Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 1
Onde tudo começou


Notas iniciais do capítulo

Aqui vamos nós!

Em cada início de capítulo deixarei na descrição um link para a música que me veio a cabeça para o que vocês lerão aqui. Não é exatamente uma inspiração pro capítulo, até porque tem umas que não se encaixam tão bem assim, né... Mas vale a pena dar uma ouvidinha pra entrar na vibe hahahaha :P

https://youtu.be/u5WiqJFq2-o



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"Sometimes it may seem dark, but the absence of the light is a necessary part

Just know you're never alone, you can always come back home"

Ok, vamos nos situar aqui minha gente. Meu nome é Ina, me formei no fundamental ano retrasado, ou seja, meu segundo ano de ensino médio estava em progresso. É, estava. Tive que me mudar do Brasil para o Japão e então acabei perdendo o primeiro ano por incompatibilidade na formação. Realmente um saco.

Bom, vamos começar do começo.

Minha mãe era uma ativista. Meu pai um jogador de basquete. Dizem que eu puxei a beleza da minha mãe e o humor do meu pai, mas nunca soube se era verdade mesmo.

Minha mãe, brasileira, estava fazendo trabalho voluntário ao redor do mundo, principalmente nos países asiáticos. Visitou quase todo cantinho daquela vastidão, amava contribuir desde projetos mais brutos em pequenas vilas, até grandes ações sociais que promovia nas metrópoles. Meu pai era japonês, um jogador de basquete que conquistou diversos títulos para o país, tinha uma carreira promissora.

Eles se conheceram em uma final de campeonato, minha mãe foi fazer um discurso de conscientização social antes de começar o jogo, tirando fotos dos jogadores com faixas de dizeres em apoio a causas daquela época. Aí já fica meio clichê, o cara vê a mocinha bonita, se apaixonam e vivem felizes para sempre. Que. No. Vi. Da. De.

A diferença é que minha mãe teve uma gravidez inesperada, durante o auge da carreira profissional do meu pai. Se ele parasse ali, seria um dos muitos que se perderiam para o esquecimento do esporte, e sua única chance de continuar envolvido no mundo esportivo estava sendo ofertada naquele momento, no Japão.

Foi assim que meus pais decidiram, juntamente com meus avós, que seria melhor se eu fosse criada no Brasil, tendo uma infância comum e distante desse mundo caótico da mídia. Um dos fatores que ajudou muito na decisão deles foi um dos melhores amigos de time do meu pai, que havia feito a escolha contrária, pois estava se aposentando das quadras e trabalhos exaustivos para se dedicar mais à família. Esse cara, meu padrinho, disse a meus pais que faria de tudo para que eu crescesse bem, seria a ligação invisível minha com meus pais.

Então tá, vamos resumir até aqui: Morava no interior do Brasil com meus avós, meu padrinho aparecia com sua esposa e filha de vez em quando para eu ter um contato com “família”, mesmo que eles não falassem muito português e meus avós só sabiam enrolar no japonês. Eu, por outro lado, me dava bem com a língua estrangeira, por menor que fosse o contato com ela. O padrinho sempre me mandava livros, nos falávamos por telefone e, de maneira natural, eu conseguia me virar.

Minha vida no Brasil foi tranquila, morava no interior, mas apenas 1h30 da capital, o que me fez não ser tão interiorana. Não sentia falta de “pai e mãe” porque, pra mim, a família que eu tinha era mais que completa, nunca estava sozinha.

No último mês, eu estava realmente dedicada à música, estava ficando craque em identificar notas musicais só de ouvir ou tocar no violão, mas, sinceramente, algo que nunca saiu de dentro de mim era o basquete, que eu tive que abandonar por um tempo devido a uns problemas médicos que estava tratando.

Não era nada de mais, um deslocamento na patela direita, então não conseguia fazer esforço com o meu joelho. O médico tinha dito que eu precisaria de um tratamento mais afundo para solucionar o problema permanentemente, coisa que não poderia ser providenciada ali onde morava. E Foi assim que tive de me afastar das atividades esportivas da escola e começar a me distrair com música, algo que me ajudava naquela situação.

De qualquer forma, como a escola era pequena, não tínhamos times de nada em específico, era mais uma atividade esportiva mista, meninos e meninas juntos, e a única coisa que eu era boa era o tal do basquete.

Sério, aquelas coisas de futebol e handball não eram pra mim, não mesmo. No vôlei dava até uma arriscada, mas levava muita bolada e, confesso que isso me dava um pouco de receio de jogar. Natação? Longe de mim. Nisso não podia negar que era caipira mesmo, porque morria de medo de me afogar e parecia uma pata desengonçada na água. Se bem que acho que a pata ganhava de mim numa boa.

Pois é, com isso minha atividade se resumia ao basquete. Irônico, devido ao fato do meu pai ser jogador. Não tão irônico devido ao fato de eu ser a mais alta da sala, com 1,76.

O negócio é que na cidade que eu morava eu não tinha uma visão grande do esporte nas condições que eu precisava, aliás, nem no Brasil, que era o país do futebol, né. Por isso, meus avós insistiam muito para que eu fosse morar com meu padrinho, no Japão.

Pra melhorar a situação, a filha do meu padrinho já estava no ensino médio e havia recém criado um time de basquete na escola que estudava, seguindo os passos do seu pai que fora avaliador e treinador físico por muito tempo, depois de sair das quadras.

Eu não gostava de pensar nisso. Queria ficar com meus avós o quanto pudesse, eles tinham feito tanto por mim! Não era exatamente fácil sair de casa e deixa-los na idade avançada que estavam, mesmo que insistiam fortemente que existiam muitos asilos ótimos em instituições afastadas e com muito ar fresco para eles.

Foi aí que aconteceu, exatamente uma semana atrás.

Era hora do almoço. Tinha sido mais um daqueles dias de discussão, onde meus avós mostravam como poderia ser bom se eu me mudasse de cidade e blá blá blá.

– Mas, meu anjo, você sabe que é o melhor pra você! – Vovó dizia calmamente – Lá você teria ajuda do seu padrinho, coisa que nós não podemos te oferecer aqui... Além de que poderia voltar a jogar basquete! Sabemos como você ama isso, e está nos partindo o coração ter que ver você assim, sem poder jogar.

– Vó, já disse que não tenho interesse em deixá-los! Por favor, me entendam! – eu argumentei, sabendo que não ia ter efeito nenhum diante desses fatos.

– Você não pode deixar de viver sua vida pra viver a nossa, Ina. – Vovô contestava sério.

Instaurou-se um silêncio na casa. Eu já estava cansada daquela conversa e, como não gostava de brigar com eles, apenas agradeci os dois pela consideração e fui pro meu quarto de barriga vazia. Estava quase cochilando na cama quando, ouvi uma batida na porta. Ao abrir, não pude deixar de sorrir.

“Desculpe se nós te pressionamos muito. Só queremos ver nossa netinha feliz!”

Dizia o bilhete, ao lado de uma bandeja com um prato de almoço requentado. Trouxe-a para dentro e comi, refletindo na minha situação e na insistência dos meus avós. Ao terminar, fui até a cozinha, lavei a louça que tinha restado.

Em seguida, fui aos fundos da casa, onde meus avós sempre se sentavam em suas cadeiras de balanço para descansar. Para minha surpresa, somente meu avô estava ali.

– Ué, cadê a vó? – perguntei, tentando quebrar o gelo depois do que havia acontecido no almoço.

– Ela saiu a pouco, disse que ia atrás de algumas coisas pra te animar. – disse me olhando e ao perceber minha cara de dúvida, completou – naquela padaria que vende os pães doces que você gosta. Se quiser pode ir até lá, aproveite e ajude com as sacolas, ela já deve estar no caminho de volta – sugeriu, ao ver que estava salivando ali mesmo, e começou a gargalhar assim que saí correndo pela porta da frente atrás da minha avó.

Estava há umas duas quadras, já podia ver os cabelos grisalhos que estava procurando. Levava uma sacola da padaria e outra da banca de jornal que ficava ao lado. Lembro-me de pensar o que se passava na cabeça dela e o que estava aprontando, afinal ninguém de casa tinha costume de ler revistas ou jornais, ainda mais as da banca que nunca eram atuais.

Estava prestes a chamá-la quando notei algo estranho. Ela estava distraída demais, e não prestava atenção na rua que estava atravessando, que estava mais movimentada que o normal. Comecei a correr mais rápido, mas ainda não estava em uma distância que ela poderia me ver ou ouvir. E num piscar de olhos, o pior aconteceu.

Suas sacolas foram parar no meio da rua, ao lado das marcas de pneu do caminhão que havia lhe atropelado e jogado por mais meia quadra.

A partir daí tudo virou um borrão e só me lembro de algumas cenas vagas, mas uma que nunca vou esquecer foi a visão de dor e tristeza que se apoderou de meu avô naquele dia, ao receber a notícia de que sua esposa não voltaria mais para casa.

A cidade se comoveu com o velório, que aconteceu depois de dois dias. Meu padrinho viera do Japão e nos ajudou no que pôde, mas não era um momento fácil pra ninguém. Nesse meio tempo eu falava pouco com eles e o principal motivo era que eu sentia raiva. Raiva por ser a que mais chorava naquela casa.

Sei que é algo esquisito para se pensar, mas quando via meu avô, ele nunca estava chorando, apenas sorria em sua cadeira de balanço, com a mão apoiada na que pertencera a minha avó. Será que ele não percebia que ela não ia mais voltar? Qual era o problema dele? Não sentia falta de sua amada? Não fazia nem uma semana e ele já estava bem outra vez?

Faltando um dia para completar uma semana do acidente, jantávamos em casa, eu, vovô e meu padrinho.

– Ina, precisamos contar algo a você. – Vovô disse, fazendo um sinal para o padrinho, que se levantou e buscou a sacola da banca de jornal que minha avó estava carregando naquele dia. Pude sentir quase que imediatamente meus olhos lacrimejarem, e meu avô segurou firme em minha mão.

– Você já deve saber de onde veio isso, mas acho que não sabe que o que tem dentro é seu. – disse o padrinho sorrindo, tirando uma revista e um papel dobrado dali.

A revista era algo relacionado a fofoca adolescente, o que me fez ficar totalmente perdida, até ler o tema “Jogadores de basquete gatinhos que você não pode deixar de conferir! – incluso pôster de um jogador famoso para você colecionar!”. Ri sem graça e sem entender o que vovó queria com aquilo.

– Sua avó nunca brincou em serviço, querida. – disse o grisalho com um sorriso, ao me entregar o papel dobrado. Quando desdobrei, entendi o porquê do sorriso deles.

Era um pôster de um jogador japonês que eu não fazia a menor ideia de quem poderia ser. Já estava pra perguntar o que aquilo significava quando percebi que havia algo escrito no verso.

“A netinha da vó está crescendo, e muito! Isso me fez lembrar que quando tinha a sua idade, já havia me encontrado pela primeira vez com seu avô. Era noite de dança na cidade que morávamos e foi a primeira vez que me deixei levar por algo diferente, já que nunca tinha ido a bailes. Lá, seu avô me pediu uma dança e logo em seguida me pagou um refrigerante, com a permissão do meu pai, claro. A história é longa mas seu começo foi curto, breve e inesperado. Se eu não tivesse me arriscado e feito algo diferente pra variar, nunca teria encontrado o amor da minha vida! E por isso, meu anjo, te presenteio com uma foto desse rapaz atleta, um pãozinho, não? Se não quiser pensar em casamento, pense no esporte que esse moço está jogando! Espero que, olhando essa foto, você avalie melhor sobre ir ao Japão e, quem sabe, arranjar um pitelzinho desses pra nos apresentar! A vida está te dando uma oportunidade e nós queremos muito que você aproveite-a! Com muito amor, sua vó que te ama”

– Por favor, vamos ao Japão comigo, Ina. – padrinho me disse, acariciando meu rosto e tentando conter minhas lágrimas incessáveis.

– Está mais que na hora de você se permitir algo. – vovô ajeitava os óculos, limpando a lágrima que escapava – Ela não ia ficar feliz vendo sua tristeza todos esses últimos dias, por isso tento me lembrar sempre da sua presença radiante que me fazia sorrir durante as manhãs. Faça o mesmo! Vá para o Japão e aproveite o que a vida tem para te oferecer! Eu vou ficar bem, já contratei os serviços de um asilo que tínhamos em mente, eu e sua avó... Você é nova demais para ficar presa nessa cidadezinha de interior e sem oportunidades! Faça-nos feliz, e volte a sorrir!

A partir daí, me proibi de chorar de tristeza. Aceitei a proposta e no dia seguinte já estava embarcando para o outro lado do mundo.

Chegamos ao aeroporto e o padrinho me colocou num táxi separado, deu o endereço pro motorista e pagou adiantado, disse que era cortesia de afilhadas recém-chegadas. Falou que eu iria morar numa casa perto da escola e que lá tinha um celular local com alguns números, pra eu poder entrar em contato com ele e sua filha.

A aula era na manhã seguinte e o uniforme já estava me aguardando em casa, juntamente com um mapa com o caminho para a escola nova. O resto era por minha conta.

A casa era bonitinha até, mas suas proporções eram um pouco pequenas para o meu tamanho. Tinha apenas um cômodo geral amplo, que era sala e cozinha juntas, e uma suíte. Não é como se eu precisasse de uma mansão, afinal nem havia trazido nada de mais do Brasil.

Deixei minhas coisas razoavelmente ajeitadas e comi um saquinho de comida de avião que havia guardado. Já estava exausta por causa do vôo, mas, antes de dormir peguei o pôster que minha avó me deu e li sua carta novamente.

Não se enganem, eu ainda sinto muito a falta dela, muito mesmo. Mas não vou me permitir ficar com pensamentos tristes, afinal, ela queria muito que eu viesse pra cá. Por isso que aos poucos eu vou colocando o sorriso de volta no rosto, pensamentos felizes na cabeça e bola pra frente. Claro que algumas horas eu deixo escapar uma lágrima, mas ela nunca mais poderá ser de dor, não mesmo! Saudades? Infinitas. Tristeza? Não mais.

Terminei de matutar e deitei, meu corpo estava exausto, só o pó da gaita! Ri sozinha ao lembrar mais algumas outras expressões que eu gostava de usar. Como estava com bastante sono, meus pensamentos variavam muito, de “Certeza que tá tendo uns ‘borrachão’ estilo Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio por aí” a “Tomara que não me façam comer grilo frito de almoço”, mas a última coisa que lembro foi “Será que o pessoal daqui já ouviu Gretchen?”


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Notas finais do capítulo

Bom, essa é a situação da personagem que eu criei! Espero que esteja tudo certo e que tenham bastante paciência comigo, a novata nesse universo aqui.https://youtu.be/u5WiqJFq2-oPra quem não viu ali em cima, a música era do Jason Mraz - 93 Million Miles.Beijos e até o próximo!



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