No ensino fundamental tinha um garoto no meu ônibus, eu lembro dele, eramos amigos quando crianças, seu nome era Logan, Logan Harris. Eu estudava com Logan desde o jardim e naquela época, já estavamos no oitavo ano, não tinhamos trocado nem uma palavra desde o jardim de infância, como me arrependo.
Logan era meio estabanado, desajustado e tropeçava nos próprios pés, mas hoje acredito que não fiz o que tinha que ter feito, ao invés de ter sorrido de seu jeito umas vezes, devia ter tentado entende-lo.
Logan saia do ônibus rapidamente, corria como se fosse fazer xixi alí mesmo, eu pensava que era algo assim, uma vontade de ir ao banheiro, antes fosse. Ele fazia isso todo dia para ter certeza que sua irmã Anna, não tinha se suícidado, ela nunca mais foi a mesma desde que mãe deles morreu. Era tão linda e meiga, até hoje não soube o que aconteceu, mas Anna tinha ficado daquele jeito, louca pelo que houve com sua mãe.
Um dia Logan não foi a escola, e Jane a garota mais popular naquela época tinha dito "Hoje não veremos Logan Harris tropeçar nos próprios pés, que besta". Claro aquele comentário não parecia nada demais, entretanto, todas as crianças no ônibus sorriram, menos eu, porque aquilo realmente não tinha mais graça. No outro dia Logan foi a escola, assistiu a aula, enquanto eu o assistia, ele era solitário, e eu podia ter feito algo, mas a timidez não permitia.
No final da aula, como de costume pegamos o ônibus. Logan estava diferente, nem alegre, nem triste, estava sem expressão alguma, inérte. Ele não correu para casa tropeçando nos próprios pés naquele dia, nem andou rápido enquanto caiam os pingos de chuva, então eu soube o que tinha acontecido.
No outro dia no fim das aulas, vi que Logan Harris estava com flores em suas mãos, eram margaridas, lindas por sinal, talvez fossem para uma garota que ele gostasse, e era, mas não do jeito que eu pensava.

Ele foi embora a pé naquele dia, e eu o segui, ele ia em direção ao centro, que não era longe da escola. Em determinado momento, Logan percebeu algo estranho e deu uma olhada para trás, virei-me rapidamente e entrei na primeira loja que vi, olhei para a rua, e Logan caminhava em direção ao cemitério, então o perdi de vista.

Esperei meia hora na loja de chapéus que entrei e nem percebi, então tomei coragem e fui atrás dele lá dentro, sim dentro do cemitério, eu era uma garota bem forte para minha idade, na época tinha quatorze anos. O cemitério não era grande, mas não era pequeno também.

Não tinha quase ninguém no cemitério, mesmo de longe pude ver um garoto entre os túmulos era o Logan, estava ao lado do túmulo de sua mãe Anthea Harris e ao lado estava o túmulo de Anna.

Na hora a cena parecia chocante, na verdade, foi muito mais triste que chocante. Logan estava lá entre os dois túmulos, chorando, as margaridas divididas em partes iguais sob a nova casa de sua irmã e sua mãe. Logan me viu, observando tudo aquilo, se sentou e parecia muito surpreso e nos primeiros minutos eu também fiquei, mas depois tentei agir normalmente se é que posso dizer assim, sentei ao seu lado e tirei da bolsa duas barras de cereais, ofereci uma para ele, então ele sorriu e aceitou, começamos a comer e eu disse, que apartir daquele dia, ele nunca mais estaria sozinho.

Nunca esquecerei aquele lindo sorriso e mesmo que tanto tempo já tenha se passado, ele continua o mesmo.