Maura estava sentada na varanda do apartamento olhando para o nada, do 15º andar ela poderia ver tudo, mas sua mente viajava no nada, Simply Red tocava no som, adquirira alguns gostos de Jane com o passar dos anos, e era acompanhada pela melancolia na qual ela se encontrava o copo de vinho na mão, uma garrafa já havia sido esvaziada, estava na segunda, mas precisava de algo mais forte, para aplacar aquele sentimento de impotência no qual ela se encontrava. Perder um paciente era algo difícil e piorava quando era uma criança, às vezes ela pensava que devia mudar de ramo, a conversa já havia surgido anteriormente com Jane, talvez ela virasse médica legista e trabalhasse mais próxima à mulher, no departamento de homicídios de Boston.

Levantou-se foi ao barzinho do apartamento e serviu uma dose de tequila, tomou em um único gole, o liquido desceu queimando, logo depois mais outro, e retornou ao vinho, voltou à janela, olhou a cidade, ela amava a cidade, sua agitação, a luz raras vezes dava-se para ver o céu, mas ela conseguia quando ia ao terraço e sempre que podia ia lá, a melhor parte de ter trocado sua casa. Houve discussão entre ela e Jane, mas enfim encontraram um meio termo.

Maura resolveu distrair, Jane hoje estava de plantão, mas ela precisava da mulher mais que nunca, pegou o celular e resolvera ligar, mantê-la afastada de pensamentos profissionais.

- Oi amor.

- Oi amor, como você está?

- Nada bem, e você?

- O que ouve?

- Perdi um paciente hoje.

- Logo estarei ai.

- Desculpe, sei que você está de plantão hoje.

- Eu explico para Korsak, ele me ajudará. Dentro de uma hora no máximo eu estarei ai.

- Obrigada amor.

Pouco mais de quarenta minutos Jane chegava a casa, encontrou duas garrafas de vinho vazias e uma terceira a acabar. Ela conhecia Maura, ela tinha aquele jeito de lidar com as coisas, à mulher era muito na dela, buscava não se envolver, mas sempre se envolvia.

Foi à janela e viu a mulher olhando melancolicamente para o nada, abraçou-a:

- Quer conversar?

- Eu não deveria ter tentado, sabia que seria arriscado.

- Amor, você fez o seu melhor.

- Eu poderia ter dito não. Você já entrou em uma situação que já sabia exatamente o que ia acontecer? Mas você entra assim mesmo... Então quando seus temores vêm à tona...

Você se tortura, porque já sabia?

- Entendo amor, mas eles iriam a outro neurologista.

- Eu sei, mas...

- Nada de, mas Maur, você tentou mudar a cabeça dos pais e de Willian, não pode se culpar.

Jane virou Maura e segurou seu rosto, aproximou-se lentamente, sentiu o gosto forte do vinho com a mistura de algo mais, aprofundou o beijo trazendo-a mais próxima a si, envolvendo-a num abraço amoroso e tranquilizador, querendo reforçar suas palavras naquele simples gesto.

- Eu amo você!

- E eu a você.

Maura sentia-se protegida naquele abraço, era sua casa, seu porto seguro, Jane era tudo para ela, nunca havia sentido que pertencia ao mundo até conhecê-la, de forma inusitada, e ela lembrava-se com carinho.

*flashback on*

Era uma terça-feira comum, uma mulher adentra a emergência, a julgar pela roupa ela com certeza era uma garota de programa, Maura estava responsável pelo plantão.

- Alguém para ajudar, por favor! – A mulher segurava outra, com certeza as duas eram garotas de propaganda.

- O que houve?

- Estávamos conversando, ela disse que estava com dor e caiu, eu a coloquei no carro e a trouxe, faça algo!

- Precisaremos de alguns dados.

- Impossível eu saber de qualquer coisa, acabamos de nos conhecer.

*flashback off*

Infelizmente um aneurisma havia rompido, não havia chances. Após tudo Maura ficara sabendo da verdadeira profissão de Jane e tudo seguiu de forma tão tranquila entre as duas, um café, um jantar, o primeiro beijo, a primeira noite de amor, o namoro, o relacionamento se fortalecendo com o passar dos dias, dos meses, anos, o casamento.

Jane aspirou à fragrância dos cabelos de Maura, enquanto se deixava levar por pensamentos, ela nunca pensara que um dia, alguém iria aparecer na sua vida e tirar tudo do lugar. Mudar os seus hábitos, algumas opiniões, os seus passeios de sexta, o seu programa de televisão. Que mudaria também o primeiro pensamento ao acordar, e os sonhos de todas as noites, fazê-la se superar a cada dia, e aprender a essência verdadeira do amor. Após tantos anos, Maura ainda a fazia suspirar de minuto em minuto, sentir paz apenas ao olhar para ela. Maura havia virado seu mundo do avesso, mas ela não ligara, apenas achara tudo muito lindo, como tudo o que ela fazia. Por Maura, ela pensara em futuro, em construir uma família, desejara sempre ser o seu melhor só para agradá-la. Maura era seu porto seguro, aquela que ela sempre esperara. Ela é era seu amor da vida toda.