Não tive escolha escrita por Weezzi


Capítulo 1
Capítulo Único - No ritmo daquele olhar.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, sejam bem-vindos a mais uma one-shote. Espero que vocês gostem, que isso não tenha sido um tempo perdido para mim e nem para você. Não gosto de escrever nesse espaço então, vá logo para história, boa leitura.



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Ainda não sei bem o motivo de estar acordado no meio da madrugada escrevendo esse relato. Quem sabe seja a falta de sono e o excesso de pensamentos que não me permitem dormir, porém de uma coisa eu tenho certeza, minha alma anelava tudo isso. Pois talvez fosse uma forma de desabafar e conversar comigo mesmo e assim tentar entender de uma vez essa convulsão dentro de mim.

Recentemente cheguei a um momento da vida na qual meus questionamentos interiores se materializavam tornando-se cada vez mais latentes. Por muito tempo, sempre achei que tivesse controle total sobre a minha vida, no entanto descobri que todo esse domínio era apenas o meu ego crescendo dentro de mim, não me permitindo enxergar verdadeiramente a realidade. Tudo que construi e almejei parecia estar prestes a ruir.

De uma forma totalmente dramatica parecia que o mundo iria recair sobre minha cabeça e que eu ja havia chego ao fim da linha. Não há perdedores e nem vencedores quando se luta pelos dois lados. Tudo isso transpassava como um espelho onde dois reflexos brigavam pela realidade. Desse modo travava um conflito interno de uma guerra diária onde as vontades e os deveres se colocam em cheque submetendo-se um ao outro numa batalha infinita.

Entretanto de alguma forma eu não me surpreendo, pois na infância de algum modo eu já sabia que a vida seria dura e que deixaria marcas vorazes para sempre. Talvez eu quisesse apenas adiar os problemas com medo de enfrentá-los. Por isso, guardava os segredos obscuros insistindo esconde-los nos assoles da Terra próximo aos seus confins. Porque, sempre tive medo do julgamento, de ser condenado réu dos meus próprios defeitos.

Toda essa relação se apresenta abstrata aos olhos do mundo, tendo em vista que é difícil explicar e impossível entender, o paradoxo de uma simplicidade confusa. As incertezas são inevitáveis, já que tudo parece virar uma questão consequencialista num redemoinho complexo sem respostas.

Tudo começou numa tarde de verão, enquanto eu e um amigo Kevin, íamos andando até o centro do bairro, na volta decidimos passar por uma lanchonete em que um dos seus amigos trabalhava. Quando chegamos lá, o local era até que bem limpo e organizado, no momento em que ambos se viram eles se cumprimentaram, falaram resumidamente sobre os acontecimentos de suas vidas, enquanto eu apenas estava lá como presença, todavia de algum modo o garoto sentiu que eu estava ”sobrando“ e resolveu me incluir na conversa, até que foi uma conversa divertida, levando em consideração meu instinto pessimista para levar a vida.

Depois de comermos, satisfazermos a fome e após algumas horas de conversa, decidimos partir, junto com um convite sobre a festa de aniversário do menino que mal acabei de conhecer. Uma semana se passou e fui novamente alertado da comemoração, relutei por algum tempo até ser quase intimado a ir. Não gosto muito de festas, talvez pelo simples fato de não saber aproveitá-las. Descobri alguns segundos antes da festa que o nome do garoto da lanchonete era Henri e de que o evento ocorreria na sua casa. O som eclodia na esquina e a festa já havia bastantes pessoas, algumas fazendo coisas da quais preferia apagar da minha mente e por um momento pensei, o que eu estou fazendo aqui?

Sobretudo, fomos até o anfitrião, ele disse que estava tudo liberado e que era para aproveitar como quisessemos, pois os garotos com quem ele morava haviam viajado para visitar os parentes, achei uma loucura, mas já percebi que normalmente meu destino se atrai a essas pessoas loucas. Após algum tempo, todos os meus conhecidos haviam desaparecido e eu estava lá sentando no sofá fingindo curtir a música ou coisa assim. Pensei por muitas vezes sair dali, mas estávamos em um bairro distante de casa e eu não tinha dinheiro para voltar para casa.

Depois de um entediante momento o aniversariante apareceu, com um copo de bebida nas mãos. Olhou para mim e sentou-se ao meu lado. Ele inicialmente perguntou se eu não estava gostando da festa, porque estava sentado sem fazer absolutamente nada. Tentei explicar toda a minha situação sobre festas e de certa forma ele entendeu e assim introduzimos um assunto, ele disse que em festa gostava mais de ver as pessoas se divertindo do que ele mesmo, porque uma festa por bem ou por mal, são feitas muita das vezes para os convidados.

O inacreditável aconteceu e parece que um assunto se arrastou no outro e ficamos conversando por quase toda a festa, chegamos a falar até mesmo de coisas mais intimas da vida pessoal e então pude concluir que ele era um cara legal. No entanto depois de alguns goles o bafo de bebida começou a se impregnar e era hora dele parar. O efeito do álcool começou a agir e ele se tornou um bêbado meloso e essa foi à hora dele se abrir e contar sobre seus problemas.

Algumas histórias eram até engraçadas, já outras eu torcia para que acabasse de uma vez. Quando a festa finalmente acabou, encontrei Kevin que dizia ter beijado mais de quatro garotas por ai, por sorte ele não ingere bebidas alcoólicas e então voltamos tranquilamente para casa de metrô e de preferência quietos, não aguentava mais ouvir histórias.

Algumas semanas depois voltamos à lanchonete e dessa vez eu participava de todo assunto, sinto que Kevin ficou feliz de ter os dois amigos reunidos agora como um grupo. No entanto as férias estavam acabando e todos esses encontros também. Algumas semanas depois eu recebo uma nova mensagem de um número desconhecido, descubro então que era o Henri ele estava me convidando para um show que ele ia com Kevin, entretanto ele não poderia ir. Show! Outro lugar que eu não costumo a ir e não sou um completo amante, contudo como as férias estavam acabando e Henri e eu já éramos amigos, decidi aceitar o convite.

No dia do show Henri pediu para que o encontrasse num lugar para uma carona, ele era o mais velho de todos nós, já era habilitado e vinha de família rica, acho que de certo modo isso influenciou muito no que ele é hoje, não necessariamente por aspectos negativos. Alguns dias antes de irmos, eu escutei alguma das músicas da banda para que eu pudesse no mínimo me manter informado sobre tudo o que iria acontecer.

Quando chegamos ao local, a primeira canção eu já não a conhecia, porém era com se Henri entrasse em estado de êxtase escutando aquela música. Passaram-se mais algumas até escutar alguma conhecida, ela era bem agitada e por um momento eu entrei na loucura junto com a multidão. Novamente mais algumas, até tocar outra música que conhecia, todavia essa era lenta e dava para acompanhar a letra. Por um instante pareceu que toda a platéia se acalmou e aproveitava o momento junto ao ritmo. Às pessoas cansadas começavam a sentar-se no chão, e com isso fizemos o mesmo. Ao ver que eu estava cantando, Henri começou a cantar junto e parecíamos dois loucos ali simplesmente cantando.

Nesse instante eu não sei descrever bem o que aconteceu. A visão pareceu ficar recaída num olhar mais leve e os músculos relaxados; senti a mão de Henri perpassar o meu pescoço e como um magnetismo nossos corpos foram se envolvendo em um beijo inexplicável.

Daí retoma as minhas dúvidas, o que foi aquilo? Por que tudo isso aconteceu? Não era para acontecer. Entretanto, foi tão bom, uma mistura proibida intensa de calor humano. Queria parar o tempo naquele momento para eternidade. Por outro lado, depois que tudo aquilo acabou, e até mesmo depois de ir embora, me sentia sujo e errado, condenado aos piores adjetivos. Como as coisas podiam ser tão contraditórias.

Eu não sou gay, ou pelo menos eu não quero ser, sempre ignorei esse meu lado porque o mundo diz ser errado, e por um lado eu vivo nele. Para mim tudo aquilo que aconteceu foi apenas um simples incidente, mas também algo dentro de mim não podia jamais negar o fato de que aquilo aconteceu. Os sentimentos, os olhares e os desejos ja previam o futuro desde criança daquilo que eu por muito tempo eu tentei me recusar a ser.

Não me lembro da última vez que pude ser eu mesmo, que estive vivo dentro de meu próprio corpo. Vivo então, numa peça de teatro interpretando um personagem que eu não escolhi protagonizar, mas que de alguma forma se tronou o meu eu. Vagava então em uma ilusão sem fim, enganado a mim mesmo e a todos ao meu redor.

Minha familia, amigos, tudo isso de uma forma ou de outra iriam passar por uma mudança inevitável. Esse meu trauma me diminuia, tornando-me culpado da minha própria existência. Sintia que ninguém era o obrigado a conviver com os meus defeitos. Então, de alguma forma eu me acostumei a viver para eles e não por mim, porque os amava e tinha medo de perde-los. Por isso, Não posso me dar ao luxo das minhas vontades.

Covarde? Talvez, pode ser, mas poucos entendem definitivamente o sentimento. Bom, depois do show as coisas começaram a ficar meio estranhas entre eu e Henri. No inicio, ficamos sem se falar por um tempo até que a paixão era tão intensa que arrumamos uma espécie de namoro as escuras, mas me sentia um traidor, como se eu estivesse omitindo e enganando a todos. Criei um personagem e as pessoas não me conheciam mais. Foi então, que pelo fato de eu não tomar nenhuma posição que deixei Henri ir, ele não podia ficar preso a mim como um objeto a ser escondido, ele merecia alguém melhor do que eu.

Talvez poucos entende a dor, as noites inteiras de insônia e choro, as vontades loucas e impulsivas que não há como controlar e por fim a saudade que ficará para sempre de um caso mal resolvido. A solução parece óbvia, porém não é tão fácil assim, pois o ser humano nunca está satisfeito com as coisas. Sendo assim, eu fiz uma escolha e quem sabe o arrependimento me corrói-se até a minha morte.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Não esqueça de deixar seu comentário, crítica, elogio ou qualquer coisa do tipo. Se vocês gostaram favorite, recomendem aos amigos, então é isso um beijo e abraço até.