O Primeiro Forasteiro escrita por JFB Bauer


Capítulo 7
Capítulos 11 e 12


Notas iniciais do capítulo

Oi amores mais dois capítulos para vocês.



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Capítulo Onze

Quando passou pela porta do pub naquela tarde para começar mais um dia, ou noite de trabalho, Bella exibia um sorriso permanente no rosto.
Jasper acabara de deixá-la em frente ao local de trabalho após passar em sua casa para buscá-la. Aproveitaram, então os minutos para curtirem a companhia um do outro. Desde o luau, aonde se beijaram pela primeira vez, eram quase inseparáveis.
Cada vez mais ela gostava da presença de Jasper em sua vida. Ele era extremamente carinhoso, a tratava como uma princesa e ainda beijava divinamente. Não seria difícil se apaixonar por ele, ela conjecturou. Estava decidida a se abrir e tentar fazer isso acontecer. Era atraída por ele fisicamente, e por isso estava convencida a se deixar levar, ou seja, perder a virgindade com o advogado. Tinha certeza que seria especial, pois ele era um homem maravilhoso.
Porém quando pensava nisso a imagem de Edward sempre surgia em sua mente. Tentava evitar esses pensamentos e se persuadia a crer que era apenas por ter fantasiado demais achando que o forasteiro, seu primeiro amor, seria também seu primeiro e único homem.
A jovem colocou a bolsa em cima do balcão e foi acender as luzes para começar a limpeza do local quando viu sua amiga, Alice sair do depósito ajeitando as roupas e o cabelo.
Sorriu e balançou a cabeça.
— Vocês dois não tem um lugar mais confortável para fazer isso não?
Desavergonhada, Alice riu.
— É claro que temos, mas às vezes não dá para segurar.
— Entendi — a morena disse prendendo os cabelos em coque enquanto observava a amiga. — Então esse... está ficando serio entre vocês.
— Claro que não. É apenas sexo — a morena deu de ombros.
— Credo, Alice, que agora você falou igual a Rose. Sei que você não é assim.
— Não foi sempre a Rose que Emmett achou a mulher ideal? Que vivia babando por ela? Então?
Rose era uma amiga em comum das duas garotas que vivia na França e que se gabava em fazer apenas sexo casual. Bella analisou atentamente e se culpou por somente pensar em sua vida pessoal e não notar que sua amiga precisava de conselhos.
— Alice não faça isso. Não tente ser o que você não é...
A morena acenou com a mão pedindo que assunto se encerrasse.
— Esquece isso. Eu estou bem. Agora me fale de você. Como estão as coisas, você e Jasper já...
— Não!... Ainda não, mas em breve...
A amiga sorriu.
— Isso é bom. Você merece ser feliz. Acho que vocês dois formam um belo casal.
Bella lhe devolveu o sorriso.
— Eu também acho. Ele é maravilhoso não é?
— É sim. Vão se ver hoje?
— Não. Ele teve que ir a Nova Iorque resolver alguma coisa referente ao escritório. Mas volta em dois dias.
Iria sentir falta dele, já que se viam todos os dias. Resolveu que quando o advogado voltasse deixaria que o relacionamento deles seguisse para algo mais serio. Não se inibiria ou impediria que tivessem mais intimidade. Ela já tinha 21 anos e sexo era algo que fazia parte da vida. Já estava na hora.
— Quando ele voltar... — começou a dizer, mas não terminou a frase.
— Tenho certeza que será especial, amiga. Jasper está completamente caidinho por você.
Mais uma vez a imagem de certo forasteiro tomou a mente de Bella e ela mais que rapidamente a afastou. Não tinha que relacionar ele ao que viveria em breve. Edward era passado, agora era somente seu colega de trabalho.
***
O forasteiro desviou o olhar sentindo que Jasper o analisava.
— Você está bem, Ant... Edward? Parece abatido.
— Estou bem. Apenas um pouco cansado, não dormi bem a noite.
Não era mentira. Novos pesadelos e lembranças o atormentaram nas três últimas noites. Principalmente depois que assumiu para si mesmo que estava apaixonado por Bella e que havia jogado sua chance fora quando a viu beijando Jasper.
O amigo estava ali para se despedir, pois voltaria para onde residia.
— Volto em dois dias — explicou. — Vou tentar tirar mais alguns dias de férias.
— Por que isso? — Edward perguntou receando saber a resposta.
Jasper exibiu um sorriso.
— Por causa de Bella. Estou louco por ela e sei que se eu ficar aqui as coisas irá progredir entre nós.
O forasteiro sentiu seu íntimo se agitar, tomado pelo ciúme.
— Achei que as coisas já tivessem progredido — comentou.
— Sim. Está tudo ótimo entre mim e ela, mas... ela ainda não conseguiu se entregar de verdade. Algo a prende. Não sei o que é.
O rapaz se levantou.
— Bom, tenho que ir andando.
Edward o acompanhou até a porta.
— Cuide da minha garota até eu voltar, meu amigo — brincou Jasper. — Em breve não precisará mais fazer isso — completou.
— Como assim?
O jovem respirou fundo antes de falar:
— Posso estar sendo precipitado, mas se as coisas com Bella se acertarem, pretendo levá-la comigo para Nova Iorque — o advogado disse sem perceber o quanto suas palavras afetaram o forasteiro.
— Você está falando em... casamento?! — perguntou sem esconder a surpresa dessa vez.
— Cara! Não sei! — riu sem jeito — Se ela quiser isso, mas penso mais levá-la para morar comigo como minha namorada. Não quero ficar longe dela e não posso vir morar aqui. Além disso, vai ser bom para ela ir pra lá. Pode tentar aquele curso que ela tanto queria, bom não sei... só sei que estou apaixonado como nunca estive e quero essa mulher ao meu lado — confessou.
Edward mal conseguia escutar as razoes nobres do amigo apenas imaginava como viveria em um inferno ao saber que Bella seria mulher de seu amigo.
— Tenho que ir. O procuro quando voltar, Edward.
Assentiu para o amigo que se dirigiu a picape esportiva que estava usando durante os dias que esteve em Hierápolis.
Dentro da casa a fúria e frustração tomou conta do forasteiro que mais uma vez tentou amenizar socando a parede. Desta vez exagerou na dose e quando sentiu algo estalar e uma dor excruciante teve certeza que havia quebrado algum osso da mão. Contudo a dor que sentia não era capaz de atenuar o ciúme e medo que lhe afogava o coração por ter realmente perdido, sem nunca ter tentado, a garota dos seus sonhos.
***
Logo que chegou ao pub olhou para a mão enfaixada, ou seria mal enfaixada já que não conseguiu fazer um bom trabalho como das outras vezes por que o inchaço e dor o impediu. Tentaria esconder o machucado e a dor que sentia que mesmo com o analgésico que tomara não havia diminuído.
Assim que entrou avistou Bella já atrás do balcão pronta para mais uma noite de trabalho. Os olhos do forasteiro percorreram a silhueta da jovem de cima abaixo se demorando mais nos detalhes que ele mais gostava. Apesar do corpo curvilíneo dela lhe chamar muito a atenção, o rosto dela era o que ele preferia. Adorava os olhos dela. Não somente pela cor, mas sim pelo brilho que existia neles, quando ela sorria então... a boca carnuda que já havia experimentado era uma total perdição.
Concentrado em sua apreciação da beleza de Bella não percebeu a cena que se desenrolava quase a sua frente. Alice e Emmett discutiam exaltados.
Seguiu para o lado de Bella prestando atenção a briga do “casal” de amigos.
— O que há com eles? — perguntou quando parou ao lado da morena.
— Já devia estar acostumado, Edward. Quando os dois não estão se pegando no depósito pensando que ninguém percebe geralmente estão brigando feito cão e gato — Bella respondeu rindo e ele a acompanhou.
Os dois ficaram em silêncio acompanhando a discussão dos amigos até que Bella perguntou:
— Você viu o Jasper antes dele partir?
Na mesma hora ele foi dominado pelo ciúme, mas tentou esconder.
— Sim. Ele foi até minha casa antes de ir.
Ela mordeu os lábios. Automaticamente o gesto não passou despercebido por Edward. Ela parecia querer perguntar algo a ele.
— Acha que ele volta mesmo? Quero dizer, no prazo que ele disse que voltaria?
— Não sei — respondeu ríspido. — Parece que você está muito interessada.... — não resistiu em dizer.
Bella o encarou com certeza surpresa pelo modo que ele havia falado. Antes que ela pudesse formular uma resposta, Alice e Emmett se aproximaram.
— Eu não concordo com você, Alice — Emmett disse bravo. Edward estranhou, pois jamais o vira com raiva.
— Isso por que você é um retrógrado!
— Eu sou o quê?!
Chegava a ser engraçado a briga deles, pensou o forasteiro.
— O que há com vocês? Não param de brigar. Nem parece que cheguei aqui e estavam lá atrás...
Bella deixou implícito, mas todos entenderam.
— É essa sua amiga que veio com uma ideia maluca — resmungou Emmett.
— Não é nada demais, eu apenas disse a ele...
— Não ouse falar isso de novo, Alice! — Emmett rebateu visivelmente furioso. — Edward? Você pode se apresentar hoje? — mudou de assunto rapidamente. — Acho que o pub está precisando de um pouco de boa musica.
O forasteiro pensou em negar, pois com a mão latejando do jeito que estava tinha certeza que não conseguiria tocar, mas resolveu tentar. No fim tocar sempre o acalmava e era disso que ele precisava aquela noite.
***
— Não acredito que era por isso que estavam discutindo? Você enlouqueceu, Alice?! — Bella inquiriu a amiga pensando realmente que ela tinha perdido o juízo.
Convidar Emmett para ir a um clube de swing só poderia ser coisa de maluco. Conhecendo o amigo do jeito que conhecia a fotografa até achava que ele tinha agido com bastante calma.
— É claro que eu não iria. Eu só queria ver qual era a reação dele — respondeu calmamente a amiga.
Os acordes do violão de Edward chegaram aos ouvidos de Bella que olhou na direção em que ele se encontrava. Na mesma hora percebeu que algo estava errado. Ao observar melhor percebeu que a mão direita do forasteiro estava enfaixada e que ele parecia sentir dor.
— O que foi? — Alice perguntou seguindo o olhar da amiga.
— Tem algo errado com Edward. Olha como ele mal consegue mexer a mão direita.
Não era incomum Edward vir com a mão enfaixada. Por vezes ele dissera que era desastrado e acabava se machucando, mas no fim acabou confessado que praticava boxe e que ocasionalmente se feria.
As duas seguiram até o pequeno palco onde o rapaz estava sentado preparando sua apresentação daquela noite.
— Edward? Está tudo bem? — Alice foi quem perguntou.
— Está sim — respondeu olhando para as duas, mas Bella sentiu o olhar intenso dele sobre si mais veemente.
— O que há de errado com sua mão? — perguntou direta.
— Nada. O de sempre — respondeu.
— Tem certeza?
— Sim.
Ela não acreditou. Cruzou os braços e o fitou.
— Então me deixa ver.
— O quê?!
— Me deixa ver sua mão, Edward.
— Não tem nada de errado com ela, Bella, apenas me feri novamente treinando.
— Eu não acredito em você — disse se aproximou pegando a mão dele que descansava sobre o violão. Na mesma hora ele recuou como se tivesse levado um choque.
A reação intempestiva deu a certeza que Bella precisava: ele estava com dor.
— Está com dor não é? — afirmou sua própria pergunta.
— Bella... — Alice a alertou.
— Qual é a Alice, ele esta morrendo de dor e fica ai dando uma de machão — disse chateada. Novamente colocou seus olhos sobre Edward — por favor, me deixa ver a sua mão — pediu.
O forasteiro dessa vez não recuou quando sentiu o leve toque da mão dela sobre a sua. Devagar e com delicadeza Bella foi retirando a faixa que cobria a mão dele.
Assim que terminou de fazer ofegou assustada. Além de muito inchada a mão estava roxa quase indo para o preto.
— Meu Deus! — Alice que estava ao lado exclamou.
— Edward... o que... — a garota não conseguiu falar tão sensibilizada ficou por ver como ele estava ferido.
— Eu achei que fosse melhorar se eu enfaixasse. Já aconteceu das outras vezes, mas...
— Mas agora é diferente não é? — Bella o encarou — Sua mão deve estar quebrada, Edward. Precisamos ir para um hospital urgente.
— Eu...
Homens! Pensou Bella. Sempre querendo parecer fortes.
— Alice? Avise o Emmett que vou levar o forasteiro para o hospital de Rockville. Nosso posto médico não teve ter o atendimento que ele vai precisar.
— Claro, eu aviso sim.
— Vamos lá! — olhou para Edward com as sobrancelhas arqueadas com a expressão que dizia que não aceitaria recusa.
Ao saírem para a noite escura, quase sem lua e estrelas parados perto da picape dela, Edward finalmente falou:
— Olha não precisa...
— Se vai dizer que não precisa de médico, sendo que sua mão está quase preta, e não sou especialista nem nada, mas me parece que pode até ter que amputar, eu vou ficar realmente chateada com você. Agora entra no carro!
Sem mais palavras ele fez o que ela disse e Bella pode enfim respirar.
Menos de quarenta minutos depois estavam na sala de atendimento do posto médico da cidade vizinha. A garota ficara apreensiva se deveria levá-lo diretamente para o Roper Hospital em Charleston, mas ao ver o empenho dos profissionais da pequena, mais bem equipada unidade de saúde de Rockville, ficou mais tranquila.
O forasteiro já havia feito radiografias que eram examinadas naquele momento pelo ortopedista. O médico explicou aos dois que realmente havia uma fratura que se chamava colo do quinto metacarpo, também conhecida como fratura do boxer.
Após imobilizar a mão ferida, receber antibióticos, remédios para a dor e instruções de repouso para os próximos dias, os dois foram liberados.
No caminho, sob efeito dos remédios, o forasteiro não rebateu quando Bella disse que o levaria para casa. Antes de apagar lhe informou o endereço de onde morava.
Enquanto dirigia a garota olhou para o rosto adormecido de Edward. Tão másculo e sensual e agora parecia apenas um garotinho perdido, pensou comovida.
Sabia que aquele homem tinha sérios problemas emocionais, mas não se importava. Se ele desse uma chance a ela mostraria que poderia amá-lo como nunca foi amado.
— Droga! — esbravejou.
Pensou que seus sentimentos por ele tivessem diminuído um pouco, mas se equivocara.

Bella se perguntou se tinha entendido o endereço corretamente. O forasteiro morava naquela mansão? Sabia que ele tinha dinheiro, certa vez que conversaram, ele havia dito que não trabalhava no pub por dinheiro, mas não imaginava que ele fosse tão rico.
Desligou a picape e encarou o homem ao seu lado.
— Como vou fazer para levá-lo para dentro? — perguntou a si mesma.
Contornou o carro e abriu a porta.
— Edward? — tocou o ombro dele. Nada. O jovem estava apagado. — Forasteiro? — tentou novamente sacudindo com mais força. Dessa vez o rapaz abriu os olhos, mas notava-se que estava sonolento. — Ei, chegamos. Vamos! Eu ajudo você.
Ela puxou o braço dele apoiando em seu ombro. Esperava que ele pudesse manter a coordenação e caminhar, pois do contrário, seria um belo tombo que levariam.
Por sorte e amparado por ela, Edward conseguiu mais cambalear do que caminhar. Quando chegaram até a porta, Bella perguntou pela chave. Não obtendo resposta teve que procurar nos bolsos da calça dele encontrando o que procurava.
— Bella... — ele murmurou.
— Só mais um pouquinho, Edward, já estou quase conseguindo... abrir a porta... merda de chave que não quer entrar.
A jovem estava tendo trabalho ao segurar Edward e tentar abrir a porta.
— Consegui! — exclamou. — Venha!
Ajudando-o a caminhar ela o levou até o sofá que viu logo que entrou. O forasteiro caiu de costas no estofado macio e, segurando a mão dela, a puxou sobre si.
— Edward... O que está fazendo? — perguntou com o coração aos saltos pela proximidade íntima que tinha com o dono de seu coração.
— Bella... você é tão limba... — o forasteiro disse com a voz arrastada.
— Limba?!
Foi então que ela percebeu que ele tinha os olhos semiabertos. Era óbvio! Não estava ciente do que dizia. A medicação forte que tomara deveria estar fazendo efeito o deixando grogue e o incitando a falar coisas desconexas.
Sentiu a mão dele passando suavemente por suas costas até chegarem à cintura dela quando ele a apertou. A garota estremeceu.
— Por favor, Edward, me solte.
Não é o que você quer realmente não é? Foram os pensamentos traiçoeiros da jovem.
— Você é linda, Bella, seu cheiro... — o forasteiro colocou o rosto no pescoço dela deixando a moça ainda mais ligada em sensações prazerosas que jamais sentiu. — Seu cheiro me deixa louco.
— Ah... — ela gemeu quando sentiu uma leve mordida na parte sensível logo abaixo da orelha esquerda.
— Amo você, Bella — ele disse.
A garota quase sucumbiu ao ouvir aquelas palavras. Era tudo o que mais queria, no entanto sabia que ele não estava dizendo o que realmente sentia.
— Não brinca comigo desse jeito, Edward — choramingou.
Assistiu o forasteiro fechar os olhos e em seguida cair num sono profundo.
Com o corpo dele inerte ela conseguiu se soltar, mas nem por isso saiu de cima dele. Queria aproveitar mais aquele momento de estar assim, tão próxima, mesmo que fosse pura ilusão. Queria acreditar que aquilo que ele dissera era verdade. Mesmo que não fosse, e aproveitar aquele único momento que teria com o homem por quem era apaixonada.

Capítulo Doze


Já era tarde da noite e Bella ainda permanecia na casa do forasteiro. Não queria deixá-lo sozinho aquela noite e por isso avisou ao pai que dormiria na casa de Alice. Não gostava de mentir para Charlie, na verdade nunca o fazia, mas o pai com certeza não entenderia o motivo de ela passar a noite na casa de Edward.
Ligara também para Emmett avisando que Edward estava em casa e que provavelmente não trabalharia nos próximos dias.
Com os avisos efetuados, tentou não ser enxerida e ficar bisbilhotando a vida alheia, mas não resistiu por muito tempo. Percebeu que a casa era muito maior do que julgara por fora. Era tudo muito luxuoso e tinha até uma piscina aquecida e coberta. Contudo por outro lado a casa era vazia, sem emoção, neutra. Não havia nada que desse um conforto familiar. Talvez refletisse a personalidade do dono. Foi em sua incursão pela casa que viu aquilo que a chocou, e que a fez ter certeza que fez o certo em decidir passar a noite ali.
Ao procurar pela academia em que Edward dizia treinar boxe e onde machucara a mão, ela viu em uma parede lascada e com marcas de sangue. Na mesma hora entendeu que não foi por socar um saco de areia que ele se feriu, e sim, por socar a parede. Por que ele faria aquilo? Apenas um grande descontrole emocional poderia fazer um homem socar a parede com a possibilidade de se machucar. Ou... ela não queria nem pensar naquilo, ou talvez ele quisesse se autoinfligir dor.
Olhando para ele que dormia coberto por uma manta que ela achara no outro sofá, pensava no que poderia afligir tanto aquele homem. Cansada, resolveu se acomodar no outro confortável sofá para dormir e julgou que não teria problemas com isso. Aquele sofá era melhor que a cama dela.
Estava quase adormecendo quando ouviu os murmúrios de Edward.
— Não... não, Ryan...
A garota levantou a cabeça devagar e viu que o rapaz dormia, provavelmente sonhava. Aproximou-se e viu que a testa dele brilhava de suor, estava banhado em suor.
Resolveu livrá-lo do cobertor e abrir a camisa para que ficasse mais confortável. Lentamente abriu botão por botão revelando o corpo musculoso de Edward.
— Por favor, se controle Bella! Ele está doente e inconsciente! — disse a si mesma. — Pode parar com esses pensamentos libertinos.
Mas sua mente não obedecia e lhe mostrava varias cenas, principalmente com ela lambendo a pele do abdômen dele sempre descendo mais até se perder por caminhos lascivos...
— Chega!
Afastou-se, voltando para sua cama improvisada e observando que após livrar o forasteiro das cobertas e camisa ele parecia novamente tranquilo.

A sala se iluminou assim que os primeiros raios de sol despontaram no mar. A casa tinha uma grande parede de vidro voltada justamente na direção do oceano, logo quando amanhecia toda a sala era inundada pela claridade.
Bella levantou a cabeça espiando que Edward ainda dormia. Tinha encerrado sua missão. Ele passara a noite bem e não precisou de nada. era hora de dar o fora. Todavia a garota queria ficar mais um pouco quem sabe esperar que ele acordasse e talvez até preparar um café da manhã para os dois.
Lá vai você ter fantasias irreais! Ele não te quer! Será que não deixou isso bem claro nas diversas vezes que a rejeitou?
Após uma briga consigo mesmo a razão falou mais alto e sem quase fazer barulho ela pegou a chave do carro, a bolsa e partiu.
Chegou em casa na mesma hora em que o pai saia para mais um dia no mar.
— Bom dia, papai.
— Olá, querida. Caiu da cama? Não me diga que Alice está madrugando?
Só então se lembrou de que havia mentido para o pai dizendo que dormiria na casa da amiga.
— Não... Alice jamais acorda cedo. Eu saí antes de todos acordarem.
Não gostava, mas outra vez mentiu.
— Tudo bem, filha. Já vou indo.
Viu o pai se locomovendo em sua cadeira de rodas. Aquilo muitas vezes apertava o coração da jovem, contudo na maioria das vezes ela sentia era orgulho de Charlie jamais se abater pelas mazelas que a vida lhe propiciou.
Tentou se distrair durante o dia, mas há quase todo instante pensava no forasteiro. Especialmente sobre os motivos que o levaram a machucar a si próprio.
Avisou Emmett da condição de Edward explicando que ele não iria trabalhar por no mínimo dois dias. Depois resolveu ligar para a amiga e cunhada. Fazia semanas que prometera retornar a ligação de Emily e não havia feito.
— Tia Bella! — ouviu a voz cantada do sobrinho.
— John! Que saudade meu lindo!
— Eu também sinto saudades, tia. Quando vai vir me visitar?
— Em breve, querido, eu prometo.
— Oba! Já estou maior, dessa vez posso te ensinar a montar. Vou arrumar um potro bem manso.
Seu sobrinho amava a fazenda em que vivia e principalmente os cavalos que lá estavam.
— Ah, que fofo! Apesar do medo que sinto prometo tentar. Agora me diga se sua mãe está por perto, eu preciso falar com ela.
— Sim. Está do meu lado. Tchau, tia, Bella e dê um abraço no vovô.
— Pode deixar. Te amo, querido.
— Olá, amiga desnaturada.
A voz da cunhada era brincalhona e Bella sentiu muito a falta dela.
— Oi, Emy, como você está?
— Estou... bem. E você? Julguei que tivesse arrumado um namorado já que nem retornou minha ligação.
— Não... não tenho namorado, quer dizer, estou saindo com um cara, um advogado de Nova Iorque.
— Opa! A historia está ficando interessante. Me fala! Está gostando dele? Vocês já partiram para a ação? — a amiga quis saber curiosa.
— Nossa! Você parece a Alice falando, e a resposta é não, ainda é recente — se apressou em dizer.
Permaneceram em silêncio por um tempo até a amiga falar.
— Hum... por que será que estou com a impressão que há mais nessa historia...
Bella queria negar dizer que tudo estava bem e não preocupar a amiga que já tinha seus problemas, mas ao mesmo tempo precisava desabafar.
— Ah, Emy, eu estou apaixonada — confessou.
— Você fala como se isso fosse algo ruim.
— É que não é por esse cara que estou saindo, e sim por meu colega de trabalho, que já deixou claro várias vezes não querer nada comigo.
— Ah, Bee, sinto muito — Emily falou o apelido que somente o irmão a chamava. — Mas o amor é assim mesmo, querida, não escolhemos por quem nos apaixonar e muito menos podemos fazer que nossos sentimentos sejam correspondidos. Acho que no fim é uma questão de sorte.
— Então, estou sem sorte.
As duas conversaram por mais um tempo e Bella contou com detalhes a sua relação com o forasteiro.
— Não é certo ficar se jogando em cima de um homem que não me quer. Assim ele vai se sentir obrigado a me comer. Não quero ser aquele tipo de mulher que não se dá conta que o cara não está a fim. Estou agindo feito uma piranha — desabafou.
— Não seja boba, Bella. Você até virgem é. Nunca ouvi falar em piranha virgem...
As duas gargalharam uníssono.
— Pelo que aconteceu ontem esse homem parece estar precisando de apoio — Emily disse voltando a ficar seria. — Parece estar perdido e talvez ele só precise de alguém em quem confiar, ele só precisa de você.
— Tenho medo de ser rejeitada de novo se eu me permitir ter esperanças.
— Bella não lembra quando eu me apaixonei por seu irmão? Não existia uma pessoa com mais medo do que eu, depois de tudo o que passei, mas fui atrás do que eu queria e não me arrependi.
O silêncio novamente se fez entre as duas.
— Sinto sua falta, Bella, sinto tanta...
Emily não terminou a frase.
— Eu também, Emy, eu também — Bella concordou pesarosa.

Com a câmera fotográfica em mãos a garota andava pela praia registrando tudo a sua volta. O dia estava com uma luz diferente fazendo que as fotos ficassem muito bonitas. Em sua pequena carreira como fotografa, ela sabia que a luz era um ponto muito importante em relação à qualidade das fotos.
Fotografando aleatoriamente para se distrair e espairecer, se lembrou de quando aquele forasteiro veio correndo em sua direção, quando se conheceram e jogou sua câmera no mar.
Um leve sorriso tomou seu rosto. Agora achava engraçado, mas na época ficara furiosa.
Olhou para o lado e viu que estava à frente a bela casa em que Edward residia. Não havia prestado atenção que se dirigiu para lá quando caminhava pela praia. Talvez seu destino fosse ir para aquele local, pois por mais que tentasse não conseguia deixar de pensar em seu colega de trabalho. Precisa conversar com ele, precisava de algumas respostas.
Seguiu decidida pela areia até encontrar o caminho de pedras que levava até a casa.

***

Fazia mais de quinze minutos que ele olhava para a mão imobilizada por uma tala. Não sentia mais a dor terrível do dia anterior, contudo a dor não era sua inimiga. Nunca fora. Na verdade ela fora sua amiga por todos esses anos, ajudando-o a suportar a culpa que carregava dentro de si. Mas agora ele sentia que chegou a um ponto em que não aguentava mais sentir essa culpa. E tinha certeza que tudo isso tinha tudo a ver com a garota que tomou conta de seu coração.
Fazia tempo que não sentia o que era ser amado, na verdade nunca soube se algum dia foi amando por quem ele era. Amor verdadeiro sentia somente pelos irmãos. Sabia que Annie o amava, e que Ryan também, afinal o irmão estava naquele lugar horrível para protegê-lo. Quanto aos pais, nunca sentiu que era amando por si e sim pelo que lhes dava em troca. Fama, fortuna, prestígio social por serem pais de um famoso ator. Então desde a noite anterior sentiu no carinho e na preocupação de Bella, o mais próximo que esteve do amor de uma mulher. No passado tivera muitas, muitas mulheres mesmo, mas nenhuma o amou. Amavam seu dinheiro e sua fama, amavam o ator.
Sentindo falta de carinho pegou o celular pré-pago descartável que havia comprado caso surgisse alguma emergência e discou o numero da irmã. Precisava demais falar com ela.
— Alô? Quem é? — ouviu voz receosa da irmã.
— Sou eu.
— Ah!
— Por favor, não diga o nome — a cortou rapidamente.
— Só um minuto — Anne pediu.
Ele ouviu que ela se movimentava.
— Estou na rua. Eu estava na loja. Fiquei surpresa por me ligar, geralmente é tão meticuloso que combina sempre um horário e jamais liga para este número. O que houve? Está tudo bem?
— Sim... eu... apenas senti sua falta.
Confessou não se envergonhando se parecer fraco para sua irmã caçula.
— Ah, meu ir... eu também sinto muito sua falta, mas você não me parece bem.
— Estou bem sim, não se preocupe. Apenas queria saber de você.
— Bom, você ligou em um momento muito bom, tenho novidades. Estou grávida.
A notícia aqueceu o coração do forasteiro. Assim como ele a irmã amava crianças, ele tinha certeza de que ela seria uma ótima mãe.
— Estou muito feliz por você. Será uma mãe maravilhosa.
— Você acha mesmo? — perguntou parecendo insegura.
— Quem sempre segurava a barra sempre que eu e Ryan aprontávamos?
Ela riu com gosto.
— É verdade, mas isso não quer dizer que vou ser uma boa mãe. Ser responsável por outro ser que vai depender de você, me deixa bem nervosa.
— Não se preocupe a toa, vai dar tudo certo.
— Quando vamos poder nos ver, meu irmão? Quero abraça-lo. Ver se está bem.
— Quem precisa disso não sou eu, Annie e sim...
— Eu o vejo sempre e já lhe disse que ele está bem. Fui visitá-lo faz dois dias e ele me disse que o sacrifício dele de nada valeu se você não viver sua vida.
— Estou vivendo, apenas de um jeito diferente.
— Longe da gente? Se isolando em algum canto do mundo? Isso é vida, Anto... Edward? — o forasteiro percebeu que ela se corrigiu a tempo. — Desculpe. Não quero brigar com você, nos falamos tão pouco e eu não quero passar esse pouco tempo discutindo.
Os dois permaneceram em silêncio.
— Por favor, Edward, tente ser feliz. Sua infelicidade em nada vai mudar as coisas que aconteceram. O que está feito, está feito.
Sua irmã tinha razão por um lado, mas para ele era difícil não se culpar.
— Tenho que desligar, se cuide Anne.
— Te amo, irmão. Fique bem.
Depois de desligar a angustia que tomava conta do coração do forasteiro não foi embora como ele esperava. Na verdade piorou porque sentiu ainda mais falta da irmã. Sentia falta em ter alguém com quem contar.
Naquele momento ouviu alguém bater a porta. Ressabiado levantou do sofá para ver quem era. Não esperava ninguém. E quem poderia visitá-lo já que ninguém sabia onde morava? Logo se lembrou de Bella. Ela tinha ido com ele ao posto médico na noite anterior e ele se lembrava de ter dito o endereço a ela. De resto era tudo meio turvo em sua mente. Apenas recordava do sonho em que a tinha sobre si e que confessava que a amava.
Ao abrir a porta ali estava ela. Parada com sua câmera fotográfica pendurada ao pescoço olhando para ele como nenhuma outra pessoa olhava. A cada vez que a via a achava ainda mais bonita, ele concluiu.
— Será que posso entrar? — ela perguntou. — Precisamos conversar.
Ele assentiu e deu espaço para que ela entrasse. Assim que se viu a sós com ela percebeu que ela olhava para a casa.
— Essa casa é sua? — indagou.
— Não. É alugada.
— Mesmo assim. O aluguel deve ser altíssimo. Você não disse que tinha tanto dinheiro.
— Eu deveria dizer isso?
A resposta saiu mais ríspida do que ele desejava e observou como Bella ficou magoada.
— Não... é só... — ela balbuciou.
— Me desculpe, Bella. Eu não quis ser rude.
Ela assentiu sem encontrar os olhos dele.
— Como está a sua mão? — perguntou timidamente.
Olhou rapidamente para a tala que mantinha sua mão firme.
— Não sinto quase dor — respondeu olhando fixamente para ela observando todas suas expressões.
Então os olhos de ambos se encontraram e novamente aquela ligação que os prendia estava presente. Algo diferente de tudo o que ele já sentiu.
— Eu queria agradecer por me levar ao posto médico. Se não fosse por você acho que ainda estaria... com a mão daquele jeito.
— Não precisa agradecer. Eu só não entendo por que se machucou daquele jeito, Edward.
Ele recuou.
— Como assim?
— Eu fiquei aqui com você, Edward, enquanto estava apagado... eu vi as marcas nas paredes... e vi você machucado outras vezes, então conclui que fez isso consigo mesmo. Por quê?
— Bella...
— Não minta para mim! — ela disse alterada. — Por que eu não sou idiota — respirou fundo, — Edward... acho que talvez você precise de ajuda...
— Eu preciso é que você me deixe em paz e pare de se meter no que não é da sua conta — rebateu furioso.
Os olhos dela marejaram e na mesma hora se arrependeu do que disse. Nem sabia por que tinha dito aquilo. Talvez fosse apenas uma forma de se proteger.
— Seu cretino! Eu te ajudo me preocupo com você e é assim que me trata. Pode ter certeza que vou deixá-lo em paz...
Ela se virou para sair, mas antes que desse um passo ele a segurou pela cintura puxando-a de encontro a si.
— Me solta! — esperneou para se livrar dele.
Mesmo segurando-a apenas com um dos braços, já que a mão direita estava imobilizada ela não conseguiu se soltar. Ele era muito forte.
— Me perdoe. Eu não queria dizer aquilo — disse fitando os olhos azuis brilhantes dela.
Estavam próximos um do outro e se encaravam como se um desafiasse o outro a ceder. E quando Edward olhou para os convidativos lábios de Bella, foi ele que cedeu. Ele a beijou.


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