No dia depois do acontecido ninguém conseguia encontrar Melanie, nem mesmo Henry. Ela se escondeu de tudo e de todos mas não conseguia se esconder dos sentimentos que sentia. Ela tinha raiva de si por sentir aquilo pelo seu melhor amigo. Era algo que nem ela mesma sabia o que era.

Mas no dia seguinte ela acordou, olhou para o teto branco e foi como se todos os seus sentimentos tivessem se realinhado.

E então ela só sabia que precisava ver Henry. Precisava falar com ele, ou até mesmo ficar em silencio com ele. Qualquer coisa com a presença de Henry naquele momento servia para Melanie.

Levantou e foi tomar banho. Vestiu-se com seu uniforme impecável como tinha que ser. Era composto por uma saia e uma blusa com o escudo do orfanato. Todos naquele lugar eram obrigados a se vestir igual, usar uniforme. Melanie odiava usar uniforme. Além de tudo todos eram obrigados a fazer tudo sozinho. Sem ajuda de um adulto. As “tias” - como Melania as chamava - só ajudavam em coisas muito importantes e serviam para botar ordem nas crianças.

Melanie terminou de se arrumar, fechou a porta do quarto que dividia com mais três meninas e correu. Correu porque precisava encontrar Henry, precisava de respostas. E nem mesmo quando uma “tia” chamou atenção dela ela parou. Melanie nunca parava de correr.

Procurou Henry por todas as salas de aula, todos os banheiros, no quarto do menino mas quando entrou no mesmo as coisas de Henry não estavam mais lá. Aquilo não estava acontecendo. Não podia ter acontecido o que ela achava, não é? E de repente uma dor que Melanie nunca tinha sentido se instalou no seu peito. E de novo ela correu, em busca de um adulto. De uma resposta.

Enquanto procurava por alguém que sabia o que tinha acontecido com Henry, ela achou Dona Lourdes umas das responsáveis pela ala dos meninos no orfanato e talvez a melhor pessoa, depois de Henry, naquele orfanato. Ela tinha que saber de algo.

– Dona Lourdes - A moça olhou na direção de Melanie sorrindo mas quando viu que a menina não parecia nada bem sua expressão mudou para preocupada.

– Sim, querida. O que houve?

– O Henry. A senhora sabe o que aconteceu com ele? Por que ele não esta em lugar nenhum e as coisas dele não estão no quarto dele? - Melanie tentava recuperar o folego.

Dona Lourdes a olhou com pena. Sabia da imensa amizade que as duas crianças tinham.

– Ele se foi, minha querida. Ele foi adotado ontem.

E então Melanie desabou, saiu correndo como sempre. Saiu correndo para o seu quarto com lágrimas inundando seu rosto. Não se importava se esbarrava em alguém. Ela só sentia um bolo na barriga, uma raiva imensa do seu melhor amigo. Talvez ex melhor amigo, porque melhores amigos não fazem isso, não? Ele prometeu que ela iria junto se isso acontecesse.

Melanie soluçava de tanto chorar e dessa vez era só ela e ela mesma. Não tinha Henry e mais ninguém que a ajudasse.

Ela estava só.