Tantos anos se passaram quando ele finalmente olhou para trás. Nada do que vira lhe orgulhava, tanto tempo perdido em uma imensidão de um relacionamento fracassado que o afastara pouco a pouco de todos. Mas ele não percebeu. Agora questionava em seu desalento o porquê de aquelas pessoas tão caras se afastarem sem que ele tivesse a chance de compreender o que estava acontecendo.
Mas ele não notara que quem se afastara das pessoas fora ele mesmo.

A primeira vez foi quando, no relacionamento recém iniciado, aquele que se mostrara enciumado dissera que certo amigo fazia brincadeiras demais, e que isso lhe incomodava. E desde aquele primeiro momento, ele não notou que aquela falta de o outro tentar aceitar brincadeiras que eram feitas desde antes daquele relacionamento, poderia fadar a amizade ao afastamento. Mas a escolha que ele fez foi clara, o que fazer? Estava verdadeiramente apaixonado!

Da segunda vez um amigo de tantos anos que sempre o apoiara tornara-se alvo do amante inseguro. "Claro que você sempre teve certa intimidade com ele, mas não vê que agora eu sou seu amigo? O que tiver que contar para ele, conte somente à mim. Afinal, o que diz respeito à você, concerne somente a mim!". Concordando com o ponto de vista de seu querido, parou então de contar suas angústias ao velho amigo.

Da terceira vez um amigo de faculdade fora vítima do veneno da língua profana do companheiro colerizado. "Não observa como ele olha para você? Estou dizendo: ele quer roubar você de mim! Já chega! Mude de turno, faça qualquer coisa, troque grupo de trabalho! Não me importa, não quero ele por perto!". Nada foi dito em defesa daquele de quem teve que se afastar. Apenas fechou os olhos mais uma vez à doença de seu companheiro, e encabeçou-se em suas falsas ideias.

Com o tempo, nem mesmo mensagens enviadas por seus antigos companheiros ele teve coragem de responder. e com o passar do tempo, nenhuma congratulação de datas importantes recebia de viva alma.

"Vê só? Somente eu permaneci ao seu lado. Se você tivesse dado ouvidos à eles com certeza estaria completamente sozinho agora!"

Ele estava certo.

Mas com o tempo até ele o deixou, graças à sua passividade.

E enquanto ouvia as reclamações do ex quanto as suas companhias, mal sabia, cegado pelo entorpecimento de sua paixão, das traições que sofrera ao longo desses anos. Talvez se ainda tivesse amigos eles poderiam tê-lo alertado.

Talvez se ainda tivesse amigos, eles teriam tomado-lhe a arma da mão, antes que ele a apontasse às súplicas do amante e a descarregasse sobre sua paixão, e sobre o rapaz com quem ele se deleitava sobre a sua cama.