Umbrella escrita por tempusfugit


Capítulo 1
Umbrella


Notas iniciais do capítulo

Segunda fic deles aqui ♥ Acho que as nossas serão as únicas, mas enfim ahauhaa
Boa leitura!



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Umbrella

O caixão já estava descendo para a cova cercada por mármore. Era bem difícil ouvir o choro de alguém ali. Não que ninguém estivesse lamentando a morte daquela senhora em particular, o problema era a chuva forte que caía sobre os presentes, disfarçando toda e qualquer lágrima.

E lá ao lado de uma árvore, distante de todos, inclusive do pai, Tegoshi estava parado em silêncio, segurando debilmente o guarda-chuva tão negro que destoava da roupa branca que ele usava. Seu corpo estava totalmente molhado do meio do peito para baixo. O vento era forte e ele não dava a mínima para si próprio.

Aproximou-se de um senhor de terno branco, seu pai. Apenas tocou o ombro dele sem dizer uma palavra e saiu, sem nem saber se queria mesmo voltar para casa. Os passos dele eram bem lentos, não podia evitar. Mais difícil que permanecer no cemitério assistindo tudo e sair de perto dela uma última vez. Mas uma hora ele teria que fazê-lo, não é? Então, Tegoshi optara por sair sozinho. Não receberia dali nada além de condolências sem significado mesmo...

Do outro lado da árvore sob a qual ele antes se encontrava, um jovem de feições tristonhas o observava se afastar. Fazia algum tempo que ele olhava para o outro, mas não tivera coragem de se aproximar. Bom, era verdade que tinha ido até o cemitério se despedir da senhora que estava sendo enterrada, mas havia outro motivo também para estar ali. E esse ele considerava tão importante quanto.

“Vamos renovar a nossa amizade para que ela dure para sempre, Tegoshi?”

As palavras não paravam de ecoar na mente dele. Principalmente porque aquilo provavelmente não mais aconteceria. Não se permanecesse parado ali.

Há mais de dez anos a família de Masuda se mudara para Kyoto por questões do emprego do pai dele. Lembrava-se como se tivesse acabado de acontecer. Tinha sido uma decisão repentina, em menos de um mês eles já estavam prontos para a mudança.

E nem dois haviam se passado desde a promessa.

Masuda deu alguns passos, parando no meio do caminho. Ele parecia tão triste. Mas o que é que ele podia fazer? Durante anos nem haviam mantido contato. E bem sabia de quem tinha sido a escolha de ir embora sem se despedir. No entanto, não se culpava. Mesmo ainda sendo muito novo na época, sabia que não agüentaria.

E agora só o que se permitia fazer era vê-lo andar sozinho na chuva, indo cada vez mais longe.

“Vamos renovar a nossa amizade para que ela dure para sempre, Tegoshi?”

Não. Não dava. Totalmente não podia ficar parado.

– Yuya! – chamou um pouco alto, correndo na direção dele. Já se afastara um bocado dos outros presentes. – Yuyaaa! – ele não se virava. Mas fazer o quê, a chuva estava bem forte mesmo. – Yu- – Masuda parou quando percebeu o que estava dizendo. Depois de tanto tempo, ele não poderia ter a ousadia de chamar o outro pelo primeiro nome, certo?

Só que era um pouquinho tarde para isso. Tegoshi tinha acabado de se virar e arregalar os olhos surpreso.  

– Takahi- – ele parou, ainda olhando-o. Devia ter pensado a mesma coisa.

– Pode me chamar de Takahisa mesmo. – murmurou com um sorriso, apesar de não achar que o outro ia fazê-lo. Tegoshi não sorriu de volta. Continuava surpreso demais.

– Há quanto... tempo... – murmurou, ouvindo a chuva cair. Era bem... estranho vê-lo. Ainda mais ali, naquela situação. Não sabia direito no que deveria pensar.

– É... só é uma pena nos reencontrarmos num dia como esse. – ele mantinha os passos no ritmo de Tegoshi. Este, aliás, nada disse, ao passo que Masuda continuou. – Ela era uma pessoa incrível mesmo...

O silêncio se instalou ali, sendo quebrado apenas pelas gotas que continuavam a cair do céu.

Até que Tegoshi notou algo. Masuda estava ensopado, totalmente embaixo da chuva.

– Tegoshi? – o outro indagou incerto. – Você lembra por que fizemos aquela promessa há tanto tempo atrás? – Tegoshi parou um pouco. Mas é claro que lembrava.

– Porque minha... okaa-san disse que a chuva serve para lavar e renovar as coisas... – disse baixinho. Ainda não queria falar dela. Não com ela há poucos metros de si dentro daquele caixão.

– É... – olhou-o. – Sabe eu... vou voltar a morar em Tóquio... – Tegoshi permaneceu calado. – E... eu sei que não é o melhor momento para isso, mas... e se hoje, em memória da sua mãe, nós lavássemos todo o tempo até aquele dia na casa na árvore? – silenciou-se. Masuda se perguntou se não estava sendo muito egoísta por estar dizendo aquilo logo ali, mas, desde que Tegoshi parara embaixo daquela árvore, tão perto dele, não conseguia ignorar sua vontade de fazer-lhe aquele pedido.

Tegoshi foi pego de surpresa. Ele bem sabia o que Masuda queria dizer com aquilo. Deixar o tempo separados para trás e... e a partir dali, fazer com que durasse para sempre...

– Tegoshi... desse jeito você vai ficar doente. – Masuda murmurou rindo. O outro havia se perdido em pensamentos a ponto de deixar o guarda-chuva pender ainda mais para frente, começando a molhar a parte seca de seu corpo.

Com as duas mãos molhadas, Masuda segurou no cabo, roçando de leve nos dedos do amigo, e levantou o guarda-chuva, voltando a cobrir Tegoshi pelo menos do peito para cima. Abriu-lhe um sorriso largo.

– Masuda... – murmurou, fitando-o. Estranho. O toque leve da palma da mão dele sobre sua pele meio que o tinha acordado. Pela primeira vez desde que chegara ao cemitério para se despedir da mãe, Tegoshi havia conseguido sair daquele estado horrível de torpor. E ele sabia o motivo, era bem claro.

Não conseguia parar de encarar o antigo amigo, tanto que este acabou desviando o olhar. Não notara quando ele se aproximara, mas era tão bom tê-lo ali... Masuda aflorava nele um sentimento de saudade diferente do daquele lugar. Algo que o aquecia um pouco. Ainda não por inteiro, mas o suficiente.

E falando em aquecer...

– Masuda. É você quem vai ficar doente desse jeito. – ele riu, atraindo instantaneamente a atenção do outro. E quando Masuda o olhou, o guarda-chuva já cobria parte dos dois. Tegoshi retribuiu o olhar e, finalmente, sorriu. Ele foi prontamente imitado. – Podemos dividir o guarda-chuva. – a mão esquerda de Masuda logo ficou sobre o cabo, acima da outra.

– Obrigado. – seus dedos deslizaram de leve sobre o cabo, acabando sobre a mão de Tegoshi, que o olhou. E Masuda foi o primeiro a sorrir.

E eles continuaram o caminho, lado a lado, sob a chuva.

Amanhã a esperada chuva forte

Uma parte de mim deseja que caia sobre nós

Não é uma mentira

Quando a luz do sol cai

A chuva passageira sorri


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Notas finais do capítulo

Cara, achei adorável essa one, espero que tenham gostado.
VIVA O AMOR TEGOMASS. AHuahuahaaha
 
Próxima one-shot - Teardrop.