Garoto estranho - Bônus de HOH escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 1
Garoto estranho


Notas iniciais do capítulo

Ponto de vista de James Sirius sobre alguns acontecimentos. Poderão notar que a maioria dos diálogos existem na fanfic original, só que poderão ver o que James achou de toda a palhaçada de Cesc.



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Bônus James Potter – Garoto estranho

A festa de Halloween finalmente tinha ficado mais animada, os pirralhos do terceiro ano pra baixo logo, logo seriam arrastados obrigatoriamente para seus quartos, o que melhorou e muito meu humor.

Lily Luna foi resmungando para as Masmorras, levada por um Zabini meio zonzo, mas lúcido o suficiente para fazer um feitiço de língua-presa em Frank no caminho. Dessa vez não me meterei nas desavenças deles, até porque meu melhor amigo não precisa de babá, ele pode lidar com um sonserino bêbado de 13 anos.

Falando nisso, onde estava o outro sonserino idiota de 13 anos que parece estar sempre onde não deve, fazendo o que não deve também? Não que eu me importe, mas o sumiço de Fábregas significa apenas uma coisa: confusão.

O avistei perto da saída do Grande Salão. Fábregas destoava da multidão, que tinha entendido o conceito de festa à fantasia, ele usava apenas um moletom cinza escuro dos Falmouth Falcons, o capuz escondia o rosto dele mas o jeito arrogante de andar era característico demais. Ele anda em qualquer lugar como se todos ao redor não fossem nem perto de bom o suficiente.

Como detesto esse moleque.

Vi Rose o seguindo para fora do Salão, pela quantidade de comida que ele levava, os dois deviam estar indo para um piquenique ao luar. Não no meu turno, espertinho. Já estava pronto para segui-los e salvar a honra da minha estúpida prima, quando fui interrompido por Fred II.

—James, o ponche tá acabando, distraia o professor Piece pra eu poder “fazer” mais. – Meu primo, com a pele morena mais acentuada pela camuflagem de exército trouxa que estava usando, me encarou com um sorriso que fazia jus ao nome que carregava. Fred II é a criatura mais dissimulada que eu conheço, ele consegue estar por trás de tudo que tem a ver com bebidas e dinheiro em Hogwarts, mas ao mesmo tempo NUNCA esteve numa detenção, o que deixa tio George louco da vida.

—Não sei se posso colocar Piece mais confuso do que ele já é. – Falei impaciente. Que merda! Até onde eu sei Fábregas já deve estar na segunda base com Rose a essas alturas, Fred! A ideia me pareceu muito repugnante. Eca!

—Tente. – Ele se aproximou tanto de mim para falar isso, que pude ver suas sardas por baixo da tinta. Fred não brinca em serviço e sabe ser assustador quando contrariado.

O que a gente não faz pela família... Fui até o velho professor de Astronomia fasciná-lo novamente com uma das histórias antigas de meu pai, as palavras já vinham tão automáticas que eu nem precisava focar 100% da minha atenção na nossa conversa. Onde aquele maldito espanhol tinha levado a minha prima?

Uma briga perto do palco chamou atenção do professor que me largou praticamente falando sozinho. Ótimo. Avistei Fred II feliz da vida, depois de seu bem sucedido reabastecimento, dançando perto de Dominique e Laetitia Sigaud, que parecia que poderia dar um braço pela atenção do meu primo. Ele sabia disso, mas a estava ignorando. Figurinha repetida não completa álbum, já dizia tio Charlie.

Nique pareceu ver algo que a incomodou e saiu correndo do salão, chorando. Meu instinto protetor apitou, mas Fred fez que não com a cabeça, Sigaud já estava no caso. Ainda bem, porque ainda preciso encontrar Fábregas e Rose.

—Potter, trouxe pra você. – Thiollent, surgida do nada me ofereceu um copo, fazendo uma cara de flerte. Bem, eu acho que é, com sonserinos nunca se sabe, pode ser apenas a expressão que ela faz antes de dar o bote. O que a mais eficiente artilheira da Sonserina merecia era ser ignorada, mas eu fui educado melhor do que isso.

—Boa tentativa, mas não estou afim de passar uma noite na Enfermaria, muito obrigado. – Ela fez um biquinho “chateado”. Revirei os olhos para a falsidade.

— O que é isso, Potter? Achei que tínhamos nos entendido bem naquele nosso último encontro... – Ela falou puxando meu uniforme de Askaban, ela mesma usando um uniforme. Só que a versão vadia dos uniformes das Harpias de Holyhead, claro.

—Thiollent, deixei bem claro que era coisa de uma noite só... – Falei enquanto virava o maldito copo que ela me ofereceu. Droga, Fred perdeu completamente a sutileza, essa porra tá puro álcool! – Não saio com sonserinas, você foi uma exceção, sinta-se honrada.

Falei, fazendo uma careta por causa do ponche que não estava mais batizado e sim tinha sido exorcizado! Dei as costas para a garota insuportável que não queria largar do meu pé, vou te dizer, nunca mais transo com rivais, pode até parecer excitante, mas acredite, é apenas estressante.

—POTTER! – Deixei Thiollent falando sozinha, tinha que cuidar daquele maldito ponche antes que mais alguém bebesse aquilo, mas infelizmente Piece estava do lado da mesa de bebidas, que azar!

—Então, rapazinho, como disse que seu pai resolveu aquele caso dos Comensais da Morte que se esconderam no Sul da França? – Por Griffindor, estou fodido! Vi uma garota da Lufa-lufa pegando dois copos grandes de ponche, gente, quem tem tanta sede? Corri para pegar dois para mim também, quem sabe assim acaba mais rápido essa armadilha de Salazar?

—Desculpa, Professor Piece, mas eu encontrei uma velha amiga e...– Fiz minha melhor cara de “me dei bem”, que pareceu convencê-lo. Peguei os dois copos virei um no caminho de uma Molly que estava mais saidinha do que vovó teria gostado de ver. Pra que tantos primos, Merlin?

—Molly, tá na hora de ir dormir. – Ela sorriu bobamente pra mim, quase derrubando meu segundo copo de ponche.

—Deixa de ser chato, Jay... Você não é meu pai. – Ela passou a mão sensualmente pelo corpo tentando chamar a atenção de Romeo Habermas, aquele projeto de troll, o mato antes de deixá-lo tocar na minha prima. Por Merlin, porque os Weasleys tinha que ser tão férteis?

—Seu pai telia... Merda! Teria achado muito fantástico o seu... Seu... – Qual é a palavra mesmo? – “Showzinho”... –Disse a ela desdenhosamente.

Que estranho, as coisas parecem estar mais aceleradas agora! Não, perdão, estão lentas. Molly caiu na real e viu o quanto estava sendo ridícula e foi para a Torre, espero. O pai dela tem um alto cargo no Ministério, uma filha assanhada deixaria tio Percy resmungando todo o feriadão de Natal, acreditem. Dei uma volta de 360 graus procurando achar mais algum primo metido em confusão, porque na minha família tudo é possível, mas só visualizei uma pessoa:

Fábregas.

Terminei de virar o segundo copo e ignorei a reclamação do Corvinal ao lado, acho que o copo o atingiu na cabeça, sei lá. Respirei fundo antes de encará-lo, o salão ainda acelerando e desacelerando estranhamente. Será que é mais uma prova de que Hogwarts está morrendo? Aqueles retardados dos Iconoclastas estão certos depois de tudo?

Nada disso importa, o que importa mesmo é que Fábregas está indo comer MAIS e eu não tô vendo nem sinal de Rose! Pós-sexo dá fome, não é, filho da mãe?

—Eu vi você saindo com a minha priminha a alguns minutos atrás, devo me preocupar, Fábregas? – Tentei não jogar toda a minha raiva em cima dele, inocente até que se prove o contrário, meu segundo nome está aí para me lembrar disso.

—Se um dia eu sair com sua priminha com segundas intenções, eu que vou ter que ficar preocupado... Sem ofensas! – Estranhamente não me senti ofendido, a ideia de que Fábregas achava absurdo um romance com Rose me deixou na verdade... Aliviado.

—Seria estranho vocês dois juntos, não combinam em nada mesmo. – Rose não conseguiria domá-lo, olha só pra ele, com essa sobrancelha levantada em desafio. Acho que poderia ensinar uma ou duas lições a uma certa serpente...

A estranha magia de Hogwarts agiu novamente, porque não sei como vim parar tão perto dele, mas a coisa é, estava muito feliz de estar aqui, porque senão, de que outra forma eu descobriria uma única pintinha bem perto do lábio superior dele?

—Potter, então... – O sotaque estrangeiro soou mais forte do que nunca, quase fazendo com que as palavras dele ficassem incompreensíveis. Por Morgana! Aquela marquinha era provavelmente a única imperfeição na pele muito clara dele, espanhóis não deveriam ser bronzeados? Vindo de uma família cheia de sardas me sinto realmente um especialista no assunto. Me aproximei mais apenas porque não consegui pensar em um só motivo para não investigar por conta própria se aquela pele anormalmente perfeita era quente ou fria... – Eu meio que tenho que... Tchau.

Ele fugiu.

E não foi uma fuga com estilo como as cobras costumam fazer. Ele literalmente correu e tenho a impressão que ele estava corando também... Adorável.

Adorável? Mas que porra! O idiota do capitão da Sonserina NÃO é adorável! Desviei o olhar da saída do Salão para dar de cara com uma Thiollent me encarando parecendo irritada.

—O que é Thiollent? Perdeu alguma coisa aqui? – Ela mudou a expressão para um sorriso falso.

—Não, Potter... Pelo contrário. – Ela saiu andando, parecendo bem menos bêbada do que eu achei que ela estava antes. Passei a mão nos cabelos, frustrado.

Malditos sonserinos estúpidos!

***

Merlin, o que está passando pela cabeça daquele moleque?

O pós-festa de Hogwarts normalmente é bastante desanimador: todo mundo de ressaca! Menos eu que sempre tenho um estoque de poções restauradoras, feitas por mim, claro.

Sim, sou um Potter grifinório bom em poções. Eu também não sei o que há de errado comigo. Obviamente eu não saio espalhando meus talentos por aí, mas todos os ingredientes com seus cheiros, cores e poderes me atraem, os diferentes caldeirões, prata, ouro, estanho... Um dia colocarei minhas mãos em um raríssimo caldeirão de diamante.

E usarei um caldeirão desses pra fazer um veneno bem potente para mat... Ok, apenas incapacitar Fábregas. Ele está em sua mesa, parecendo inocente e levemente distraído, mas a mim ele não engana, com certeza está aprontando alguma.

O pior é que eu dei todas as ferramentas para ele me ter em suas mãos nojentas. Perguntei incessantemente a um mal-humorado Fred o que diabos ele havia colocado naquele ponche, porque whisky de fogo não foi! Whisky não faz as pessoas ficarem malucas, quase beijando idiotas!

Garotos idiotas, ainda por cima!

Vejam bem, eu NÃO sou gay! E por isso mesmo toda essa situação é ainda mais ridícula! Fábregas deve estar planejando a melhor maneira de espalhar essa falsa história sobre mim e pra complicar ainda mais minha situação, é capaz dele encontrar várias testemunhas para apoiar a sua versão dos fatos.

E a minha versão dos fatos? Bem... Fred passou dos limites e COM CERTEZA colocou algo mais no ponche! Essa é a única explicação lógica!

—James, qual é o seu problema? Por que não tira o olho da mesa da Sonserina? – Frank me perguntou curioso como sempre. Nem sequer tive coragem de contar a ele o que aconteceu!

—Estou vigiando os inimigos, óbvio. – Ele suspirou cansado. Não sei como ele pode ser tão calmo, por exemplo, por que ele não está planejando uma vingança contra o imbecil do Zabini?

—Ele é uma criança, Jay... Não tem nem graça você ficar implicando com ele... – EU IMPLICANDO COM ELE? Céus, Frank fala igualzinho a minha mãe! Ela vive dizendo que eu implico com os outros! Que absurdo... A criança em questão sussurrou algo para o seu companheiro de crime favorito.

Antony Zabini me encarou diretamente nos olhos.

AÍ ESTÁ.

Fábregas já começou a espalhar mentiras ao meu respeito! Para ser totalmente justo ele agrediu o amigo por conta de sua indiscrição e os dois começaram uma briga ridícula. Zabini e ele formam uma dupla estranha, quando estão juntos eles perdem a aura Sonserina e se tornam duas crianças, exatamente como Frank os vê.

Mas crianças crescem e Fábregas está crescendo muito rápido, a prova disso é que a irmã de Jéssica “devoradora de homens” Wainz, está toda caidinha por ele de novo. Achei que ele já tinha superado isso.

O garotinho FDP saiu do salão intempestivamente, deixando a aprendiz de devoradora meio perdida, junto de seu outro amigo problemático. Para onde ele vai com tanta pressa?

A minha sorte é que hoje é a minha vez de ficar com o Mapa dos Marotos, logo não preciso sair correndo atrás dele para investigar. Um grande saco desde que Albus começou em Hogwarts, eu tenho uma semana com o Mapa e uma com a Capa da Invisibilidade, meu irmão sabe ser muito insistente quando quer. Felizmente consegui convencer Lily Luna que ela não precisava de nenhuma das duas coisas pra viver. Ela ficou satisfeita de ter os Espelhos de comunicação do vovô, um contato direto com a nossa mãe, claro.

Depois de despistar aparentemente todas as criaturas do mundo mágico, consegui me encostar perto de uma das armaduras do primeiro andar para olhar o Mapa em paz. Vejamos onde está aquela peste? Passei os olhos superficialmente pelo velho pergaminho, o nome já familiar para mim.

“F. S. Fábregas”

Ele estava parado no lado de fora do castelo, próximo ao lago. Infelizmente não estava sozinho. Claire estava com ele, mas o quê? Sério, o que as garotas enxergam naquele... Naquele... Pedaço de losna podre?

Tá, James, muito maduro isso!

Confesso que ele tem algo que pode, talvez, parecer atraente para um grupo específico de garotas. Quero dizer, tem o sotaque, tem a pose de baderneiro, o fato dele jogar Quadribol... Tá, admito que ele não é uma completa perda de espaço. Suponho que tenha gosto pra tudo, porque a mim ele não atrai.

Bem, ele é um garoto e eu não me sinto atraído por nada que não tenha um belo par de peitos, só pra deixar claro. Tem isso também.

O que quer que Fábregas tinha para resolver com Sullivan não durou muito tempo, porque ele finalmente estava vindo para o Castelo, ótimo. Chegou a hora de colocá-lo exatamente onde ele deve ficar. No caso, em qualquer lugar que ele queira, contanto que calado!

—Fábregas.

Ele pareceu genuinamente surpreso, se não tivesse negócios a tratar teria admirado os olhos negros deles bem abertos como se tivesse sido pego no flagra. Mas hoje devo manter minha pose respeitável.

—Potter. – Como alguém consegue colocar em uma única palavra tanto desdém?

—Posso saber o que você e seu amiguinho tanto olhavam para a minha mesa hoje no almoço?– Ele teve a cara de pau de dar um sorrisinho mínimo, aquele que sempre parece antecipar uma de suas respostas espertinhas.

—Estávamos apenas apreciando a beleza leonina! É uma das partes boas de se ter olhos na cara. – Viu? Por isso que perco a paciência com ele!

—Fábregas, eu tenho a sensação de que você pode estar com alguma impressão errada sobre mim... – Comecei tentando sondar o que exatamente estava se passando pela mentezinha cheia de araramboías descapeladas dele. Ele cruzou os braços, insolentemente, pronto para interromper meu discurso.

—Não, só as impressões certas, temo. – Fábregas franziu o cenho tentando parecer intimidador, mas sempre tenho que lutar para não sorrir com a tentativa. Ele simplesmente se assemelha muito a um gatinho comprando brigas que não pode vencer. Foco, Potter! Leve isso a sério, é sua reputação em jogo. Foco! – Eu só espero que VOCÊ não esteja com a impressão errada...

O que diabos ele quis dizer com isso? Ele por acaso está querendo dizer que tem interes... Não! Nada de conclusões precipitadas! Foco.

—Vamos deixar uma coisa bem clara, Fábregas, se eu ouvir o meu nome na boca de...

—Seu segredo está a salvo comigo! – Ele me interrompeu de novo, mas dessa vez me dando um daqueles sorrisos bonitos dele, que eu apenas vejo surgir para os amigos serpentes ou garotas que são areia de mais para seu caminhãozinho. Estaria mentindo se dissesse que não entendo o porquê dele usá-lo como arma. É um belo sorriso, de fato. – Eu até que fiquei meio lisonjeado com...

LISONJEADO? Parei ele exatamente aí! Com quem ele pensa que está falando? Ele acha que eu sou uma das garotinhas do primeiro ano que se derretem por qualquer babaca com um sorriso brilhante e um maldito sotaque exótico?

—Está brincando com fogo, Fábregas! – Dane-se que era para ser uma simples sondagem, agora, por causa da arrogância dele será um aviso. Melhor: uma ameaça. – Vai se arrepender de mexer comigo.

Ele me olhou assustado, sonserinos não gostam de confronto direto. Fábregas corou levemente, se não estivesse tão perto nem teria visto a pele clara se avermelhando. Meu recado foi dado, o encarei com meu pior olhar ameaçador, que pareceu bastante efetivo, olhando em retrocesso.

Tudo estava indo de acordo com o plano, mas então eu avistei aquela maldita pinta, tão pequenininha, bem ali, escondida no lado direito, logo acima do lábio superior. Ele franziu levemente as sobrancelhas como se estivesse tentando entender que diabos eu estava fazendo encarando a boca dele daquele jeito.

Merda, eu perdi o foco.

***

—Louise, precisamos conversar. – Fábregas se aproximou da nossa mesa de almoço sem nem sequer reconhecer a presença de mais ninguém, além da irmã. Ele parecia estranhamente sério e eu fiquei alerta instantaneamente.

—Agora não, Cesc. Eu e Frank vamos finalmente almoçar juntos. – Louise pareceu não perceber a mudança no humor do irmão, se abraçando à Frank desleixadamente. Eles são gêmeos e realmente se parecem muito fisicamente, mas emocionalmente sempre estão visivelmente fora de sintonia.

—Não tenho medo de Longbotton, Louise, precisamos falar AGORA. – O mau gênio dele, que sempre ficou disfarçado por trás das brincadeiras e respostas rápidas, ficou mais evidente. Fábregas parecia ter sido empurrado no limite e dessa vez a irmã percebeu o quão sério ele estava. Normalmente aproveitaria a vulnerabilidade dele para provocá-lo, mas não sei o porquê dele estar chateado. Pode ser algo sério, familiar.

—Não fiz pra te confrontar, Cesc, apenas es... – Louise começou a se justificar, mas sua tentativa de desculpa pareceu apenas irritá-lo ainda mais.

—LOUISE! – A taça perto da mão da namorada de Frank estourou, deixando meu amigo automaticamente protetor e Louise visivelmente assustada. Hora de intervir, o garoto está apenas transtornado demais e não parece capaz de conversar racionalmente agora.

—Ok, Fábregas, apenas vá embora. –Escolhi contê-lo agora, antes que ele pudesse fazer uma besteira que pudesse se arrepender. Frank é bastante calmo, mas ele com certeza iria se meter em um assunto que obviamente não lhe diz respeito e eu teria que intervir... Melhor parar tudo antes.

—Não se envolva, Potter. –Fábregas rosnou de volta pela primeira vez na conversa parecendo notar minha presença, o que para mim é ótimo, todos na mesa estavam tensos ou assustados, mas a raiva de Fábregas não me intimida, posso lidar com ele. Prefiro, inclusive, que o foco dele esteja em mim.

—Apenas saia. – Falei calmamente, tentando mantê-lo na linha. Não precisava olhar para cara de Frank para saber que ele estava pronto para defender a namorada, que estava realmente assustada, buscando sua proteção. Que merda Louise fez pra deixar o irmão assim?

—Louise, você está...- Ele me ignorou novamente olhando diretamente para a irmã do outro lado da mesa, respirou fundo para se acalmar, antes de continuar seu discurso. - Você teve sua chance!

Estava bem claro que não havia sido algo bobo e que ela tinha feito o movimento errado não encarando o problema de frente. Do pouco que conheço Fábregas posso dizer que ele é do tipo de pessoa que gosta de colocar todos os seus assuntos em pratos limpos.

No entanto a corvinal ainda é minha amiga e mesmo não gostando de me meter em assuntos de família não me arriscaria deixando ele chegar perto dela nesse estado. Ele pareceu não gostar nada da minha intromissão, mas se retirou pra sua própria mesa sem acrescentar nada pra mim. O que foi bom, porque apesar de não me intimidar com o gênio ruim dele, provavelmente só conseguiria colocar mais lenha na fogueira com meu próprio gênio difícil.

—Calma, gente! Ele é inofensivo, está apenas chateado... – Louise fez uma tentativa para acalmar Frank que parecia realmente querer tirar satisfações com Fábregas. Dessa vez teria que ficar contra ele, Frank fica cego quando se trata da namorada. – Obrigada, James, mas não era necessário intervir, Cesc nunca foi capaz de levantar um dedo contra mim.

—Ele parecia capaz de estourar seu crânio sem levantar um dedo...- Fred II disse desnecessariamente, fazendo apenas com que Frank olhasse mais emburrado para a mesa da Sonserina.

Tomei a liberdade de olhar para lá rapidamente e vi os amigos dele parecendo muito chateados. Aparentemente não fui o único que percebeu que aquele comportamento não se encaixa nos padrões de Fábregas.

Quando virei para voltar para meu almoço, captei uma estranha troca de olhares entre Louise e meu irmão caçula, que sempre foi um garotinho cheio de truques e segredos.

Ele olhou pra mim e fez uma cara inocente, essa cara que nunca me enganou. Se eu fosse um sonserino, eu talvez tivesse franzido o cenho ou levantado uma sobrancelha, coisa que na verdade eu não consigo fazer, para demonstrar minha desconfiança, mas estranhamente uma das principais características da Grifinória é o sangue frio, então apenas retribui o sorriso de Albus e voltei a comer o meu almoço como se nada estivesse acontecendo.

O que diabos vocês estão aprontando, crianças?

***

O vento estava ficando mais forte, anunciando que teríamos provavelmente muita chuva essa noite. Resolvi não soltar o pomo de novo e apenas observar meus companheiros se movimentando pelo campo de Quadribol.

Frank, com toda sua calma era um líder nato, e orquestrava todo o time de uma maneira única, era tão carismático que sempre abria os treinos para garotos e garotas da Grifinória treinarem com a gente, meio que incentivando as futuras gerações de jogadores e mantendo os atuais trabalhando duro pelos seus lugares na equipe.

Ele era tão tranquilo que não se importou em deixar Lily Luna assistir todo o treino, coisa que ele não permitia nem mesmo Louise fazer. Mas vamos ser 100% honestos, Louise Fábregas pode estar brigada com o irmão agora, mas nada mudará o fato de que ela é gêmea do maldito Capitão da Sonserina! Nem mesmo o mais lindo dos amores e o mais doce dos beijos poderá mudar essa triste realidade.

Lily Luna, por outro lado, Frank praticamente viu nascer, se não realmente, ao menos fez parte de todos os momentos importantes da vida dela, ele a conhece, mesmo sendo da Sonserina, Lily nunc...

Um brilho estranho me chamou a atenção nas arquibancadas, Lily Luna rapidamente guardou alguma coisa no bolso interno das vestes e, mesmo de longe, pude perceber seu sorriso nervoso para mim. Obviamente não poderia nascer dois dissimulados na família Potter, Albus era o nosso e Fred II é o representante oficial dos Weasleys, então minha irmãzinha é péssima para disfarçar as coisas.

Frank parecia em sintonia com meus pensamentos, porque simplesmente apitou o fim do treino na mesma hora em que eu já baixava da vassoura para falar com minha irmã caçula.

Jay, tinha esquecido como você era bom no Quadribol, acredita? – Lily me falou nervosa e levemente ofegante, como se tivesse sido ela quem havia ficado numa vassoura por quase duas horas e meia, não eu.

—Não Lily, não acredito. Como você poderia esquecer de uma das verdades mais simples da vida? – Falei brincando, enquanto sorria para ela. Ela fez uma expressão entre o assustada e divertida, como se mal pudesse acreditar que eu caí no seu disfarce. – O que está escondendo, Luna?

Bem, querida irmã, eu não caí. Mudei minha expressão para uma séria e firme, o que tirou a cor natural do rosto da minha pequena. Lily Luna nunca foi boa com mentiras, mas ver suas tentativas sempre valeu o esforço dela.

—Eu... Err... O quê? Escondendo? Eu? Nada! – Como se gaguejar não fosse confissão suficiente, ela resolveu colocar a cereja no bolo. – Por acaso acha que... Acha que eu estou te espionando? Pfff... Por favor, Jay... Que bobeira!

Eu inclinei levemente a cabeça para intimidá-la ainda mais. Lily havia levantado para me receber e agora estava trocando o peso de um pé para o outro, nervosa.

—Lily Luna Potter, você tem 10 segundos para me dizer o que está acontecendo.

—Não está acontecendo...

— 10, 9, 8...

—Jay, eu juro, eu só estava...

—5, 4, 3...

—Ok, ok! – Ela parecia prestes a chorar, mas depois de 11 anos convivendo com esses olhões castanhos chorões, considero a mim mesmo imune a esses artifícios. – Não estava fazendo nada demais... Eu... Estratégias não ganham jogo e ele estava tão triste...

—Ele. Quem? – Falei pausadamente, mas poderia ter gritado porque Lily apenas me olhou horrorizada, como se tivesse falado demais. – Lily Luna, quem mandou você fazer o quê?

—Ele não me mandou fazer nada... Eu, eu que me... Eu quis. – Ela falou subitamente séria e confiante. – Sonserina é minha Casa e nós precisamos mais da vitória do que vocês.

Olhei chocado para aquela versão estranha e Sonserina da minha irmãzinha Lily. Ela me encarava de igual para igual, com o queixo levantado em desafio. Quando ela levantou a sobrancelha direita, não precisou me dizer mais nada, sabia exatamente de onde vinha essa atitude:

Fábregas.

—Me entregue. – Estendi a mão sério e a vi endurecer mais ainda a expressão. Aquela erva daninha havia contaminado a minha irmã caçula de um jeito que eu nem sabia que era possível. – AGORA, LILY.

Ela me olhou muito surpresa, eu nunca grito com Lily Luna. Mas ela nunca mereceu uma atitude mais drástica minha antes, sou 4 anos mais velho do que ela, Albus é o irmão pirracento, eu sou o protetor. Mas não vou passar a mão por sua cabeça, não hoje, não quando eu sei que assim que ela chegar nas Masmorras vai achar quem o faça.

Ela hesitou, mas no fim das contas não teve jeito. Acabou me entregando o estranho objeto, que revelou ser, nada mais, nada menos do que um celular. Não qualquer um, mas o celular DELE.

—Diga a seu amiguinho que se quiser o aparelho dele de volta vai ter que vir falar comigo. – Ela me olhou apertando os lábios para não chorar, e o meu estúpido senso de irmão mais velho falou alto nessa hora “E se ele descontar a raiva nela?”, mas logo suprimi a ideia. Não. Fábregas tinha contas a acertar comigo e dessa vez nada distrairia a atenção dele de mim. – Pessoalmente.

Ela engoliu em seco e saiu andando apressadamente, bem a tempo de escapar da chuva que começava a cair nos campos frios da Escócia. Abriguei o estranho celular com uma caveira verde bizarramente enfeitada nas vestes de Quadribol.

Não importa quão poética soe a cena, não vou arriscar perder esse tesouro numa chuva de Outono. Fábregas que me aguarde.

***

Me permiti algumas horas com o aparelho antes de mostrá-lo a toda a Grifinória. Não havia nada realmente incriminador, mas perdi bastante tempo analisando umas fotos que pareciam não ter mais do que dois anos.

Fábregas sorria parecendo muito mais com uma criança saudável do que com um delinquente juvenil, coisa que ele é de verdade. O rosto estava um pouco mais arredondado, mas os traços não mudaram muito. Ele estava com um senhor que lembrava à ele, só que muito mais moreno e com uma cara de ser uma pessoa que realmente presta.

O senhor, que eu presumo ser o pai dele, tinha aquele típico olhar com algumas marcas de expressão aparentes, de quem sorri muito e um bigode que combinava estranhamente com todo o visual. A única coisa que os ligava realmente como sendo da mesma família era o sorriso.

Os dois sorriam com todo o rosto, sinceramente, deixando os olhos um pouquinho fechados, o que me fez sorrir de volta. Vê-lo fora do contexto da escola parecia desvelar toda uma sorte de novas nuances. Não tenho certeza se odiaria e me irritaria tanto com esse garoto da foto se o tivesse conhecido em outras circunstâncias.

Provavelmente sim, Fábregas é um demônio.

Passei pra foto seguinte, essa com a família completa. Obviamente as fotografias trouxas não haviam sido tiradas com a máquina do celular, a qualidade era muito melhor e o aparelho parecia ser mais novo do que as imagens.

Entendi porque Fábregas não se parece nada com o pai e é tão parecido com a irmã, ele e Louise são a cópia da mãe. A Sra. Fábregas é uma senhora interessante. Ela não tem uma beleza fácil de identificar como a da minha mãe e nem mesmo uma sutil como a da tia Hermione. Se tem uma palavra que a define muito bem é elegante.

Ela tem uma tez clara, explicando porque tanto Louise quanto Cesc são estranhamente pálidos, tem os cabelos claros e olhos verdes. A postura séria e muito digna a fazia parecer uma puro-sangue e se eu não soubesse melhor, diria que ela era de uma família bruxa extremamente tradicional e purista.

Louise obviamente tinha dado sorte, o melhor dos dois mundos. Tinha a elegância e o porte longilíneo da mãe somados à doçura e o calor humano do pai. Já Fábregas era exatamente como a mãe, a não ser pelo sorriso e cabelos escuros, mas o que era apenas razoável nela, ficou muito bom nele.

Não havia olhos marcantes, nem nariz perfeito, o forte de Fábregas era o sorriso, sem sombra de dúvidas e ainda assim, o conjunto da obra era muito agradável. Ele era uma criança bonita.

Claro que hoje em dia ele é apenas um moleque detestável.

Observei mais um pouco a foto da típica família de comerciais trouxas: crianças bonitas, pais elegantes com aparência de bem sucedidos. Passei mais algumas fotos de férias, uma de Fábregas de óculos escuros, com o nariz e bochechas vermelhos do Sol, algumas dele e Louise na piscina de algum hotel de luxo, mais piscina, jantar em restaurante, praia, caminhando na areia...

Mudei de álbum, vindo para o rolo de fotos da câmera do celular, começando com as mais recentes e logo na primeira foto encontrei Lily e Wainz fazendo careta para a câmera, bem de pertinho. Elas pareciam divertidas, Wainz levemente provocadora, mas a minha irmã estava apenas sendo a mesma Lily engraçada e doce de sempre, o que me deu um certo aperto no coração. Passei mais fotos e vi um Zabini sorrindo no meio de uma frase e Malfoy olhando surpreso para a câmera.

Nas fotos seguintes haviam várias cenas diferentes dentro do Salão Comunal da Sonserina: umas garotas sentadas perto da lareira, uma delas fazendo cara de brava, por ter sido flagrada, outra foto de Malfoy, Zabini e Wainz em uma mesa de estudos jogando alguma coisa, dava pra ver um pedaço do braço de Fábregas, reconhecível por uma pulseira de couro velha e surrada, na verdade só um par de tiras que ele usava de vez em quando, aparentemente apenas porque precisa de algo para quebrar a imagem de sonserino perfeitinho.

Passei para a foto seguinte, essa sim enquadrando a cena perfeitamente, Malfoy segurando as cartas, protegendo de um Zabini sentado desleixadamente na cadeira ao lado dando um sorriso tranquilo, uma Wainz no lado oposto da mesa, quase deitada sobre ela para sair na foto e Fábregas, senhor do universo, sentado de lado, com um dos braços apoiados na cadeira, sorrindo e dando uma piscada para o fotografo, provavelmente Lily.

Ele parecia bastante com aquele tipo que agrada as garotas mais tolas. Já no fim do dia, sem o sobretudo escuro pesado e com a gravata folgada sob a camisa desarrumada, com as mangas arregaçadas, ele parecia bastante... Humano.

Passei para a próxima foto, porque ficar observando se outro cara tá ou não tá legal simplesmente é bizarro. A última foto simplesmente confirmou todas as minhas suspeitas. Lily estava novamente em foco, com a câmera tão perto que dava pra ver as suas sardas e dava pra ver aquela maldita pinta dele.

Fábregas estava dando um beijo na bochecha de Lily, mas eu realmente não vi maldade alguma no ato, o que me deixou com uma súbita raiva dele foi aquele olhar. Podia ser apenas para câmera, mas depois de hoje era quase um desafio, ele olhava como se estivesse mostrando para mim que ele podia. Que ele podia roubar a minha irmã e voltá-la contra mim, que ele podia conseguir o campeonato, a fama, as garotas, tudo que era meu por direito apenas por ser quem ele é, mas ele não pode.

Já estava de saco cheio de ver as malditas serpentes pagando de boazinhas para as lentes de Lily, fazendo-a acreditar que eles eram legais, que estava ok trair a família por causa de um filho da mãe manipulador como Fábregas.

Quase desliguei o celular, mas algo me fez passar para a foto seguinte. Não era um sonserino, nem mesmo uma pessoa, era apenas a foto de um livro. Um livro de jogadas para ser mais exato.

Ampliei um pouco mais a foto, porque havia algumas anotações feitas por cima do livro num garrancho horrível. A letra era pontuda e grande, então quando ampliadas dava para enxergar claramente o que diziam.

Qual o ângulo exato que um batedor deve se colocar em relação ao outro para a jogada dar certo?

Se um bastão bater no outro ainda será possível imprimir a mesma força?

Checar regulamento de Hogwarts de 1999 atualizado.

Era óbvio de quem eram aqueles questionamentos, de um certo batedor inteligente, atrevido e com a moral levemente distorcida, mas muito atento as regras.

Hum... Seria muito interessante se o truque de Fábregas se virasse contra ele, não? Se o espião virasse o espionado e se as SUAS jogadas fossem roubadas bem debaixo de seu nariz enxerido...

***

Ok, eu não estou orgulhoso do que fizemos.

A vitória contra a Sonserina era necessária para que continuássemos no páreo, mas Frank olhava meio chateado no meio da festa da Grifinória, o que nunca passava uma boa imagem para o restante da Casa.

Mogilka e Quérrel não hesitaram em fazer a famoso movimento dos Famouth Falcons destacado do livro de jogadas de Fábregas, que havíamos treinado pelas costas do nosso líder. Quase uma poesia do destino que os dois tenham conseguido aplicá-la justamente no maldito Capitão verde e prata.

Claro que eu sabia que algum jogador da Sonserina seria atingido, mas ao contrário do que vocês pensam, eu não disse para meus batedores acertarem Fábregas! Poderia ter sido qualquer sonserino condenado, todos eles não estavam para brincadeira hoje, mas para o azar do batedor, ele estava jogando bem demais naquela tarde.

Quando Fábregas foi atingido pelo golpe de Jean-Paul e Karl, coloquei automaticamente a mão na minha varinha guardada estrategicamente na minha tornozeleira esquerda. Nos é permitido levar as varinhas a campo, contanto que não sejam usadas. Após a guerra ficou apenas impensável afastar qualquer bruxo de sua varinha.

Mas não era nem preciso me preocupar, para um nascido trouxa, Fábregas até que tinha uma familiaridade incrível com a vassoura e olha que ele estava jogando com uma relíquia mortal. Ele conseguiu se reequilibrar e até tentou continuar jogando, mas quando quase caiu pela milésima vez, fazendo toda a torcida ter um princípio de ataque cardíaco, Madame Hooch exigiu que ele saísse do campo.

Obviamente o Capitão Sonserino não foi sem fazer um escândalo antes, todo o time parecia muito indignado também, nem aí que o moleque estava arriscando o pescoço nessa brincadeira de se fazer de forte. Isso é só um jogo de Quadribol! O machucado no ombro pode não ser nada, mas ele pode cair e morrer. E da morte nem Madame Pomfrey pode trazer de volta.

O idiota saiu de campo chutando tudo pela frente, mas estranhamente foi incapaz de tratar mal aquela velharia que ele chama de vassoura ou o seu bastão. Ele deve ser do time de Fred II: adoradores de equipamentos.

No fim do jogo até fui checar o seu estado na Enfermaria, mas encontrei com seus estúpidos companheiros de time que falaram seriamente que ele estava mal e que provavelmente seria transferido para o St. Mungus. Claro que eu não acreditei numa palavra, por favor, não sou idiota.

Mesmo sabendo que tudo não passava de uma mentira de Zabini, fiquei com a culpa martelando na cabeça, afinal Frank tem razão, ele é só um garoto. Louise ficou chateada e não aceitou o convite para a nossa comemoração e me deixou meio abalado pensar na preocupação do cara simpático e da dama elegante caso algo acontecesse com seu filho.

Droga.

Ganhamos o jogo, mas aparentemente perdemos um pouco do respeito próprio, não que eu vá admitir em voz alta, mas o olhar de Roxanne no outro lado do Salão é uma prova bem clara disso. Minha prima Roxie tem a pele mais clara do que o irmão e olhos verdes, mas os traços afro estão mais presentes do que em Fred II. Ela me encarou chateada, com certeza vou ouvir alguma coisa sobre isso no Natal, porque ela é do tipo que arquiva todas as chateações. Saco.

Não comemorei muito, apenas dei um tempo, o suficiente para não parecer suspeita a minha saída e fui dormir. Ou ao menos tentar.

Ele pode ter realmente se machucado, não é? Mesmo que esteja bem, o que é provável, ele merece ao menos um pedido de desculpas, não consigo parar de pensar que poderia machucar um garoto, mesmo sonserino, fazendo uma jogada arriscada dessas! Onde eu tava com a cabeça ao sugerir isso para os caras?

Me levantei de supetão, agarrando a Capa da Invisibilidade no mesmo movimento. A mantenho debaixo da cama, porque não tenho que me preocupar com invasores. Ninguém seria doido o suficiente para invadir meu quarto, isso eu posso garantir.

Passei pelo Salão Comunal da Grifinória, ainda tinha aqueles últimos festeiros inveterados se balançando ao som de alguma música trouxa que eu não conheço, mas os ignorei, debaixo da Capa.

Sem o Mapa teria que rezar para não encontrar ninguém pela frente, mesmo estando invisível era um risco cruzar toda a escola fora do horário. Cheguei na Enfermaria sem grandes problemas, mas lá dentro estava um breu, sem nenhuma iluminação indireta como nos corredores, com seus archotes.

Foi difícil identificar o vulto de Fábregas com todas aquelas camas, mas ele facilitou meu trabalho ao se inclinar assustado, mostrando que estava com todos os reflexos intactos. Queria abusá-lo um pouco, mas acabei tropeçando em um dos biombos, fazendo barulho, o que deixou Fábregas ainda mais inquieto. Hilário.

—Calma, Fábregas! Pode parar de tremer agora. – Ele se inclinou mais pra frente e eu lembrei que ainda estava com a Capa, merda, como sou idiota às vezes!

Quando finalmente me revelei o idiota tomou um susto, estava com a varinha na mão e acabou fazendo uma magia involuntária.

—Hey! Cuidado aí, idiota. – Resmunguei mais por hábito do que qualquer coisa, quase fui atingindo por um raio vermelho! Ele se ajeitou melhor na cama e manteve a varinha ainda apontada pra mim. Que garoto insuportável.

—O que diabos você tá fazendo aqui, Potter? – Não importa a situação, Cesc Fábregas sempre consegue soar totalmente arrogante, isso deve ser considerado um talento. – Veio acabar o trabalho sujo dos seus amiguinhos? De ladrão à assassino, quem diria...

—Quer calar essa maldita boca? – Se não é uma Drama Queen! Ladrão e assassino, não acredito que alguém como ele ousa me julgar de qualquer coisa. – Vim apenas pra ter certeza que estava vivo, já que seus colegas fizeram questão de dizer que você estava entre a vida e a morte, disseram até que tinha sido encaminhado para o St. Mungus...

Preferi ser sincero do que continuar o ciclo de acusações que ele começou, mas o atrevido apenas achou por bem me interromper.

—Você me viu sair andando do campo! Achou que no meio do caminho eu fui engolido por um hipógrifo? – Ele parecia bem exasperado e com razão. Tinha certeza que Zabini estava inventando, mas a minha consciência não quis me deixar dormir, fazer o quê?

—Hipógrifos são bem legais na verdade... – Falei numa reflexão tardia. Hagrid me apresentou um no meu segundo ano de voo e ele foi muito simpático e nem tentou me matar nem nada...

—Ok, já viu que eu tô vivo. Agora pode cair fora e ter o seu sono da beleza. – Ele falou impaciente, meio que virando para o lado de uma maneira que pareceu dolorida.

—Não seja irritante! Eu sinto muito, ok? Foi pra isso que eu vim aqui... Pra te dizer isso.Agora eu é quem estava exasperado! Ele não podia aceitar as desculpas como uma pessoa madura e racional?

O que estou dizendo? É o Fábregas, é claro que ele não pode ser nenhuma das duas coisas!

—Agora que seu time já está com a vitória tendo usado as estratégias mais sujas possíveis, suas desculpas caem um pouco no vazio, não acha? – A hipocrisia dele é tanta que eu tive que me segurar para não apertar o pescoço dele.

—Como se você não fosse fazer o mesmo se tivesse tido a chance... – Falei apenas por falar, porque aquilo era óbvio!

—Está se colocando no mesmo nível que o meu... Nossa, que mudança! Papai Potter deve estar orgulhoso! – Argh! Que moleque insuportável, dava para sentir seu maldito sorriso insolente no tom de voz!

—Você é impossível mesmo! – Eu disse exausto. Já vim aqui embaixo, já pedi desculpas, se ele quer continuar com essa discussão sem sentido, ele vai fazer sozinho.

—Eu quero meu celular de volta, já que está nessa de lamber as feridas com arrependimento... – Que seja, devolverei o celular amanhã, não tem mais nenhuma serventia pra mim.

—Vou devolver sua porcaria de celular. A bateria já acabou mesmo... – Ele bufou em desagrado, pronto para interromper como sempre, mas eu fui mais rápido. – E também porque não sou um ladrão, como você insiste em dizer!

—Você é exa... – Quando ele ia retrucar, ouvimos o barulho da porta de conexão entre a Enfermaria e os aposentos das curandeiras se abrir. Isso roubou a atenção de Fábregas e foi minha deixa para recolocar a Capa e sumir da frente dele.

—Algum problema, Sr. Fábregas? – Curandeira Bodernave perguntou, ainda parada na porta para a minha eterna gratidão.

—Na verdade... – Ele olhou confuso ao redor, me procurando. Teria rido se esse não fosse o passo mais estúpido que eu poderia ter dado na atual conjuntura – Na verdade, vou aceitar aquelas poções agora.

Ele pareceu resignado. Nós dois franzimos o cenho quando Bodernave acendeu as luzes da Enfermaria e começou a mexer nos vidrinhos de poções no armário perto da porta. Não ousei tentar sair, para que uma porta se abrindo do nada não fosse motivo de suspeitas e acabei presenciando a Curandeira ministrando as poções para um Fábregas bastante cansado.

Ele estava mais pálido do que o normal, com exceção das bochechas que estavam avermelhadas como quando ele tomou muito Sol naquelas fotos de suas férias arquivadas no celular.

Bedernave resmungou algo como “garoto teimoso”, antes de pegar uma terceira poção para dar à ele. Não demorou nem um minuto para que ele caísse num sono estranho, rápido e profundo demais para ser natural. Nem sequer parecia confortável na posição que adormeceu, mas a Curandeira não pareceu ter percebido.

Talvez esse fosse o momento em que eu finalmente veria Fábregas vulnerável, quase angelical em seu sono induzido, porém... Ledo engano! Ele ainda parecia bastante arrogante, mesmo desmaiado, o cenho ainda franzido, não lhe dando uma aura de paz e a cabeça meio pendida para o lado, fazendo com que parecesse que ele poderia acordar a qualquer momento.

As luzes da Enfermaria se apagaram novamente e murmurei para o vazio do lugar, mas para mim do que para qualquer um.

—Garoto estranho...

 


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Notas finais do capítulo

É isso aí. Espero que os sentimentos de James tenham ficado mais claros, sem shippação doida agora, né? NÃO É?