O Primeiro Forasteiro escrita por JFB Bauer


Capítulo 2
Capítulos 1 e 2




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Capítulo Um

O sol começava a despontar trazendo aquela cor bonita que se via nas manhãs. Principalmente refletido nas águas do mar.
Na areia da praia, quase deserta, o forasteiro corria. Concentrado, tinha os punhos cerrados e parecia correr para tentar limpar sua alma torturada.
Fazia cinco dias que havia chegado àquela pequena cidade. Havia escolhido Hierápolis justamente por este motivo. O município no estado da Carolina do Sul tinha aquele nome devido a uma cidade da Grécia antiga. Pelo menos era o que a senhora que acolheu na pequena hospedaria da cidade lhe dissera. Ali era o tipo de lugar que ele procurava. Calma e pacata. Um ótimo lugar para se passar despercebido.
Durante os últimos 6 anos essa era sua vida. Viver em cidades quase desertas de preferência o mais longe possível da civilização. Tudo para que não tivesse a mínima chance de ser reconhecido.
Era verdade, que ali havia cidades próximas que eram maiores. Charleston mesmo, não ficava a uma grande distância e era uma metrópole. Ele não gostava disso, mas também não era como se pudesse viver em uma ilha deserta. Se tivesse esta possibilidade provavelmente ele estaria lá.
Seu corpo castigado pela corrida de quase três quilômetros pedia para que ele parasse. Quando o fez estava próximo ao píer. Por todos os dias que correra passava por ali e olhava algumas embarcações. Pelo que sabia alguns moradores eram pescadores. Todavia, hoje havia apenas dois barcos. E a discrepância entre eles era imensa.
Andou pelo píer observando os dois modelos. Um era um veleiro delta 32 em ótimo estado. Uma bela embarcação. Ele entendia disso, pois possuíra um desses há um tempo. O outro um pequeno barco pesqueiro. Parecia muito antigo e não estava em suas melhores condições. Não saberia dizer nada sobre ele, pois sobre barcos pesqueiros nada entendia.
— Apenas admirando ou entende do assunto? — uma voz masculina o fez olhar para o lado.
Não havia notado, mas um senhor em uma cadeira de rodas e um jovem rapaz estava a poucos metros dele.
— Eu? — perguntou
— Sim — o homem assentiu. — Está olhando como quem entende do assunto.
— Não... quer dizer eu sei velejar, mas não entendo nada de pescaria.
O senhor riu. O rapaz que o acompanhava pulou para dentro do pequeno barco pesqueiro perguntando o que deveria fazer. Então o homem lhe deu ordens. Gírias de pescador pelo que percebeu.
O forasteiro permaneceu calado. Ele não gostava muito de interagir com os moradores locais das cidades que costumava ficar, no entanto em todos esses anos entendeu que chamaria mais a atenção se não se misturasse aos moradores do que se o fizesse. Logo, costumava conviver com as pessoas locais, sem maiores laços afetivos. Apenas convivência pacifica. E quando achava que seu tempo naquele povoado estava se estendendo demais, simplesmente partiria sem olhar para trás.
— Sou Charlie Swan. — O senhor de meia idade lhe estendeu a mão. — Aquele é Fabrício, meu ajudante.
O forasteiro estudou por um tempo o homem de fisionomia simpática que esperava seu cumprimento. Os olhos azuis e bigode vasto lhe dava uma aparência de homem simples, mas gente boa. Essa foi a impressão que o homem lhe passou.
— Edward Cullen — respondeu ao apertar a mão de Charlie.
— O forasteiro.
Edward assentiu. Sabia que as pessoas da cidade o estavam chamando daquela forma. Achava engraçado.
— Cheguei há alguns dias.
— Fiquei sabendo. Não se preocupe — Charlie se apressou em dizer — as pessoas não têm o habito de cuidarem da vida dos outros por aqui. Os comentários são apenas parte da curiosidade local e logo se dissiparão.
Era disso que tinha medo. Que ficassem curiosos sobre ele.
— Eu entendo — Edward desconversou.
— Se procura sossego vai gostar da cidade.
— Sim, é o que eu procuro.
Charlie acenou em entendimento. Trocaram mais algumas palavras e o forasteiro resolveu seguir seu caminho. Correu de volta, pela praia, em direção à casa que alugara.
Naquela região do município havia várias casas a beira mar. Todas belas construções. Todas estavam vazias. Somente no verão que algumas delas eram habitadas pelos proprietários e como estavam no inicio do outono ele permaneceria solitário na vizinhança por um bom tempo, o que o deixava tranquilo.
A casa que havia alugado era herança de uma moça do Texas que não tinha intenção de desfrutar do lugar. Definiria a casa como espetacular. Fora construída para proporcionar conforto a quem ali vivesse. Quatro suítes, três salas, academia de ginástica e piscina externa e outra aquecida. Tudo decorado com requinte e luxo. Nada que ele já não estivesse acostumado, ou que não pudesse pagar.
Tinha receio que as pessoas da cidade descobrissem que ele morava naquela casa, afinal isso indicaria que ele tinha dinheiro. Mas no fim não era como se tivesse tentando esconder esse fato, e sim outros.
Entrou na casa seguindo diretamente para a suíte principal. Depois de um banho relaxante resolveu ler. Era um de seus passatempos preferidos. Contudo sem se dar conta ligou a televisão. Coisa que não fazia com frequência. Por motivos óbvios preferia ouvir musica e ler a assistir filmes ou TV.
Não sabendo pelo que procurava começou a mudar de canal aleatoriamente até parar em um canal sobre celebridades. Um agente falava sobre um novo ator, uma nova promessa de Hollywood.
— Ele vai ser grande, escute o que estou dizendo, Sarah. Tem potencial para ser um astro, você sabe que disso eu entendo.
Carlisle Masen exibiu o sorriso convencido do qual o forasteiro se lembrava com nitidez.
— É claro, Carlisle! — Sarah a apresentadora do programa sorriu. — Todos nós sabemos que você sabe como ninguém elevar um ator a um patamar altíssimo. Porém, mantê-los no auge parece ser o seu problema não é? Diga-nos, Carlisle, seu maior tesouro, seu grande astro está sumido por mais de cinco anos... Se os telespectadores não estão lembrados Carlisle Masen é agente e pai do ator Antony Masen, astro da trilogia Junho Sombrio. Então, Carlisle? Onde está Antony? Os fãs querem saber.
Edward observou Carlisle sorrir como se não estivesse afetado, mas o forasteiro o conhecia bem e sabia que ele apenas tentava disfarçar.
— Eu quero dizer aos fãs de Antony, que ele está bem. Meu filho encontra-se em um retiro espiritual se preparando para um grande papel e em breve todos poderão vê-lo em ação.
— Então você desmente os boatos de que Antony Masen simplesmente sumiu? Que não quer mais saber da carreira de ator? Que nem vocês da família sabem onde ele está? — a apresentadora insistiu.
— Isso é ridículo. Antony é um astro. Jamais desistiria de atuar.
— Babaca! — Edward gritou e desligou a TV jogando o controle contra a tela de LCD que por pouco não foi danificada.
Ver aquele homem na TV o deixou furioso e somente uma coisa o faria se acalmar. Sentir dor.
A parede de alvenaria da sala de estar foi seu alvo. Dois socos potentes com a mão direita e logo o sangue manchava a parede branca. Sentiu a mão inchar rapidamente e controlando a respiração após seu acesso de raiva foi até a cozinha. No freezer pegou um pacote de ervilhas congeladas colocando sobre a mão.
— Porra! — falou quando sentiu a fisgada de dor.
Logo hoje precisava se descontrolar, pensou.
Dentro de poucas horas seria seu primeiro dia de trabalho como atendente no pub local. Não era bom que as pessoas vissem sua mão daquele jeito logo no primeiro dia.
Não sabia explicar por que decidira aceitar a proposta de Emmett, o proprietário do pub. Em todos esses anos nunca trabalhou em nenhum dos lugares pelos quais passou. Todavia achava que sua decisão era porque precisava de algo para se distrair de todos os pensamentos negativos que ocupavam sua cabeça. Não era como se precisasse trabalhar por dinheiro.
Sentou no sofá olhando para a mão inchada. Se todos seus tormentos sumissem tão facilmente sua mão parecia se curar, ele poderia considerar um dia recomeçar. Logo se lembrava dos motivos que o levara a ter aquela vida e se oprimia. E mesmo atormentado sabia que a sua sorte era melhor que a de duas outras pessoas. Ele merecia tudo pelo qual passava e ainda iria passar. Nada poderia atenuar o que fizera no passado, a única coisa que ele podia fazer era sentir o sofrimento. Tanto quanto as pessoas que ele prejudicou sentiram.

Começava a escurecer quando ele chegou ao pub Nirvana¹. Edward tinha que confessar que havia simpatizado com o local e com o nome do bar. Ele que já viajara pelo mundo se via envolto em legitimo pub inglês instalado em uma cidade de menos de cinco mil habitantes. Quando conheceu o dono do local, poucos dias atrás havia inquirido sobre o negocio. Emmett havia lhe dito que havia morado por seis meses na Inglaterra. Quando voltou a sua cidade natal teve a ideia de abrir o bar. Já o nome escolhido era porque o rapaz fã de Curt Cobain² e da banda iniciada em Seattle.
Olhou mais uma vez para o ambiente gostando do que via. As paredes eram na cor âmbar e decoradas com fotos antigas de paisagens inglesas. Algumas fotografias representavam eventos históricos. A iluminação era intimista composta por bonitos lustres.
— Cara! Eu jurei que você não iria aparecer — o rapaz alto e musculoso de cabelos claros disse com um sorriso.
— Eu disse que viria — Edward respondeu se aproximando do balcão.
Ele cumprimentou o simpático rapaz.
— Então passe para esse lado do balcão. Logo vai começar o movimento.
O forasteiro fez o que o seu novo chefe disse. Pegou o avental e o vestiu.
— Eu não consigo acreditar que um pub atraia movimento. Essa cidade é quase deserta.
— Minha garota também achava isso quando eu disse que abriria o bar. Mas você vai ver. Aqui não tem quase nada pra se fazer. Não tem cinema, teatro então as pessoas vem aqui. Há dias mais parados e outros dias mais agitados, por exemplo, quando alguns jovens da cidade vizinha passam por aqui. Algumas delas vêm acampar na praia.
— Entendi.
Edward viu um pequeno palco no canto. No dia que estivera ali, como cliente, não havia notado aquele detalhe.
— Tem apresentações musicais? — perguntou curioso.
— Muito raramente. Não é como se tivéssemos artistas dando sopa por ai. Bella é que às vezes tenta cantar algo, mas ela não leva muito jeito. Por favor, não diga a ela que eu disse isso.
Ele não fazia a mínima ideia de quem era Bella ou sobre o que o rapaz falava, mesmo assim riu. Havia gostado de Emmett de cara. Aparecera ali em busca de um refrigerante e naquele dia tinha sido o único cliente. Emmett como bom anfitrião conversara com ele por horas sobre a cidade, seus costumes e habitantes. E foi quando reclamou que precisava de um ajudante. O convidara para trabalhar ali e Edward se viu aceitando sem nem mesmo saber por que.
Uma garota com o cabelo castanho curto apareceu atrás de Emmett fazendo Edward olhá-la.
— Ah, Edward, essa é Alice. Ela me ajuda aqui no pub.
— Oi, Edward, muito prazer — a garota estendeu a mão para ele. — Então você é o forasteiro?
Ele sorriu sem jeito e apertou a mão dela estendida.
— Pois é. Parece que sou.
— Legal.
Alice saiu em direção ao que ele julgou ser a cozinha. Gostou dela, pois ela não foi dessas intrometidas que queria saber de toda sua vida.
— São apenas vocês dois para atender? — indagou o forasteiro.
— Não. Minha garota trabalha aqui. Na verdade é ela quem comanda tudo por aqui — ele riu. — Não sei o que seria de mim sem Bella. Ela está fora da cidade por uns dias... na verdade ela volta amanhã, então irá conhecê-la.
— Certo. Então, Emmett, você vai ter que me dar uma base aqui, pois eu não sei muita coisa — admitiu.
— É fácil, cara, é só servir o que eles pedirem.
Sem poder acreditar, com o avanço da noite, o forasteiro viu o bar cada vez encher mais. Ele atendeu no balcão, servindo bebidas, enquanto Emmett e Alice se revezavam pelo ambiente indo até as mesas.
O tempo passou depressa e atarefado ele não teve tempo de pensar em todas as coisas que passava horas e mais horas, todas as noites, remoendo em sua cabeça.
Era madrugada quando fecharam. Em casa, já em sua cama, Edward apenas deitou e dormiu em sono profundo. Após muitos anos, sem sonhos inquietantes e pesadelos sombrios.

***

Bella gostava do amanhecer. Geralmente era quando conseguia as melhores imagens. Porém naquela manhã estava um pouco chateada.
Olhou para a câmera em sua mão. Não era nova. Havia comprado de segunda mão depois que a câmera que ganhara do irmão estragou. Havia economizado por meses quando entendeu que ser fotografa profissional era o que gostaria de fazer.
Acabara de chegar, na noite anterior, de uma viagem a Charleston onde fora participar de um concurso sobre fotografia. Os melhores ganhariam uma bolsa para entrar para umas dos melhores cursos de fotografia do país, em Nova York.
Foi tão decepcionante para ela perceber o quanto suas fotos eram amadoras. Tão irritante ouvir as críticas quanto ao seu trabalho. E agora, olhando para o mar a sua frente e com a câmera em suas mãos pensava se não é hora de desistir desse sonho e focar na realidade.
Ajustou a lente e começou a tirar algumas fotos aleatórias. Isso sempre a acalentava quando estava triste.
Mirou o mar e clicou. O píer com os barcos ancorados, outro clique. O céu azul. Então, focou sua lente na areia e de repente surgiu a imagem de um homem. Correndo na direção dela.
Não teve tempo de reação, quando o rapaz se precipitou sobre ela, e lhe puxou a câmera das mãos a atirando dentro do mar.

Capítulo Dois

Os arregalados olhos azuis de Bella não acreditavam no que acabara de acontecer.
A sua frente estava um homem com o semblante de fúria e no mar sua câmera fotográfica.
— Mas que diabos?! — gritou e correu para dentro do mar pegando sua câmera encharcada e possivelmente destruída. — Olha o que você fez?!
— Por que estava me fotografando?! — o rapaz perguntou não escondendo que estava com raiva.
— O quê?! — ela indagou ainda abalada por ver sua câmera arruinada. Então, seu gênio forte, o que lhe era característico, veio à tona. — Seu idiota! — berrou. — Você destruiu minha câmera e ainda tem coragem de ficar bravo! — Encarou o homem a sua frente.
— Por que estava me fotografando? — o homem repetiu a pergunta.
— Eu não estava fotografando você! Por que eu faria isso? Nem o conheço! — explicou enfurecida.
Olhou para seu bem mais precioso, sua Canon T3i e a vontade de chorar veio com força, porém sua raiva era maior.
— Eu devia chamar a polícia seu estúpido. Como que você joga minha câmera assim no mar?
O rapaz parecia sem saber o que dizer.
— Moça... Eu pensei...
— Estou pouco fodendo para o que você pensou! Seu bastardo! Imbecil! Não sabe o que passei para conseguir comprar essa câmera. E olhe agora, está destruída!
Ainda esbravejando começou a se afastar em direção a sua bolsa que estava no chão, na areia.
— Me desculpe. Eu posso te dar uma nova é só você...
— Vai para o inferno! — gritou se afastando.
Olhou para trás rapidamente notando o homem ainda parado no lugar em que o deixou.
Realmente, se acreditasse em horóscopo deveria estar em seu inferno astral. Primeiro ser ridicularizada pelos professores no concurso, e logo depois de chegar a sua cidade encontrar um estranho que em um surto joga sua câmera no mar. Isso só poderia ser visto como azar ou... um aviso.
Sim. Poderia ser isso. Ela mesma não estava pensando antes do lunático aparecer se deveria ou não desistir da fotografia? Então? Aquilo só poderia ser um aviso.
Abriu a porta de casa devagar e logo sentiu um cheiro de café fresco. Seu pai já estava acordado.
— Pai?
— Aqui, filha, — a voz veio da cozinha.
Se encaminhando para o lugar viu o pai perto da mesa degustando uma xícara de café. Ele virou sua cadeira de rodas na direção dela quando a viu.
— Não vi você chegar ontem, querida.
Ela sorriu, seu mau gênio já totalmente controlado voltando a ser a doce garota que encantava a todos.
— Cheguei tarde, pai — se aproximou beijando Charlie no rosto. — Estou louca por seu café.
Colocou a câmera molhada em cima da mesa o que atraiu a atenção do homem.
— O que houve com sua câmera?
Por um momento ela pensou em dizer a ele exatamente o que ocorrera, no entanto achou que não valia a pena.
— Deixei cair no mar sem querer — mentiu.
— Filha, e agora?
— Tudo bem, pai — serviu para si uma xícara de café forte. — Eu não vou mais fotografar.
— Por que isso agora, Bella?
O pai quis saber desconfiado.
— Por que sim. Preciso focar no que posso ter e não em sonhos idiotas.
Ela viu a expressão do pai contrariada.
— Como foi o concurso em que foi participar?
— Como eu esperava. Não ganhei.
Omitiu que fora pior do que ela imaginou.
— Então é por isso sua decisão? Vai desistir na primeira dificuldade? — o pai lhe inquiriu. — Você desistiu da faculdade para ficar comigo e agora também desiste do que gosta de fazer.
— Eu não desisti da faculdade, pai, eu não fui por que eu não quis — terminou seu café e lavou a xícara que usara. — Além disso, eu gosto de trabalhar no pub do Emmett.
Não era mentira. Ela realmente gostava de trabalhar ao lado dos amigos. No entanto não era o que desejava fazer para sempre.
— Todo trabalho sendo honesto é válido, filha, mas não acho que servir bebidas deva ser o trabalho de uma garota pelo resto da vida.
Parecia que Charlie tinha acabado de ler o pensamento da filha. Bella foi até o pai e lhe abraçou.
— Não se preocupe, papai. Logo aparecerá um príncipe encantado que me resgatará do pub. Nos casaremos e teremos um batalhão de filhos para chamá-lo de vovô.
Levantou e pegou a câmera e a bolsa que estavam sobre a mesa.
— Isso era para me confortar? Não adiantou muito.
Ela riu do comentário do pai, já no corredor que levava a seu quarto.
Fechada em seu espaço, arrumou a bagunça que havia deixado desde que viajara. Iria descansar um pouco e logo seguiria para o pub. Queria verificar se Emmett havia cuidado da limpeza do local. Seu amigo e chefe era um bom administrador, no entanto não percebia quando o lugar precisava de uma boa limpeza.
Olhou para a câmera que ainda estava úmida e vazava água. O que será que deu na cabeça daquele cara? Talvez fosse caso de ir a polícia e denunciá-lo. Não... nem sabia o nome dele. Tentou se lembrar do rosto dele e mal conseguiu. O choque e a raiva do momento a impediam. Só lembrava que ele era bonitão. Não tinha jeito de bandido também. Mas o que estava dizendo? Não era como se fosse PhD em criminosos.
No almoço, Bella e o pai conversaram sobre as últimas novidades da cidade. O prato principal era peixe. Era quase sempre isso o que comiam já que o pai mesmo com sua deficiência era pescador. Na verdade a deficiência em nada atrapalhava Charlie Swan.
Depois de limpar louça suja, Bella entrou em sua picape Ford 1982 e seguiu para o pub.
Chegando lá, a surpresa tomou conta de sua face. Emmett e Alice estavam fazendo a limpeza entretidos ao som de Ed Sheeran.
— Não acredito! — disse alto para que fosse ouvida acima do som.
Emmett foi o primeiro a vê-la.
— Acha que só você sabe fazer uma boa faxina? — brincou.
Os dois amigos a receberam com abraços calorosos. Os três se sentaram e ela começou a contar-lhes como foram seus dias na grande cidade.
— Eles nos levaram a lugares da cidade e nos pediram para fotografar. Acho que buscavam algo diferente. Uma visão de cada fotógrafo. No fim não gostaram das minhas fotos...
— Isso é impossível! Suas fotos são incríveis.
Emmett se manifestou caloroso. Bella olhou agradecida para seu amigo.
— Obrigada, Emmett, mas acho que os professores não partilham de sua visão.
— Professores idiotas! — foi a vez de sua amiga Alice protestar.
— Bom, eu tentei, não deu, paciência.
— Não vai desistir não é? Não pode desistir — seu amigo insistiu.
— Eu tive um problema com minha câmera, nem se eu quisesse poderia fotografar.
— O que houve?!
Os dois amigos a inquiriram e com eles ela se abriu. Contou-lhes sobre o estranho que jogara sua câmera no mar.
— Ai, amiga, poderia ser um estuprador, um bandido.
— Ele não tinha cara de criminoso — ela tentou se recordar do rosto do rapaz. — Mas foi um cretino. Ele seriamente tem problemas. Bom, eu não quero mais pensar nisso. Quero trabalhar.
— Ótimo, pois chegou uma remessa de bebidas. Está no depósito e eu não tenho menor saco para conferir — Emmett avisou.
— Certo. Eu vou fazer isso. E como foram esses dias sem mim?
— Você faz muita falta, isso sim. Foi uma correria só. Eu mal tinha tempo para respirar — o amigo confessou.
— Até ontem não é Emmett? Pois você contratou o forasteiro e ele ajudou muito.
Bella olhou para eles sem entender.
— Contratou quem?
— O forasteiro, que dizer, as pessoas da cidade o chamam assim. Ele se mudou a pouco e se chama Edward. E foi um achado, minha garota, o cara trabalhou duro ontem. Não sabe muito do negócio, mas leva jeito.
A garota se surpreendeu. Há anos Emmett procurava por algum homem que quisesse trabalhar no bar e nunca conseguira devido ao baixo salário que ele podia pagar.
— Bom, e onde está esse tal forasteiro? — perguntou curiosa.
— O turno dele começa as seis.
— Certo. Vou estar no depósito. Chamem-me quando o tal forasteiro chegar. Quero conhecê-lo.

***

Quando Edward avistou o pub Nirvana faltavam dez minutos para seu turno começar, seu segundo dia de trabalho. Na verdade, por ele estaria ali muito antes. Ele gostara de estar no local. Trabalhar ali o fez esquecer suas culpas e traumas. O fez ter um pouco de paz em meio a todo o caos que sua vida se transformara nos últimos seis anos. Ele não tinha esse direito, mas sentiu-se quase feliz quando trabalhara exaustivamente na noite passada.
Durante aquele dia se sentiu muito tranquilo, não perdeu o controle e não precisou socar nenhuma parede. O único fato que o incomodou foi o encontro que teve com aquela garota na praia. Tinha sido um estúpido e se sentia mal por ter agido daquela forma. Todavia no momento em que viu a moça com a câmera fotográfica perdeu a cabeça. Imaginou que fosse um paparazzi, ou talvez, alguém a mando de seus pais. E qualquer um dos dois que fosse colocava em risco seu disfarce. Colocava em risco a penitência que ele tinha que pagar pelos fatos cometidos no passado. Mas no fim percebeu o erro que cometera. A moça não era nada do que pensara e ele tinha estragado a câmera fotográfica dela. Queria muito poder reverter o erro que cometeu, pelo menos esse ele poderia concertar.
Entrou no bar e encontrou Emmett no balcão concentrado em algo que lia.
— E ai cara? — Emmett lhe cumprimentou com seu habitual jeito simpático.
O forasteiro se perguntava se alguma coisa poderia tirar Emmett do sério.
— Tudo certo, Emmett.
— Pronto para outra noite agitada? — seu chefe perguntou.
— Mais que pronto! — respondeu animado.
— Cara, nunca vi ninguém tão empolgado em trabalhar pela miséria que eu pago.
Dinheiro não era problema para ele, no entanto não poderia dizer isso.
— Não é pelo dinheiro.
— Certamente que não, ou você estaria longe daqui — completou brincalhão. — Quem sabe seja pra pegar mulheres? Olha posso te dizer que de vez em quando aparecem umas garotas bem gostosas aqui...
— Não... — Edward respondeu rindo. — Não é nada disso...
Então passou por sua cabeça que Emmett poderia conhecer a garota da praia. Queria remediar o mal que havia feito. A moça não tinha culpa pelos problemas dele. O mínimo que poderia fazer era comprar uma nova câmera para ela. Veria isso quanto antes, porém precisava saber quem era a moça.
— Bom, eu encontrei uma garota na praia hoje pela manhã...
— Ah eu sabia! — Emmett falou empolgado. — Me diz quem é a gata que está a fim?
— Não. Você não está entendendo. A garota provavelmente me odeia.
O forasteiro observou o rosto de Emmett que demonstrava não entender nada.
— Foi um mal entendido. Eu estava correndo na praia quando a vi. Ela estava...
— Emmett, será que pode me ajudar...
A voz feminina que surgiu atrás dele não terminou o que iria dizer. Quando Edward se virou, ficou frente a frente com a garota que encontrara na praia mais cedo. O olhar que ela lhe deu dizia claramente que o detestava.
— Mas que merda esse cara faz aqui?! — perguntou ela.
— Bella, esse é o Edward, o cara que eu contratei para trabalhar aqui... — Emmett explicou.
O forasteiro pensou que não podia ter mais falta de sorte. A garota que ele se desentendera era sua colega de trabalho e ainda pior, era a namorada do seu chefe. Por mais que Emmett fosse legal, com certeza ele ficaria ao lado da namorada. Adeus trabalho!
— Você está brincado?! Esse é o cara maluco que destruiu minha câmera! — explicou ao namorado me encarando.
— Cara! Que merda! — Emmett murmurou mais calmo do que Edward imaginava. Se fosse com ele, se a garota fosse sua namorada, e um cara tivesse feito o que ele fez a ela, com certeza daria ao homem um mau momento.
— Foi um mal entendido — Edward se defendeu.
— Mal entendido?! — ela esbravejou colocando as mãos nos quadris. — Como você jogar minha câmera no mar foi um mal entendido?!
Porra! Só agora ele percebeu. A garota da praia, Bella, era linda! E com certeza ficava ainda mais bonita daquela forma, irritada.
Não era muito alta, mas tinha um belo corpo. E o rosto... pele muito clara e perfeita, lábios carnudos, olhos azuis ou verdes não conseguiu definir. E os cabelos longos, castanhos quase até a cintura.
Ele tentou focar no que era importante e esquecer a beleza desconcertante da mulher a sua frente.
— Eu peço desculpas. Não deveria ter feito aquilo... Eu tenho problemas com fotografias...
— Sério? Nem deu pra notar — falou com ironia.
Ele teve vontade de rir, mas se controlou. Se o fizesse ela ficaria ainda mais irritada. A forma como aquela garota se portava com uma individualidade marcante o impressionou.
— Você é um criminoso que não possa ser fotografado?
— Claro que não! — respondeu de imediato.
Sentiu um tremor passar pelo corpo. Ela acertava em cheio sem nem conhecer a historia.
— Olhe, eu sinto muito. Eu... mantenho distância dos meus pais. Achei que eles tivessem mandado alguém para me vigiar.
Não era mentira, mas nem de perto toda a verdade.
— Você é meio velho pra esse lance de fugir de casa não acha? — ela arrematou.
Emmett riu, mas logo se recuperou quando Bella o encarou, séria.
— É um pouco mais complicado que isso.
Os dois permaneceram se encarando por um tempo. Edward completamente afetado pela beleza e personalidade da garota a sua frente.
— Ok — ela finalmente disse. — Se quiser continuar com ele, Emmett, por mim tanto faz — disse ao namorado. — Não sou eu que vou fazer você demitir um funcionário depois de tanto tempo atrás de um.
— Beleza! — Emmett exclamou.
— E quanto a você, — Bella se dirigiu a Edward — fique fora do meu caminho.
— Certo — ele concordou —, mas eu... eu queria te compensar. Quero te dar outra câmera.
— Não precisa — cruzou os braços sobre os seios. O forasteiro notou que ela tinha belos seios.
Clareou a mente desviando daqueles pensamentos inoportunos.
— É sério, eu quero...
— Não preciso de sua ajuda senhor...
— Edward Cullen.
— Então, Edward, se eu quiser uma câmera nova eu mesma compro.
O forasteiro mesmo sem querer ficou encantando pela garota.
— Agora é melhor a gente trabalhar. Logo os clientes começam a chegar — Bella disse voltando para o deposito.
Edward não conseguiu deixar de observá-la enquanto ela se retirava.
— Ela é durona hein? — ele não resistiu em comentar.
Emmett abriu seu sorriso característico.
— Nem queira saber, meu amigo, nem queira saber.


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