– Você sabe que namorar envolve esses tipos de coisas, não sabe? – o sorriso travesso contemplava Enjolras, como se contempla um petiz.

– Naturalmente... – seu nariz franziu minimamente enquanto estreitava o olhar sobre o boêmio.

Tentativas de repelir suas investidas foram em vão, enfim cedeu às carícias desleixadas do alcoólatra. Os beijos necessitados pareciam não ter efeito no vanguardista, que se deixava levar como se à mercê das vagas marítimas.

– Não posso... – sussurrou entrelábios carmins, apartando-se a sôfregos ofegos.

O azul imperturbável de suas íris encobriu-se.

– Há quanto tempo você reprime?

– Estive me guardando qual uma noiva virgem à espera do marido na noite de núpcias. – um riso ébrio abandonou seus lábios e roçou no marmóreo pescoço.

Enjolras estremeceu com a alusão.

– Sabe que não precisa prometer votos de castidade para mim.

– O que quer dizer?

– Você sabe...

– Então confessa que é corno manso?

O patriota massageou o sobrolho. Mais uma vez, assistia à sua paciência evaporar.

Sentiu-se novamente envolver pelo abraço excessivamente carente de Grantaire.

– Não fale mais isso... – balbuciou em protesto. Enjolras surpreendeu-se com o tom com o qual aquelas mansas palavras foram pronunciadas. – Eu quero amá-lo ao todo, e não apenas uma parcela.

Sentiu-se arrebatado por uma onda irresistível.