Barroco escrita por Phaerlax


Capítulo 1
Isn't it over?


Notas iniciais do capítulo

Eu usei minha criatividade pra preencher espaços vazios que o programa ainda não esclareceu c:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/652355/chapter/1

— Levarei esta.

Pearl não conseguiu se impedir de recuar um pouco quando a figura da imensa quartz dominou seu campo de visão. Ela podia quase sentir o poder e a autoridade que emanavam da pedra cor de rosa em seu ventre.

E ela foi a única. Todas as outras pearls de pé naquela fileira não se moveram um milímetro.

A gema responsável pelas vendas sorria, mas Pearl via pequenos sinais de preocupação em sua face. A vendedora percebera o comportamento anômalo daquele espécime.

— Tem certeza, minha senhora? — A gema consultou uma tela brilhante que tinha em mãos, buscando alguma nota que pudesse ter ignorado ao colocar aquelas pearls em exibição. — Se vier comigo, posso mostrar-te outras mais...

— Não, esta estava me olhando quando entrei. — Era verdade. Pearl tremeu um pouco e a vendedora novamente percebeu, seu sorriso tornando a vacilar. — Gostei dela.

Se aquela quartz não a levasse, Pearl seria certamente destruída antes que pudesse manchar a reputação do estabelecimento.

— É uma simples anomalia, minha senhora. Se esse modelo lhe agrada, podemos facilmente...

— Eu acho que é uma qualidade. — A gema estendeu a mão, convidativa. Após um instante de hesitação, Peal ergueu a própria mão e tocou-lhe os dedos. — Eu sou Rose Quartz. Você quer vir comigo, pequena pearl?

Assentiu energicamente, como nenhuma das outras a seu lado fariam.

A vendedora soltou algumas palavras nervosas sobre certificados de garantia. Não ouviu a resposta de Rose; estava perdida em pensamentos abstratos.

Sentia-se grande.

E então começou.

E passaram-se milênios de simples anomalia.

 

— Você não precisa fazer isso comigo. — O tom de Rose era rogativo.

O vento terráqueo soprou um pouco sobre a vegetação rasteira daquela ilhota antes que Pearl de fato registrasse o que sua senhora queria dizer com a declaração absurda.

— Mas eu quero! — retrucou, como quem anuncia a maior das obviedades.

Porque anunciava.

— Eu sei que sim. — O rosto de Rose esboçou uma sugestão de sorriso, mas seu semblante permaneceu sóbrio. — Por favor, entenda. Se perdermos, seremos destruídas; se vencermos, nunca poderemos voltar a casa.

Pearl pensou nos corredores frios de Homeworld, na forma como a olhavam como a uma peça de mobília. Em séculos e mais séculos de memórias, não se recordava de uma única cena feliz da qual Rose não participasse. Sua alegria era cor de rosa.

— E por que eu iria querer voltar a casa se você estiver aqui?

Rose riu. Ela esperava algo assim, mas não conseguiria lidar com a sensação de ter coagido Pearl caso não perguntasse o que ela queria. Não imaginava o que as gemas em Homeworld pensariam daquela preocupação.

— Minha Pearl... — Estendeu a mão à vassala, em uma reprise do primeiro encontro. Desta vez, seus dedos se entrelaçaram.

Pearl disse algo que o vento soprou. Não importava; era apenas outra obviedade.

Tudo que fizera fora por Rose; tudo que faria seria por Rose.

 

Cada golpe da quartz dissolvia uma gema inimiga. Sua lâmina não descansava, alargando a cada segundo a ferida que Homeworld sofrera ao não aceitar seus termos.

Enquanto observa embasbacada sua mestra lutar, sentiu a espada escapar de suas mãos com violência. Antes mesmo que pudesse fazer qualquer esforço para recuperá-la, um forte impacto a levou ao chão.

O corpo inteiro vibrava. Por um triz a matéria que a compunha não se dispersara. Uma enorme jasper ocupava seu borrado campo de visão; foram seus punhos que sentira.

— Uma pearl no campo de batalha — desdenhou a quartz inimiga. Podia vagamente discernir o desprezo em suas feições. — Elas estão realmente ficando desesperadas, não estão?

Pearl queria levantar, gritar, provar seu valor, estilhaçar a gema que a adversária tinha no rosto e desfazer sua existência. Mas ela não podia.

Ela era só uma pearl.

Quando a jasper ergueu o pé para esmagar sua cabeça e sua gema, Pearl viu toda a sua incompetência refletida naquela sola.

Mesmo após uma enorme lasca de gelo vir voando de algum outro canto da batalha e se enterrar no rosto da adversária, destruindo-a, aquilo não passou. Sentia-se deslocada, frágil, inútil. Nem mesmo tinha o poder de invocar uma arma, como todas as gems guerreiras faziam.

Sentia-se, novamente, uma pearl.

Virou a cabeça e viu Rose, resplendorosa, ainda despachando gema após gema com sua espada. Ao menos ela não tinha visto seu fracasso, Pearl constatou aliviada.

Seu alívio durou pouco. Uma grande amethyst passou correndo por perto dela, ignorando-a completamente. Rumava direto para Rose e portava uma enorme alabarda crepitando de energia amarelada; certamente uma superarma dedicada especialmente à comandante das Crystal Gems.

Rose estava em perigo.

Aqueles instantes se desdobraram em milênios à frente e atrás. Sentiu horror indescritível com a possibilidade de todas as suas memórias de Rose virarem lembranças dolorosas, uma sensação de vazio absoluto ao imaginar um futuro perolado desprovido da cor rosa.

Podia enxergar a imensa amethyst como se ela se arrastasse por alcatrão. Casa pequena gramínea e partícula de água ao vento refletia a luz daquele Sol como uma infinidade de caleidoscópios. Tudo que acontecia era perfeitamente caótico, uma estrita sucessão de causas e efeitos que culminavam em resultados precisos.

Via Rose ao longe, via a velocidade da assassina cortando a distância em 4,72 segundos e exercendo força perfurante acelerada em um ângulo agudo. Sua senhora perceberia o perigo a tempo de se virar e expor sua gema, mas não a tempo de reagir.

Não sobreviveria. Era claro como cristal.

No nanosegundo seguinte, Pearl registrou os pontos entre ela e a amethyst que ofereceriam melhor apoio à sua passagem. Projetou-se para cima, pondo-se de pé com a força das mãos, e já deixou o ponto zero com velocidade ideal.

Sua gema reluzia intensamente com luz própria; sentia-se grande.

Rose virou-se e percebeu a amethyst em rota de colisão iminente; sua arma faiscante exalava perigo. Instintivamente, buscou dentro de si o poder de invocar uma bolha e ergueu seu escudo, mas algo a dizia que não seria suficiente. Via o fim.

Folheou suas memórias, buscando coisas de que se lamentar, mas conseguiu poucas antes daquilo deixar de ser necessário.

Uma lâmina espiralada cristalina projetou-se para fora do peito da amethyst, estilhaçando a gema violeta em vários pedaços. A guerreira desvaneceu antes de poder esboçar qualquer reação, sua estranha alabarda caindo no chão com estardalhaço. A aliada que realizara a execução empertigou-se, triunfante.

E era sua Pearl, apoiada em uma linda lança tão perfeitamente Pearl que só podia ser uma coisa.

Rosa sempre soube que ela era capaz de tudo que qualquer outra gema podia fazer.

— Pearl! Isso é maravilhoso! — exclamou, por cima do ruído incessante da guerra. — Você pode...

Uma explosão ali perto espalhou detritos por toda parte. Alguns colidiram com Rose, sem efeito algum. Pearl se desfez e sua gema foi ao chão, quicando algumas vezes.

Rose Quartz a coletou a pedra preciosíssima, segurando-a perto do peito. Correu mais para perto das linhas aliadas, ciente de que provavelmente perderiam terreno naquela vanguarda por causa daquilo.

Levar Pearl a um lugar seguro era sua prioridade absoluta.

Onze dias depois, Pearl regenerou-se em meio a um clima de vitória que durou mais milênios. Sentia-se grande.

 

Rose se movia com o humano pelo tapete de luzes, seguindo a cadência dos sons que um aparelho terráqueo emitia. Era como uma dança de fusão.

Mas Greg não podia fundir. Simplesmente não podia. Mesmo que ele fosse uma gema, aquela fase efêmera pela qual ele e Rose passavam jamais se compararia ao peso dos milênios que forjaram Rainbow Quartz!

Não havia amor ali. Era uma curiosidade branda.

Os movimentos atingiram um clímax. E nada aconteceu. Rose ria.

— Ha! — triunfou Pearl. — Ele deveria ter me escutado quando eu disse que nunca...

— Funcionou. — Garnet interrompeu, breve.

Pearl a encarou, incrédula.

— Você quer me dizer que aquil-

— Sim.

Rose rodou o humano no ar. Ele também ria. Seus movimentos fluíam um para o outro, sincronizados espontaneamente. Não era uma fusão. Mas era algo.

Sentia-se pequena.

Doía.

Aceitar doía menos.

 

Greg o trouxe ao templo nos braços pela primeira vez. O bebê estranhou o ambiente e a impaciência com que Amethyst tentava pegá-lo. Começou a chorar.

Pearl emergiu de sua câmara e sentiu a ausência de Rose com mais força do que nunca. Era como se sua gema fosse leve e oca. O humano andava até ela.

Greg murmurou alguma coisa, sem jeito. Ele ainda não se acostumara à ideia de que Pearl não o culpava mais; ainda parecia temer que perfurasse seu crânio a qualquer momento. Estendeu o bebê a ela, apesar dos protestos ruidosos de Amethyst, que se somavam ao choro em uma cacofonia estridente.

Pearl fitou a grande gema que o bebê tinha em sua barriga. A luz do Sol refletia rosada na pedra e incidia sobre seus olhos, alimentando algo dentro dela. A sensação oca desvanecia lentamente enquanto a visão daquela criaturinha a preenchia.

Quando o bebê olhou de volta pra ela, o choro parou. Seus pequenos olhos se arregalaram; os dela lacrimejaram. Estendeu a mão para Steven e ele imediatamente agarrou um de seus dedos.

— Eu sou Pearl. — apresentou-se, com a voz estrangulada. — Você quer vir comigo, pequeno Steven?

O bebê deu algumas risadinhas. Pearl o pegou no colo. O pai disse mais algumas palavras, que ela tornou a não escutar. Sentia as lágrimas escorrerem.

Steven enxugou uma delas, provavelmente sem entender seu gesto.

Ela apertou o pequenino contra o corpo magro, tomando muito cuidado para não machucá-lo.

Tudo que fizera fora por Rose; tudo que faria seria por Steven.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olar~

Queria tanto que soubéssemos mais sobre HW, pra melhorar aquelas cena lá :c Mas enfim.

Trivia: a lasca de gelo que salvou a Pearl daquela jasper (que não era a Jasper) era da Sapphire. Ela e a Ruby desfundiram nessa batalha por algum motivo, pq eu quis. A arma daquela amethyst era uma versão arcaica de um daqueles desestabilizadores portáteis que a Jasper e a Peridot usam em The Return e Jailbreak.

If you ever have need of the lovely Phaerlax, let Priguissa and Escrotidaum know. I'll be there in a flash

literally

*poofs*