Descobertas Paralelas escrita por Capitã Nana, lynandread


Capítulo 19
Véspera de Natal - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Olá!

De volta depois de tanto tempo...


Lembrete:
Walmart - Loja de departamentos (uma das maiores do EUA).
War - Jogo de tabuleiro
River - Música cantada por Joni Mitchell
Whenever you call - Dueto de Mariah Carey e Bryan McKnight


Boa Leitura!



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Depois que entrou no carro, Jill permaneceu em silêncio enquanto Chris tagarelava sobre suas expectativas a respeito de Dick se desculpar e reconhecer que o rapaz era infinitamente o melhor genro que um sogro poderia querer. Porém notou que Jill parecia preocupada e distante, então deixou o assunto de lado para distrair a garota.

— Aonde podemos tomar um bom e velho expresso?

— Hm... Ali. Aquela cafeteria é ótima. Ada e eu sempre tomávamos cappuccino com marshmallow lá. A propósito, falou com Leon hoje? Ainda não tive tempo de ligar para Ada. – Jill tateou os bolsos a procura de seu celular. – Droga! Esqueci meu celular no quarto dos meus pais quando coloquei os gêmeos para dormir.

— Espero que eles acordem e destruam seu celular como você fez com o meu essa madrugada. Ah! Acredito que isso responda sobre sua pergunta sobre o Leon. – Chris respondeu sarcástico. Ainda estava com raiva por ficar sem seus contatos, graças a sua irritante “namorada”. – Chegamos. – Ele parou a caminhonete quase a frente da cafeteria e ambos desceram do veículo. Jill esfregou uma mão na outra por conta do frio e Chris ao perceber isso, puxou a garota para abraça-la de lado.

— O que pensa que está fazendo?!

— Esquentando a minha namorada? – Chris sorriu.

— Ora seu... – Neste instante ambos de depararam com um homem de traços orientais saindo da cafeteria.

— Jillian?! Quanto tempo. – O homem a cumprimentou com um aperto de mãos, e em seguida cumprimentou o rapaz.

— Como é bom vê-lo senhor Wong. E a senhora Wong como está? – Jill perguntou simpática. Ela pode notar a surpresa nos olhos de Chris ao perceber que o homem a sua frente era ninguém mais ninguém menos que o sogro de Leon.

— Ela está bem, está preparando alg... – O homem começou a tossir bastante, deixando Jill preocupada. – Me perdoem, essa época do ano acaba comigo. Mas como eu estava dizendo, ela está preparando algumas receitas para hoje à noite.

— Bem, dê lembranças a ela.

— Darei com certeza, shèngdàn jié kuàilè.

— Feliz natal para o senhor também. – Eles se despediram.

Chris continuou parado observando o pai de Ada se distanciar. Uma irritação surgiu em seu peito o fazendo dizer algumas palavras. – Senhor Wong!  – Ele olhou para trás. – Ela está bem, está muito feliz em Chicago! Só queria que o senhor e sua esposa soubessem disso!

Wong o encarou sério por alguns segundos e voltou a seguir seu caminho.

— Obrigada Chris... Era isso o que eu queria dizer o tempo todo. – Jill chamou a atenção do rapaz, ela estava com os olhos marejados.

— Não esquenta pirralha. Tem certos tipos de pais que quanto mais longe melhor. – Ele bagunçou os cabelos dela é logo a puxou para dentro da cafeteria.

Assim que fizeram seus pedidos, os dois se sentaram próximo a janela. Jill percebeu que por mais que tentasse espairecer, a expressão de Chris ainda mostrava uma irritação.

— Chris... Está tudo bem, o importante é que Leon está suprindo toda a mágoa da Ada pelos pais dela. Ela mal se lembra deles.

— Eu sei Jill, mas o cara simplesmente agiu como se ela não existisse. Porque esses imbecis sempre acham que estão acima do bem e do mal, que só somos importantes quando fazemos o que eles querem?! Se decidimos ter vida própria, somos descartados de todo tipo de afeto... – Chris protestou, mas ao ver que os olhos de Jill estavam prestes a saltar em puro espanto, se acalmou. – Desculpa aí...

— N-não se referia apenas a Ada, não é mesmo? – A garota perguntou com cautela, pois claramente viu que aquele assunto era muito mais profundo para Chris do que ela imaginava.

— Infelizmente não. Deixa isso pra lá. – Chris cortou o assunto assim que a garçonete trouxe seus pedidos. Ele sorriu para a moça de maneira sedutora, deixando Jill incomodada.

— Redfield, por favor!

— Ciúmes querida? – Ele esboçou um sorriso sacana ao desviar o olhar para Jill novamente.

— Não é nada disso! – Ela não sabia exatamente explicar o motivo de ter chamado a atenção do rapaz e ele por sua vez, aguardava ansiosamente por uma explicação. – Olha Chris, preciso te fazer uma pergunta. Sobre o que disse a Rebecca... Até que ponto dizia a verdade?

Chris jogou suas costas confortavelmente na cadeira acolchoada quando percebeu que Jill cortou qualquer chance que ele tinha de se divertir.

— Em cada palavra. A Martha era mesmo professora da universidade em outros tempos, não terá problema algum ajudar a baixinha a estudar em São Francisco. – Chris bebericou seu café.

— A Martha? É difícil chamá-la de mãe? O que houve entre vocês? – Jill insistiu. Cada vez mais ficava curiosa a respeito do passado do rapaz.

— Valentine eu só quero que saiba de uma coisa. Você tem uma família incrível, nunca deixe de valorizar isso. – Ele finalizou com um sorriso, que sutilmente foi retribuído por outro. – E você estava certa... Esse café é muito bom.

Ela continuou observando ele por um momento enquanto ele não se permitia ao menos olhar para o gesto questionador que vinha dela.

— Você não vai me contar sobre isso, não é?

— Não. – Ele respondeu rapidamente. Parecia pensativo porque no fundo, queria muito conversar sobre aquilo com alguém que o entendesse. E talvez ela pudesse entendê-lo.

— Ok... Então, vamos para o que me fez vir até aqui. Precisamos ensaiar algumas informações para não acontecer o que houve mais cedo com meus pais. Lembre-se de que... Você é o primeiro cara que eu levo pra minha casa e a minha família. Quero dizer, uma tia em especial vai nos observar a fim de até desmascarar essa mentirinha que você inventou para a gente...

— Tudo bem... Qual é a primeira informação que devemos compartilhar?

— – –

Mais tarde, já no escurecer a loja ainda estava cheia de clientes, embora o movimento estivesse bem mais calmo por ali. Jill, Rebecca, Olivia e Owen estavam na loja, organizando tudo para fechar. O chão merecia uma grande limpeza e as prateleiras uma organização já que com o movimento, os produtos tinham se espalhado demais.

Rebecca e Jill puderam conversar por um momento bom. Finalmente Jill já poderia conversar com sua irmã sobre Chris, já que eles já tinham confirmado algumas informações. Nada muito comprometedor. Até que Rebecca não resistiu e teve que perguntar a irmã sobre o que ela mais tinha curiosidade. E ela pareceu atônita com a ideia de que sua irmã ainda era virgem porque segundo ela, eles queriam ir muito devagar.

Quando lhe contou sobre isso, lembrou-se dessa mesma conversa com Chris na lanchonete onde ele a perguntou por que eles não poderiam ter tido intimidade, deixando a moça sem graça e cheia de argumentos mal organizados. Ela mal sabia que ele já sabia sobre a verdadeira causa de tanta prudência e que no final acabou concordando em ser o namorado compreensivo.

A conversa se diluía todas as vezes que Olivia parecia se aproximar. E naquele momento, Olivia finalmente perguntou a Jill sobre o que estava entalado em sua garganta desde cedo.

— Então... Esse negócio de vocês... É sério mesmo? – Disse se referindo ao relacionamento de Jill e Chris.

— Mas é claro que é sério! Ela até o trouxe aqui em casa. Do que você está falando Olivia? – Rebecca se irritou.

— Nada... É que... Eu nunca achei que um cara tão extrovertido, charmoso e de boa aparência pudesse ficar com você Jill. Cá entre nós, a gente sabe que você é fresca e implicante com esses tipos de cara. Sempre criticou esses tipinhos, você e aquela sua amiguinha japonesa. Sempre achei que você ficaria com um desses certinhos, engomadinhos... E não com ele. Tenho certeza que ele apronta por trás de você. – A moça disse apontando para a porta de onde ele acabou fechando, trocando algumas palavras com Owen.

Jill ficou pensativa e se lembrou de que costumava comentar esse tipo de assunto entre suas conversas com Ada quando mais jovem. Mas nunca se deu conta de que Olivia observava tudo. Voltando para a realidade, Ada conseguiu o tipo de namorado em que elas tanto sonhavam. Leon era o namorado perfeito, o tipo que admiravam em sua época escolar.  Já Chris era completamente o oposto daquilo... Mas um oposto admirável.

— Realmente... A vida é uma ironia, minha prima. – Jill disse suspirando depois dessa pequena lembrança sem se incomodar com a contradição e foi em direção a Chris. No fundo, ela estava começando a se apegar a ideia de ter um namorado como ele.

— Seu pai está vindo aí, acabei de ultrapassar ele no caminho. Queria chegar primeiro que ele sabe... Só pra ver a cara dele quando chegar aqui e vir que eu consegui dar conta de tudo.

— Estou orgulhosa de você, embora muito chateada por esse tom desprezível com o meu pai. – Ela disse ajudando-o a tirar o casaco grosso que ele vestia. E por mais chateada que estivesse o sorriso satisfeito em seu rosto, ainda presa nos comentários de sua prima, estava radiante.

— Achei que seu sorriso tinha se congelado na sua cara por causa do frio. – Implicou em tom baixo e se desviou dela indo em direção ao balcão, onde seus primos e sua cunhada o aguardavam ao fazer os últimos cálculos. – Imprime as vendas pra mim, por favor, Becka. Preciso calcular as porcentagens antes de o seu pai chegar.

— O sistema já faz isso automaticamente. – Rebecca disse animada. – Vendemos 40% da loja em um dia. Em compensação, meu pai vai surtar quando descobrir que demos descontos tão grandes.

— Ele não deveria ter demorado tanto, a culpa toda é dele. – Disse com um sarcasmo brincalhão arrancando sorrisos de todos, e uma gargalhada bastante forçada de Olivia.

— Ai Chris, você é tão engraçado! Essa loja precisava mesmo de você. – Olivia deu um soquinho no ombro de Chris.

— Ah, que isso Olivia. São seus lindos olhos verdes.

Jill observou aquilo, notando que sua prima parecia se insinuar para Chris e a maneira que sua irmã olhou com desprezo àquela atitude, pode imaginar que aquilo aconteceu a tarde inteira. E ela sabia que por mais que Chris tentasse, ele não conseguia deixar de fazer cantadas para mulheres... Ela o chamaria para a primeira “DR” de seu relacionamento falso assim que tivesse oportunidade.

O momento foi interrompido por Dicky, que se assustou ao ver sua loja completamente diferente de quando deixou. Olivia e Owen subiram quando notaram que seu tio parecia bastante assustado e Rebecca, por mais que quisesse saber o que tinha aconteceria, seguiu seus primos.

— Essa loja... Essa loja está...

— Está com 40% dos estoques antigos vendidos. – Chris caminhava até Dicky que ouvia atentamente o que o mais jovem dizia. – Foi a melhor receita em cinco anos segundo esses papeis aqui. As mercadorias de catálogos foram entregues e acho que você precisa repor o estoque imediatamente, já que tinham muitos produtos mofando na prateleira. Falando em prateleira, os clientes elogiaram essa divisão e me parece que agora você vai poder salgar o preço de alguns produtos devido a grande demanda. E eu fiz uma lista dos mais vendidos, pra você não ter que adivinhar o que o publico procura. – Entregou a prancheta para Dicky. – É sogrinho, juntos podemos destruir o Walmart. O que acha?

Dicky prendeu aos olhos os óculos que estavam pendurados em seu pescoço e analisou o que o rapaz tinha falado, conferindo os detalhes. No fim, Dicky engoliu seco e estendeu uma sua mão direita para Chris.

— Parabens garoto. – Olhou satisfeito para Chris e quando ele retribuiu o gesto apertou firme a mão de Chris novamente. – Meu nome é Richard. Não me chame de “sogrinho” nunca mais moleque. E Jill, feche a loja por completo.

Saiu do seu caminho e subiu com a prancheta em mãos sem dizer nem mais uma palavra. Isso preocupava Jill, ela tinha medo do que poderia acontecer mais tarde. Chris se virou para ela sacudindo sua mão machucada com desprezo.

— Eu te disse que ele não iria gostar.

— Ele gostou, ele só não admitiu. Vocês Valentines... Nunca admitem quando ao menos tentamos impressiona-los.

Jill tentou retrucar sobre a última frase, mas não tinha argumento. Estava muito aérea e preocupada. Desligou as luzes e ligou o alarme. Subiu com Chris, pensativa.

— - -

A casa dos Valentines estava cheia... A grande sala parecia ter diminuído com tanta gente. Pelo menos esse ano não houve brigas por causa do banho e a mesa estava farta o suficiente para que todos pudessem comer o dobro.

Todos interagiam uns com os outros, sentados em alguns grupos enquanto a playlist de Jill era o som ambiente. Alguns aperitivos que a tia Anne fizera a mais também passeavam pela sala.

Rebecca, Olivia e Owen jogavam War sobre o tapete. Os rapazes mais velhos conversavam alguns assuntos, cada um com uma longneck na mão, onde Frank e Chris acabaram por trocarem ideias sozinhos enquanto Dicky e Ben apenas observavam uma boa discussão amigável. Já as mulheres trocavam algumas ideias bem diferentes. Anne e Joan estavam segurando as crianças e Anne estava explicando que cuidar das crianças estava se tornando muito cansativo. Gretha se ofereceu para ajuda-la passando um tempo em sua casa, mas nesse momento Anne tentou desconversar sobre aquele assunto.

Nisso, o principal assunto se voltou a Jill. Depois de perguntarem sobre Chicago, a faculdade, o trabalho e os planos de vida, tia Gretha começou a perguntar sobre Chris, depois de elogia-lo muito. Isso vez Jill querer um pouco de espaço, então ela se retirou e foi ao seu quarto, apenas para repensar sobre o que estava acontecendo. Rebecca tinha visto pelo rosto da irmã que algo não andava bem e a seguiu.

— Jill, seus ânimos estão horríveis! O que aconteceu com a nossa Jill natalina?

— Morreu. – Jill se jogou na cama, caindo de costas para observar o teto. – Tem alguma coisa faltando nesse natal... Ou no caso, tem um algo a mais que não foi planejado.

— O “algo a mais” está lá na sala tentando algum reconhecimento aos olhos do nosso pai, tentando se encaixar nessa família enquanto você está aqui... Reclusa. Afinal, o que está faltando se até o seu namorado está aqui?

— O Carlos está viajando com a banda mesmo? – Ela perguntou e logo sua irmã entendeu.

— Ele disse que se esforçaria para ao menos te ver por aqui... E se eu conheço ele, ele vai vir algum desses dias pra ver você. E tente relaxar... A festa está só começando. Quer jogar War com a gente pra se animar? Como nos velhos tempos?

— Não... Obrigada. War perdeu a graça. – Ela disse para a irmã que a observou confusa. – Tudo bem, mas agora não.

— Você que sabe. Vou correndo lá pra ver se ninguém tomou o meu lugar.

Rebecca saia rapidamente pela porta quando encontrou com Chris pelo corredor indo até o quarto em que ele estava hospedado a fim de pegar seu relógio sobre o criado mudo. Ao chegar ao quarto, encontrou Jill com os olhos fechados sobre a cama. 

— Você está cansada ou fugindo da família? – Ele se deitou do lado dela, colocando o relógio em seu pulso. Ela olhou pra ele rapidamente sem se assustar com a sua presença, mas optou por não dizer nada. – Geralmente eu fazia isso nas festas dos meus pais, cheias de pessoas alheias que eu mal conhecia. Ou dava um jeito de fugir dela e sair com meus amigos.

— Mais uma descoberta: seus pais eram festeiros e você um fujão...

Chris se deu conta de que estava falando demais sobre sua vida pessoal e então decidiu parar por ali.

— O pessoal lá na sala está perguntando de você. Acho que você não é assim, uma fujona de festas. Isso tem a ver comigo?

— Não... É que tem alguma coisa muito fora do lugar nesse natal.

— Como eu no caso... – Ele revirou os olhos.

— Não, talvez seja... Sabe, o nosso relacionamento de mentira está me tirando do sério. E eu não posso contar pra ninguém que ele é uma farsa. E eu odeio mentir desse jeito para minha família. Tipo, eu moro com você. E eles não podem saber disso então eu estou tendo que ocultar. Mas eu também não quero chegar lá fora e desmentir tudo... Porque está tudo tão perfeito!

— Não acredito que eu estou ouvindo você dizer que gosta da mentira. Quem diria senhorita certinha... – Ele não conseguia segurar a risada.

— Não é isso, idiota. – Ela disse com um sorriso forçado até que suas expressões pensativas colocaram um pânico no rosto dela enquanto ela o encarava. – Ou talvez seja?

— Seja o que for... Você quer voltar atrás mesmo? – Ele perguntou com receio porque dessa vez, se ela afirmasse, ele iria embora.

— Não.

— Então está valendo a pena. – Ele sorriu mais aliviado. – E eu não me incomodo de tornar esse falso namoro real.

— O que? – Ela arregalou os olhos.

— Mas pra isso, você teria que me visitar aqui todas as noites só de lingerie, o que eu acho que você não vai rolar.

— Babaca.

Ele se levantou e puxou as mãos dela para ela se levantar também.

— Por que você não vai lá tocar aquelas musicas chatas de velho?

— Boa ideia!

Eles seguiram até a sala para encontrar todo mundo olhando eles com um olhar admirado. Jill mentalmente revirou os olhos sobre aquilo e foi em direção do piano.

— Que tal ouvirmos boa musica? – Ela foi em direção ao piano.

Todos na sala pareciam animados com a ideia e se ajuntaram ao redor sentados em cadeira. Menos seu pai que parecia estar incomodado com tudo o que estava acontecendo. Então, ela se lembrou de uma música muito especial que seu pai um dia cantou para ela de longe pelo telefone, quando ele precisou passar um tempo fora de casa quando ela era pequena, perdendo um de seus natais.

Tudo o que ela queria naquele momento era conquistar seu pai novamente. Fazer ele entender que ela estivesse muito longe e até mesmo tomado decisões por si mesma, ela ainda seria aquela garotinha.

— Antes de começar a tocar essa musica, eu quero dedicar a alguém muito especial!

— Sabia que ela iria dedicar pra você, garoto. – Tio Frank deu uma pequena cotovelada em Chris que sorriu sem graça, fingindo estar lisonjeado.

— Não tio Frank... Dessa vez não vai ser para o Chris. Vai ser para o primeiro homem da minha vida. Meu papai.

Dicky não esperava aquilo e pareceu bastante desconfortável com a ideia de que no fundo, era apenas ele que estava andando para trás e não mostrando a confiança que sua filha merecia naquela altura. Quando ela começou a cantar River, ninguém naquela sala compreendeu o significado daquele momento, mas isso demonstrou a Dicky que por mais longe que ela estivesse, ela sempre estaria ali com eles. Joan se emocionou bastante abraçada a Dicky enquanto ela cantava. E se havia alguém que no fundo estava bastante tocado era Chris. Naquele momento, ao observar aquele clima sincero e acolhedor, ele, pela primeira vez em sua vida, desejou uma família... Uma família de verdade.

Enquanto Jill tocava o celular de Rebecca tocou e ela se retirou rapidamente da sala para não atrapalhar o momento. O som veio junto de um barulho de carro que rapidamente cessou.

A música chegou fim e todos a aplaudiram, Anne aproveitou a deixa para sugerir que sua sobrinha tocasse Whenever You Call pois era uma canção que a fazia lembrar de quando conheceu Frank. Jill logo iniciou a músicas, de olhos fechados dedilhava as teclas do piano, criando assim um som agradável. Na sequência, sua doce voz juntou-se a melodia e assim arrancando suspiros dos casais ali presentes. 

— Ela é incrível não é? – Owen comentou com Chris que estava a seu lado boquiaberto. 

— De todas as maneiras possíveis. – Chris não notou o quão sua resposta havia sido sincera e nem tão pouco como sorria bobamente enquanto a admirava. 

Na segunda parte da canção todos se surpreenderam, pois a voz ouvida não era a de Jill, mas sim de alguém muito querido por todos. O coração da garota pulou acelerado em seu peito, porém não parou de tocar. Apenas fitava seu ex-companheiro de banda acompanhá-la, fazendo assim um excelente dueto. Chris notou a felicidade de todos ao ver aquele homem de bom porte, cabelos castanhos e pinta de galã mexicano. Para o rapaz aquilo não seria um incômodo, se Jill não estivesse tão radiante com aquela presença. Ao término da canção, Jill pulou nos braços do amigo e o abraçou fortemente. 

— Carlos! Que surpresa maravilhosa! – Jill parecia não se conter de felicidade.

— Minha pequena Jilly... Eu jamais deixaria de vir vê-la. – Oliveira e Jill desfizeram o contato, mas ainda se olhavam contentes. 

Então Dick se aproximou para cumprimentar o rapaz. O pai de Jill sorria e brincava com ele como melhores amigos. Para Chris aquilo era uma afronta. Quem esse tal de Carlos era para chegar daquela forma? Chris pensou irritado. Ele cumprimentou todos e por último ficou frente a frente com Chris. 

— Carlos este é o Christopher Redfield. Ele é meu... – Jill ponderou. Nunca havia mentido para o amigo e agora teria que ceder às invenções de Chris. –... Meu namorado. Chris este é o Carlos Oliveira, meu melhor amigo.

— Finalmente conhecendo o famoso poeta apaixonado. – Chris sorriu, estendendo a mão para um aperto.

Carlos fitou Jill e logo voltou sua atenção ao outro. Retribuiu o aperto de mãos com um sorriso forçado.

— Rebecca me falou de você. O namorado surpresa da Jilly... Tirou a sorte grande Christian. 

— É Christopher – corrigiu.

— Certo... Mas e aí, até quando você vai ficar por aqui Jill? – Desviou a atenção novamente para Jill ignorando os olhos questionadores de Chris.

— Talvez até na semana que vem, provavelmente vou ter que voltar antes do ano novo. Estou trabalhando e preciso cumprir meus horários. – Ela respondeu sem se dar conta de que todos estavam observando.

— Ah, não acredito. Eu estava em uma cidade muito próxima daqui com a banda. Os meninos estão por lá. Quando eu soube que você estava aqui, eu tinha que ver você. Infelizmente, vou ter que partir amanhã mesmo, porque vamos nos apresentar por lá e vamos seguir com uma pequena turnê lá pra Califórnia. Vamos espantar o frio.

— Ah, não acredito! Mas... E em Chicago? Por que você não vai lá nos visitar? Ada queria muito ver você.

— Bem, não recebemos convite por lá... Mas se você conseguir algo pra gente, não vou demorar a aparecer.

— Eu me encarrego disso amigo, se depender de mim, você vai lá com certeza. – Chris interrompeu a conversa com um sorriso forçado ao abraçar Jill.

— Tudo bem gente, mas e ai... Temos dois músicos incríveis aqui mas só estamos observando a fofoca em dia. Como que vai ser a playlist? – Tio Frank tentou separar o pequeno grupo reunido e então todos eles se acomodaram como queriam.

Jill e Carlos cantaram um pouco mais naquela noite, como nos velhos tempos. Dividiram o piano, arrumaram o violão da Jill de ultima hora e então todos eles estavam vivendo novamente os velhos tempos. Chris observava o horário de minuto em minuto. Não estava gostando nada de não ser mais o centro das atenções e ainda ver uma suposta traição por parte da namorada falsa.

— - -

As escadarias do prédio estavam repletas de pessoas. Não só elas quanto a sala de estar do apartamento de Ada e Leon. A asiática observava tudo sentada em um dos degraus. Nos últimos dois anos em que residia ali, podia contar nos dedos os vizinhos ao qual conhecia, mas naquela noite sua hóspede serelepe já havia criado vínculos até mesmo com os moradores do prédio ao lado. Aquela garota tinha um carisma todo especial para cativar as pessoas, entretanto, havia algo em Ada que não a permitia desfazer sua sutil barreira posta entre as duas.

—... Parte deles eu nunca vi. – Disse Leon, sentando-se ao lado da amada e lhe entregando uma taça de ponche.

— Obrigada. – Ela sorriu. – Até o senhor Gonzalez está presente, quem diria que esse velho resmungão iria ceder. – Ada degustou um pouco de sua bebida.

— Ainda irritada?

— Não, como ficar irritada com isso? – Ada apontou o dedo para Claire. A ruiva estava com várias sacolas com marmitex para distribuir pela fria cidade, a fim de aquecer o coração daqueles que tanto necessitavam de caridade naquela noite. – Tá certo que quando ela quebrou parte do meu jogo de porcelana chinesa ou quando vi uma garota bêbada dormindo no nosso sofá, senti vontade de expulsar vocês dois de casa mas aí ela me contou os planos para a meia noite… – Ada deu um sorriso meigo para ele.

— Vou dormir no sofá essa noite? – Ele perguntou com um mínimo sorriso. Não queria que Ada notasse a seriedade daquela pergunta.

— Eu odiaria ficar naquela cama sozinha – Ada respondeu mordendo o canto do lábio inferior. Eles ouviram então todos festejarem a entrada do dia vinte e cinco. A morena não disse nada, pois sabia que para Leon aquela noite não tinha um significado maior.

— Já que estamos comemorando a festa, Feliz natal. – O rapaz a beijou cheio de ternura, sendo correspondido à altura.

— Merii Kurisumasu minna-san! Acho que é assim que se deseja feliz natal em chinês. – Disse Claire. Ela estava de pé no degrau abaixo, observando o casal partir o contato.

— Na verdade isso é japonês. Em chinês é shèngdàn jié kuàilè! – Ada respondeu com um sorriso forçado.

— Ah, japonês, chinês, é tudo a mesma coisa. – A ruiva abriu espaço entre o casal, sentando-se em seguida com os braços entre os ombros do amigo e sua namorada – Pessoal estou indo como o Billy, a Jane, o Mark e a Zoe levar a comida para os moradores de rua enquanto está quentinha, vocês querem ir?

— Acho melhor ficarmos, cuidaremos da festa até você chegar. – Leon sorriu ao ver o bico de desapontamento da menina.

— Achei muito legal a sua iniciativa Claire. Muitas pessoas nesse momento estão com suas mesas fartas, enquanto outras imploram por um mísero pedaço de pão… o mundo precisa de pessoas como você. Mas então, pretende entrar para alguma ONG como o Chris?

—– Como é que é? – Claire arqueou a sobrancelha tentando entender exatamente o que ouviu antes de cair na gargalhada.

O rapaz logo se levantou assustado implorando mentalmente para a ruiva tomar cuidado com sua resposta.

— Ah é... Chris contou a Ada que um dos seus maiores objetivos é fazer parte do Greenpeace.

— Tá legal… É… – Olhou para o grupo, desconfiada. – Já estou indo Zoe! Preciso ir. Leon me ajuda com as minhas sacolas? – Claire se levantou e seguiu para mesa a fim de pegar as sacolas.

Leon selou os lábios da noiva e logo seguiu no encalço da ruiva. Na entrada do apartamento Claire virou-se para ele com uma expressão nada agradável.

— Greenpeace? Sério?

— A culpa é totalmente do seu irmão. Ele tava tentando impressionar a Ada quando eu tentava impressionar ela. Ele queria me ajudar, mas como sempre...

— Sempre dá errado... Eu sei, é de família.

— Você vai ir até aonde com essas sacolas?

— Eu não sei... A Zoe disse que iria comigo e ela estava com um grupo lá embaixo.

— Interessante isso... Sempre soube que você tinha um bom coração. Lembro-me do dia em que implorou para o seu irmão morar comigo.

— O que eu não faço pelo meu irmão? – Ela debochou de si mesma. – Mas não mude de assunto. Por que deixou Chris tomar conta da situação? Espera! Eu sei a resposta... Você estava gostando de ser cúmplice dele. Sabia que um dia

Chris ainda te envenenaria. – Claire levemente inflou as bochechas, irritada.

— É... Talvez eu tenha me deixado levar, mas agora não posso voltar atrás. A verdade magoaria muita gente...

— Não tenho nada com isso, gatinho. Você sabe o quanto odeio mentir, não vou compactuar com você ou com Chris. Portanto é melhor encontrar boas maneiras de tentar explicar para a sua japonesa que você foi um tolo. – Claire virou-se novamente para a saída do prédio e continuou a caminhar, sendo seguida por Leon.

— Claire... Pensei que fôssemos amigos. Ada é a pessoa mais incrível que já conheci, não sei se consigo encara-la após a verdade. – Leon argumentava impaciente, enquanto Claire não parecia ouvir o que ele dizia.

— Vamos para o lado leste, acredito que naquela região encontraremos muitos moradores de ruas famintos.

— O que? Espere, cadê o resto do pessoal? – O loiro finalmente notou que estavam sozinhos do lado de fora do prédio onde morava.

— Fizeram como todas as pessoas em volta dos Redfield... Elas se foram... – Por um momento a ruiva deixou transparecer sua tristeza. – Mas ainda bem que tenho você para me ajudar. – Ela sorriu. – Você quer o meu silêncio não quer?

— Não posso, Ada está me aguardando...

— Leon querido... – Claire aproximou um pouco do maior – Não estou te pedindo um favor, apenas te dando uma escolha. – Ela sorriu desafiadora.

— Ter uma DR de madrugada ou a última DR com a Ada. Excelente escolhas, vindo de você não poderia está mais contente. – Leon ironizou.

— A escolha é sua gatinho. – Claire piscou e estourou a bolha de chiclete que fazia.

— - -

Infelizmente Chris não conseguia ao menos disfarçar o ciúme de suposto namorado ao ver o sorriso e a química que Carlos compartilhava com a Jill. Então, logo todos se reuniram na mesa de oito cadeiras. Rebecca e os irmãos Olivia e Owen ficaram assistindo terror ainda no sofá e deram um jeito de se esquivarem da mesa. Já uma nova cadeira foi adicionada a mesa pela própria Jill para Carlos se sentar do seu lado. A maneira como ele interagia com a família de Jill deixava cada vez mais um Chris observante e intrigado.

— ... e o mais incrível foi quando um dos nossos fãs se lembrou da Jill e perguntaram se um dia ela voltaria para a banda. Para mim seria uma grande honra. Mas essa moça aqui não nasceu pra ficar escondida em uma banda. Ela tem um brilho especial para ser uma cantora e compositora solo. Não é a toa que ela teve que deixar a família tão amada para trás para correr atrás do sonho dela. E eu tenho a maior certeza de que ela vai chegar lá. – Carlos colocou uma mão no ombro da Jill, de um jeito afetuoso. – Basta saber se o Chris vai dar conta de ajudar ela a chegar lá. Você está tomando uma grande responsabilidade em suas mãos, amigão. – Ele jogou um olhar fixo e desafiador par Chris.

— E quem está dizendo que eu não dou suporte para ela? Jill, eu sempre te dei suporte não é? – Chris perguntou incomodado.

Jill olhou para Chris por um momento e hesitou em responder porque ficou pensativa. Ele nunca tinha lhe dado suporte nessa área. Mas ele também não era seu namorado.

— Ah é... – O jeito desleixado com que ela disse foi entendido muito errado pela família que naquele exato momento olhou seriamente para Chris.

— Ah, Jill... para! Quantas vezes eu tive que sair do meu próprio apartamento do outro lado da cidade para carregar seus instrumentos quando você canta todas as sextas? E quando você diz para mim que não quer sair comigo porque tem que estudar ou ensaiar as suas músicas. – Chris não parecia convincente com aquela Jill que parecia mais pensativa ou estava aérea demais para concordar com aquela mentira. Ele pensou que se talvez fosse mais convincente, poderia fazer ela concordar fielmente, algo que realmente chegou a acontecer. – Ou daquela vez que você não me deixou dormir por três noites seguidas porque aquele empresário musical iria jantar lá no restaurante no seu dia de cantar?

— Você foi dormir com ela três dias seguidos? – Dick tossiu a comida que parecia engolir. – Você está dormindo com a minha filha?

Os olhos dos familiares intimidavam Chris enquanto Jill parecia querer rir da bola fora que ele tinha dado e abaixou a cabeça com o constrangimento. Carlos por um momento tentava encaixar as peças do que acontecia, observando as atitudes de Jill.

— Foi só uma vez... Eu estava adoentado com a minha... Osteoporose maluca. Se não fosse sua filha, eu já teria morrido. Ela foi pro meu apartamento cuidar de mim. Só isso.

— Ah... Deixa essa conversa pra lá gente. O Chris sempre me deu suporte. Na verdade ele nunca reclamou de me ver cantando ou tocando. – Jill se deu conta de que realmente aquilo aconteceu.

— Ele seria um estúpido se fizesse isso, Jilly... Ninguém se cansa de ver você usar bem os seus talentos. – Carlos fez com que Jill abrisse novamente um sorriso envergonhado.

— Mas vem cá... Carlos, não é? Você é da família também? Tem algum laço sanguíneo, é algum primo da Jill? – Chris tentou desviar a conversa dele para incomodar seu rival.

 – Não... na verdade, eu e a Jill crescemos juntos. Desde o jardim de infância. Ela sempre foi a minha melhor amiga. Ah, e você vai gostar de saber dessa, amigo... Aos 9 anos, eu a Jill nos casamos.

— Ah, foi assim mesmo... Foi tão lindinho ver esses dois com aquelas roupinhas de noivinhos. Eles andaram tão grudadinhos todo o nosso casamento não foi Frank? Até mesmo fizemos muitas fotos deles. Estão todas lá em casa. – Anne se lembrou do momento na qual Carlos estava falando.

— A ideia de fazer as fotos foi minha porque eu jurava que quando esses dois crescessem, iriam ficar juntos. E ai já teria fotos para o casamento real deles. – Tia Gretha compartilhou.

— Foi tão legal aquele dia! – Jill sorria com todos na mesa, mas não encontrou sorriso no rosto de Chris. – O que houve Chris, não é engraçado?

— Na verdade parece que eu acabei estragando a magia do casamento de vocês, não parece? – Chris disse incomodado.

— Ah, não se preocupe. Acho que o único casamento entre eu e a Jill foi aquele mesmo. Agora eu realmente espero ver um de verdade. E eu espero mesmo Christian, que você assuma esse meu lugar, mas não se esqueça de que pra assumir esse lugar você deve me superar em muitas áreas.

— Tipo... Fazer a Jill ficar sorrindo que nem besta quando você está presente?

A mesa inteira riu, mas Chris não conseguia nem ao menos se esforçar para isso acontecer. Na verdade, ele se sentia o intruso naquela mesa e não estava gostando mais da celebração. 


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Notas finais do capítulo

Até a próxima!



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