My Inspiration escrita por LS Valentini


Capítulo 1
Entre Olhares e Bonecos de Plástico


Notas iniciais do capítulo

Lá estava eu assistindo ao filme "Cisne Negro", e me veio a ideia dessa fic SQ, então espero que gostem e comentem.
Boa leitura *-*



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Leve. Brilhante. Encantadora.
Passei boa parte da “apresentação” observando a bela mulher que rodopiava pelo palco, encenando O Quebra-Nozes, e ouvindo a melodia inebriante que se assimilava à perfeição. Sua postura era impecável, mas não se comparava aos seus finos lábios expressando uma alegria fora do comum. Infelizmente não pude ver seus olhos, pois estavam fechados.
Engana-se quem pensa que ela estava com um figurino ou coisa parecida, muito menos sapatilhas. A jovem talentosa usava um uniforme cinza, e seus pés estavam descalços.
Quem dera eu tivesse papel e tinta para pintar aquele momento. É claro que nem um quadro expressaria a minha alegria de estar ali com aquela desconhecida. Seria a inspiração que tanto faltava?
- Você é a melhor! - uma voz infantil ecoou por toda a sala do teatro.
Só então percebi que havia um garotinho sentado na primeira fileira, aplaudindo a mulher. Julguei que fosse seu filho, já que o sorriso de ambos era adorável.
Tomei coragem e saí do meu esconderijo, a passos lentos até chegar perto o bastante do palco para que o menino me visse. Esperei a curiosidade da parte dele e somente isso, mas a reação foi contrária: Correu até o palco, fazendo-a parar de dançar, e desligou o rádio.
Sem esperar tal ação, a bailarina desequilibrou -se, caindo imediatamente, fazendo cara de dor em seguida. Como fui idiota em me aproximar!
A sensação de culpa me invadiu, e eu cheguei mais perto para ajudá-la. Acabei tocando em seu tornozelo, mesmo tendo que ficar na ponta dos pés para alcançá-la em cima do palco. Percebi que o simples contato lhe fez comprimir os lábios e os olhos esverdeados, caindo uma lágrima por sua face.
- Está doendo? - eu finalmente perguntei - Cora já deve estar chegando, se quiser posso falar com ela.
Assim que pronunciei o nome, a mulher se levantou desajeitada, e arrumou suas madeixas loiras, deixando para secar o rosto depois. Não entendi o porquê de todo o susto, além de me achar provavelmente uma louca.
- Mil desculpas, senhora. - ela olhou para o garoto - Vamos, Henry.
Aquilo era música para meus ouvidos - o mesmo nome de meu pai -, mas não cheguei a falar mais nada, ou questionar sobre o tombo, já que eles se foram pela saída lateral, quase correndo. Mas antes disso, eu juro que nossos olhares se encontraram uma última vez, e minha respiração ficou falha por um tempo.
O que eu havia feito de errado? Será que eu era tão feia assim?
Poderia ficar ali e fingir que nada tinha acontecido, mas seria uma grande mentira. Queria vê-la mais uma vez. Fui tentar segui-los, mas fui impedida por uma voz que surgiu do outro lado da enorme sala, me fazendo voltar à realidade, ao meu propósito.
- A boa filha a casa torna. - ela apareceu no mesmo lugar de onde eu estava escondida há alguns minutos.
Cora Mills, a única mulher que me dava mais medo que palhaços de circo.
- Mamãe. - eu disse.
- Pensei que jamais viria até aqui novamente. - ela se aproximou, dando leves batidinhas nas minhas costas - Creio que aconteceu algo grave.
- Não sei se posso chamar isso de “grave”, mas sim de preocupante. - finalmente consegui respirar como antes.
- Venha, querida. - ela me guiou até os bastidores - A próxima apresentação só começa daqui algumas horas, então temos tempo até que meus alunos cheguem.
O camarim dela estava exatamente igual, com espelhos por toda parte, barras de apoio na parede e uma única sapatilha de ponta na cor branca, simbolizando a vitória. Mas apenas uma coisa me fez sentir triste: o porta-retrato com a minha foto foi substituído pelo da melhor bailarina de Nova Iorque.
Cora sentou-se no sofá elegantemente, esperando que eu fizesse o mesmo, mas acabei por me lançar contra o assento. Nossos olhares se encontravam no reflexo dos espelhos.
- Conte-me logo. - disse com frieza - Não estarei sempre à sua disposição.
Um arrepio me percorreu o corpo. De repente eu tinha seis anos de idade e nenhum argumento contra ela.
- Talvez a senhora estivesse certa sobre as minhas escolhas na vida.
Ah, que inconveniência a minha, você nem me conhece! Bem-vindo à minha história. Me chamo Regina Mills. Não sou uma super heroína, muito menos utilizo objetos mágicos. Nasci e cresci em Nova Iorque, o que me tornou uma cidadã comum até conhecer a pintura. Mas não foi o meu primeiro contato com a arte.
Como já deve ter percebido, a professora de balé também era minha mãe, e a Companhia Queens era a vida dela. Não é que eu fique com raiva, mas Cora Mills “força a barra” quando se trata de dança, e eu era a personificação dos sonhos dela que falharam. Mas quem brilhou nos palcos foi minha irmã, Zelena (Tanto que ela trocou a minha foto pela dela). Paro por aqui, chega de falar sobre família.
Eu trabalho para a Galeria Baelfire há cinco anos, e fui considerada a melhor de lá até hoje pela manhã. Meu chefe, Neal Cassidy, deixou bem claro que as minhas obras não estão agradando aos críticos, ficaram monótonas e sem sentimentos. Eu saí de lá inabalável, e com um sorriso nos lábios, depois peguei o metrô rumo ao pior lugar para se ter apoio: até a minha mãe.
- Não deixe que te vejam fraca. - ela disse assim que eu terminei de contar a história. - Você largou tudo por um capricho, mas se é pra pintar uma tela, então pinte. - Já devia esperar isso dela.
- Mãe, eu tenho sentimentos? - foi a pior pergunta que fiz na vida.
- É claro que sim, filha. - ela sorriu - Mas nós, os Mills, jamais deixamos isso visível.
Eu era assim tão fria? Não tive tempo pra raciocinar, já que minha maninha se lançou porta à dentro com toda força. Ela estava mais alta e seus cabelos ruivos se tornaram mais brilhantes.
- Mamãe! - parecia bem feliz - As eliminatórias pro Cisne Negro começam mês que vem! - parou bruscamente e se voltou para mim - Ah, nem percebi que estava aí, sis.
- Percebi, e já vou embora. - levantei do sofá e ajeitei meu casaco - Até outro dia.
Por um milagre elas nada disseram, muito menos Zelena que amava implicar comigo e vice-versa. Só queria ir embora o mais rápido possível e encarar que eu era uma artista fracassada. Mas primeiro passei por um bando de bailarinos curiosos e optei pela saída lateral, exatamente como a bela mulher com o filho.
Tudo estaria bem se não fosse o Wolverine. Digo, o de plástico, que me fez tropeçar.
- Merda. - xinguei baixinho e peguei o brinquedo, querendo parti-lo em dois.
- Moça, não! - o menino assustado apareceu diante dos meus olhos - Ele é muito novo pra morrer! - eu tinha acabado de pensar naquela criança. Coincidência?
- Desculpa. - sorri sem graça e lhe entreguei o boneco.
- Ninguém vai te fazer mal. - ele sussurrou para o Wolverine, e a agora ia se distanciando.
- Henry? - o chamei.
- Como é que sabe meu nome? - arqueou as sobrancelhas, com medo - Por acaso a senhora é uma sequestradora de crianças? Vai me transformar em sabão? - suas lágrimas estavam prontas pra cair.
Me abaixei até que ficasse da altura do garoto, e sequei seus olhinhos. Ele era tão fofo, e eu queria protegê-lo.
- Ouvi seu nome mais cedo, quando você e aquela mulher bonita correram de mim. - eu falei aquilo involuntariamente.
- Desculpa, minha mãe não gosta que a vejam dançando.
- Antes das apresentações?
- Que apresentações? Ela não é bailarina não, é a faxineira da Companhia. A melhor.
Eu fiquei estática com aquilo. Como uma jovem tão talentosa não estava dançando com a minha mãe?
- E por que...
- Perguntas demais, moça. - Henry balançou a cabeça e foi na direção contrária da que eu iria - Tenho que ir, obrigado por não matá-lo.
- Hey! - aquele dia eu estava impulsiva - Vou com você, está ficando tarde.
Ele hesitou por um breve momento, mas concordou com um sorrisinho. Acho que tinha gostado de mim, e não era só por isso que eu iria acompanhá-lo, mas também porque precisava ver aquela mulher mais uma vez. Parecia que a inspiração dentro de mim clamava por ela, pelos movimentos dela.
- Ainda não sei seu nome. - ele me guiava pelas ruas ao me puxar pela mão.
- Regina.
- É legal de se pronunciar. - ria enquanto falava meu nome diversas vezes - Regina, Regina, Re...
- HENRY!!!
Nós nos assustamos com o grito, que não vinha de muito longe. Adivinhe: a mãe dele estava desesperada, e correu até o garoto - ainda mancando -, lhe pegando no colo e enchendo-o de beijinhos no rosto.
- Mamãe, minha reputação... Tem uma garota aqui e é muito linda, a Regina. - ele apontou pra mim - Mas ela quer matar o Wolverine.
Suas órbitas esverdeadas se voltaram para mim, de cima a baixo. Tive a certeza de que ela se lembrou da minha cara. Ao invés de me mandar embora porque eu era uma “sequestradora de crianças que as transformava em sabão”, ela sorriu timidamente, mostrando suas covinhas. E bom... o que veio a seguir quase me fez ter um ataque cardíaco: Ela me abraçou.
Eu poderia tê-la abraçado da mesma forma, mas fiquei em choque, apenas recebendo afeto, e depois que ela me soltou, um sorriso bobo permanecia no meu rosto. Deus, eu só queria esconder atrás da árvore mais próxima.
- Você é a Regina, certo? - sua voz parecia abalada.
“Fale alguma coisa Regina, só fale alguma coisa sua idiota”, eu pensava.
- Oi.


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Notas finais do capítulo

E aí, devo continuar?