Se existia uma coisa que Câncer gostava era de agradar as pessoas. E cuidar das pessoas. E cozinhar para as pessoas. E ver a cara feliz das pessoas quando estavam comendo alguma coisa que ele cozinhou.

Se existia uma coisa que Câncer gostava de fazer é ser agradável.

No geral, era bem fácil agradar o ruivo.

No geral, não existiam motivos para mau humor, exceto talvez as oscilações de humor, variáveis entre feliz-irritado-triste-excitado em espaços curtos de tempo, mas em um âmbito geral Câncer raramente se via de mau humor.

Neste exato momento Câncer se imaginava como o Coração Gelado, daquele desenho americano disfarçadamente patriota, Ursinhos Carinhosos. Aquele vilão que só é derrotado com uma saraivada de amor e carinho. É.

Neste exato momento, Câncer estava emburrado, triste, irritado e com pensamentos homicidas, tais com trilha sonora da abertura de Ursinhos Carinhosos, cinco, quatro, três, dois, um, imagem e som bastante divergentes.

Câncer já estava irritado havia tanto tempo e já tinha divagado sobre pequenos feitos de irritação que foram jogados para e ignorados até então no Baú Perdido da Mágoa que nem lembrava mais quem era o alvo inicial de seus pensamentos que envolviam uma gota de água pingando constantemente na testa de uma pessoa, por horas. Tortura clássica.

Câncer já estava irritado quando Libra começou a puxar assunto, o tentando distrair. Também já estava irritado quando Capricórnio saiu do escritório, sem saber muito o quê fazer ou dizer.

Na verdade, o ruivo sabia o que queria. Analogamente ao Coração Gelado, ele precisava de amor e carinho. Libra era livre, signo de ar. Capricórnio era uma ameba emocional, signo de terra.

Na verdade, os pensamentos de Câncer já divagavam em torno de ser um Soldadinho de Chumbo, daqueles cujo coração derrete – ou se molda – com calor. Libra e Capricórnio não eram fogo, mas o esquentavam o suficiente.

E, olhando assim, os dois sem saber direito o que fazer para melhorar o humor do canceriano, já era suficiente para derreter o coração de gelo ou moldar o coração de chumbo. Tanto faz. Era uma onda quente de amor e carinho, era a constante que importava.

E, olhando assim para o sorriso que o canceriano dava agora, era difícil imaginar que ele estava puto da vida instantes atrás.

Gargalhava, na verdade. Libra de bailarina e Capricórnio de ursinho carinhoso era uma imagem fofa demais para ser ignorada assim.