Manhã de sol em Washington, o céu estava azul e quase não se via nuvens no horizonte. Aproximadamente 8h30min, Lizzie estava atrás do volante, dirigiu a noite inteira para que Josh pudesse dormir, ela estava cansada e suas pálpebras já estavam pesadas. Se não fosse por Nick, ela teria adormecido - e provavelmente batido o carro. Era incrível ver que o garoto ainda tinha energia, depois de uma madrugada inteira acordado.

Passou-se aproximadamente uma semana desde que o grupo encontrou Josh. Com sua ajuda, o grupo chegou à Washington mais rápido. Assim, Josh e Lizzie se revezavam para dirigir e paravam apenas para procurar água, comida e gasolina.

— Alí! - exclamou Nick. - Chegamos.

— Alí...? - ingadou Lizzie, olhando para um muro alto com um portão de ferro.

Ela diminuiu a velocidade à medida que se aproximavam do portão. Nick botou metade do corpo para fora do carro:

— EEEEEII!! ABRAM O PORTÃO!! SOU EU, O NICK!

Em cima do muro, a ruiva avistou alguns homens armados com rifles e outros homens se apressando para abrir o portão. Logo, o portão se abriu, emitindo um rangido alto. A agitação acordou os outros dois membros adormecidos:

— Já chegamos? - perguntou Josh.

— Chegamos. - respondeu Lizzie esfregando os olhos.

Ela acelerou novamente. Dentro das propriedades da cidade, dois homens sinalizaram para que ela estacionasse perto de outros carros, numa espécie de estacionamento improvisado.
Nick saiu apressado do carro. Lizzie se encostou no banco e fechou os olhos. "Meta cumprida... Agora posso voltar ao Canadá em paz..." ela pensou. O rapaz voltou ao carro:

— Vocês vão ficar aí? - ele disse na janela do motorista.

— Temos escolha? - Josh respondeu rindo.

Nick abriu a porta do motorista para Lizzie descer. A garota desceu do carro mas seu corpo estava dormente, ela precisou se apoiar no veículo e alongar o corpo.

— Rapazes, essa é a Lizzie, - começou Nick apresentando-a - se não fosse por ela, eu não estaria aqui. Lizzie, esse é Danniel - apontou para o homem loiro. - e esse é o Thomas. - apontou para o moreno.

— Olá... - ela acenou com a mão.

Depois disso ela parou de prestar atenção ao seu redor, estava cansada demais. Começou a dormir acordada, sua mente estava nas nuvens, ela só queria dormir.

— Ela não parece muito bem... - comentou Thomas.

— Ela dirigiu a noite toda... - explicou Nick.

O rapaz começou a conduzi-la pela cidade, os outros o seguiram. Lizzie olhava os prédios coloridos, as crianças brincando, os animais correndo, as roupas nos varais balançando com o vento, quando viu a imagem de sua tia vindo em sua direção com uma expressão alegre.

— Tia Oli- ela foi interrompida por um tapa em seu rosto.

Aquilo foi o suficiente para tirá-la de seu transe. Lizzie cambaleou para o lado, mas logo se recompôs, cobriu a marca com a mão e subiu o olhar para sua tia, ela não estava feliz em rever sua sobrinha, pelo contrário, estava furiosa. Olívia vociferava com a ruiva, mas ela ainda não entendia uma só palavra. Danniel precisou segurar a mulher enfurecida.

— Perdoe-a por isso, Li, - Nick começou. - desde que ela chegou aqui ela implica com as ruivas, por causa da sobrinha, que ela diz ter matado seu marido.

Porém, Lizzie apareceu não ter ouvido uma palavra.

— ASSASSINA!! VOCÊ ACABOU COM A MINHA VIDA!!

— Eu acabei com a sua vida? - ela finalmente falou, indignada. - EU salvei sua vida! O bêbado do seu marido ia te MATAR!!

— EU VOU ACABAR COM A SUA VIDA DO MESMO JEITO QUE VOCÊ ACABOU COM A MINHA!! EU VOU MATAR QUEM VOCÊ AMA!!

— Olha só pra você... A loucura tomou conta de você... - ela disse, olhando a tia de cima à baixo.

— EU DEVERIA TER DEIXADO A MINHA IRMÃ TE ABORTAR!! NÃO, EU DEVERIA TER IMPEDIDO-A DE SE CASAR COM O MARGINAL DO SEU PAI!! - a mulher gritava descontroladamente, enquanto se debatia.

Aquelas palavras doeram mais do que um tapa na cara, ou ser baleada. O sangue de Lizzie ferveu, sua respiração ficou ofegante, ela não ia mais engolir todas aquelas críticas, a ruiva fechou a mão em punho e golpeou a tia com um soco em seu rosto, com toda a sua força.

— VOCÊ NÃO TEM DIREITO DE FALAR DO MEU PAI!! VOCÊ NÃO ENTENDE OS MOTIVOS DELE E NUNCA VAI ENTENDER!! - Nick precisou segurá-la, enquanto Lizzie vociferava. - EU DEVERIA TER TE MATADO QUANDO TIVE CHANCE, ASSIM NÃO IRIA TER TESTEMUNHAS!! EU DEVERIA TER TE MANDADO PRO INFERNO JUNTO COM O FILHO DA PUTA DO SEU MARIDO!! EU TENHO NOJO DE VOCÊ, TENHO NOJO DO ANDREW E TENHO NOJO DA VADIA DA MINHA MÃE!!

Olívia desatou a chorar, ela não esperava tal atitude da sobrinha, aquilo foi um grande choque, ver que Lizzie tinha mudado tanto, ver que agora ela não segurava mais todo o ódio e mágoa que sentia pela tia.

Nick precisou arrastar Lizzie para longe, ele fez um sinal para Thomas e saiu conduzindo a ruiva na direção da Casa Branca.
A garota encarava o chão enquanto algumas lagrimas corriam pelo seu rosto. Quando estavam próximos da Casa, Nick parou:

— Então é verdade? Você matou seu tio?

Lizzie assentiu e enxugou seu rosto.

— Quer falar sobre isso? - ele insistiu.

— Fazia três meses que meu pai tinha sido preso e consequentemente três meses que minha tia conseguiu minha guarda... - ela levantou a cabeça. - Eu estava enlouquecendo, estava desamparada... Todos os dias meu tio chegava bêbado em casa, discutia e batia na minha tia... Mas teve um dia que eu não estava mais aguentando tudo aquilo, sem falar das críticas que eles faziam do meu pai... Foi na madrugada que o apocalipse começou... A rotina estava se repetindo... Eu tomei uma decisão, eu ia parar com aquilo... O meu tio veio para cima de mim, e eu me defendi. Eu matei o meu tio... E o pior, eu gostei! - ela cobriu o rosto com as mãos e balançou a cabeça negativamente. - Depois disso eu fugi.

Nick ficou em choque, não sabia o que dizer.

— Agora você também vai ficar me julgando... - ela completou.

— Você não tem que ficar assim... - ele a abraçou. - Foi legítima defesa, não posso dizer que foi a coisa certa a se fazer, mas você tomou uma decisão certa, de tentar parar aquilo...

Ela o abraçou. Os dois ficaram assim por um tempo, até ela o afastar. Nick sorriu e pegou em sua mão.

— Venha, tem alguém que você precisa conhecer.

Ele começou a arrastar a ruiva para dentro do território da Casa Branca. Por onde passava, o rapaz cumprimentava alguém ou ria das pessoas que ficavam espantados em vê-lo vivo, mas sem parar de andar.

Chegando à sala que costumava ser do presidente, ele bateu na porta e entrou. Um homem parecido com Nick levantou-se surpreso e o abraçou.

— Achei que estivesse morto, sobrinho.

— E quase morri, se não fosse por ela.

O homem levantou o olhar na direção de Lizzie e soltou Nick.

Ele caminhou até ela e estendeu a mão.

— Muito obrigado por salvar a vida do meu sobrinho favorito. - ele apertou a mão de Lizzie firmemente. - A quem devo a honra?

— Lizzie... - ela respondeu sorrindo.

— Me chamo Alex, muito prazer, e seja bem vinda à nova cidade de Washington.

Alex voltou para sua cadeira e pegou um papel.

— Vou mandar que providenciem um apartamento para você...

— Ah, não, obrigada, eu não pretendo ficar mais que uma semana... - ela respondeu.

— O que? Você não vai ficar? - Nick indagou preocupado. - Por quê?

— Vou voltar para o Canadá.

— Mas Li, não tem mais nada lá... - o rapaz estava quase suplicando.

— Na verdade, acho que tem sim, eu é que não procurei direito...

— Você não pode ir, por favor fique. - pediu Alex.
Lizzie não tinha outra escolha, ela teria que ficar.

— Tudo bem... - ela suspirou derrotada.

Abriu-se um sorriso nos lábios de Nick.

— Eu só preciso saber de uma coisa: você já matou alguém?

— Sim... - ela respondeu na lata.

Alex levantou um olhar sério.

— Quantas pessoas você matou? - Alex estava inseguro.

Lizzie ponderou por alguns instantes.

— Eu não sei... Talvez uns 15...

Alex engoliu em seco, sua respiração ficou pesada.

— OK... Já podem ir...

Os dois saíram da sala e Nick foi tomando rumo para fora da Casa.

— Sério que você não vai ficar? - Nick perguntou coçando a cabeça.

— O máximo que vou ficar vai ser por uma semana...

— Por que?

— Eu tenho que voltar e conferir um lugar...

— Mas não tem nada lá...

— Eu não conferi tudo! - ela respondeu um pouco irritada.

— OK... Então vamos pra minha casa, aí você descansa enquanto eu resolvo alguns problemas.

Ela assentiu. Do lado de fora, eles encontraram Josh, Ellie e Thomas, trocaram algumas palavra, mas Lizzie estava sonhando acordada outra vez. Depois Nick continuou a guiá-la, agora, seguidos de Aika.

Chegaram a um prédio com aparentemente cinco andares, - na verdade, parece que todos os prédios eram assim - tinha uma cor azul clara desbotada. Eles entraram e subiram até o ultimo andar. Nick bateu na porta do número 23. Uma garota loira abriu a porta, a mesma da foto, mas ela tinha uma aparência mais velha e os cabelos mais longos, ela ficou emociona ao ver Nick, o abraçou forte quase derrubando-o.

— Achei que estivesse morto... - ela disse, enquanto começava a chorar.

— Quase... - se não fosse por ela, eu estaria. - Nick abraçou-a de volta.

A garota olhou para Lizzie e soltou Nick, foi na direção da ruiva e abraçou-a apertado.

— Obrigada... Muito obrigada... - a loira disse

—N-não foi nada... - a ruiva respondeu, abraçando-a.

A loira a soltou e sorriu.

— Alice, essa é a Lizzie, foi ela que me ajudou naquele dia. Lizzie, essa é a minha irmã, Alice. - Nick apresentou-as.

— Prazer em conhecê-la. - disse Alice.

— Igualmente. - Lizzie sorriu.

— Venham, entrem. - Alice deu passagem e os dois entraram.

— A Lizzie precisa descansar, eu vou resolver alguns problemas. Venha, pode ficar no meu quarto por enquanto...

Nick adentrou na casa, seguido por Lizzie, os dois foram para o quarto do rapaz. O jovem apresentou o quarto e depois saiu, deixando-a sozinha com a collie. Ele e a irma trocaram algumas palavras e depois Nick saiu.

De volta à cidade, ele tomou rumo à Casa Branca, no caminho encontrou Josh, Ellie e Thomas. Eles trocaram algumas palavras e depois Nick saiu, seguido por Ellie.

Na Casa Branca, Alex se encarregou de avisar aos cidadãos sobre a volta de Nick, e assim que o sobrinho retornou à sala, os dois sentaram para conversar.

— Sobre a Lizzie, temos que tomar cuidado... - começou Alex. - Ela já matou muitas pessoas, pode ser uma ameaça para a cidade...

— Eu discordo! - protestou Nick. - Lizzie passou tempo demais sozinha, vagando pelo Canadá, tenho certeza de que ela faz tudo em legítima defesa. Além disso, se ela fosse tao perigosa assim, ela me deixaria morrer sem hesitar.

— Pode até ser... - Alex comentou, ponderando a respeito. - Mas de qualquer forma, ela é uma assassina com experiência.

— Tenho certeza de que você está errado. - Nick respondeu, em tom convencido. - E eu vou provar!