O deus dos raios franziu sua testa enquanto apertava fortemente suas têmporas, o burburinho que havia se espalhado pelo Monte Olimpo está começando a lhe causar enxaqueca. Nem em suas diversas brigas com Hera, sua esposa, havia ficado com tamanha dor.

A confusão havia se iniciado após uma pequena desavença de Atena e Ares, ambos os deuses não conseguiam chegar a um acordo devido a um confronto entre dois de seus filhos. Os demais lentamente começaram a se envolver na calorosa conversa e quando menos pudesse esperar o caos havia se espalhado.

– A culpa foi do seu filho. – Ares murmurou franzindo a testa, era visível a irritação do deus e não demoraria muito para uma guerra se iniciar. Atena estreitou seus olhos acinzentados ao escutar o comentário do deus da guerra, simplesmente não conseguia acreditar em tamanha blasfêmia. Afinal Ares estava a acusando de ser uma mentirosa diante todos os Olimpianos.

– Meus filhos agem seguindo a lógica. – A deusa da sabedoria revidou enquanto um pequeno sorriso começou a se formar em seus lábios rosados. – Eles jamais iriam cometer tamanha burrice.

– Parem. – Ártemis, que até então havia se mantido calada, gritou. Seus olhos transmitiam um claro aviso de que quem ousasse falar uma única palavra sobre o assunto iria receber como presente uma flecha em sua testa. – Estamos aqui para discutir algo muito mais importante.

O silêncio reinou pelo Monte Olimpo por alguns segundos, o que fez Zeus suspirar de forma aliviada e voltar a sua postura ereta em seu trono. Havia recebido o comunicado de que uma jovem mulher com quem havia se relacionado havia dado a luz a uma criança. Seria apenas mais um caso comum se não fosse pelo simples fato da origem materna de sua filha.

– Meu tolo marido. – Hera falou revirando seus olhos, já estava cansada das inúmeras vezes que havia sido traída. A deusa sabia que não havia nada que pudesse fazer para mudar as atitudes de seu marido, mas isso não a deixava menos irritada com o fato de mais um fruto da infidelidade de Zeus ter nascido. – Se envolveu com uma garota egípcia.

– Vamos apenas matar a criança e resolver isso. – Ares murmurou o que o fez receber um olhar frio de Hades, o deus do submundo claramente não queria se envolver nos assuntos de seus parentes. Mas havia sido obrigado a comparecer no Olimpo, algo que não ocorria com muita frequência.

– Essa criança possuí uma grande importância. – Apolo falou em um suspiro e estralou seus dedos. Em questão de segundos um pergaminho surgiu em sua frente. – Essa profecia foi dada pelo Oráculo logo após a primeira grande profecia.

“ Inimigos juntos deveram enfrentar aquilo que sozinhos não conseguem superar

Lágrimas negras cobriram a terra e o mar, nos céus as estrelas não vão mais brilhar

Pela lua um vai se sacrificar

Pelo sangue o sorriso reinará e pelas lágrimas as flores brotaram

Um desejo se realizará quando os dois lados da morte o mesmo caminho trilharem

O que iniciou pelo ódio apenas pelo amor poderá acabar “

– O que lhe faz acreditar que essa profecia se refira a essa criança? – Atena perguntou arqueando uma sobrancelha.

– É apenas uma intuição. – O deus do sol respondeu em um sussurro, nem mesmo ele conseguia afirmar com precisão o motivo de seus pensamentos. Mas era impossível negar que algo em seu interior insistia em acreditar que a garotinha que havia acabado de nascer possuía grande importância na profecia.

Novamente o silêncio reinou pelo Monte Olimpo, todos refletiam a suas maneiras sobre o que haviam escutado. Era obvio que uma grande guerra se aproximava e que eles precisariam de ajuda. Um pequeno choro logo chegou aos ouvidos dos deuses o que automaticamente chamou a atenção de todos.

Héstia logo surgiu com um pequeno cobertor em seus braços, a deusa dos laços familiares sorria gentilmente para a pequena criança que olhava de forma curiosa ao seu redor. Ela sabia que era um grande perigo levar a jovem garota aquele local, mas não havia outra escolha.

– Os filhos não devem ser culpados pelos erros de seus pais. – A deusa falou olhando fixamente para seus irmãos. – Eu irei cuidar dela, apenas permitam que ela viva e prove a vocês que pode fazer a escolha correta.

– E se ela não fizer? – Poseidon perguntou.

– Então eu irei permitir que vocês a matem. – Héstia respondeu em um sussurro, sabia que não possuía qualquer outra escolha. Ela sentia em seu interior que aquela pequena e inocente criança necessitava de apenas uma chance, apenas uma oportunidade de provar que jamais iria trair o Olimpo.

– Héstia eu irei permitir que você cuide dela. – Zeus falou de forma autoritária, não queria admitir, mas não desejava matar sua filha que acabará de nascer. – Quando ela completar seu decimo quinto aniversário voltaremos a nos unir e então decidiremos que futuro ela vai seguir.

A deusa dos laços familiares sorriu levemente e assentiu, ela estava prestes a desaparecer quando sentiu alguém tocar em seu ombro. Afrodite sorriu levemente ao ver a pequena garota que a observava de forma admirada com seus olhos celestes.

– Eu como deusa do amor lhe concedo a minha benção. – A mulher murmurou tocando gentilmente na testa da criança. – Que o amor sempre guie todos os seus passos e suas escolhas.

Héstia sorriu levemente ao entender o objetivo da mulher em sua frente, estava claro que a profecia havia despertado algo novo na deusa do amor. Principalmente sua última frase, a pequena benção que havia sido concedida a recém nascida seria de grande valor no futuro. Antes que alguém pudesse voltar a falar algo a deusa desapareceu pelo fogo de sua lareira, iria fazer tudo ao seu alcance para proteger a pequena garota. Mesmo que isso lhe custasse sua vida.