Primeira Parte:

Eu não conseguia acreditar nisso, nos gritos do Grande Mestre:

"Traidor! Aioros é um traidor! Tentou matar Atena!"

Por que Aioros? Por que fez isso? Era nosso destino viver e morrer juntos por Atena, como amigos, como irmãos. Agora devo caçá-lo e fazer com que a Justiça prevaleça!

Como ousou trair nossos ideais, tudo pelo qual vivemos? Todos estes anos de treinamento duro, de sofrimentos vividos, tudo aquilo que abrimos mão em nosso da Justiça sobre a Terra foi em vão? Por que tomou esta atitude tão sem sentido? Por que tentou matar aquela a quem esperamos com ansiedade e devemos proteger acima de tudo e todos?

Sinto-me traído por você. E devo esquecer quem somos, quem fomos para fazer com que pague.

Como se fosse tão fácil assim esquecer que Cavaleiro honrado você é. Um modelo a ser seguido por todos do Santuário. Sua traição agora me enche de dúvidas, você era o único neste lugar em quem eu confiei...não me sobrou mais ninguém.

Saindo de meu templo, começo a caçada ao traidor, seguindo ordens do Mestre. Em meu caminho encontro seu irmão,meu amigo...assustado, lágrimas aos olhos...ele não consegue entender o que se passa.

"Shura! É mentira, não é?"-ouvi o menino gritar.-"Meu irmão não fez isso do que o acusam!"

Eu conheço Aiolia desde que era um bebê. Admirava seu irmão mais velho por conseguir se dividir em cuidar dele e se dedicar tão intensamente aos seus treinamentos e deveres. Eu sei que ele me odiará pelo o que farei, mas não pedirei desculpas por nada. O que eu farei é justiça.

"Afaste-se."-é só o que lhe digo, afastando-o.

Persigo Aioros, procurando-o através de seu Cosmos. Os soldados o perseguem incansavelmente. Bons soldados. Logo eu o encontro...ferido, carregando sua armadura e algo em seus braços. Estava correndo.

Devia ter dado ouvidos às desconfianças do Mestre, quando ele o procurara dias atrás, desconfiado de Aioros. Volto a lembrar daquela conversa, observando-o se afastar um pouco do Santuário.

"Aioros planeja matar Atena, Shura. Deve impedí-lo!"

"Impossível! Aioros jamais faria tal coisa! É meu amigo, sei que ele não..."

"Sabe que somente me preocupo com Atena. Nada mais importa a não ser ela. Amizades não importam se tais amigos se mostram traidores. Somos Cavaleiros que prometemos proteger Atena e livrar a Terra do mal."-ele dizia, suas palavras antes duvidosas agora me parecem tão verdadeiras.-"Atena deve ser protegida de todo mal."

Eu quis acreditar em sua inocência, que o Mestre estava enganado! Não sabe o quanto às palavras do Mestre me machucavam. Eu não queria acreditar naquilo...e você me mostrou sua verdadeira natureza, Aioros.

Os outros também o procuram. Mas é meu desejo e privilégio que seja morto por mim. Eu salto, desferindo minha Excalibur, e vejo que ele desvia de meu golpe, segurando o embrulho em seus braços com todo cuidado.

"Aioros, porque você fez isso?"

Você não é mais meu amigo...meu irmão! É um inimigo a ser destruído. Você mentiu para mim, traiu nossos ideais e eu o ODEIO por isso.

"Airlos, você acha que fugiu em segurança?"

"Espere! Shura, me ouça!"

"Não darei ouvidos a um traidor! Morra!"

"Shura!"

Eu não posso hesitar...você traiu nossa amizade...tem que morrer. Ignoro até mesmo a presença de um bebê nos braços de Aioros. Aquele bebê...

Lutamos, e eu venci. Vi seu corpo ser atingindo pelo meu golpe e cair em um precipício. Observo a criança, penso em acabar com seu sofrimento, seria cruel abandona-lo ali, mas eu não consigo... dou as costas a ela...e vou embora.

Eu matei meu único amigo...alguém que chamei de irmão...e não posso nem ao menos chorar por isso.

Segunda Parte:

Ser chamado como traidor, este é o estigma que carregarei por ter tomado essa decisão. Mas eu sou um Cavaleiro de Ouro e proteger Atena é a minha verdadeira razão de ser.

Perdoe-me, Aiolia por não poder levá-lo comigo. Por partir sem lhe dizer o porque, por deixá-lo sozinho enfrentando as conseqüências de meus atos. Mas sei que Shura não irá desampará-lo, ficará ao seu lado...isso me consola.

Shura, meu amigo...é seu cosmo que sinto aproximar-se? Por que ele está tão cheio de raiva e ressentimento?

Eu paro de correr por um instante, ajeitando a manta para proteger o bebê sagrado que carrego em meus braços do frio da noite. Ela sorri, inocente para mim...alheia ao fato de que sua frágil vida quase fora ceifada por um dos nossos...por um cavaleiro que julguei digno.

Sinto novamente o Cosmos de Shura...está carregado de ódio. Ódio que sinto ser dirigido a mim e compreendo que sua mente e seu coração estão tomados pela confusão, pelas mentiras que o falso Mestre deve ter dito sobre mim.

Não posso ficar mais aqui... preciso correr e chegar até a cidade, lá poderei encontrar pessoas de confiança para cuidar de Atena, enquanto eu tento convencer Shura da verdade.

Em meu caminho, mais soldados. Luto, evitando de feri-los seriamente. São inocentes, que acreditam estarem fazendo o certo, de estarem lutando por Atena. A luta acaba rapidamente, ela apenas me atrasou um pouco.

Então, me afasto o mais rápido que posso do Santuário...mas sinto o deslocamento do ar, e meus sentidos me alertam do perigo. Salto, evitando que o golpe que eu conheço muito bem me atinja.

Olho para o lado e o vejo. Ele tenta mascarar o ódio que sente com uma expressão irônica.

"Aioros, porque você fez isso?"

Ele é meu amigo. Sei que ouvirá a razão. Ele sempre escutou meus conselhos, minhas histórias que nos faziam rir quando crianças, antes de nos separarmos e sermos preparados para nos tornarmos protetores de Atena.

"Aioros, você acha que fugiu em segurança?"

"Espere! Shura, me ouça!"

"Não darei ouvidos a um traidor! Morra!"

"Shura!"

Ele se recusa a ouvir minhas palavras. O ódio que sinto em seus olhos o cega. Não quero lutar com ele, me recuso a feri-lo, mas se não fizer algo, Atena poderá morrer.

Deixo o bebê em um canto seguro e visto minha armadura para enfrentar aquele que foi o melhor amigo que tive em minha vida. Com o coração aos prantos eu revido seus ataques. Mas somos cavaleiros de ouro e nossos cosmos são iguais, esta luta porém não pode se arrastar por muito tempo...preciso proteger o bebê...o bebê!

Ela não está mais aonde a deixei. Inocentemente engatinhou até Shura. E ele a usa como escudo. Percebo então o quanto a raiva e o ressentimento podem cegar um homem. O Shura que eu conheci jamais faria tal coisa...ele não parecia o homem a quem eu chamava de irmão.

Sem alternativas, permito que seu golpe me atinja com fúria, caio no precipício gritando o nome da deusa a quem eu amo...Zeus, não permita que ele a machuque inconscientemente...não permita que eu morra antes de salvá-la.

Estes pensamentos me mantêm vivos...realizando o impossível para a maioria dos homens, escalo com o corpo ferido mortalmente o paredão íngreme e com alivio eu a vejo sentada quieta no chão, me esperando...seus olhos inocentes renovam minhas forças e continuo minha fuga.

Entrego a criança aos cuidados de um estranho, meu corpo não agüenta mais...cheguei ao meu limite... Shura...sinto minha vida esvaindo-se...eu sei que fiz o certo...mesmo assim, não sinto ressentimentos por você...é e sempre será meu amigo...meu irmão.

Fim...