O paulista e a carioca escrita por Titi


Capítulo 1
O príncipe e a chata


Notas iniciais do capítulo

Essa história é baseada numa amizade virtual que tenho... É baseada na minha antiga personalidade. Bem, pelo menos esse capítulo. Não sei se vou continuar com o conto.
Enfim...



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Gareth. 14 anos. Cristã protestante e sabatista. Carioca. 1,57 m. Cabelos extremamente longos, cheios, cacheados e castanho-escuros. Olhos da mesma cor. Pele parda. Óculos azul escuro, tem miopia. É pessimista, insegura, chora fácil, é sensível, tímida, insegura, tem baixa autoestima, é introspectiva e ao mesmo tempo agressiva, ciumenta e grosseira... Enfim, tem uma personalidade um tanto irritante mas ainda tem alguma esperança de que Deus possa ajudá-la. Acabou de se mudar da zona norte do Rio de Janeiro, que é onde cresceu, para o centro de São Paulo por causa de um amigo virtual e está socialmente desorientada na escola. Sonha em ser escritora.

Maxwell. 17 anos. Deísta. Paulista. 1,75 m. Geralmente deixa a barba rala crescer. Cabelos curtos, lisos e castanhos. Olhos igualmente castanhos. Também tem miopia, mas não usa seus óculos sempre. Tem um sorriso encantador. Tenta animar Gareth constantemente. É animado, criativo, companheiro e fiel. Feliz por sua amiga ter vindo morar perto dele. Ama arte, seja música ou pintura. Sonha em ser ator.

Ponto de vista de Gareth.

Fazia algumas semanas que havíamos começado a estudar no mesmo colégio... Eu não estava acreditando que finalmente poderia ficar perto dele. Eu deveria estar sorrindo muito, agradecendo muito a Deus... Mas eu já tinha feito isso nos primeiros dias.

Não digo que enjoei de ser da mesma escola que Maxwell... Como poderia enjoar disso? Eu apenas não estava num bom dia... A chuva caindo não ajudava muito a melhorar o clima. Eu ficava olhando pela janela. Não conseguia ouvir a voz do professor... Estava concentrada no barulho da água batendo no asfalto. Eu queria tanto sair dali... Mas eu não podia. Depois de encher o saco da minha mãe para vir para São Paulo e ela assentir, a pior maneira de agradecer seria fugir da aula de Geografia para ficar olhando a chuva.

Depois de muito tempo observando um ponto fixo e pensando em tudo na vida (exceto Geografia), o sinal tocou. Uma pequena vontade de sair dali para encontrar Max ao invés da chuva começou a me incomodar... Então eu segui minha pequena vontade momentânea, ao invés de ir atrás do que eu queria faz tempo.

O encontrei... Estava conversando com alguns colegas no corredor e rindo. Vi tudo de longe. Ele é tão bonito... Em volta dele parecia ter um brilho diferente das demais pessoas... Deve ser coisa da minha cabeça. Meu coração mais uma vez acelerava. Por um instante eu lembrei do dia em que nos vimos pessoalmente pela primeira vez. Eu fui correndo na direção dele na rodoviária. Ele me abordou, me imprensou contra a parede, me abraçando. Não precisamos dizer nada naquele momento. A força do abraço já dizia tudo. Eu normalmente fico feliz de lembrar disso... Hoje foi uma exceção.

Eu não estava extrovertida ao ponto de chegar interrompendo a conversa e me apresentar... Porque eram colegas que eu nunca havia conhecido. Se pelo menos fosse um dos melhores amigos dele como o Bret e a Danna, sei lá... Quem sabe eu tentaria. Senti outro incômodo... Parecia que a vontade de vê-lo tinha se transformado em decepção. Eu estava com ciúmes? Será que eu queria que ele fosse tão sozinho eu? Tão sozinho quanto a carioca excluída? Será que era mesmo isso? Será que eu era tão egoísta assim?... Apenas fui embora, sem que ele me notasse.

Deus, por que eu tinha que ser tão iludida? Eu deveria imaginar que nunca seria tão legal quanto qualquer amigo dele... Tampouco tão merecedora de atenção quanto a Taly... A menina que ele gosta faz anos e nem retribui, nem imagina... O Maxwell deve ter enjoado de mim... Uma pirralha do nono ano e ele no terceiro ano médio... Por que ele iria querer andar comigo? Eu não devia ter vindo... Eu não devia ter implorado para a minha mãe. O que é que eu tinha na cabeça? Viajei até aqui para ser ignorada por um garoto que dizia me amar... Eu devo ser muito trouxa mesmo.

Fiquei de braços cruzados, já fora da escola, próxima ao portão. Meus óculos molhados e embaçados não me permitiam enxergar muita coisa... Mas olhar para baixo era tudo que eu conseguia e tinha vontade de fazer. A chuva ainda caindo... E eu já não estava mais aguentando aquele desapontamento.

Como sempre aconteceu, não fui capaz de segurar. Minha dor interna acabou escorrendo pelos olhos, como os pingos d’água. Deus deve sofrer com esse meu jeito horrível... Eu sei disso. Uma vergonha pra minha denominação. Deixando de levar em conta tudo o que Ele me proporciona de bom na vida, chorei. Ninguém iria notar... Desde que eu não mudasse a fisionomia, eu poderia chorar o quanto quisesse... Ninguém dali olhava para mim. Ninguém me percebia. Ninguém se importava. Ninguém me notava... Nem mesmo meu melhor amigo.

– O que você está fazendo aí? Quer pegar pneumonia de novo, sua doida? – era Max. Ele usou aquele tipo de tratamento íntimo que é comum quando conversamos e estamos bem. Mas ele não sabia... Eu não estava bem.

Não tive coragem de olhar para ele... Mas estranhei. A chuva ainda caía, mas havia parado de bater em mim.

– Você me ouviu? – levantou meu rosto e riu ao perceber que meus óculos precisavam de limpadores de para-brisa. – Deixa, eu dou um jeito nisso. – pegou um pano do bolso, secou meu rosto e logo em seguida, pegou meus óculos e secou suas lentes. – Pronto. Bem melhor!

O que ele estava querendo dizer com aquilo? Que eu não era bonita sem óculos? Me chama de doida e de feia também!... Calma, Gareth... Você é cristã... Não pode xingá-lo e nem sair batendo nos amiguinhos virtuais... Se controla... Mas a vontade de empurrá-lo e sair correndo é tanta...

Eu não disse nada... E ele continuou falando. Hunf! É de se esperar de alguém que nem leva em consideração uma amiga que saiu do Rio de Janeiro pra vir respirar poluição aqui por causa dele.

– Sua mãe bem que te avisou pra trazer um guarda-chuva também... Olha no que deu: você tá toda ensopada aí. – ainda me chamou de teimosa e cabeça-dura, fazendo menção de uma conversa que tivemos mais cedo... – Eu te levo pra casa, vamos. – tentou segurar o meu ombro, mas eu não deixei. Foi aí que ele notou que realmente tinha algo errado. – Que isso?... Gareth... Você tá na TPM?

– Não!

– Então o que foi?

– O que você acha? – dei as costas.

– Você sabe que não sou bom em adivinhar as coisas... Se você não me disser, não tem como saber.

– Por que é que você pergunta? Nem se importa de verdade! – elevei meu tom de voz. Eu estava nervosa... Voltei a chorar e agora era perceptível.

– Você não pode dizer isso! Não sabe o que eu sinto por você.

– Eu achei que soubesse.

– O que foi que eu fiz?

– Nada! Exatamente o que você fez: Nada! Exatamente o que você sente: Nada! Para de me perturbar, eu iria conseguir me virar sem você. Posso ir pra casa sozinha, eu tenho pernas que funcionam! É melhor ir sozinha e ser atropelada por não conseguir enxergar do que ir acompanhada de um covarde que fez eu me apegar e agora que cansou da brincadeira, não quer mais ser meu amigo.

– Quando foi que eu disse isso?!

– Você não disse, mas demonstrou.

– E todas as vezes que eu deixei de fazer coisas com os meus colegas pra ficar com você em casa? E todas as vezes que eu tive que te arrastar pra sair comigo pra você não se sentir mal por não ter te chamado, mesmo você querendo fazer uma fusão com o sofá da sala e ficar vegetando enquanto assiste TV ou fica ouvindo músicas de emo? E todas as vezes que eu fiquei no intervalo te procurando enquanto você estava em algum canto sozinha? Todas as vezes que eu acordei mais cedo do que é necessário só pra ir com você até a escola? E não tem nem um mês que você chegou!... Essas demonstrações não contam? Por que você não as considera também? – Maxwell me virou e percebeu que minhas lágrimas estavam descendo rapidamente. – Por que você faz isso comigo? Ver você assim não é nenhum motivo pra eu ficar sorrindo... E pior: o motivo sou eu e você nem quer me dizer o que eu fiz. Por favor, para de chorar.

– Você não precisa de mim! Como você mesmo disse, eu só te atrapalho! Me deixa em paz!... Por que insiste em estragar sua vida pra me dar atenção? – falei, vacilando um pouco na dicção.

– Porque eu te amo! – ele falou um pouco mais alto e eu arregalei meus olhos. Ele disse num tom que qualquer um ali perto podia ouvir... Ele não tinha vergonha, não estava nem aí se o achassem maluco por dizer isso pra aluna nova de sotaque “ixtranho”. – Passar tempo com você não é estragar minha vida, é torná-la melhor. Será que você não entende?

Minhas pernas ficaram bambas. Meu coração bateu mais forte... De novo. Era a timidez atacando... O que eu deveria fazer? Eu não tinha mais coragem de perguntar se era verdade... Eu só fitei o chão. Não disse absolutamente nada.

– Você escutou o que eu disse? Eu disse que te amo!

– Eu sei... Para de repetir isso.

– Eu achei que você gostasse da verdade.

– E gosto, por isso eu quero que você pare.

Max franziu a testa pra mim. Virou-se para alguns estudantes que estavam passando e gritou:

– Eu amo a Gareth!

Meu rosto começou a arder. Por que aquele palhaço não calava a boca?

– Para com isso! – reclamei, tremendo de raiva.

– Para de chorar, fazemos uma troca! – apertou meu rosto com a mão livre, me deixando parecida com um peixe.

– Você é insuportável! – disse mesmo a voz saindo estranha pelo que ele estava fazendo.

– Um insuportável que te ama, sua bobona.

Do jeito mais rápido que eu pude, temendo ficar com receio ou hesitar, dei um abraço nele e escondi meu rosto no seu peito. Eu estava molhando sua camisa com minhas lágrimas e minhas roupas encharcadas, mas ele parecia não ligar. Fui fraca de novo... Cedi. Eu não conseguia ficar tanto tempo brava com ele. Ou isso é burrice ou era mesmo amor...

Ficamos assim por um tempo... No meio da calçada mesmo. Eu não me lembro de ter escutado mais o barulho da chuva... Só os batimentos cardíacos e a respiração dele.

Meus braços estavam cansando, então olhei pra cima, a fim de dizer que queria ir para casa... Mas não deu tempo. Ele deu um repentino beijo na minha bochecha e até deixei de dizer.

Fiquei um pouco sem graça, mesmo a gente tendo ultrapassado a cota de beijos e abraços desde que eu cheguei aqui.

Depois de ele parar de beijar meu rosto (o que demorou um pouco), tentei sair dos braços dele, mas Maxwell continuou me apertando.

– Nada disso! Foi emprestado. Você tem que me devolver. Me dá um beijo!

– D-Dou até dois... – meu coração parecia querer sair pela boca. Eu estava ansiosa, meu rosto um pouco mais corado do que o normal.

– Lucro! – riu.

Fiquei na ponta dos pés. Toquei meus lábios no rosto dele duas vezes e bem depressa. Maxwell sorriu e me soltou.

– Vamos para sua casa agora? Eu estou com um pen drive com umas letras de música que eu compus... Depois podemos ver um filme, sei lá.

– Ah... V-Vamos... – gaguejei.

Ele segurou minha mão e fomos andando, um ao lado do outro debaixo do guarda-chuva.

– Max... – parei no meio do caminho.

– O que foi?

– Eu te amo...

Ele deu outro sorriso, como se não esperasse ouvir isso de mim. Aquele sorriso que sempre me fascina quando aparece. Que me deixa acanhada, com vontade de sumir.

– Também te amo, little girl.

Ele também me ama...

Ele me ama também...

Eu deveria saber... Alguém aturar todas as minhas paranóias só pode ser amor mesmo.

– Obrigada... – sussurrei. E não pude desejar que aquela tarde fosse melhor...


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Notas finais do capítulo

Espero que não tenha sido uma total perda de tempo.



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