Omniwars escrita por Looserismo


Capítulo 1
Você vai falhar...




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O tempo realmente é o pior inimigo da humanidade, mas não porque eles têm pouco, como todo mundo pensa, e sim porque ele proporciona mudanças. Algumas são pequenas demais para percebermos. Outras são tão drásticas que tentamos com todas as nossas forças fingir que não percebemos.

Como um bom físico, eu, Professor Paradoxo, me dispus a estudar esse fenômeno que é o tempo, e, mesmo depois de uma quantidade de anos terrestres que só poderiam ser expressos em uma notação científica, não o compreendi em sua plenitude, e acho que mesmo agora não estou nem ao menos perto disto.

Para exemplificar as mudanças às quais me refiro, usarei do meu exemplo predileto: O jovem Benjamin Tennyson, popularmente conhecido como Ben 10. O Ben adolescente, apesar de não ser muito esperto ou disciplinado, procura agir de acordo com o padrão de conduta moral de um herói romântico, sendo em suma um rapaz de excelente índole, no qual eu e muitos mais confiam o destino do universo.

Será que o inocente Ben permanecerá imune ao impiedoso tempo? Vamos ver o que ele está fazendo aos vinte sete anos de sua vida terrena. Fisicamente está um adulto de bom porte físico e uma barba estilosa, bem madura. Parece que o padrão verde de suas vestimentas foi substituído por um preto e vermelho, mas, fora essa, nenhuma alteração significante em seu visual. Em que canto do espaço ele se encontra? Um planeta de atmosfera rosada, mais para bege, e solo formado por uma espécie de areia azulada em tons claros, formando um vasto deserto com aparência de mar. Quem está com ele? É difícil dizer quem são, estão todos de traje e capacete, deitados em frente a ele... Mortos, exceto por um elemento agonizando através de grunhidos e espasmos violentos.

Ben se ajoelhou de forma a fitar o pobre coitado cara a capacete. Seu olhar parecia frustrado, ou podia ser só a impressão de seriedade que a barba passava. O vidro esbranquiçado do capacete do homem se abre e nos revela algo chocante. O moribundo é na verdade Kevin Levin. O modo como ele ofegava e balançava sua cabeça em oposição à dor era comovente e preocupante.

Enquanto o olhar morto de Kevin ia de encontro ao olhar indiferente de Ben, me perguntava se já não era hora do adulto Tennyson socorrer seu amigo de longa data. Mas, em vez disso, ele se levantou, o dando as costas e depois se postando em frente dele de forma a fitá-lo, só que agora com uma expressão que poderia facilmente ser classificada como uma de puro desprezo.

-Você devia ter destruído os rebeldes, não se unido a eles, seu idiota!-Essa frase de Ben soou mais como um brado de guerra do que como um conselho duro.

Como se esta cena não pudesse ficar mais trágica, Ben, sem nenhuma delicadeza, seleciona em seu omnitrix o herói Diamante, um de seus favoritos, e o usa para dar o golpe de misericórdia em seu antigo amigo, atirando nele estacas de diamante para violentamente perfurar seu coração. Uma cena bem triste, mas Ben parecia mais focado em admirar o contraste que o sangue escorrendo do peito de Kevin fazia com a areia azulada.

Mas se acalmem, esse não é o universo com o qual estamos acostumados, mas sim um dos multiversos, especificamente um universo alternativo ao nosso praticamente idêntico, fora o fato de estar dez anos no nosso futuro.

Isso certamente exemplificou o que eu dizia, de uma forma muito mais drástica e trágica do que se poderia esperar. Mas claro que eu só estou fazendo um draminha aqui, afinal, eu já sei esta história toda, nada disto me é de fato surpresa portanto. Indo direto ao ponto, estou prestes a lhes contar uma história, um tanto quanto sombria, sobre, o maior evento de todo o universo, a Grande Guerra Multiversal.

Para começar, voltemos para o universo com o qual estamos acostumados. Como nos focamos no Kevin na última narração, nada mais linear do que continuar a focar nele, ver como ele está, ou no caso “estava”, fusos interdimensionais são bem confusos.

O que poderia ser um meteorito preto pacífico finalmente conhecia o que era a guerra. Em suas trincheiras, Kevin caminhou em ritmo frenético pela trilha quase reta, Buscando evitar a chuva de lasers vermelhos proveniente da feroz batalha entre soldados de traje espacial verde, igual ao que ele mesmo usava, e soldados de traje espacial vermelho que ocorria no nível do solo. A lateral direita do capacete de Kevin apitou, trazendo a doce voz de Gwen Tennyson ao ambiente.

-Muito bem, continuando por essa rota você deve chegar na base inimiga ao final da trincheira quase livre de conflitos. Boa sorte.-A voz da jovem Gwendolyn parecia forçar confiança, para mascarar uma forte preocupação com a segurança do namorado.

-Pode deixar, gata.-Tocou no botão de onde o som saía de forma a interromper a comunicação e continuou seu percurso.

Kevin pareceu ter sido motivado pelo curto diálogo, se é que pode mesmo assim ser chamado, que teve com Gwen, pela forma como acelerou o passo, feito um maratonista. Através do vidro do capacete dava para ver suas sobrancelhas inclinadas, que o conferiam um olhar determinado e destemido.

Subiu a trincheira com a área mais limpa de inimigos do que esperava e entrou no prédio de dois andares branco em forma de cilindro logo ao lado. Parece que, o exército inimigo, que se concentrava mais a frente, nem percebeu quando o audacioso guerreiro entrou na fortaleza pelas portas duplas de ferro arredondadas, que se abriram ao toque, como num supermercado.

O interior da base era branco e bem iluminado. As laterais eram preenchidas por computadores pesados e, no centro, uma placa de metal com painéis e botões se estendia até o teto. Para completar a descrição, havia oposto à entrada um elevador que levava a uma plataforma que contornava a parede e servia como segundo andar.

A primeira coisa que Kevin fez foi retirar seu traje espacial, começando pelo capacete. Foi uma cena cinematográfica a forma como os cabelos de Kevin balançavam suavemente com a saída do ar do capacete quando ele o retirou. Dessa forma ficou muito mais confortável para olhar em todos os cantos em busca de inimigos, que logo vieram ao seu encontro. Das plataformas do segundo andar pularam dois soldados . Caindo encima de Kevin com sabres de luz vermelhos. Rapaz de reação rápida que sempre foi, Kevin absorveu o metal do qual o piso era feito, se transformando em um sentinela branco, e fez de seus braços enormes lâminas, que, com um giro dele, interceptaram seus inimigos em plena queda. Tudo isso ocorreu no tempo recorde de um segundo e três quintos, particularmente impressionante.

-Kevin, fique atento para inimigos na base.-Advertiu Gwen. Kevin, ofegante, fitou os cortes verticais que fizera nos trajes e pele dos soldados, antes de responder a sua namorada de forma levemente debochada.

-Olha, não acho que isso vai ser mais um problema.

Pelo menos por aquele momento, o caminho estava livre para Kevin agir. Sem perder tempo, operou os painéis da placa central como um verdadeiro Expert, até se dar por satisfeito quando a energia da torre caiu. Resolveu então comunicar seu triunfo para a central de comunicações, operada por Gwen.

-Parece que esqueceram de pagar a conta de luz.

Gwen por sua vez recebeu a mensagem de Kevin aliviada, colocando seu avançadíssimo head-set sobre a mesa de vidro que servia como uma tela touch-screen operando a central de comunicações. Aproveitou para fechar os olhos por alguns e relaxar toda a tensão que era operar aquilo e ter vidas em suas mãos, ou mais precisamente lábios.

Sua paz não foi muito duradoura, pois demorou menos de cinco minutos para que os fones apitassem novamente.

-Gwen,-Dessa vez a chamada fora iniciada pelo nosso protagonista, o Ben original, ligando direto de seu omnitrix.-Estou chegando ao núcleo. O Kevin já desativou a torre?

-Ah, sim!-Respondeu enquanto ajeitava o head-set novamente.-A barreira que protegia o núcleo foi desativada com sucesso.

-Também não é como se uma Barreirinha daquelas fosse me deter, sabe?-Declarou com uma arrogância que mais parecia uma tentativa de disfarçar o quão tenso realmente estava.

-Tenha cuidado.-Gwen ignorou o comentário rue do primo e desejou seu bem com imenso carinho.

Sobre o local onde Ben estava, era algo parecido com um formigueiro. Andando em frente por aquele túnel subterrâneo, ignorando as passagens que levassem a túneis afluentes ao qual estava e com apenas seu multifuncional omnitrix para iluminar seu caminho com sua típica luz esverdeada, Ben chegou rapidamente ao seu destino.

Uma câmara totalmente redonda foi o que encontrou ao final do percurso. Esta estaria vazia se não fosse por uma espécie de caixa preta flutuante no centro. Eu nunca lembro o nome exato dessas coisas. Antes de ir do Túnel para a câmara, ele passou a mão na passagem entre eles suavemente, como quem tentasse abrir uma finíssima cortina transparente, e quando assimilou que não havia nenhum tipo de campo de força ou armadilha ali, deu um sorriso triunfante de relance e, a passos hesitantes, adentrou o local de seu objetivo.

Ben tinha no olhar a ansiedade que se vê nas crianças quando chega a manhã de natal no momento em que avistou a caixa, cada vez mais nítida conforme se aproximava e sua lanterna verde a iluminava. Para facilitar todo o processo de remover aquele objeto altamente radioativo, Ben ativou seu omnitrix no intuito de selecionar o herói NRG, aquele que se parece uma fornalha.

Quem viajasse no tempo tantas vezes quanto este que vos fala saberia quanto, na história de todo o universo, distrações têm o potencial de serem fatais. E aquela vez quase se tornou um ótimo porém trágico exemplo disto quando, aproveitando a baixa-guarda de Ben enquanto escolhia o herói que usaria, seu antigo inimigo Fantasmático “possuiu” sua mente. Ben caiu de joelhos e forçou todos os músculos do rosto como se estivesse com uma indescritível dor de cabeça.

Quando abriu levemente seus olhos, já livre da dor, se viu em um confuso cenário de total escuridão, não total, já que ainda podia ver seu próprio corpo, o que no escuro total seria impossível. Deixando questões de física óptica de lado, voltemos à situação do jovem Tennyson, que não parecia ser das melhores de ângulo algum. Ele não estava em uma sala de paredes e piso preto, ele simples ou complicadamente não estava em espaço nenhum. Ben se percebia levitar no infinito, e mesmo assim manteve a calma, numa demonstração de disciplina impressionante para alguém outrora tão travesso.

-Você vai perder tudo. Não está com medo?-Ecoou no espaço essa frase, com a voz do Fantasmático, de forma a fazer com que a atenção de Tennyson, inicialmente voltada em falhas tentativas de nadar no vácuo, se voltasse a procurar pela fonte da sinistra voz olhando em todas as direções possíveis.

Em um piscar de olhos despercebido, o espaço vazio se tornou em uma avenida de centro de cidade grande deserta, que mais parecia um cenário de guerra, com prédios em chamas e carros estacionados desuniformemente pela rua. Antes que Ben tivesse tempo de se questionar sobre as mil dúvidas que circulavam seu pensamento naquele momento, surge mais escuridão no cenário, dessa vez na forma da sombra de um meteoro prateado que, com as chamas de um cometa, se aproximava do solo. Ah! Na verdade esse meteoro é a lua. Irônico eu ter estudado tantos anos de astronomia para esquecer a aparência dela. O nosso amado satélite natural vinha na nossa direção com intenção assassina.

Pela expressão de genuíno desespero que Ben demonstrou ao notar o desastre eminente no céu, parecia que finalmente algo abalara seu espírito, algo que raramente acontecia.

Existem pessoas que, em momento de desespero, se colocam em “modo automático”, passando a agir instintivamente. Ben provou ser esse tipo de pessoa ao selecionar o herói Gigante em seu omnitrix sem nem ao menos tirar os olhos esbugalhados da lua que vinha ao seu encontro cada vez mais rápida. Mas, com de praxe, o herói errado veio da seleção. Pelo número de vezes que girou o mostrador, Ben tinha quase certeza de que havia escolhido o Gigante, mas em vez disso o que surgiu foi o Friagem. Mas de qualquer forma não havia muito a ser feito, pouquíssimos heróis poderiam salvar a Terra naquelas circunstâncias em tão pouco tempo. A saída que o modo automático de Ben encontrou foi algo conveniente, porém cruel. “E se eu usasse meu poder de atravessar matéria para sobreviver à explosão, mesmo que eu abandone a todos, eu ainda estaria vivo para continuar o legado da terra”, friamente pensou, sem tempo de sentir ódio de sí mesmo. Ele sucumbiu ao seu desespero e o fez.

A Lua chegou ao nível dos prédios. Tsunamis já se formavam com a pressão de maré exercida. Poucos segundos para o impacto iminente. E lá estava Ben, esperando ser atravessado por ela enquanto a terra era destruída, prestes a chorar de frustração, mas contendo tudo isso em uma única lágrima escorrida brilhando com a luz da lua flamejante.

-Você vai falhar em ser o herói de quem todos precisam tanto.-Falou novamente a voz de Fantasmático.

Para a sorte da saúde mental de Ben, sua manobra de sobrevivência teve um segundo efeito não notado inicialmente, que foi expulsar o parasita fantasmagórico psicótico(entre outros adjetivos) do seu corpo. Uma vez livre, Ben teve reação rápida e comunicou Gwen através do seu omnitrix novamente.

-Fantasmático localizado.-Informou brevemente a situação para sua prima.

-Vou mandar reforços, mantenha-o distraído.-Mas Ben não teve como seguir os comandos de Gwen, pois seu inimigo já havia fugido, cauteloso que era. Voltou à sua forma original e se focou na caixa mais uma vez, se forçando a ignorar a traumatizante experiência que passara a poucos minutos.

-Deixa pra lá, vou desativar essa coisa logo.

“Essa coisa”. Se o físico responsável pelas bombas atômicas que bombardearam Hiroshima e Nagasaki se suicidou, eu nem quero imaginar a punição do inventor de “essa coisa”. Um núcleo em forma de caixa preta, similar ao motor de um carro, com a função de transformar corpos celestes relativamente pequenos em mísseis teleguiados com a capacidade de dobra espacial e potencial de destruição de planetas rochosos com o impacto. Complicado, não? Mas na verdade é um mecanismo bem simples e relativamente barato de se produzir em escala industrial, o que o torna a arma perfeita para um guerra intergaláctica.

A mudança da luz verde para a levemente avermelhada do ambiente externo do asteroide nauseou Ben. Era de se esperar que ele estivesse triunfante com um resultado de vitória em uma batalha tão decisiva., mas seu olhar cansado direcionado para o rastro de corpos de ambos os exércitos evidenciava sua frustração, somada com o pânico que Fantasmático o fizera sentir. Em tempos de guerra como aqueles, esses sentimentos são constantes nas consciências dos envolvidos.


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