Will £ Peter escrita por WellThatsUnfortunate


Capítulo 1
Uma doce mudança em nossa relação...


Notas iniciais do capítulo

Eu, inicialmente, planejei isso como um treino para histórias maiores de amor, e, basicamente, sou uma pessoa um tanto preguiçosa... Então, se esse for o único capítulo, provavelmente é porque resolvi que não queria continuar a história - que aí seria um fim melhor, ou algo assim.
Mas deixo as oportunidades abertas para a sua imaginação, se isso acontecer!



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- Stop it, Peter! - Will disse, com a voz meio abalada, referindo-se à trapaça que seu amigo realizava na brincadeira. Peter, então, perguntou com o que parar. “Não sei do que você está falando”, disse com um falsete na voz, deixando claro que era uma piada, e soltando uma risada, que soou forçada, mas era natural.

Eu paro, ele afirmou. Mas ainda quer jogar?, perguntou, logo antes de rir alto novamente.

Will suspirou. Ele deveria saber, que jogar Stop não daria certo, não com Peter, uma vez que ele não costumava levar brincadeiras assim muito a sério, além de odiar perder. Ele era um amigo bem... Interessante. Na aparência, um tanto sedutor, alto, magro, com cabelos castanhos claros encaracolados e olhos, da mesma cor, profundamente hipnotizantes. Em personalidade, contudo, era, em conceitos gerais, esquisito: ele achava graça em momentos onde várias pessoas não achavam, naqueles que envolvem desgraça alheia. Além disso, agia, na maior parte do tempo como algum tipo de sádico, e aparentava ser alguém parcialmente insano, ensandecido.

Peter não tinha muitos amigos, porque... Né? Mas Will e ele se davam bem. Uma vez que esse primeiro possuía uma falta de animação e uma personalidade antissocial, não conversava direito com pessoas, mas acabara se aproximando de Peter. Nos primeiros momentos, um não queria muita coisa com o outro, evitando-se. Porém, a tensão de ambos com o resto de seus colegas acabou unindo-os, de certa forma, e ultimamente eles se tratam como amigos normais. Continuavam sendo humanos comuns, afinal. Precisavam de amigos.

Will rejeitou a proposta de recomeçar o jogo. Era bem capaz que Peter continuasse olhando a sua folha, ou escrevendo após seu companheiro falando “Stop!”, de modo que era necessária a repetição da palavra.

Peter realmente estragava o jogo, mas não era algo com que seu amigo se importasse. Estavam convivendo juntos há cinco anos, e sua maneira de ser já tinha sido aceita. A possibilidade de trapaça fora uma suspeita, porém ignorada.

- Então vamos fazer o que? - Will ouviu a pergunta ser feita, e lamentou não possuir uma resposta muito exata para ela. Se sentia um tanto idiota quando não tinha muito a sugerir em momentos vagos.

Deu uma rápida olhada para o relógio. Eram cinco e doze, e Peter chegara à sua casa a aproximadamente uma hora atrás. Disse, então, que estava com fome, e perguntou se seu colega queria um lanche. “Ah, o que tem para comer? Tem bolo? Estou com uma vontade de comer bolo... Ou brigadeiro, vamos fazer brigadeiro?”

Com um sorriso, Will admitiu que estava pensando em algo extremamente simples – mais que brigadeiro –, como um pão com requeijão. Mas aceitou a possibilidade de cozinhar brigadeiro, afinal, era só leite condensado com manteiga e chocolate em pó. Nada difícil.

Ao ouvir sua resposta, Peter praticamente arrastou-o para a cozinha, de forma rápida, enquanto contava que, atualmente, estava basicamente vivendo de comida de restaurante, como seus pais não tinham muito tempo livres para cozinhar. Mal esperava para comer algo tão comum e caseiro.

Will teve que rir ao ouvir o “Eu vou comer comida de casa...!” ansioso de Peter. Talvez ele tivesse seu lado... Maníaco, mas era alguém tão descontraído com quem conhecia. E, além disso, era engraçado e simpático, só não conseguia demonstrar essas suas características com desconhecidos. O típico tipo de pessoa tímida com estranhos, mas totalmente diferente com quem se socializa.

Will realmente tentava se espelhar em Peter, quando se tratavam dessas características. Ele também não falava com pessoas que realmente não se esforçavam para manter uma conversa, contudo não sabia dizer se era tão aberto com seu amigo quanto ele era consigo. Não podia afirmar que era uma companhia muito boa, pois temia que fosse mentira.

- Do que que eu estou pensando!? Eu sou hilariante... - ele sussurou, baixo. Peter encarou-o com um olhar confuso, já com a panela na mão, para cozinhar o brigadeiro. “Nada não, Peter. Achei que você já tinha se acostumado”, Will disse, referindo-se à sua mania de falar sozinho. Ele vivia deixando frases escaparem em voz baixa e puxando diálogos com a sua pessoa.

- Eu também achei. - respondeu seu amigo, soltando mais uma risada escandalosa. - Já pegou os ingredientes?

Will respondeu que não, entretanto não era algo que demorasse. Velozmente, separou todos os componentes, e os botou em cima da mesa, enquanto Peter esvaziava a lata de leite condensado na panela, e ligava o fogão.

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Thinking that I'm gonna break your heart... Think that I'm gonna break your heart. - a música continuava a tocar, Will a tinha colocado para animar o momento: que tipo de atividade não torna-se mais amena quando há uma trilha sonora acompanhando-a?

“Música de amor?” Peter fez a gentileza de apontar, em um tom criticamente ruim; porém o comentário foi ignorado. As músicas que foram baixadas no celular de seu amigo não eram más, e, além disso, ele não se importava com a preferência musical de seu amigo – se estava com uma melodia em sua cabeça e necessitava ouvi-la, então ela teria que ser aturada.

Will não verbalizava a letra da música, devido à sua falta de dotes musicais, mas acompanhava-a mentalmente enquanto observava a comida parcialmente cozinhada na panela. A playlist que tocava era a de He is We, uma banda de músicas, principalmente, românticas e tristes, que ele costumava ouvir quando não procurava um som animado.

Nessa situação, não havia muito motivo para que essa banda fosse ouvida, porém Will desejava escutá-la, uma vez que se sentia calmo quando o fazia.

- Pronto!, o brigadeiro ficou pronto. - anunciou Peter, apagando o fogo, movendo-se para pegar uma colher. Sabendo, então, que seu amigo iria tirar proveito da maior parte do lanche, Will apressou-se a apanhar um talher, também, contudo decidiu ceder a maioria da comida para sua companhia.

Provavelmente, não acabaria nem com um quarto da comida, uma vez que a considerava muito doce, entretanto Peter não aparentava possuir o mesmo problema. Aquele garoto era uma figura... Ele era tão valorizado por seu colega, uma vez que era uma das poucas pessoas que conseguiam deixá-lo alegre facilmente, além de ser pouco sádico com seu amigo, o que fazia sua relação parecer um tanto especial – já que, normalmente, ele mal se importa com o estado emocional humano.

Nenhum dos dois utilizou muita louça para degustar do alimento, como não se importaram de botá-lo em vasilhas separadas. Não, comeram-no na panela mesmo.

Enquanto a música tocada trocava de “L-l-love” para “Blame it on the Rain”, Peter decidiu trocá-la – agarrou o celular de Will e começou a procurar uma nova, enquanto deixava uma oportunidade de ouro se seu amigo desejava saborear da comida.

A nova canção era “Playing god”, do Paramore, uma boa. A dupla começou a deslocar-se para o quarto de Will, na procura de uma nova coisa a se fazer: provavelmente um assunto irrelevante e extremamente aleatório que acabaria puxando uma conversa.

Chegando lá, ainda sem a resolução de como prosseguir com a diversão, o proprietário do cômodo deitou-se em sua cama, enquanto seu companheiro dirigiu-se para uma cadeira. O quarto não era lá decorado, e quase não possuía brinquedos ou... coisas de criança. Estava cheio de livros: arrumados nas estantes, certas pilhas nas mesas, as coleções enchiam o lugar de maravilhas.

Uma pergunta repentina cortou um silêncio que se estabelecera: “Caramba... Eu nunca sei como guardar um desses”, disse Peter, notando um elástico solto em cima da mesa, ao lado de uma pasta cheia de folhas. “Não sei se boto-os num plástico, numa caixa... Então normalmente os deixo espalhado pela minha mesa mesmo.”

Will admitiu – era um mistério onde se guardavam aquelas coisas. “Talvez numa caixa com divisórias...? Ou numa caixinha pequena, como aquelas de anel?” Sorrindo, pensava se aquele pequeno diálogo estenderia-se em uma grande conversa, embora soubesse que, possivelmente, pararia por ali mesmo.

A suspeita mais pessimista se confirmou ao restabelecer-se a quietude. Não haviam mais falas, e os garotos começaram a encarar-se – Will, com um olhar calmo, contudo Peter tinha uma expressão que deixava a pensar que ele imaginava a cabeça de quem olhava abrindo-se, como um corte de faca.

- Não me encara assim! - ouviu-se, após um tempo a sentença, que proveio de Will. Aquele olhar já estava começando a espantá-lo. Um riso preencheu o ar, e o convidado desviou seu olhar, passando a ter uma visão privilegiada da mesa do quarto, que, no momento, só possuía alguns livros, a pasta de Will, onde ele guardava as histórias que escrevia, e um elástico solto.

Will observou Peter esticar o braço e apanhar a pasta, que ele ainda não sabia o que guardava. Normalmente, ele não deixava ninguém ler o que escrevia – seus escritos (principalmente histórias pela metade e crônicas) são, na maioria, sigilosos.

Dessa vez, porém, não se importou muito com a curiosidade de Peter. Talvez o brigadeiro tivesse acalmado-o a esse ponto, talvez simplesmente quisesse se abrir mais com seu amigo, mas deixou-o abrir e folhear os papéis ali contidos.

Will sentiu uma certa hesitação de Peter, ao perceber que era uma pasta com histórias, já que ele estava acostumado a ser... Atacado quando procurava lê-las. Todavia, ao notar que tinha permissão para ler algo – além de estranhar –, resolveu aproveitar a oportunidade.

Com uma voz alta, como uma última dica de que estava acompanhando um texto antes de realmente lê-lo, começou a ditar as palavras escritas, no caso de Will querer pará-lo de última hora. O tom de sua voz era como um pedido de permissão, mesmo sabendo que já a tinha.

Observo, impotente, meu cliente sair pela porta, sem levar nada.

Fez uma pausa ao terminar a frase, mas, sem objeções, recomeçou a ler:

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Observo, impotente, meu cliente sair pela porta, sem levar nada. Aquilo, definitivamente, não podia continuar assim. Eu vivo da produção e venda de pipas. Essa loja é o que produz meu dinheiro, e, se ninguém comprasse nada nos próximos... Cinco? minutos, cinco dias estarão completos, e eu não terei vendido nada neles.

Sentado na minha cadeira, atrás do balcão, não sei o que fazer. Se meus negócios continuarem andando por esse caminho, estarei falido. Quando eu era criança, todo mundo tinha uma pipa, mas ultimamente... “Pipa? Que coisa mais milênio passado!”

Não conseguirei me sustentar se meus negócios continuarem desse jeito. Acho que, atualmente, ninguém liga mais para o que a minha geração ligava. Bonecas de pano, bolas de gude, cavalos de pau, meus filhos e amigos de infância, ficaram ultrapassados.

Creio que, nesses tempos, as pessoas pararam de se matar por brinquedos feitos em casa, e começaram a caçar coisas mais... Modernas: smartphones, laptops, televisões... Essa dependência tecnológica me deixa louco! Me lembro de quando o rádio foi lançado, e achei que não precisaria dele... Ha! Como estava enganado...

Claro que aparelhos assim tornaram-se revolucionários. Facilitam nossas vidas, quem não quer? O que me deixa ensandecido, mesmo, é a substituição de coisas velhas. Os brinquedos clássicos não interagem com a tecnologia.

E isso dificulta minha vida, atrapalha meus negócios. Pipas não convivem com os novos aparelhos. E, com o consumismo, isso se tornou horrível. Os objetos que vendo são uma maneira mais barata e prática de achar diversão; por que, então, trocam-nos por algo mais... Né?

As minhas companheiras estão empoeirando. Ah, já se passaram cinco minutos. Está na hora de fechar.

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Agora, relendo-o, Will se lembrava vagamente daquela história – fora escrita na metade do ano passado, durante uma aula de produção de texto, sobre crônicas. Normalmente, ele reescrevia o que já tinha escrito, procurando melhorar tudo, porém não estava certo se já remodelara essas palavras.

“Então, o que achou?”, perguntou, interessado na opinião do amigo, esperando uma crítica. Às vezes, não sabia o que pensar dos próprios escritos, e não tinha certeza se o público gostaria deles – esse era um dos motivos pelos quais não compartilhava os textos, o segundo, porque era um tanto fechado e sozinho, mesmo.

- Interessante. - Peter respondeu, após um tempo, de um modo que angustiou o autor, porque essa palavra é um tanto relativa. Significa várias outras, boas, como “entusiasmante”, “cativante”, “sedutor”, mas ruins também, como “exagerado”, “esquisito”, entre outras. - Eu, pessoalmente, gostei.

Com um sorriso, Will agradeçeu. Verdadeiramente, os comentários de seu colega importavam muito para ele.

Peter, após um instante, fechou a pasta e recolocou-a encima da mesa. O que o amigo escrevia... Considerava admirável. Do que lhe era permitido ler, ele saboreava, com prazer – os roteiros, engraçados e envolventes, que, em certos casos, geravam reflexões, o vocabulário extenso, as personagens bastante realísticas, era impressionante.

Com um movimento de pernas, fez uso das rodinhas acopladas na cadeira onde estava – empurrou-se para longe da mesa, deslizando pelo quarto em direção à cama, onde Will estava acomodado. O garoto, deitado e ocupando o colchão inteiro, mudou sua posição, gentilmente abrindo espaço para Peter enquanto sentava-se.

Inicialmente, ao movimentar-se, Peter queria somente evitar que um clima monótono instalasse-se no quarto, entende, se movimentar-se um pouco agitaria o ambiente. Porém, agora, com o gesto do companheiro, refletiu: não seria a pior coisa menos animação e mais calmaria. Passar algum tempo, deliciando-se com um brigadeiro, ao lado do amigo alto, com estupenda capacidade de escrita e relativamente bonito, pequenos cabelos pretos e olhos castanhos escuros...

Transferiu-se para a cama, pegando uma parte do doce no processo. Enquanto provava-o, notou, soltando um sorriso engraçado, que a música, uma vez no modo aleatório, já voltara a ser de amor – lembrava de quando ouvira-a pela primeira vez, também do celular de Will, e perguntou o que era aquilo, referindo-se a “When you look me in the eyes”, a melodia. Sabia que o amigo ouvia várias coisas sobre amor, mas... Jonas Brothers? E Will respondera: “Aquilo é uma das mais românticas músicas que eu conheço”.

Na hora, sentira uma repulsa, achando-a melosa demais, porém, agora, considerava-a um detalhe realmente adorável no ambiente.

Mantiveram-se naquela situação por alguns instantes. Nem Peter, nem Will, eram bons em socializar-se, e não possuíam, necessariamente, a capacidade de puxar assunto. Porém, esse último esforçou-se um pouco para iniciar uma conversa:

- Então... Você já... Viu...? O novo filme no cinema. - tentou, citando algo que as pessoas faziam normalmente. Em mente, não possuía nenhum filme específico: sem detalhar, eram maiores as probabilidades de um diálogo.

Percebeu, imediatamente, que Peter percebeu suas hesitações na pergunta, que não foram verdadeiramente disfarçadas na hora da questão. A risada que ele soltou foi, de algum modo, agradável, mas, principalmente, repugnante, já que zombava o talento de Will de arranjar tópicos para uma conversa.

Will grunhiu. Normalmente, quando sente-se desagradado, costuma fazer o que faz com o objetivo de afastar-se parcialmente de algo e/ou mudar sua direção: levanta e dirige-se para a cozinha, com a desculpa de que precisa beber água. Porém, naquela postura, já confortavelmente acomodado com o doce, não desejava levantar, então simplesmente ignorou Peter.

Por aproximadamente dois minutos, não trocaram palavra alguma, sem saber do que falar, até que Peter optou pela mesma estratégia que Will: “Quero um pouco de água”, pondo-se a andar. Seu amigo resolveu segui-lo, oferecendo, no lugar da água, suco de maracujá, sabendo que era o seu preferido.

Eis um problema: o gosto de maracujá combinaria com o do brigadeiro? Sem certeza, continuou com a ideia da água, educadamente rejeitando a proposta. Empreguiçado, manteve-se na cozinha mesmo, sentando-se em um banco e espreguiçando-se sobre a mesa, e Will, embora preferisse voltar para o seu quarto, contentou-se com a cadeira ao lado de seu amigo.

- Que filme? - Peter aceitou o assunto que tentaram puxar. - Aquela comédia romântica, do grupo de escritores? - perguntou, referindo-se a um que lançara à anos atrás, e, na atualidade, não estava no cinema, mas que fora o único filme que conseguiu pensar.

Will encarou-o por uma fração de minuto, até perceber que estava falando do filme que assistiram semana passada, juntos, já que passara na televisão. “Ah, eu achei razoável, não foi lá algo muito... Realístico.”, Will disse. “Quer dizer, todos os escritores que nele apareceram eram um tanto bonitos.”

Peter riu, da tentativa do amigo de ser engraçado, brincando com o próprio nível de beleza. E, logo em seguida, respondeu:

- Como todos os que eu conheço... - o objetivo da frase era aumentar o autoestima do colega, já que sabia que ele podia ser bastante baixo às vezes. Porém, quando proferiu-a, percebeu o quão diferente poderia ser interpretada.

Não que ele se importasse muito com a outra interpretação...

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E Will não sabia como sentir-se. Enrubescera, no mesmo momento em que recebera aquele elogio, e desviara o olhar para que Peter não notasse, virando-se para a parede. Aquilo que ele ouvira não era o que pareceu. Uma piada, talvez – sabia que o amigo divertiria-se deixando-o envergonhado. Ou a frase não deveria soar de tal forma: não possuía essa intenção.

Quer dizer, ele poderia acostumar-se com demonstrações de afeição parecidas com essa, mas... aquela pegou-o desprevenido. E, proveniente de Peter, permitiu-o sonhar por alguns instantes, até pensar racionalmente. Sentia um afeto por seu amigo, um maior que o nível comum, e, frequentemente, desejava evidenciá-lo, contudo sabia que o sentimento não era correspondido.

Nesse caso, temia a emoção. Algo de tais proporções, ao ser revelado, remodelaria imensamente a relação dos dois: querendo afastá-lo, Will estava certo que Peter distanciaria-se. E agora...

Peter mexeu-se, a cabeça. Quando ela recostou-se no ombro de Will, este se arrepiou. Ele se sentiu como se fosse uma deixa do Universo, como se Peter estivesse pedindo para ser acariciado. Conteve-se. Mas inclinou, também, a sua cabeça, deixando-a reclinada sobre a do amigo.

Inusitadamente, a atitude foi tomada pela companhia: Peter remexeu-se, botando-se na frente de sua paixonite e encostando suas bocas, uma na outra.

E, francamente, ele não fazia ideia de como realizar o que queria. O que planejara era que suas caras encostassem de leve e um beijo esplêndido. Entretanto, com sinceridade, ele acabara cabeceando Will, e, improvisadamente, fingiu que assim era como deveria acontecer – quase como você cai, encima da cama, e age como se quisesse se deitar. Só que numa situação mais humilhante.

Após isso, Peter invadiu a boca do outro com sua língua, e, embora tenha apreciado o gesto romântico e o gosto doce, proveniente do brigadeiro, não pôde evitar sentir-se um tanto estúpido, uma vez que não sabia o ponto de enroscar suas línguas... Era realmente prazeroso, todavia ridículo e parcialmente escruciante, também.

Era esquisito, e a sensação, em toda a sua majestude, era indescritível. Então essa é a sensação de um beijo de língua?

Desuniu suas bocas e afastou sua cabeça. Agora que o fizera, estava feito, mas a tendência de Peter foi desaparecer – isto é, depois de ficar fitando profundamente os olhos castanhos escuros de Will.

O que foi que ele fizera? Ele acabara de desmoronar praticamente o único bom relacionamento que tinha com adolescentes... Em uma ação. Sentia a inquietude do amigo, era claro que ele estava perplexo com o ato, e não sentia o mesmo, e começaria a agir de forma esquisita, e distanciar-se, e...

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Will já vira aquela cena em filmes diversas vezes – e não só neles, em livros, crônicas em jornais e em seus próprios escritos também: a personagem não consegue iniciar, ou terminar, uma fala, e isso gera um mal-entendido que destrói relacionamentos (ou, em cenas de ação, a cidade). E, sempre que a via, enchia-se de raiva, afinal, não é tão complexo assim finalizar uma frase.

Entretanto, era exatamente isso que estava acontecendo com ele. De um modo dramático, conseguia somente observar Peter, remexendo-se, embaraçado, revirando suas mãos, desviando o olhar. E ele, esforçando-se excessivamente para pronunciar algo, sem conseguir, com as palavras presas na sua garganta.

- Peter... - realizou a conquista de dizer esse nome após engolir em seco. Ele, mesmo escrevendo tantas coisas, acostumado a relatá-las, não encontrava o vocábulo correto para descrever o que queria, o que sentira.

Assim sendo, resolveu deixar com que suas ações dissessem tudo por si. Esticou o braço, agarrando a camisa de seu amigo. Ou namorado. Que quer que fosse agora, puxou-o, forçando-o a se aproximar.

E tascou-lhe mais um beijo.


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Notas finais do capítulo

- Ei, o seu pai é padeiro? - Peter perguntou, enquanto delicadamente passava o braço por trás de Will e apoiava sua mão no ombro do namorado. - Porque você é um sonho...
E, enquanto revirava os olhos, Will riu da brincadeira, aproveitando que estava sendo abraçado para encostar sua cabeça no ombro do paquera. Mesmo que, devido à falta de bancos na varanda, estivesse desconfortavelmente sentado no chão, apreciava o tempo ali – a vista da varanda do prédio era, de fato, bela: conseguia observar o parque municipal, arborizado e com um lago cristalino no meio. Além disso, estar com Peter tornava o momento completamente satisfatório.
Duas dúzias de minutos depois do início do namoro, deslocaram-se para a varanda, usufruindo do cenário e do clima romântico que instalara-se no ambiente.
- Você é feito de Sucrilhos? - indagou, de volta, continuando a brincadeira que começaram, sobre cantadas. - É que você desperta o tigre dentro de mim. - sempre procurava as mais criativas, enquanto o parceiro normalmente citava alguma quanto ao seu pai.
E eram umas piores que as outras, o que, consequentemente, divertia ambos os adolescentes, e romantizava sua relação. Os dois tinham sorrisos bestas no rosto, alegres, e mantinham-se próximos, Will remexendo os cabelos castanhos e cacheados de Peter, esse abraçando-o na altura dos ombros.
“O seu pai é agricultor?”, ouviu o namorado pronunciar, um pequeno riso no meio. “Porque você é um chuchuzinho”, ele disse, fazendo uso de uma gíria antiga. Will, antigamente, já tinha perguntado-se como seria namorar alguém, e sempre achou que seria algo esquisito, inicialmente. Imaginara que estranharia a mudança repentina no modo de agir com o outro, e que ela seria drástica. Achava que não saberia como comportar-se no princípio, e que encontraria várias falhas em como faria-o. Mas agora, realmente ficando com Peter, estava óbvio que os dois envolvidos aprovavam suas atitudes.
Peter, por alguns instantes, ouviu somente o barulho do vento, já que sua companhia estava calada, provavelmente pensando no que falar. Então, ela levantou sua cabeça e, virando-a, fitou seus olhos.
- Me diz: você é quadrado? - perguntou Will, soltando um meio sorriso, que, durante a resposta concedida (“Não, ué”), manteve-se na sua cara. - Então rola, né? - Ao proferir essa frase, fez um movimento com as sobrancelhas, ironizando o movimento que várias pessoas, inclusive ele, consideram sedutor , no momento.
E, mais uma vez naquele dia, caíram na gargalhada.



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