Alma Gentil escrita por Flares


Capítulo 1
✿ — Gesto de gentileza.


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! ♥

Eu começo pedindo que me deem um desconto, porque é a primeira vez que me arrisco escrevendo miraxus.

Escrevi com bastante carinho, então espero que vocês gostem!



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O burburinho e a confusão costumeira persistiam no bar localizado na barulhenta Fairy Tail. Os copos nas mãos dos magos brindavam em um ritmo contagioso e as gargalhadas escandalosas não faziam questão de esconder a comemoração que ali acontecia.

Vez ou outra, uma mão cortava o ar ao erguer-se de modo bastante visível, e uma voz apaixonada e suplicante em entusiasmo pedia:

— Mira-chan! Traga mais cervejas pra gente, por favor!

O pedido se fazia ouvir pela extensão do bar e logo a albina aparecia, distribuindo sorrisos dóceis e esbanjando gentileza aos companheiros de guilda.

Com muita maestria e um profissionalismo invejável, Mirajane equilibrava uma bandeja repleta com as canecas de cerveja em somente uma das mãos, usando a outra para manuseá-las em suas entregas nas mesas. Sustentava o tabuleiro de madeira a uma altura que batia quase em seu ombro, em um ato de precaução ao pandemônio feito pelos magos.

— Mais cervejas a caminho! — prometia ela, em típico tom de voz suave e sem tirar o sorriso dos lábios.

Em uma das extremidades do balcão que separava a área de mesas do bar propriamente dito, Makarov olhava a todos com certo orgulho vislumbrado em seus olhos por presenciar mais uma vez aquela velha confusão de sempre.

— Cerveja para todos! — ordenou ele ao erguer sua caneca. Seu bigode branco e espesso respingava cerveja ao gargalhar em glória, de uma maneira gostosa de ouvir.

A ordem do mestre da Fairy Tail foi recebida pelos magos com notável entusiasmo seguido pelo coro de gritos estridentes comandado por Cana, que já se encontrava visivelmente alterada. A Strauss mais velha sorriu com bondade ao presenciar a cortesia de seu mestre. Ele era realmente especial.

— Um homem deve beber até que nenhum outro permaneça de pé! — Elfman proclamava de um lado, expondo seus habituais princípios masculinos.

— Por favor, não encoraje ações como essa — Lisanna repreende o irmão, apesar de conter um mínimo sorriso nos lábios.

E a partir daí, Mirajane tomou seu caminho entre as mesas do bar, servindo canecas e distribuído mais sorrisos em uma simpatia que parecia não ter fim. O vestido em uma tonalidade de vermelho e detalhes em laços cor-de-rosa exibe apenas o suficiente de suas pernas espertas, que fazem o mesmo caminho das mesas repetidas vezes durante um único dia.

Durante seu percurso, ela não pôde deixar de notar certas cenas curiosas; Lucy e Natsu discutindo detalhes de uma missão em frente ao quadro de pedidos, Gray e Juvia dividindo uma refeição na mesma mesa que Erza devorava sua sobremesa, Gajeel e Levy brigando pela atenção de Lily, e até Happy e Charles interagiam um com o outro, apesar da exceed fêmea parecer pouco interessada nas investidas do exceed de Natsu e mais atenciosa a Wendy.

Entretanto, uma cena em específico tornou-se alvo dos olhares curiosos da usuária do Take Over. Em uma das mesas mais afastada da algazarra presente no salão e assim alheio a toda confusão, o estimado neto de Makarov encontrava-se debruçado de modo desconfortável sobre o móvel de madeira. Estava irritado ou aborrecido com algo, isto era notável pelos seus gestos repetitivos e ansiosos; os lábios repuxados em uma careta desgostosa, o queixo apoiado sobre os braços que descansavam na mesa, a mudança constante de postura.

Em uma explicação para os atos de Laxus, Mirajane buscou informações em suas memórias. Não demorou muito a lembrar que não notara a presença dos demais membros da Raijinshuu nas festividades da guilda, que já se estendiam por alguns dias. Recordou-se então que o grupo de magos resolvera aceitar uma missão classe S que o dragon slayer do relâmpago pareceu não se interessar em participar.

— Ei, Laxus! Lute comigo! — a voz repleta de entusiasmo do dragon slayer do fogo se fez ouvir, atrapalhando sua linha de pensamentos.

O pedido de Natsu fora, contudo, completamente ignorado por Laxus, que nem se deu ao trabalho de olhá-lo de cima, de forma prepotente, como era acostumado a fazer. O rapaz de cabelos róseos pareceu captar a situação do companheiro de guilda, então não se demonstrou desmotivado e logo fora visto puxando uma conversa com o dragon slayer do ferro que muito provavelmente terminaria em briga.

A albina juntou as sobrancelhas ao franzir a testa, em dúvida. As íris azuis de seus olhos brilhavam em curiosidade. Natsu sempre fora muito intuitivo para saber quando um companheiro precisava de ajuda. Somando isto ao comportamento estranho de Laxus, não lhe parecia má ideia verificar a situação mais de perto.

Desvencilhando-se de garrafas que eram atiradas sem rumo e das mesas espalhadas pelo local, Mirajane só foi percebida diante de sua mesa por Laxus quando a mesma depositou uma caneca fumegante no móvel, atraído sua total atenção.

Ele a encarou, confuso. Esperou que a mulher à sua frente lhe desse uma explicação de imediato, mas ela apenas continuava ali. Separada de seu corpo másculo apenas pelo móvel de madeira. Mostrando-lhe o hábito que tinha de fechar os olhos ao sorrir de maneira sutil ao saudar uma pessoa que atendia.

Instantaneamente, os problemas que circundavam sua mente pareceram evaporar como água submetida ao calor intenso.

— O que é isso? — perguntou o loiro em um rompante, referindo-se a caneca estrategicamente posicionada diante de si.

Pela quase imperceptível fumaça que saía da caneca e lhe transmitia calor, era óbvio que seu conteúdo não se tratava da bebida alcoólica que fora servida aos demais companheiros de guilda. Então, resolveu ser mais específico:

— Eu não lhe pedi coisa alguma — Laxus disse, em tom pouco amigável. Esperou então que Mirajane se retirasse, mas ela não o fez e não deu a entender que o faria em momento algum.

A mulher apenas o contemplou por mais alguns segundos com seu olhar cheio de incógnitas. O dragon slayer não pôde evitar se sentir intimidado com tamanhos e expressivos olhos azuis brilhantes interessados em si. A caneca continuava ali, intocável. O líquido ainda emanava calor em sua direção, mas sentia que esse não era o único motivo para se sentir, de certa forma, quente. Para o bem de sua sanidade, Mirajane não tardou em respondê-lo.

— É verdade que não tenha me pedido nada, Laxus — consentiu com as palavras dele. — Leve isso como um gesto de gentileza. Um presente, se assim preferir — piscou um dos olhos para o loiro em diversão, lhe sorrindo de modo infantil.

Laxus ignorou a travessura da mulher, evitando retribuir seu olhar com a desculpa de analisar o conteúdo da caneca. Se tratava apenas de um líquido consistente de coloração amarronzada e que tinha um cheiro muito adocicado para seu gosto. Seu olhar de estranheza foi notado pela albina.

— Eu costumava fazer isto para Lisanna quando ela era mais nova. Quando estava aborrecida com alguma coisa, essa bebida sempre lhe acalmava, sabe. Como leite acalma um bebê — ela sorriu, parecendo estar entorpecida por boas memórias. — Eu espero que você goste.

E que aqueça seu coração, completou a maga mentalmente.

Laxus não se sentiu satisfeito ao ser comparado a um bebê que precisa de colo. Ele não era tão indefeso e frágil assim. Aquele só não era um bom dia para comemorações. Queria apenas ser recebido pelos carinhos excessivos de Evergreen, entretido pelas piadas de Bickslow ou compreendido por Freed. Eles ainda não estavam ali e aquilo era suficiente para lhe trazer preocupação. Então, não havia necessidade para estar em comemoração.

Quando fez menção de afastar o objeto fumegante de si, em um passo rápido, uma Mirajane estava perigosamente debruçada sobre seu peitoral e aquela mesa já não era um empecilho para os dois. Piscou os olhos repetidas vezes, desorientado com as ações que se desenrolaram. Sentia que o busto avantajado da albina fazia uma pressão sobre si e sua mão dedilhava seu casaco em um carinho perigoso.

Quando ele finalmente a encarou, não encontrou a funcionária dedicada e dócil da Fairy Tail. Mas sim aquela menina inconstante que frequentemente desafiava Erza para um duelo, ansiando pela vontade de batalhar e lutar. Não era sua Satan Soul, mas era igualmente demoníaca.

— Eu sugiro que você beba — ela murmurou, tornando tudo ainda mais tenebroso para ambos os lados.

Tão rápido quanto veio em sua direção e estava em seus braços, ela se foi. Recompôs sua simpatia de modo tão normal, que ele chegou a se questionar se o ocorrido era mesmo verdadeiro e não apenas uma fantasia sua aflorando em seus pensamentos. Na dúvida, entornou o líquido da caneca na boca, sentindo de antemão o sabor doce quase enjoativo. Era quente. Não o suficiente para queimá-lo, apenas para aquecê-lo.

— Demônio... — apelidou-a em um sussurro entre goladas prolongadas.

O calor despertou em si uma sensação de aconchego quase mágica. Sentiu-se estranhamente seguro e relaxado. Afinal, o que aquela mulher havia posto ali?

— Sabe, Laxus, seu avô é uma pessoa muito especial — divagou Mirajane, olhando sorrateiramente na direção do mestre que brincava com Asuka em seu colo. — Independente da situação, ele tem sempre as palavras certas a dizer. É até normal, visto que essa é uma característica de liderança.

Ele a encarou, intrigado com aquelas divagações a respeito de palavras sábias e liderança.

— Eu temo que não tenha essa característica — respondeu, em mesmo tom disperso. — Mas, diga, Mirajane, o que meu avô me diria nesse exato momento?

Ela sorriu, enlaçando as mãos atrás do corpo. Não parecia surpresa com o questionamento repentino.

— Ele diria... — suspirou ela. — Que não há problema em não suportar a ausência de seus companheiros ou em se preocupar com o bem-estar deles. Isto apenas faz de você mais humano.

Laxus inspirou e expirou profundamente, chocado com a veracidade e familiaridade daquelas palavras. Não teve sequer tempo de se recuperar, pois Mirajane recolheu a bandeja e a caneca vazia da mesa, preparando-se para refazer seu caminho.

Nesse momento, ele a encarou e ela sorriu. Simplesmente sorriu. Sem nenhuma rispidez ou questionamento em seu olhar.

— Me chame se precisar de mais ou, quem sabe, de uma companhia.

E deu o mais belo, verdadeiro e gentil sorriso na sua direção. Era um sorriso para ele. Somente seu.

Não tardou a voltar a circular pelo bar, sendo constantemente chamada pelos magos. O dragon slayer a observou minimamente, e em nenhuma outra ocasião ela deu aquele sorriso novamente.

Sozinho, ele pôde retribuir aquele sorriso, mesmo que ela não tenha presenciado. Era melhor assim. Afinal, ainda era incapaz de acreditar que uma alma tão gentil fora capaz de ouvir a voz de seu coração.


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Notas finais do capítulo

Tenho que dizer que foi ótimo trabalhar com a personalidade da Mira, porque ela ♥!

Aliás, coloquei um pouco do lado demoníaco dela porque achei que ficaria sem graça se não colocasse. Até porque acho que a graça dela está justamente nessa dupla personalidade. ╮(╯▽╰)╭

Foi um obstáculo descrever o Laxus, porque a personalidade dele eu considero bem difícil de desenvolver, ainda mais de uma forma "romântica".

Ainda sim, espero ter passado os sentimentos de ambos da forma que eu queria pra vocês. Estamos aí para críticas construtivas ou sugestões!

Obrigada pela atenção! Um beijo! (。・ω・。)ノ♡