Para que Suas Lembranças Sejam escrita por Anita


Capítulo 1
Parte 1 de 2




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Olho Azul Apresenta:
Para Que Suas
Lembranças Sejam...

  Uma sombra corria apressada com um único destino. Não tinha poderes bastantes para ter muita exatidão, mas todo seu corpo tremia misturando-se a uma pungente dor de cabeça. Por experiência própria, sabia que Sailor Moon estava em perigo.
 
  Não havia tempo a perder. Mal olhava o caminho por onde passava. Algo maior o guiava exatamente onde esperava ver uma batalha com mais um ser nunca antes imaginado.
 
  Pela primeira vez, no entanto, encontrou o lugar em paz. Três meninas estavam de pé enquanto a quarta ficara agachada, fazendo sinais de que estava bem. Seus cabelos loiros estavam desgrenhados e sua veste um tanto suja, mas se não fosse por aquela visão, Darien Chiba se consideraria um homem louco.
 
“Terei demorado tanto assim?” perguntou-se, voltando à sua forma humana. Estava sozinho no apartamento estudando quando sentira o aviso de perigo... Não podia haver se atrasado tanto.
 
  Observou a retirada da loira por alguns segundos e deu de ombros: “O que quer que tenha acontecido, todas me parecem bem...”
 
  Então, ele próprio pôs as mãos no bolso e decidiu voltar andando. Não estava tão longe assim de casa e aquela noite de inverno lhe chamava para um passeio.
 
  As ruas todas brancas e quase desertas tinham sua paz perturbada por alguns carros e um táxi. Ainda estava cedo, mas todos pareciam se encontrar dentro de casa, aquecendo-se.
 
  Virou uma esquina e avistou algo que pensara ser ilusão por uns momentos. Um brilho dourado atravessava a rua num compasso quase melancólico. Era uma jovem de não mais que quinze anos, a mesma menina com quem ele sempre acontecia de se encontrar pelas ruas.
 
  Andava tão devagar... Era algo extremamente incomum para alguém tão afobada como só ela. Uma luz iluminou todo o lugar, cegando Chiba por um segundo e, nesse mesmo segundo, um barulho estridente acordou-o.
 
-SAI DA RUA, MENINA! – o motorista gritou para Serena, após tanto buzinar e por pouco atropelá-la.
 
  O moreno correu até a moça, que, já na calçada, ficara olhando em transe para o lugar onde o carro estava tempos antes.
 
-Sua cabeça-de-vento! Não tem amor pela própria vida? Eu sei que uma noite fria de inverno pode ser solitária para uma solteirona, mas também não é pra virar uma suicida, -disse, dando seu riso sarcástico, que parecia estar sempre reservado a ela.
 
  Serena lançou-lhe um olhar ainda perdido em sonhos e não reagiu, como seria o normal, às palavras.
 
-Que há contigo!?-Darien perguntou. Teria continuado o sermão se não houvesse percebido o quão pouco agasalhada estava.
 
  Usava uma saia rodada até os joelhos e uma meia que não cobria nem metade da canela, tampouco era grossa o suficiente. O casaco parecia mais para um anoitecer de verão e a blusa por baixo não estava muito diferente.
 
-Vai acabar pegando um resfriado... –Suspirou e decidiu entregar-lhe seu casaco. Sua blusa era o bastante para aquecê-lo e qualquer coisa voltaria correndo como Tuxedo Mask; quando percebesse o frio, já estaria dentro de sua casa com o aquecedor no máximo. –Está tarde, também. Vamos, eu te levo pra casa.
-Seu perfume está diferente, Endymion, -ela disse ao vestir o casaco que lhe dera um sobretudo.
 
  Os olhos do rapaz aumentaram de surpresa. Estava delirando ou só brincando? Talvez fosse algum personagem de manga ou novela...
 
-Vamos logo, Serena, onde é sua casa? Eu tô com frio.
-Casa? É na Lua, oras. Esqueceu-se, meu príncipe?
-Hã? -Encarou-a por mais uns segundos e balançou a cabeça. Era ele que estava delirando!? Quando aquela menina o chamaria de “meu príncipe” em posse de todas as suas faculdades mentais?
-Estou cansada...-Interrompera seus pensamentos, aninhando-se em seu braço. –Podemos ir assim? Está tão afastado de mim, Endy e “Serena” é algum apelido novo?
-Pensei que era seu nome...
-Ha ha! Certo... Agora vamos? Meu corpo está doendo, e minha cabeça também.
 
  Darien sentiu o braço que ela abraçava com todo o corpo ficar muito quente. Não entendia o que a menina estava tentando fazer, mas decidiu que estava com febre ou algo assim. Rezou para que não o matasse no dia seguinte ao perceber que dormira em sua casa. Porém, não tinha muita fé em seu pedido.
 
-Que tal irmos ao meu apartamento? É aqui perto... Pelo menos, bem mais que sua casa lá de cima, -falou, rindo um pouco. Só aquela garota para fazê-lo dizer uma piada num momento tão estranho.
-Mesmo? Está bem, querido! Sabe que confio em você. Mas você tem que me ajudar a pedir desculpa à rainha comigo amanhã... Sinto-me tão perdida aqui na Terra. Foi uma sorte você ter me encontrado.
-Err... Claro.
 
  Não foi até pô-la para dormir em sua cama que ele percebeu que sua cabeça estava sangrando um pouco. Limpou tudo e pôs um pequeno curativo. Teria sido por causa do quase atropelamento?
 
  Apesar do sofá duro, a noite foi bastante tranqüila. Exceto pela preocupação que ter uma jovem de quinze anos trazia. Seria chamado de pervertido? Devia ter ligado para Andrew, ele com certeza saberia onde era sua casa. E a mãe dela? Com estaria?
 
  Adormecera logo após o pensamento, tendo sonhos nada bonitos incluindo um pai raivoso, uma espingarda e um machado.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Seu despertador gritava insistentemente para que o desligasse. Olhou para o relógio e notou que demorara mais de um minuto para ouvir o som.
 
-Que noite...-disse, percebendo que, mesmo assim, sua hóspede não acordara. –Ela não vai pra escola?
 
  Levantou-se e tomou um banho, indo, em seguida, preparar o café. Era estranha a sensação de ter alguém ali. O único que já dormira em seu apartamento fora Andrew, quando os dois saíam e se sentiam exaustos demais para voltar à casa um do outro. Pelo apartamento de Darien ser o mais espaçoso, costumava ser o dormitório eleito.
 
  Ao terminar com a cozinha, prosseguiu para o quarto onde a loira ainda estava em um sono pesado. Sorria? Pelo menos alguém havia dormido bastante bem.
 
  Apesar de seus pensamentos, o sentimento que invadia Darien estava longe de ser considerado inveja. Parecia-se mais com alívio. Afinal, ela parecia bastante ruim na noite anterior.
 
-Serena...-Tentou balançá-la gentilmente, mas seu corpo apenas se aninhou mais como se estivesse sendo ninada. Aumentou a força do balanço e de sua voz, contudo, seus esforços foram inúteis.
-...muito creme por cima e aquela girafa é tão fofa de rosa. Bem que eu queria comprar uma bolsa assim...-Começara a falar.
-Pelo menos o vento continua na sua cabeça, né? Ai, até dormindo só pensa em bobagens. EI!-balançou com muita força.
 
  Os olhos azuis se abriram num estalo e o encararam. Pareciam bastante perdidos, olhando a decoração do cômodo, como se procurando algo de familiar. Serena pulou na cama e puxou a coberta para si.
 
-Onde estou!?-perguntou para ninguém específico, cobrindo-se ainda mais.
-No meu apartamento, sua cabeça-oca. No mesmo lugar onde você dormiu na noite passada.
-Como assim? Do que está falando?
-Bem, você ficou me dando informações desconexas e eu nem descobri seu endereço. Tava tarde e frio... Tive que te trazer.
-E quem é você!? Algum pervertido!?-Ainda o encarava com uma expressão engraçada. Segurava com muita força a coberta... Como assim não o conhecia?
-Darien Chiba, esqueceu-se?
 
  Olhou-o em silêncio. Tremia. Depois de analisar toda a situação, levantou-se, constatando que ainda estava vestida, e aproximou-se do rapaz.
 
  Em seguida, deu-lhe um ressonante tapa no rosto.
 
-FICOU DOIDA!?-ele gritou, pondo a mão no local. Ardia tanto quanto o som fora alto.
-Pervertido! Como assim pega uma garota qualquer na rua e põe pra dormir contigo!?
-O quê!?
-Sabia que nem colegial eu sou ainda? Isto deve ser algum crime... Tenha certeza de que darei queixa.
-Mas... Você foi quase atropelada ontem.
-Não me lembro de nada assim. -Olhou-se no espelho do quarto, ajeitando o cabelo, tendo certeza de que não se machucara.
-E você aceitou vir comigo!
-Mentiroso!-Seus olhos eram pavorosamente gélidos. –Está tentando me seqüestrar ou algo assim!?
 
  Darien ficou imóvel. O que quer que houvesse acontecido a ela, ainda lhe fazia dano à mente. Era impossível que normalmente ela o tivesse esquecido.
 
-Não sei porque não se lembra de mim... A gente se vê sempre na rua! Sou o amigo do Andrew.
-Não te conheço, mas pode ter certeza de que confirmarei a informação com ele. –Pegou sua bolsa que estava no canto da cama e já estava pronta para partir.
-Espera! Você realmente estava doente ontem. Fiz café da manhã, por que não o toma? Eu mesmo te levo em casa.
 
  Depois de quase um minuto de silêncio em que Serena se resumia a olhar todos os móveis, como se perguntando a eles o quanto podia confiar no tal estranho, ela falou: -Está bem...
 
  Darien sorriu, mostrando-lhe o caminho da cozinha.
 
-Afinal onde é a sua casa?-perguntou, guiando-a.
 
  A moça parou no meio do corredor.
 
-O que houve?-ele a olhou, sem entender nada.
-Eu... Eu não sei. –Seus olhos estavam molhados, tentando fugir das órbitas. –Eu não faço idéia!
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Serena e Darien andavam pela rua, rumo ao salão de jogos onde seu amigo em comum, Andrew, trabalhava. A intenção era apenas perguntar a ele seu endereço e levá-la logo aos cuidados da família. Estava começando a ficar preocupado com a moça.
 
  Por duas vezes, confundira os sinais de trânsito, andando quando o de pedestres tornara-se vermelho. Também houve uma ocasião em que se esquecera de seu próprio nome, forçando o jovem a puxar-lhe pelo ombro para chamar-lhe a atenção.
 
-Olhe! Quantos chocolates nas lojas...-falou, parando para observar uma vitrine. Apontava como uma criança perto de brinquedos.
-Ah, é dia dos namorados hoje. Nem tinha percebido, -Darien explicou-lhe.
-É mesmo! Ó, Endymion, perdoe-me... Assim que chegar em casa lhe farei um delicioso chocolate. Como posso ter me esquecido de nosso primeiro dia dos namorados juntos!? Você me odeia? Por isso está me olhando assim? –Olhou indecisa para as mãos e suspirou. –O que há comigo? Está me odiando agora, né? Tenho que ir correndo pra casa! –Curvou-se enfaticamente e estava pronta a partir, quando o rapaz a segurou pelo pulso.
-Então, lembrou-se de onde é sua casa? Espera, que eu te acompanharei, não parece muito- – Interrompeu-se ao perceber que lágrimas rolavam dos olhos da garota que caíra de joelhos na calçada.
 
  Olhou para os lados sem saber como proceder naquela situação. A jovem murmurava coisas incompreensíveis, enquanto tentava limpar o rosto todo molhado. Agachou-se e entregou-lhe seu lenço.
 
-Vamos, eu te levarei ao Andrew e ele nos ajudará, -explanou o plano inicial e ajudou-lhe a se levantar.
-Mas quem é você?-perguntou Serena, devolvendo-lhe o lenço e dando um passo para trás.
-O Andrew te conta. –Seguiu em frente, enfim percebendo a cena que fora armada a seu redor com as pessoas andando um pouco mais devagar e curvando o pescoço para tentar descobrir o que acontecia. Se a menina continuasse assim, não demoraria muito para ele ver o Sol nascer quadrado. Ou nem chegaria a vê-lo novamente?
 
  Apertou o passo quando percebeu que ela o acompanhava, já bastante mais calma.
 
-Mais devagar, Endymion...-ela disse, como se perdendo o fôlego.
 
  Darien sacudiu a cabeça tentando se dizer que tudo não passaria de um sonho, só teria de acordar.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-Ah, chegamos!-Serena exclamou ao contemplar o Salão de Jogos Crown, -Andreeeeew!- gritou, entrando aos pulos.
 
  Darien parou um pouco em frente à porta automática tentando entender como ela conseguia se lembrar de seu amigo mesmo com a mente entrando em curto.
 
-Serena! Como está indo? Oh, que houve que vocês dois estão juntos?- O loiro olhou curioso para o casal, arqueando as sobrancelhas. –Milagre do amor?
-Não fale besteiras, -Darien respondeu, mantendo a calma. Já esperava alguma piada sobre aquilo, que de fato era sem precedentes.
-Ah, ele disse que é seu amigo, então viemos juntos aqui!-a loira explicou sorridente para aquele que tratava como a um irmão mais velho.
 
  Andrew admirou-a por um momento e então voltou a vista para o companheiro de faculdade. Várias interrogações o rodeava.
 
-Vim pra perguntar o endereço da Serena. Como vê, este não é seu dia mais saudável...
-Endereço?
-Sim... Depois te explico. –Darien apontou discretamente para a loira, que contemplava os videogames de longe.
-Ah... Serena-chan, por que não vai jogar? Se continuar aqui vai encher a recepção de baba!-o outro disse com um sorriso.
-Mas... –Voltou-se para Darien. –Você vai ficar bravo se eu te abandonar em pleno dia dos namorados, né? Eu já até me esqueci de fazer seu chocolate...
 
  Os dois jovens ficaram a contemplá-la, trocando vez por outra alguns olhares.
 
-Eu sabia! É errado, mesmo... Noutro dia eu jogo.-ela, por fim, respondeu.
-Não! Vá divertir-se, não se preocupe comigo.
-Mesmo!? Obrigada, Endymion!- Aproximou-se e deu-lhe um beijo na bochecha, saindo saltitante até seu jogo favorito.
 
  Mais um minuto de estranho silêncio se passou até que Andrew lembrou-se de como se falava: -O que diabos foi isso?
 
-O endereço. Neste instante!-O moreno estendeu a mão, tentando se esquecer da cena anterior. Todavia, seu rosto permanecia vermelho.
-O negócio é que eu não o tenho...
-COMO ASSIM!?
-Mais alto, cara! Sabe, só o quarteirão inteiro te ouviu.
-Mas como você não tem?
-Bem, eu nunca tive de ir à casa dela ou coisa assim.
-Não conhece ninguém que possa dizê-lo?
-As amigas dela, com certeza! Vivem uma na casa da outra...
-Todas devem estar na escola a esta hora.
-Sei...
 
  Ambos ficaram observando-a enquanto passava uma fase após a outra do jogo de Sailo-V.
 
-Que incomum... Esqueceu-se de tudo, mas tá jogando melhor que nunca!-o amigo comentou. De repente sua expressão mudou. –Tive uma idéia! Por que não passa um tempo com ela... Sabe, pra se divertir um pouco. Quando as aulas terminarem, eu mesmo procuro alguma de suas amigas e te ligo com o endereço. Será mais fácil do que você ter que mostrar o propósito ao vivo, como fez comigo. Serena neste estado é mais que preocupante, é hilário!
-Já vi que no meu enterro você contar sobre este beijo, né?
-E depois também! Pretendo escrever a cena no meu testamento...-falou, rindo-se.
 
  Após se conter um pouco, Darien também o acompanhou. Mesmo assim, sabia que suas bochechas ainda estavam rubras.
 
  Esperou meia hora até se acalmar e criar a coragem de chamá-la. Andrew ainda teve que garantir que o amigo era inofensivo e da maior confiança antes de a loira acompanhá-lo.
 
-Não entendo como ela sempre se esquece de mim... Sou tão insignificante assim?-perguntou ao amigo, enquanto Serena se preparava para ir.
-Ha ha ha ha! Pelo jeito, sim. Mas isto está preste a mudar...-Olhou como se em sua expressão de deboche estivesse escrito que retornava à história do beijo.
-Ah, foi só um beijo na bochecha, nada mais!-disse, quando notou que Serena já o aguardava com sua bolsa na mão.
-Beijo? Chiba-san tem namorada, é?-ela perguntou, com um estranho sorriso.
-Ah, pelo menos aprendeu meu nome... Vamos.
-Certo... Mas ela é bonita?
-Quem?
-Sua namorada...
-Não tenho uma. Olha, aonde quer ir? Tenho todo o dia para gastarmos.
-Mesmo? Porque eu estou morrendo de fome!
-Não está um pouco cedo? Acabamos de tomar café...
-Só um lanchinho.
-Por que não...?-aquiesceu, oferecendo-se para carregar-lhe a bolsa.
-Ah, é sua? Nem sei como veio parar nas minhas mãos...
 
  Aquele seria um longo dia.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Darien mal percebera o tempo passar, quando notou as três da tarde já se aproximavam e Serena continuava com a mesma energia do começo. Passeavam por um parque que ainda estava cinza do inverno e o casaco marrom que ele a emprestara começava a parecer mais vermelho de tão alegre que era sua usuária.
 
-Ande um pouco mais devagar... minhas pernas estão doendo, -falou mais uma vez, torcendo para que não se virasse e lhe perguntasse se precisava de ajuda como se fosse algum velhinho na rua.
-Mas, Endymion! O dia está tão lindo...-falou, dando mais um pulo, -Tudo bem. Que tal comermos algo?!
-Acabamos de fazê-lo.
-Não! A gente se encontrou aqui no parque agorinha mesmo e eu nem lembro se almocei.
 
  Já se acostumara a ser chamado daquele nome. Estranhara no início como combinara com ele próprio. No momento, era capaz de também se chamar assim, ou coisa parecida.
 
  Quando deu por si, a loira já havia corrido de volta à barraca de cachorro-quente de onde acabaram de sair.
 
  Sentaram para comer, de novo. Seu estômago reclamava de tanto que já o fizeram e continuavam fazendo. Contudo, só em olhar para sua companhia dando risos entre as mordidas ficava satisfeito. Estava sendo realmente um belo dia.
 
  Pena que logo Serena acordaria disso e voltariam às discussões usuais. Era tão mais interessante ficar andando por aí com ela.
 
-Ah, o senhor também está comendo cachorro-quente? Está muito gostoso, né?-a jovem exclamou, terminando seu lanche.
 
  Se por um lado o nome inventado lhe caíra bem, por outro, era realmente doloroso quando ela se esquecia tão completamente dele. Nem passarem juntos o dia todo foi capaz de uma só vez lembrar-se direito do rapaz.
 
  O que estaria de errado com ela? Não era febre, gripe, ou algo assim... Seria algo mais terrível!? Como o quê? Desejou ter seguido a carreira médica só por, naquele momento, ter certeza de que tudo estaria bem.
 
-O que é que eu ia fazer mesmo...?-ouviu-a resmungar; ainda não voltara ao estado “Endymion”.
 
  Darien decidiu chamar cada estado por um nome, de acordo com o jeito como ela o tratava. O pior era o atual: João-ninguém. Ele não passava de mais alguém na rua que acontecera de estar ao lado dele. Havia o “amigo do Andrew”, que por algum motivo a estava acompanhando. Era bastante complicado ficar explicando o real, então se divertia inventando os mais bizarros. E, por fim, havia o Endymion. De início, era o mais constante, porém com o passar das horas aparecia menos. Claro, que se incomodava quando ela o abraçava, ou lhe dava a mão para andarem juntos, mas parecia tão amável.
 
  Uma Serena da qual ele sentiria bastante falta depois...
 
-Ah, o Andrew disse que nos encontraria às quatro, né? – Ela levantou-se do banco se espreguiçando após jogar o papel do lanche fora.
-Sim...-respondeu, seguindo-a para onde quer que fosse.
-Estou doida pra vê-lo! Ele é muito gentil... Mas o que queria com a gente mesmo?
-O seu endereço.
-Hã? Mas eu moro na lua, ele não saberia, Endymion. Lembra-se do que mamãe falou sobre não contarmos...- Parou no meio da sentença, como se tentasse se lembrar do que estava falando. Antes que o conseguisse um barulho apitou como se fosse um bip.
-Você tem celular ou coisa assim?-Darien a encarou. Seria uma grande solução dos problemas.
 
  Um novo barulho impediu sua resposta. Pessoas começaram a comentar. Aquele padrão... O moreno tinha certeza de que um youma atacava em algum local próximo.
 
-Eu vou te levar a algum lugar- - Percebeu, então, que ela olhava para um pequeno objeto rosa por onde alguém com voz feminina lhe falava rispidamente.
 
  Ela lhe levantou os olhos e estendeu o artefato: -É seu, senhor? Acho que o deixou cair...
 
  Darien o pegou, sem compreender do que se trataria. Quem fosse que gritara por ali, já havia desligado. Era de um tom claro de rosa e tinha vários símbolos estranhos. Quando voltara a encarar a moça, ela já estava longe.
 
-SERENA! Por aí não, o youma...-tentou avisá-la, mas não lhe respondia pelo nome. Correu atrás, mas ela ia num compasso surpreendentemente rápido. O que pretendia fazer? Suicidar-se?
 
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