Filha da Noite escrita por Matthew Smith


Capítulo 1
I never wanted to say goodbye I


Notas iniciais do capítulo

Essa é a primeira parte do flashback que conta como a morena perdeu o seu irmão e eu tenho um carinho muito grande por esse POV. Espero que gostem.



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Adam tinha os cabelos negros e a pele macia, não tão pálida quanto a minha, mas definitivamente, esbranquiçada. Eu tinha apenas onze anos e já o amava com a convicção de que nada no mundo poderia ser mais forte que meu sentimento. O frio abraçava a parte da minha pele que não era coberta pelo grande casaco de lã da mamãe, enquanto meus braços enroscavam-se no pescoço dele, sendo carregada para longe de casa, após mais uma discussão. Era possível ouvir a respiração descompassada do meu irmão, o sangue borbulhando, ele estava com raiva e eu sabia que ele estava batalhando internamente para manter o controle e não transformar-se bem ali. Senti seus lábios quentes tocarem minha testa, numa tentativa de me acalmar também. Lentamente, minhas pálpebras foram ficando pesadas demais, tirando-me dali, a mente indo passear no oceano de sonhos.

Quando acordei sob a seda preta que me cobria, a luz prateada criada pela lua atravessava suavemente as persianas da janela, iluminando, quase imperceptivelmente, alguns pontos do meu quarto. Adam tinha me levado de volta para casa, depois de cuidar dos meus machucados. Joguei os lençóis para o lado e levantei rapidamente, cambaleando para o lado com a visão turva. Esfreguei os olhos com os nós dos dedos e abri cautelosa, a porta, caminhando sorrateiramente pelo corredor até o cômodo ao lado.

— Adam? — Cochichei, entrando no quarto as cegas. — Posso dormir com você? — Ele nunca negava. Minhas noites eram quase sempre conturbadas, então eu corria para debaixo dos seus cobertores todas as vezes que isso acontecia.

Escutei seu longo suspiro e eu sabia que ele sorria. Esperava acordado pela minha escapada. No escuro, pude percebê-lo espremer-se na ponta da cama, afofando o canto para que eu pudesse deitar. — Venha, Castanha. — Convidou e enfiei-me nos seus braços. Estava congelando lá fora, no entanto, Adam estava - sempre - quente, o que contribuía para que eu preferisse dez mil vezes o calor do seu abraço, ao invés daquela cama gélida que enfeitava meu quarto. Senti suas mãos grossas afagarem meus cabelos delicadamente. — Castanha… — suspirou outra vez, como se medisse as palavras. Sussurrava numa voz quase inaudível, provavelmente achando que eu já dormia. — Eu preciso que você seja forte. — Senti uma pequena gota tocar minha bochecha. Por Merlim, ele não podia estar chorando. As palavras em minha boca queriam escapar, mas eu sabia que se ele descobrisse que eu estava acordada, não iria continuar.

A mamãe fazia isso constantemente, mas eu nunca o vira ficar tão arrasado ao ponto de chorar. Aquilo me machucava mais do quê qualquer dor física, mais do quê a crueldade da nossa mãe. Seus braços me envolveram num abraço antes de continuar. — Não importa o que aconteça, eu sempre estarei com você. — Senti seus lábios tocarem minha testa cuidadosamente.

— Eu sei, Sirius. — As palavras saíram antes que eu pudesse evitar. Mesmo sem poder vê-los, eu sabia que seus olhos estavam arregalados, ele certamente não esperava que eu estivesse acordada, contudo, permaneceu calado. O sono nos abrangeu, aos poucos nossa respiração se misturou, até levar-nos ao adormecimento.

Alguns anos se passaram desde então. Eu não sei porque, mas essa foi a segunda recordação ligada a ele mais viva em minha mente. Meu laço com Adam tornou-se algo além do fraternal, ele era minha única família. Pude vê-lo se transformar algumas vezes neste meio tempo, algo que ele apenas me contava nas madrugadas de insônia; sobre seus pelos negros, suas garras compridas e seus dentes afiados, o que me levou a chamá-lo de Sirius, Sirius Black. Eu sabia dos perigos de sua maldição, principalmente quando Maggie usava Cruciatus em mim. Entretanto, quando seus olhos amarelos esbarravam com os meus, algo definitivamente acontecia. Sua respiração era bruscamente desacelerada, sua íris retornava a sua cor mel natural, seu corpo voltava ao que sempre fora.

A mamãe nunca se conformou, ela odiava a ideia de um lobo dentro de casa. O nome da família de linhagem pura, manchado! Não bastasse uma meio-sangue, tinham também uma besta para alimentar, ela dizia. Adam já não dormia mais em casa, passava suas noites na cabana que construímos numa área isolada da floresta. Usamos o feitiço do Fiel, para que Maggie nunca nos encontrasse quando fugíssemos para lá. Algumas madrugadas ele entrava pela janela do meu quarto e me abraçava para que eu pudesse descansar.

Adam me ensinou a lutar, me aperfeiçoou no arremesso de lanças, até o ponto em que eu nunca errava. Eu o vencia nos duelos, mas nunca cheguei a descobrir se foram mérito meu ou apenas ele deixando-me vencer. Me levava ao Três Vassouras e Dedos de Mel constantemente, bastava segurar seu braço e estávamos lá. Contudo, alguns vizinhos radicais descobriram da sua licantropia e não admitiriam isso na vila bruxa que residíamos, ameaçavam matá-lo; degolar sua cabeça e atear-lhe fogo, como um vampiro. Minha mãe estava cada dia mais louca, sua crueldade era visível nos meus ferimentos, embora, nesses momentos, sentia como se estivesse fora do meu corpo, e quando retornava, meu irmão recitava feitiços de cura, tornando essa dor passageira. Ele tentava me convencer de que era meu pai quem fazia isso, para aliviar-me, eu nunca acreditei, no entanto. A perseguição aumentava e eu temia que Adam não estivesse mais seguro nem dentro da cabana. Meus dias tornaram-se gradativamente mais aflitos. Suas visitas estavam menos frequentes. Sugeri fugirmos para Londres, ou até mesmo tentar levar uma vida trouxa, mas ele nunca concordou. E eu me arrependo até hoje por não ter insistido.


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Notas finais do capítulo

OBS: Quando ela chama o irmão de "Sirius", não é porque ele é realmente o padrinho do Harry, e sim, porque sua penugem (quando transformado em lobo) é preta, assim como Sirius Black. (só para deixar claro)
Em breve, provavelmente na próxima semana, teremos a segunda parte!



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