— Acho que essa era a última. – Digo aliviada e olho para a minha irmã que está carregado uma caixa de papelão para dentro da minha nova moradia.

Kelly larga a caixa na minha futura sala de estar e cruza os braços na frente de seus seios enquanto olha em volta.

Sei que ela só faz isso quando algo a está incomodando, então me aproximo e viro seu rosto em minha direção, quando percebo que ela está evitando me olhar nos olhos.

— O que houve? – questiono preocupada.

— Nada. – Suspira longamente. — Só vou sentir sua falta, Mari. – Kelly faz um pequeno biquinho com os lábios e vejo algumas lágrimas se acumularem em seus olhos.

— Hey, não chore! – peço e a puxo para um abraço. — Eu também vou sentir muito sua falta, tampinha.

Kelly ri ao ouvir seu apelido e funga se afastando dos meus braços.

— É melhor eu ir, antes que eu perca o ônibus. – diz secando as lágrimas na manga da sua blusa.

— Eu te levo de carro.

— Não precisa, vou me encontrar com uma amiga no shopping. – recusa e vai atrás do seu casaco.

Levo ela até a porta lhe dando um último abraço e depois de eu prometer dez vezes que iria ligar todos os dias, ela foi embora.

Olho para a rua e me sento no degrau da minha varanda para olhar o movimento. Se bem que a minha rua não é muito movimentada, a não ser pelas crianças que corriam de um lado para o outro. Podia se dizer que aquele bairro era mais para famílias.

Uma ironia para alguém que quis fugir da sua.

Minha família é ótima, não me entenda mal, mas meus pais são do tipo protetor, só que excessivamente.

Então, assim que eu me formei no ensino médio, consegui uma bolsa para a faculdade e um emprego de meio turno, eu decidi me mudar e sair de baixo das asas dos meus pais.

Sempre fui alguém que é considerada mais velha para a sua idade, então responsabilidade e compromisso são meus sobrenomes. Tudo o que se é preciso para ir morar sozinha.

A única coisa que me fez pensar duas vezes antes de me mudar definitivamente, foi Kelly, minha irmã de 15 anos.

Kelly e eu sempre cuidamos uma a outra, nossa ligação é quase inexplicável. Mas ela consegue lidar com a super proteção dos meus pais melhor do que eu. O que eu considero um dom que Deus deu a ela...

Sou tirada dos meus pensamentos quando escuto a porta da casa ao lado se abrir. Ergo meus olhos naquela direção e vejo um rapaz alto, forte e de cabelos castanhos sair, e outro loiro ainda mais bonito sair atrás dele.

— Olha, cara! Acho que você tem uma vizinha nova. – O moreno fala e os dois olham na minha direção. — E que é gostosa, mas tem cara de nerd.

O moreno faz careta ao pronunciar a palavra “nerd”, como se fosse uma ofensa. Não duvido que algo inteligente seja uma ofensa para ele.

Levanto do chão, dividida em se eu estou ofendida pelo gostosa ou nerd. Ou ambos.

— E que não é surda também, otário! – O moreno se assusta quando percebe que eu estava escutando e o loiro ao seu lado revira os olhos, mas lança um olhar de desculpas na minha direção.

Antes que algum dos dois fale alguma coisa, eu entro dentro de casa e encaro as pilhas e pilhas de caixas que eu tenho que desempacotar.

As palavras do moreno não saia da minha mente. Eu sei que normalmente as pessoas não se ofendem ao serem chamadas de “gostosas”, mas para mim parece ser algo vulgar. Ou talvez eu que seja antiquada demais.

Logo o pedido de desculpas silencioso do loiro toma lugar nos meus pensamentos, e lembro o quanto o seus olhos eram expressivos e fáceis de ler.

Chacoalho a cabeça tentando tirar os olhos dele da minha mente.

— Nem pensar! Você tem milhares de caixas para desempacotar, então pare de ficar pensando em coisas aleias.

Principalmente se for um par de olhos cor de mel super expressivos...