Dean e May escrita por esterjuli


Capítulo 11
Boatos


Notas iniciais do capítulo

E depois de séculos sem postar capítulo, cá estou de volta, com toda cara de pau! Peço mil desculpas a todos que acompanham, mas está aqui a prova de que tarde ou tarde, eu sempre volto! Espero que gostem!



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Pov. May

Depois de todo o alvoroço no início da manhã, a escola parecia finalmente ter alcançado a paz. Eu sabia que isso não duraria muito e que, ao fim das aulas, toda a bagunça voltaria, mas não podia deixar de aproveitar esse momento. Tentei me concentrar ao máximo na aula, mas isso tinha se tornado difícil já que o Dean insistia em parecer mais bonito do que nunca, me fazendo olhar para ele de tempos em tempos. Ok, eu sei, talvez seja minha culpa por estar nutrindo esse sentimento estúpido que me faz vê-lo com outros olhos. E eu odeio isso.

Assim que a aula acabou, insisti em ir pra casa o mais rápido possível, em partes pra não ter que acompanhar toda a novela estrelada por Susan e seu ruivinho, mas também porque hoje era o primeiro dia do meu “estágio” com a Catarina e eu nunca estive tão feliz por isso. Cheguei em casa, almocei, avisei a Tia Lucy que chegaria ao fim da tarde e fui para a casa da Catarina, ansiosa com tudo que iria aprender.

Como não morávamos muito longe, logo cheguei. Pude ver Catarina tricotando através da janela, o que me fez lembrar do que ela tinha me dito sobre seu hábito de tricotar quando está ansiosa. Toquei a campainha e em instantes ela chegou na porta com seu sorriso radiante.

— Florzinha! Que bom que chegou, já preparei tudo para começar nossa primeira aula!  – ela disse e eu sorri ao ver que não era só eu que estava radiante com esse estágio.

Entrei na casa e sentei por um momento no sofá, enquanto esperava ela voltar com as ferramentas. Logo, ela volta com tudo que é necessário.

— Ah, mas veja só. Mal começamos e já está cansada? – Ela disse com um sorriso brincalhão, me levantei rapidamente e corri para ajuda-la (por um momento tinha esquecido de sua idade).

— Desculpe por não ter te ajudado a carregar as coisas antes – eu disse, enquanto caminhávamos para o quintal.

— Oh querida, não se preocupe. Eu posso ser velha, mas ainda tenho muita força. – Ela disse mostrando os “músculos” de um de seus braços. Não pude deixar de rir, Catarina é uma figura.

Não importa quantas vezes eu entre nesse jardim, ele sempre vai parecer mais bonito a cada dia. De certa forma, aquela visão me acalmava. Na verdade, eu sempre achei que quando eu começava a cuidar de um jardim, esquecia qualquer problema que estivesse enfrentando. Essa costumava ser minha lei, mas nesse dia percebi que não passava de uma teoria. Inexplicavelmente, qualquer coisa me fazia lembrar do Dean. Os lírios me lembravam de quando ele me deu uma muda no meu aniversário de 9 anos, a amarílis laranja me lembrava da cor do cabelo dele e a amor-perfeito... não preciso nem dizer né?

Só sei que meus pensamentos ecoavam tão alto que penso que até a Catarina escutou, pois ela logo me perguntou se havia algo de errado.

— Comigo? Nãao, tá tudo ótimo. – eu disse depois de acordar do meu transe. Catarina apenas olhou desconfiada e disse “hum”.

— May, qualquer que tenha te visto pelo menos uma vez sabe que seu astral não é tão baixo. Desse jeito vai fazer minhas flores murcharem, você sabe mais do que ninguém como elas absorvem o que sentimos. – disse Catarina, enquanto continuava a regar suas plantas. Suspirei fundo e resolvi falar para ela.

— É que eu acho que tô gostando de um menino, que por acaso é o meu melhor amigo desde... sempre – falei em tom melancólico. – E isso não seria ruim, se não fosse pelo fato de ele claramente não sentir o mesmo e ainda por cima, estar “namorando” a menina mais insuportável da escola.

— Olha, eu não conheço esse menino muito bem, Dean não é? Mas o que eu posso dizer pra você é que as vezes é preciso dar tempo ao tempo. Sei que assustador quando esses sentimentos começam a aflorar, mas acredite, o amor, ou seja lá como vocês jovens chamam hoje em dia, não deve ser algo que causa sofrimento. O que nos faz sofrer é as expectativas que colocamos nos outros e a falta de confiança que temos em nós mesmos. – ela disse tranquilamente, como se dar sábios conselhos amorosos fossem parte da sua rotina. Sorri, já me sentindo melhor. – Não se preocupe, se ele for o certo pra você, você saberá.

 - Como você pode ser tão sábia? – perguntei incrédula, ela gargalhou.

— Acho que as experiências da vida nos ensinam mais do que qualquer escola – rimos e continuamos a cuidar do jardim, enquanto conversávamos sobre os mais diversos assuntos. Não demorou muito tempo até que chegasse a hora de ir embora. Me despedi da Catarina e fui pra casa. Chegando lá, fui checar o telefone para ver se alguém tinha deixado recado, me deparei com uma mensagem de voz da minha mãe (que depois da nossa última briga, procurou manter mais contato).

Florzinhaaa, liguei para saber como está e pra dizer que acabamos de chegar em Londres! Lembra que te disse que recebemos uma proposta de ampliar a Sunflower para nível internacional? Pois é, ACABAMOS DE FECHAR O NEGÓCIO! Em breve, teremos a floricultura Sunflower em Londres! Quem diria que tratar as flores da maneira que elas merecem faria tanta diferença né? Bom, é só isso. No final de semana te ligo, porque as coisas vão ficar um pouco caóticas por aqui! Ah e seu pai também te mandou um beijo! Tchaaau!

Terminei de ouvir um recado com um sorriso agridoce no rosto, porque por mais que eu AME saber que nossa floricultura (tão pequena e familiar) está crescendo, eu sinto muita falta de ter eles comigo todos os dias. Bom, talvez a consequência do sucesso seja isso, quanto maior o negócio, maior a distância entre nós. Quando trabalhávamos em família na pequena floricultura na frente de casa, pra mim era o paraíso, todos pareciam mais felizes. Agora são outros tempos, desde que meus avós faleceram, minha mãe começou com essa ideia de ampliar a floricultura e depois de muita batalha, os frutos estão finalmente chegando. Tenho que ser grata. É, eu tenho que agradecer.

Voltei a minha rotina logo depois. Passei na casa do Dean para fazermos os deveres de casa e depois jantei com ele e a tia Lucy. Ele me contou que a Susan realmente não largou do pé dele durante o dia, eu ri e joguei novamente na cara dele que eu estava certa. A tia Lucy ficou sem entender nada, até que o Dean resolveu contar a história pra ela. Ela ouviu atentamente e riu, dizendo que ele não tinha muito talento para fazer escolhas e olhou discretamente pra mim. Eu ri, mas senti meu rosto esquentar ao lembrar que tinha dito a ela sobre minha quedinha pelo Dean. Depois do jantar, Dean se despediu e foi para o quarto dele, eu fiquei ajudando a tia Lucy a tirar a mesa e aproveitei para conversar com ela novamente.

— É... tia Lucy! Lembra do que conversamos antes? – perguntei a ela, quase em um sussurro, temendo que Dean aparecesse e escutasse nossa conversa.

— Ah sobre... o Rodolfo! – fiquei sem entender de quem ela tava falando, mas depois que ela piscou pra mim, entendi que Rodolfo seria o codinome do Dean.   

— Isso! Rodolfo. Então, no fim das contas, cheguei a conclusão de que não era uma quedinha, era só meu subconsciente pregando uma peça em mim mesmo – sorri sem graça e ela, claramente não comprou a ideia, mas imagino que tenha acatado minha decisão de esquecer tudo isso.

— Ahh, então tudo bem. Como eu disse, acontece, mas caso você chegue a outra conclusão, sabe que sempre estou aqui pra você desabafar – ela sorriu e eu a abracei agradecida.

O tempo passou e eu continuei com minha rotina de sempre. Escola, Jardim da Catarina, Casa. As vezes com algumas ligações da minha mãe, noite de jogos ou filmes na casa do Dean e muitos conselhos da Catarina. Senti que me saí bem na tarefa de esquecer qualquer sentimento romântico que pudesse nutrir pelo Dean, mas não posso mentir: ver ele 24 horas por dia com a Susan era uma tortura. Aquela menina é insuportável e parecia que o propósito de vida dela era manter o Dean longe de mim. Não importava o quanto eu tentasse passar um tempo com ele, ela chegava e arrastava ele pra outro lugar. Isso já estava me dando nos nervos.

Um dia quando estava voltando da escola com ele, resolvi desabafar sobre como me sentia nessa situação. – Dean – ele olhou pra mim a espera de uma continuação, senti meu rosto corar, mas resolvi prestar atenção no que tinha a dizer – Sabe, tem uma coisa que tá acontecendo que tem me deixado um pouco estressada, não sei se você tem percebido. – ele me olhou confuso – É que, é... a Susan, eu acho que ela tá tentando te afastar de mim. – ele pareceu surpreso.

— Ah, entendo, tipo como se ela tivesse com ciúme, né? – ele disse e eu assenti de modo envergonhado – Agora que você falou, ela tem me enchido mais do que o normal, toda hora quer atenção. Acho que entrei tanto na onda de ser o namorado perfeito que nem me liguei que não estava tendo mais vida. – ele disse, visivelmente cansado. – Obrigado por ter dito como se sentia, May. Sei que eu não tenho cumprido muito com a minha promessa de ser um amigo melhor, mas vou recomeçar! Não é Susan nem ninguém que vai me afastar de você. – sorri boba, com um grande alívio de finalmente ter esclarecido como me sentia. Chegamos na casa dele. – Não esquece, você sempre tem prioridade. – falou bagunçando meu cabelo e eu demorei um pouco para estacionar em terra novamente.

Mais algum tempo passou e o Dean realmente cumpriu a promessa, estávamos mais unidos do que nunca. Ele continuava com a Susan, mas não deixava de passar tempo comigo só porque ela queria. Sentia como se nossa amizade tivesse renascido das cinzas, faltava pouco tempo pro nosso aniversário, então passávamos todos os dias pensando como nossa festa seria. Quando não fazíamos isso, assistíamos filmes, jogávamos vídeo game ou conversávamos sobre coisas aleatórias. Era como nos velhos tempos.

Tudo estava ótimo, até eu perceber que estava sendo mais notada do que o normal na escola. Sentia como se todos estivessem falando de mim quando passava, como se eu fosse o centro das atenções. E isso era uma grande novidade pra mim. Um dia, enquanto estava passando pelo corredor, ouvi um dos comentários.

— Estão dizendo que o Dean tá traindo a Sue com essa aí. – dizia uma em tom de desdém. – Não dá pra acreditar, que mal gosto hein. – respondeu a outra.

Eu gelei. Não era possível que alguém tinha começado um boato sujo desses sobre a gente. Era horrível sentir todo mundo te julgando por algo que você não fez. Qual é a noção desse pessoal? Nunca viram amigos do sexo oposto não? Tudo bem, eu posso até ter uma quedinha por ele, mas eu nunca compactuaria com uma traição. Apressei o passo para pegar minha bicicleta e ir pra casa, quando acabei esbarrando com quem menos gostaria de ver no momento. O Dean.

— May? Você ia pra casa sem mim? Me espera aí, eu só vou pegar minha bike e vamos. – eu assenti sem muita vontade, envergonhada com os olhares em volta da gente. Logo ele voltou e fomos pedalando para casa, em silêncio, até que ele resolveu fazer um comentário.

— Hoje eu tive uma briga com a Sue. – ele falou em tom cansado. Meu estômago revirou, pois já imaginava o motivo da briga. Esperei que ele continuasse a história, mas para minha surpresa ele parou de falar e ficou um pouco pensativo.

— E foi séria? – perguntei “desinteressadamente”, encorajando-o a falar.

— Não, foi por uma bobagem. Acho que amanhã ela já vai ter esquecido. – ele sorriu do jeitinho de sempre. – Eu só não pensava que iria me chatear tanto com uma briga, talvez eu goste dela mais do que eu imaginava. – ele disse e eu murchei, sempre achei que ele só estava com ela pra não manchar a imagem dele, mas pelo visto existia um sentimento. Essa revelação só me fez ficar mais frustrada com esses boatos, além de me ferirem, ainda iriam atrapalhar o relacionamento (que de alguma forma) era importante pro Dean.

Chegamos em casa e eu estava exausta. Exausta da escola, exausta desses boatos e desse sentimento. Eu só queria esquecer ou não me importar. Mas eu me importo e como me importo. Durante a noite, procurei mil maneiras de resolver tudo isso, acabar com os boatos e simplesmente voltar a minha vida de desconhecida. Mas não cheguei à conclusão nenhuma. A manhã seguinte estava pesada, com um clima que combinava com meu humor. Era nítido que logo iria cair a maior chuva, apressei o Dean para que fossemos logo. Pegamos as capas de chuva, as bicicletas e corremos, tentando chegar na escola antes que a chuva chegasse a nós. Não conseguimos.

Os pingos de chuvas pesados nos atingiram com força, acompanhados de um vento forte. Era quase impossível enxergar a estrada, me preocupei, olhei pro Dean que, como eu tentava pedalar contra a forte ventania. Com essa distração, acabei não percebendo quando um carro vinha em minha direção, Dean gritou meu nome e eu rapidamente desviei, perdendo o controle da bicicleta que seguiu pra fora da curva em que estávamos, em direção a um barranco. Fechei meus olhos e só senti meu corpo girar várias vezes, até parar. A última coisa que senti foram os pingos de chuva pesados e dores que se espalhavam por todo meu corpo. Abri meus olhos e vislumbrei um Dean desesperado que gritava meu nome e corria em minha direção. Foi minha última visão antes de apagar.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? To há muuuito tempo tentando escrever esse capítulo, então gostaria que vocês dissessem o que acharam! MUITO OBRIGADA a todos que continuam lendo! E até a próxima!



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