Quem são eles Jill?

 — Quem é esse cara Jill?! — Chris olhou para Jill de uma maneira que se estivessem ainda em Frederick, ela poderia afirmar que ele estava simulando um certo ciúmes.

O-oque?! — exclamou a garota confusa. E logo resolveu ignorar o amigo e voltar sua atenção a Jake—Pergunte a garota. Afinal, de onde você a conhece?— Jill parou na frente de Jake com os braços cruzados.

— Ela tava andando por ai sozinha quando eu levei ela pra minha casa. Tá morando comigo agora.

—Ei, que diabos pensa que está fazendo com a minha irmã?— Chris irou-se ao ouvir o ruivo e puxou a menina dele com tanta força que Claire foi parar atrás dele e o encarou frente a frente.

—Ei, eu não sabia que ela tinha um irmão. A menina tava tão traumatizada que eu acho que se tivesse um irmão, não estaria pedindo abrigo, não acha?

Chris não pensou duas vezes em dar um soco no rosto de Jake, mas o mesmo desviou e acertou em cheio o nariz de Chris que pela tontura do álcool, não teve reflexo o suficiente e caiu pra trás.

—Ah, meu Deus, Jake!— Jill segurou Chris por estar atrás dele o levou cuidadosamente até o chão.

—Você que me provocou, grandalhão.— Jake disse em defesa com as mãos para o alto. Claire voltou a ficar ao lado de Jake, encarando o irmão.

—Seu filho da puta! — Chris disse lentamente, sentindo o sangue escorrer em seu rosto. — Eu to bem, me larga Jill. — Chris se soltou de Jill rudemente e se pôs de pé.

—Ei, não fala assim com a sua namorada.— Claire o repreendeu e logo soltou um sorriso sarcastico. —Não foi por causa dela que você me largou aqui sozinha?— Jill sentiu um arrependimento em não ter deixado ele partir e se sentiu muito egoísta.

—Do que você tá falando... não!— Chris abriu os olhos em espanto.

—Ela não é a garota de Maryland. Você não me ligou de Maryland? — Claire se lembrou do código de área e Jill se lembrou de que o telefone que emprestou para Chris naquele dia era o telefone de sua casa. E se assustou ao saber do poder de suspeita da menina.

—Eu estava em Aspen, com a Jessica. A minha namorada de verdade.— Chris disse sem notar a confusão mental que deixava transparecer. “A Jill só mora comigo.

—Nesse caso, então eu vou continuar morando com o Jake. Se continua mentindo pra mim, eu não quero mais falar com você.

—Claire, olha... seu irmão não parou de falar de você desde quando eu o conheci. Ele sempre te citava como sendo a única família que ele tem. Eu tenho certeza que ele tem um bom motivo para não ter voltado antes, mas ele jamais abandonaria você. Não estava programado para você vir e eu tenho certeza que se fosse programado, ele jamais viajaria sabendo que você estaria por perto. Ele não come a dias, não dorme a dias preocupado com você e nem ligou para a policia para não deixar seus pais preocupados...— Jill dizia inocentemente enquanto Claire olhava para Chris sabendo exatamente o porque de não ter ligado para os pais. —Ele até mesmo brigou com Leon e eles estão sem se falar, porque ambos se sentem culpados por não terem te recebido da maneira que você merece. Você é muito especial para eles... e assim como é especial para nós também. Todos nós, inclusive Jake, que é um ser humano incrível e a sua nova amiga ali. Se não, não estaríamos te procurando em plena virada nessa rua deserta. Todos nós te seguimos até aqui porque te amamos e você é importante.

Os olhos de Claire já estavam marejados quando os primeiros fogos de artifício encerraram o discurso de Jill.

—Ela está falando sério? — Claire olhou para o irmão. Ele sorriu e a abraçou.

—Eu sempre te prometi que você jamais ficaria só. A propósito, feliz ano novo!


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Notas finais do capítulo

Até

bjkas ♥



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