Strangers escrita por BCarvalho


Capítulo 2
Capítulo 2 - Revelações.


Notas iniciais do capítulo

Eu peguei a ideia de banner de uma amiga e espero que ela não se importe. asjahds Os personagens que estão no banner vocês irão o conhecer nesse capítulo, podem parecer simples funcionários, mas vão ser fundamentais para o processo da fanfic, por isso merecem um lugarzinho dels.



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Quando os raios solares tomaram completamente o espaço nublado que a lua tivera noite passada, significava que estava na hora de voltar para casa. Organizei os meus pertences dentro da mochila e me preparei para descer a montanha com Jasper. Ele insistiu em carregar a minha bolsa, e como estava muito pesada, não hesitei. O tempo estava nublado e começava a chuviscar, molhando a terra. As minhas botas afundavam contra a grama e pesavam cada vez mais. Eu me sentia exausta, mas o esforço valia a pena. À certa altura, quando as árvores se distribuíram desproporcionalmente formando dois caminhos diferentes, cruzei para o lado esquerdo e Jasper para o direito, nos separando. Passei pela pequena ponte de madeira e os muros brancos da casa do prefeito, - meu pai - já eram visíveis.

“ Theresa! “, o vulto de um dos seguranças do meu pai veio ao meu encontro, e os meus batimentos cardíacos aumentavam cada vez mais com a sua aproximação. O rosto refulgente pelo sol revelou um Luca frustrado. E a minha preocupação diminuiu para o alívio.

“ Fale mais alto, Luca. Deixei-os ouvir “, reclamei, alertando que outros seguranças também rondavam aquela área. Eu precisava entrar logo em casa.

“ Theresa, estou arriscando o meu emprego para você brincar de João e Maria com o seu amiguinho “, ele disse, me agarrando pelo pulso e conectando os seus olhos cristalinos com os meus.

“ Você vai perder o emprego do mesmo jeito se não me deixar brincar de João e Maria “, respondi, tentando me livrar do seu toque repugnante. “ E não tinha uma comparação melhor, não? “

Luca é um dos seguranças mais jovens do meu pai, e também o mais fácil de se lidar. O convenci a quase dois meses atrás, - quando fugir de casa se tornou missão impossível -, que se ele me ajudasse a escapar todas às quintas-feiras, eu o recompensaria redobrando o seu salário e o elogiando para o meu pai. Eu cumpri a minha parte até o momento que ele resolveu me deixar na mão. Então fui obrigada a partir para a chantagem: se descobrissem que ele me ajudava a fugir de casa, provavelmente cortariam metade da minha mesada, e o demitiriam. Se ele parasse de me ajudar, eu o entregaria para o meu pai, e ele o demitiria. Basicamente: ele é obrigado a me ajudar.

“ Você é uma... “, ele pressionou ainda mais o meu punho, e o soltou quando ouviu passos vindo da floresta. “ Anda logo, garota. “

Ele me empurrou pelo ombro, me guiando para uma passagem secreta, que atravessaríamos por baixo do jardim. Driblamos os arbustos com cuidado, e chegamos até o banheiro dos funcionários, aonde ele me entregou uma sacola para o meu plano para eu disfarçar o meu curto desaparecimento.

(❀ ❀)

Deitei em uma das espreguiçadeiras de madeira, em volta da piscina circular. Ajeitei o meu cabelo loiro em volta dos meus ombros e puis os óculos de sol em minha cara. Vestindo um biquíni pequeno, era a isca perfeita certa para chamar a atenção dos meus pais e/ou da governanta, para Luca voltar para o seu posto despercebido. E funcionou, como sempre.

“ Senhorita Rasley! “, a mulher loira magricela que governava a minha casa desde o meu nascimento, se revelou atrás das cortinas da sala de estar, correndo em minha direção.

Ela deu meia volta ao perceber as minhas vestimentas, e voltou com um pedaço de cortina, arrancado às pressas, sem outra opção. O espanto e a rigidez estavam em evidencia em sua cara, e eu me divertia com aquela situação. Atrás da sua estrutura magricela, Luca apareceu sorrateiramente, me lançando um último olhar, e voltando para trás dos muros de Berlim que tem em minha casa.

“ É a quarta vez desde o último mês! Se o seu pai descobre que optou por roupas demasiadas curtas, ele... ele vai...! “

“ Respira, Erin, é só um biquíni. Estava apenas querendo pegar um pouco de sol. “, respondi, espiando atrás dos óculos escuros o seu pequeno rosto eclodindo em milhares de expressões nervosas.

“ É só um biquíni “, ela clonou as minhas palavras de maneira sarcástica. “ Os seguranças do seu pai faltam lhe comer com o olhar, Theresa! Venha, vamos lhe vestir decentemente “

Como minha família é muito religiosa, Erin pensa que, mostrar muito o corpo está ligado com promiscuidade. E eu sempre achei engraçado essa situação, porque: a) minha mãe deixa eu usar roupas de banhos para ir à piscina, mas Erin não sabe, e, b) eu não costumo usar roupas de banho porque simplesmente não gosto de nadar. Mas a sua opinião sobre biquíni sempre vai ser a mesma:

“ Londres não tem raios solares suficiente para evaporação da água, muito menos para bronzear a sua pele, Theresa. E aliás, um biquíni é muito revelador... “

A governanta solteirona de quarenta anos rígida me enrolou em volta da cortina de cetim branca, e colocou o seu palmo atrás das minhas costas, me guiando para dentro da casa. Segui vitoriosa por conseguir a enrolar mais uma vez.

(❀ ❀)

Tomei um banho e deixei a água quente levar embora todas as minhas preocupações. Vesti uma blusa azul-marinho de botões e subi pelas pernas uma saia rodada cinza, que vai até os joelhos. Eu odeio esse tipo de roupa, mas sou obrigada a usar por causa da minha religião, e também para passar a imagem de filha santa para Londres. Resolvi deixar o meu cabelo liso, mas foi pouco tempo até eu mudar de ideia, e encaracolar as pontas. Prendi um laço azul na cabeça e fui para frente do espelho me olhar. Essa é a Theresa Rasley que eu tenho que ser. Recitei várias vezes, visualizando a minha imagem. Se é essa a garota perfeita, estudiosa, santa e educada que os meus pais criaram, é essa a imagem que eu vou passar todos os dias. Só não posso me esquecer de quem realmente eu sou, caso um dia eu consiga a liberdade para ser ela.

Sentei em minha cama e adiantei dois capítulos do livro de História que iria aprender semana que vem. Os mesmos falando as mesmas coisas: política e mais política. Eu só me interessava mesmo quando falava algo do partido do meu pai. E realmente tinha muita coisa sobre os Rasley’s nesse livro. No ponto de vista de quem o escreveu, nosso partido era aliado da paz, mãe e pai dos pobres, e que das últimas décadas para cá, conseguimos estabilizar a economia da nossa cidade. E é uma chatice ter que decorar e aprender essas coisas, já que eu não quero de maneira alguma me juntar ao partido político do meu pai e ficar o resto da minha vida pagando de garota boazinha para o mundo. Bom, isso se a minha opinião valesse alguma coisa para eles, já que esse provavelmente vai ser o meu destino. Por isso o meu maior sonho é meu pai fazer uma tremenda burrada e perder as eleições. Eu não quero ser mais só a filha do prefeito.

Bateram três vezes na porta, fazendo o som ecoar em meu quarto e me assustar. Levantei às pressas e guardei os livros na gaveta da minha cômoda. Olhei-me a última vez no espelho e girei a maçaneta, revelando uma mulher de estrutura alta, olhos profundamente cinzentos e cabelos loiros impecáveis. Mamãe.

“ Theresa “, ela anunciou e eu cedi espaço para ela entrar.

Os seus saltos brancos ecoavam contra o piso de mármore, e ela andava impaciente pelo o meu quarto. Fechei a porta atrás dela e voltei para a minha cama, me sentando. Os seus olhos oscilavam por cada pedacinho do cômodo, e eu sabia o que ela estava fazendo: verificando se não tinha algo para me culpar. Passou a mão livre pelos cabelos e olhou pela terceira vez o relógio no pulso desde que entrou aqui.

“ Mãe? “, a chamei, e ágeis os seus olhos se conectaram com os meus.

“ Theresa, eu... “, ela se enrolou em suas palavras e aparentou estar fraca ou nervosa. Sua voz saía como se estivesse escondendo algo. As mãos estavam suadas e os olhos esbugalhados. Para alguém que demostra força vinte e quatros horas, aquela não parecia ser a minha mãe.

“ Mãe, está tudo bem? “, ousei perguntar e me levantei para ficarmos próximas.

“ Sim, sim “, ela se apressou e se livrou do meu contato quando segurei as suas mãos trêmulas.

“ O que veio fazer aqui? “, escondi a minha humilhação na minha voz por tentar a acalmar. Envolvi os meus braços em volta da minha estrutura, roçando os palmares em meus ombros.

“ O seu pai... O seu avô... Precisam falar... “, ela oscilava entre mim e a janela, parecendo estar esperando algo ou alguém.

“ Mãe “, chamei-a em um tom grave, e ela se voltou para mim, caminhando em minha direção.

“ Você precisa ir, venha “, a sua mão fraca me agarrou pelo braço, e meu puxou para fora do quarto bruscamente.

Os seus passos apressados estavam começando a me assustar. Os seus olhos não focavam em um único lugar, e cada vez mais ela pressionava o meu braço. Chamei-a várias vezes, mas ela me mandou silenciar. O meu coração estava palpitando sem entender nada. Quando chegamos ao escritório do meu pai, ela não bateu na porta e já entrou, me enfiando dentro daquele cômodo. Foi tudo tão rápido que só me toquei que não estávamos mais correndo quando o meu avô veio ao meu encontro, me abraçando.

“ Tessa, querida! “, a sua barba cristalina roçou contra a minha bochecha, e ele deu três tapinhas leves nas minhas costas. “ Como vai? “

“ Estou bem, vovô. Só estou um pouco confusa “, ele me libertou do seu contato e me guiou para sentar no sofá de couro do escritório do meu pai.

Pai. Percorri rapidamente o olhar pelo cômodo, até o encontrar em pé, atrás da sua cadeira. Ele estava cabisbaixo e aparentava estar preocupado. O que Diabos está acontecendo?

“ Podem me dizer o que está acontecendo? “, me apressei, sentando no sofá inquieta.

“ Não sabemos por onde começar “, disse papai, caminhando em minha direção.

“ Bom, eu sei “, retrucou vovô, se servindo de um copo de whisky. Minha mãe olhou-o com repugnância.

“ Richard, ela só tem dezesseis anos “, a voz da minha mãe saiu mais como um pedido do que um alerta.

“ Clarisse, eu e Richard já decidimos o destino dela. E a sua opinião natural não vale nada. “ Vovô a respondeu, em um tom grave e com o mesmo ódio que sempre sentiu pela minha mãe.

“ Ela é a minha filha! “, ela ricocheteou as palavras entre os dentes, cerrando o seu punho.

“ E ela é uma descendente Scolder! “, ele rosnou, encarando-a friamente. “ Você só a carregou no seu ventre! O destino dela sempre foi ser uma caçadora, e não a filhinha de capa de revista que você criou! “

Gritou vovô e lançou o copo com álcool contra a lareira. O líquido ricochetou contra o fogo e as suas brasas aumentaram ferozmente. Pisquei os olhos assustada, e me puis em pé.

“ Podem me dizer o que está acontecendo?! “, gritei praticamente implorando. Os meus olhos ardiam igual as brasas da lareira. Minha cabeça rodava confusa igual um furacão. O que ele quis dizer em ser uma caçadora?

Minha mãe se silenciou, e meu pai ouso-a abraçar, mas ela se livrou do seu toque irritadiça. Nas suas bochechas, lágrimas involuntárias escorriam em sinal de derrota. Ela pressionava uma das mãos no seu coração e o outro braço o apoiava rodeando a sua estrutura. Papai caminhou até o lado do meu avô e me lançou um último olhar de piedade.

“ Continue, pai “, ele disse para o meu avô, que parecia vitorioso depois da guerra travada com a minha mãe.

“ Theresa, minha querida “, ele sentou-se ao meu lado, passando a mão com veias saltando em meus cabelos. “ Lembra quando a sua avó lhe contava das histórias de Catarina e Bissonê Scolder? “

Catarina e Bissonê Scolder. Esses nomes soavam familiar em minha cabeça. Demorou um curto tempo para eu me lembrar das histórias desse casal. Quando eu tinha por volta de dez á onze anos, antes de a minha avó paterna falecer, ela me contava histórias antes de dormir, sobre dois jovens aventureiros que eram caçadores. Eles frequentavam um tipo de escola para aprender os limites e a prática da caça de criaturas sobrenaturais. Lobisomens, bruxas, vampiros, veelas e... As memórias custavam a voltar em minha cabeça e eu estava me sentindo extremamente exausta para lembrar de anos atrás. Mas o que isso tem a ver? Aonde ele quer chegar com essa conversa?

“ Acampamento...“ custei a me lembrar, mas o meu avô me cortou antes de terminar.

“ Artemysis. Acampamento Artemysis, Theresa. Lembra-se? “, indagou veloz.

“ Sim. Quer dizer, em partes. Mas o que isso quer dizer? “ Perguntei de volta, olhando para a minha mãe que se encontrava olhando fixo para a janela.

“ Você vai ser enviada para lá “, ele continuou naturalmente.

Enviada? Enviada para o acampamento Artemysis? Por quê? E o que exatamente vou fazer lá? Esperai, vovó dizia que esses acampamentos são para...

“.... Caçadores. O que isso quer dizer? “, perguntei antes de poder pensar, e vovô tornou a passar a mão pelo meu cabelo, na tentativa de me acalmar.

“ Que você é uma caçadora “.

“ Não estou entendendo. Caçadora do que? E por que eu tenho que ir para lá? “, as perguntas saiam involuntariamente da minha boca.

“ Caçadora de criaturas, Theresa. Não se faça de desentendida. Sua avó passou-lhe todas as informações necessárias quando era pequena. “, ele respondeu, e olhou para os meus pais que se estavam imóveis.

“ Então por que eu tenho que ir para lá? “ Perguntei novamente, apertando minhas mãos uma na outra.

“ Theresa, querida. Digamos que uma guerra está por vim, e o mundo natural está quebrado. Vamos precisar muito mais do que homens carregando armas para a vencer. Precisamos do sobrenatural ao nosso lado. E você irá o conquistar por nós “, ele anunciou, com um sorriso vitorioso nos lábios.

Eu conseguia ler todas as suas segundas intenções por trás das manchas e rugas na sua cara velha, menos o que ele queria dizer com sobrenatural.


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