Pesadelo escrita por magicath


Capítulo 1
Pesadelo




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As mãos de Ian haviam parado de obedecê-lo. Por mais que tentasse afrouxá-las, elas pareciam ter vida própria e só faziam o contrário do que queria. Mas ele sabia que precisava desesperadamente fazer algo. Era só olhar para a forma humana a sua frente. Forma humana porque ele não sabia definir nada sobre a pessoa. Sua cor de cabelo mudava, seu tamanho mudava, sua idade, seu gênero. Apenas duas coisas continuavam imutáveis: o brilho prateado ao redor de suas pupilas e, principalmente, a expressão de terror, que não mudava apesar das feições não se fixarem.

Era aquela expressão que o destruía. Ele precisava parar. Ele conhecia aquela expressão. Ele amava a dona daquela expressão. E ele não podia fazê-la sofrer. Nunca, jamais.

Mas eram suas mãos que lhe causavam o sofrimento. Elas estavam em volta do pescoço dela e nada que ele tentasse parecia surtir efeito. Ele precisava fazer algo, a pele dela já exibia tons de roxo e seus olhos pareciam prestes a saltar das órbitas.

Então ele começou a gritar. Um som terrível que misturava frustração, desespero e terror. Um som que se prolongou até a pessoa a sua frente sumir e a cena mudar, suas mãos soltas e apenas uma caverna escura como visão. Até que o som sumiu. E veio a dor, depois soluços e lágrimas. Ele não deveria causá-la dor. Ela não deveria sofrer, por que ele a fizera sofrer daquele modo?

Braços enlaçaram seu tronco, que tremia descontroladamente. Em seguida, uma voz melodiosa, que pedia a sua calma. A gentileza que emanava daquele ser era tudo o que ele precisava. Ele a abraçou, afogando-se nas ondas douradas até encontrar seu pescoço. E lá voltou às suas lágrimas, agora apenas com a tristeza que restara daquela cena. Parecia que, apesar dos anos, ele nunca, jamais se perdoaria por ter feito isso um dia. Não importava o quanto ela dissesse que já havia o perdoado. Ele não havia se perdoado.

Não era a primeira vez que ele acordava tão brusca e violentamente. E Peg sabia exatamente o que fazer para acalmá-lo. Foi como se seu corpo já soubesse o que fazer. Na verdade, sabia. Quando ela abriu a boca, as notas saíram suaves e confortáveis, como se fossem seus próprios braços prontos para abraçar Ian.

Em sua nona vida, nunca conhecera muito da música dos humanos. Parecia que Melanie tinha coisas demais em sua cabeça e algo tão alegre quanto música jamais ocuparia espaço em sua vida. Mas as coisas eram diferentes com Pétalas Abertas para a Lua. Ela vivera tempo demais na Terra, na superficialidade da adolescência das Almas. Acabara buscando passatempos alternativos e um dele foi a música. Sua voz era melodiosa e bonita. E ela cantava o tempo inteiro, músicas de todas as épocas e em todas as línguas. Se um dia desistisse dos Humanos, talvez fosse para o Mundo Cantor.

Aquela canção em especial agradava Peg. Ela não sabia bem como a entendia, mas quando as notas se formavam, parecia que tudo ficava claro. Se encaixava bem demais em seus sentimentos. Era em italiano, ela sabia por causa de Pet. Era como uma canção de ninar para Ian.

Ele se acalmava à medida que as palavras fluíam. Só restava o abraço, as manchas de lágrimas nas roupas e no rosto e a trilha de beijos que ele fazia em seu pescoço, como se para compensar as marcas que um dia ele deixara e o ar que ele lhe tirara. E a cada beijo, um pedido: "Perdão", ele dizia tão baixo que ela quase não ouvia. E ela continuava a canção, sabendo que só assim, acalmaria seus corações.

Se guardo il cielo

Io sento che sarai

Incancellabile oramai

Tu non lasciarmi mai

Tu non lasciarmi...


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Notas finais do capítulo

A música se chama Incancellabile, da Laura Pausini.

"Se eu olhar no céu
Sinto que você será
Enfim... inesquecível!
Nunca me deixe!
Não me deixe!"

Caso pareça familiar, Sandy & Junior tem uma versão, Inesquecível.



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