Melancia

— Eu quero comer melancia!

Karin parou na porta, fitando o marido que estava deitado em um colchão colocado no chão. Semicerrou os olhos, fazendo seus cílios parecerem maiores e bufou, como aquele homem podia ignorá-la no estado em que estava?

— Hozuki Suigetsu, eu quero comer melancia. Seu imprestável.

Cutucou-o com a ponta do sapato, e ele finalmente a fitou, com sua cara amassada e apenas um olho aberto.

— Você quer o quê?

— Eu quero comer uma melancia, uma não, várias. — seus olhos brilharam de desejo. — Vá comprar para mim!

— Agora? São duas da manhã, Karin. — choramingou, recebendo um olhar assassino da mulher. — O-Ok, estou indo.

Calçou rapidamente os sapatos, enquanto a Hozuki lhe lançava a chave do carro. Estava chovendo naquela madrugada, uma chuva fria e constante.

Colocou as duas mãos no bolso, enquanto fitava os pneus do carro. Os dois traseiro estavam murcho, e não parecia algo acidental.

— Karin, os pneus estão furados.

— Eu quero minhas melancias.

A ruiva bateu a porta com força, e em seguida trancou.

Soltou um longo suspiro, que se condensou no ar e decidiu ir a pé até o hiper 24 horas que ficava a dez quadras dali. Longe de uma mulher bipolar por menos de duas horas.

Por que sua esposa tinha que ter tantos desejos? Era apenas uma gravidez, não seu último dia de vida.

No dia anterior havia sido peixe assado, e na semana passada, morango com shoyo. Estar grávida parecia ser extremamente estranho.

Observou as portas automáticas se abrirem e entrou, recebendo um jato de luz em seus olhos. Como odiava claridade, como odiava aquele hiper, como odiava chuva, como odiava melancia, como odiava esses malditos desejos.
Observou as filas enormes nos caixas e quis gritar, isso era o que mais ele odiava: FILAS.

A mulher embalou uma das melancias que ele havia comprado e sorriu, entregando-lhe o troco. Abraçou a melancia, indo em direção a porta, os olhos arroxeados se arregalaram por alguns segundos. Estava chovendo muito...

Olhou para o céu, desejando que isso fosse apenas um sonho.

— Deus, o que eu fiz para merecer isso?

Pode jurar que ouviu uma voz o respondendo mas, certamente era apenas sua imaginação.

Não podia deixar Karin esperando, ela o mataria caso a deixasse sem sua melancia. Como estava odiando aquela melancia.

Estava com as roupas pingando quando finalmente chegou em frente a sua casa, as luzes estavam todas apagadas e o silêncio era sua única companhia. Abriu a porta, colocando as chaves em cima de uma pequena mesa e seguiu até a cozinha, onde Karin estava comendo sorvete.

— Você está fedendo a cachorro molhado.

— Trouxe sua maldita melancia.

— Perdi a vontade, pode comer se quiser.

A fitou incrédulo. Ele havia saído na chuva para comprar a melancia, e a mulher não queria? Suspirou pesadamente, fitando o teto.

— O que eu fiz para você?

As mãos frágeis da ruiva envolveram seu corpo, e ele sentiu a barriga enorme dela roçar em suas costas.

— Estou com desejo de você.

— Esse desejo eu aprovo completamente.