-- Um anjo... eu sou um... ANJO. -- ela ouvia-se dizer essas palavras, repetidas vezes.

Perto dela, Daniel sorria, seus olhos violetas irradiando alegria e suas asas, mais resplandecentes que nunca: -- Quase havia me esquecido do quanto elas são lindas -- Lucinda olhava ao mesmo tempo admirada e saudosa para seu branco e brilhante par de asas. -- Agora começo a me lembrar. Era isso o que você dizia para mim. As respostas para todas as minhas perguntas, o porquê da maldição... eu estava lá. No dia da queda.

-- Sim, Luce -- disse Roland -- agora que você recordou quem você é, vai entender também tudo o que aconteceu.

-- Era por isso que nunca podíamos revelar qualquer coisa a você -- contou Annabelle -- a verdade iria lhe matar. Você precisava descobrir tudo sozinha. E conseguiu.

-- Essa é a minha garota! -- falou Arriane, piscando marota para Luce. -- Para ser mais esperta e inteligente como eu, só falta as asas. Ops... não falta mais.

Todos riram, inclusive Luce, porém esta rapidamente tornou-se abatida. As memórias afloravam, mais e mais fortemente.

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Lucinda via-se sentada a uma imensa nuvem, num dos patamares mais altos do céu. Estava tocando uma harpa dourada, tinha uma expressão suave em seu rosto, seus olhos castanhos expressavam tranquilidade. Seus longos cabelos pretos estavam soltos e, vez ou outra, faziam-na interromper a canção para tirar algumas mechas esvoaçantes de seu rosto.

Há alguns metros de onde estava, encontrava-se um anjo, que assistia vislumbrado a uma melodia simples e bonita. Possuía cabelos louros, mas não do mesmo tom que as madeixas de seu amado anjo. Ele aproximava-se dela. Enquanto caminhava, mantinha o olhar fixo sobre Lucinda, que a essa hora já havia parado de tocar a harpa, prestando atenção no anjo que andava em sua direção. Quando ele parou em sua frente, ela analisou seu rosto. Os olhos do anjo eram de um azul mais bonito que o céu. O contorno de sua face era levemente quadrado, com maçãs do rosto levemente coradas, o que dava um aspecto inocente, contrastando com a certa altivez que se desenhava no belo sorriso no canto de seus lábios. Qualquer garota do colégio Dover, no qual Luce estudou, daria um ano de sua mesada para beijar aquela boca. Oh, Céus, ele era realmente estonteante! Mas não era Daniel. Então por que Lucinda sorria daquele jeito para aquele anjo? Ela estava... oh, não, não pode ser. Ela estava flertando com ele.

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-- Quem é ele? -- perguntava Luce, apertando os olhos com força, como se assim, pudesse ver a imagem de suas lembranças com mais nitidez.

-- Você precisa ficar calma. -- Daniel colocou o rosto de Luce entre suas mãos e tocou a testa dela levemente com os lábios. -- Tudo vai se resolver.

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Em memórias seguintes de sua vida angelical, Luce via sua antiga versão suspirando por aquele desconhecido.

-- Tua canção soa tão doce aos meus ouvidos. Gostaria que a tocasse todos os dias... para mim.

Lucinda sorriu, abaixando seus olhos, com um sorriso tímido, claramente encantada pelo anjo.

-- Se todos os dias oferecer-me teu belo sorriso, eu responder-te-ei que sim.

Os dois entreolharam-se e por alguns instantes permaneceram assim, em silêncio.

-- Como te chamas? -- ele indagou.

-- Lucinda. E tu?

-- Ora, mas que belo nome! Agora não possuo mais dúvidas de que tu foste criada para mim. -- Ele abaixou, apoiando um de seus joelhos sobre a nuvem macia. Segurou o queixo de Lucinda e lhe disse: -- Pois até nossos nomes foram feitos um para o outro, como uma esplêndida combinação.

-- E como é teu nome? - perguntou-lhe ela novamente.

-- Lúcifer.