Tal Mãe, Tal Filha escrita por Candidamente


Capítulo 8
Quinze dias de espera


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Eu sei que tô mais atrasada do que o normal e tal, mas tô aqui. E eu espero ter conseguido melhorar este capítulo, porque não tava legal, não.
Realmente espero que vocês gostem.
Boa leitura!



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Albus hesitou, o envelope segurado por ele balançava levemente, denunciando a tremedeira em suas mãos.

— Prontos? — disse.

Havia quinze dias desde que todos os alunos haviam voltado para casa e, para quem estivera aguardando ansiosamente a chegada de uma carta com o brasão de Hogwarts que traria o resultado dos N.O.M.s prestados no início do último mês de aulas, esses dias não foram nem um pouco tranquilos.

Até mesmo Albus e Scorpius, que não haviam se mostrado tão preocupados antes, estavam em nervos no dia em que as cartas chegaram. Rose e os garotos combinaram de ir ao Beco Diagonal e abri-las juntos. Portanto, na tarde em que três corujas bateram cada qual em uma janela de três residências diferentes, três jovens de quinze e dezesseis anos, que esperavam pacientemente nas salas de estar de suas casas, entraram nas chamas verdes de suas lareiras e, às quatorze horas e trinta minutos — exatamente —, encontraram-se no Caldeirão Furado.

Eles cumprimentaram Hannah — tia Hannah ou Madame Longbottom, amiga íntima da família Weasley e enfermeira da escola —, a proprietária do local havia alguns anos, e sua filha, Alice. Logo, seguiram para os fundos do estabelecimento, onde estava a entrada para o Beco Diagonal.

Ao saírem na rua, não andaram muito. Nervosos e ansiosos, sentaram-se ambos os três no meio-fio à frente da Floreios & Borrões.

— Sim — respondeu Scorpius ao amigo. — Vamos abrir logo!

— Certo... — Albus engoliu em seco e olhou para Rose, que estava em absoluto silêncio e encarava as pedras do calçamento da rua. — Os três ao mesmo tempo, está bem?

Os outros dois assentiram e, juntos, os três adolescentes abriram os envelopes. Albus, sentado entre os amigos, passou os olhos rapidamente pelo seu pergaminho, Scorpius leu devagar, como se estivesse absorvendo a tinta e Rose voltara sem demora os olhos ao calçamento.

Albus leu em voz alta:

— Adivinhação: Aceitável. — Ele torceu o nariz, então prosseguiu. — Aritmancia... Ótimo! — Com um enorme sorriso no rosto, recebeu tapinhas nas costas. — Excede Expectativas em Astronomia, Herbologia e Trato das Criaturas Mágicas. E tem mais “ótimos”! Defesa Contra as Artes das Trevas, Feitiços, História da Magia... — Scorpius encarou-o, pasmo. — Ah, qual é, é a minha matéria preferida! — Fez cara de descrente, porém Albus pigarreou e continuou: — Poções e... Ah, Transfiguração! Esperem só para ver a cara do Jae quando vir isto!

— Dez N.O.M.s, Al. Você foi muito bem! — exclamou animada, Rose, de repente parecendo ter retornado àquela dimensão.

Scorpius pegou as notas de suas mãos. Arregalou os olhos encarando a garota, abismado. Ele e Albus trocaram olhares de compreensão. Rose havia tirado "Ótimo" em todas os seus dez N.O.M.s

— Você foi melhor, Rosie, sem dúvidas. — respondeu o primo, fazendo-a sorrir um pouquinho. — Mas e você, Scorpius...?

O Malfoy respirou fundo e limpou a garganta com um pigarro.

— Foram cinco “Ótimo”, dois “Excede Expectativas”, um “Aceitável” em Herbologia e… “Péssimo” em História da Magia. — disse ele, então acrescentou: — Bem, são oito de nove, acho que está bom, não? E, aliás, eu nunca consegui achar que História da Magia fosse uma matéria muito útil...

— Na verdade, é bastante útil se você tiver certo interesse no assunto… — comentou Albus. — Mas você já decidiu em quais matérias vai continuar?

— Interesse em História da Magia é um sentimento que eu definitivamente desconheço — riu-se Scorpius, então analisou as notas. — Acho que vou continuar em Astronomia... e Defesa Contra as Artes das Trevas... Estudo dos Trouxas, Feitiços, Poções... Transfiguração e Trato das Criaturas Mágicas.

— Aposto que você aprende mais sobre trouxas conversando com a Rose do que na aula de Estudo dos Trouxas. — comentou o outro. — E você, Rosie?

— Aritmancia, Astronomia, Defesa Contra as Artes das Trevas, Feitiços, Herbologia, Poções, Runas Antigas e Transfiguração. — respondeu ela, com calma, mas como se fosse automática. — Parece que ninguém nunca pensa em Runas Antigas como uma matéria viável no terceiro ano, não é mesmo?

Albus também informou quais seriam as matérias que continuaria cursando no próximo ano letivo — Aritmancia, Astronomia, Defesa Contra as Artes das Trevas, Feitiços, História da Magia, Poções e Transfiguração — e então os três acabaram caindo no assunto das profissões depois de Hogwarts; uma pauta complicada, já que nenhum deles sabia ao certo no que pretendia trabalhar.

Para certo alívio de Rose, a conversa não ficara somente em coisas como escola e futuro, o resto da manhã fora conduzido de ombros mais leves e risadas mais soltas, sem qualquer nervosismo ou ansiedade; as despedidas foram breves e os sorrisos diziam “até logo”.

Rose, que preferiu voltar para casa pelo modo trouxa, passou o caminho inteiro pensando em como as últimas horas lhe haviam sido satisfatórias. Principalmente porque ela ainda não conseguia acreditar na sua capacidade acerca dos N.O.M.s, era surreal demais para ser verdade.

E houve aquele momento, dentro da Floreios & Borrões: ela terminava de comer seu sorvete de limão com calda de frutas vermelhas e passava os olhos pelos títulos gravados nas lombadas dos diversos livros nas estantes, quando a voz de Scorpius lhe veio aos ouvidos.

— Você gosta de poesia? — perguntara ele, erguendo um livro pequeno de capa dura cor de caramelo. O título era estampado com letras simples e douradas: “Poesia para bruxos desocupados”.

Rose achou engraçado, mas não riu por medo de deixar o garoto constrangido ou algo assim.

— Poesia bruxa — surpreendera-se ela. — Eu costumava folhear alguns livros de poesia na casa dos meus avós trouxas. Na verdade, nunca parei para pensar que devem existir vários poetas bruxos...

Ela não prestava atenção a livros de poesia quando ia à livraria comprar seus materiais para Hogwarts. Rose costumava ler mais o que tinha na biblioteca da escola, disponível em casa ou na casa dos avós. E, mesmo que, refletindo com mais profundidade no assunto, tivesse gostado da maioria dos poemas que lera, o seu interesse sempre era mais lógico do que... emocional.

Scorpius a encarava, esperando uma resposta.

— Eu gosto de poesia, sim — falou Rose, então olhou para o título na capa do livro segurado pelo garoto. — Pelo menos acho que sim... — murmurou.

Scorpius apenas sorriu e estendeu o pequeno livro para ela.

— Por que você não dá uma olhada? — sugeriu ele. — Albus vai demorar ainda.

Albus estava do outro lado da loja, procurando exemplares baseados em magia ao longo da história para completar um número suficiente de livros que lhe fossem interessantes o bastante para que ele os lesse até o fim do verão.

Rose terminou seu sorvete e pegou o exemplar de “Poesia para bruxos desocupados”. Ela o analisou antes de abrir e Scorpius riu-se ao seu lado.

— O título é horrível — disse ele. Ela concordou com a cabeça, rindo também, mas começou a folhear o livro.

Rose achou um poema aleatório, não muito grande, que lhe chamou atenção. Talvez fosse o título, ou o modo como as estrofes haviam sido distribuídas. Ela tentou ler do melhor jeito possível, porém entregou o livro a Scorpius, dizendo:

— Acho melhor você fazer isso.

— Certo — O garoto deu de ombros.

Ele o apanhou e correu os olhos pela página. Após um pigarro, leu lentamente:


Quando pensam que para mim
Nada pode se dissolver
Julgam-me forte, flor.


Julgam-me.


Eles não sabem o que sou.
Já nem sei mais o que sei.
Ou o que sou.
Ou como é que se é.


Eu só apareci
Quando queria me esconder
Eu só vivi
Quando chorei para não morrer.


Eles não sabem do meu choro, flor.
É por isso que não choram.”

— Aqui não diz o nome do autor... — comentou Scorpius, sem tirar os olhos do livro. — “Olhos equívocos”... Acho que esse título até faz sentido. — Ele olhou para Rose. — O que você achou?

Rose acordou rápido demais do transe. Assim que Scorpius leu o primeiro verso, ela afundou em sua voz, seus olhos vidraram-se em algum ponto entre os olhos e as bochechas dele. Não foi como se ela estivesse babando e o encarando bobamente, fora apenas o modo como ele lera... a melodia em suas palavras a cada verso. Rose ficou encantada com aquilo.

— Eu adorei — disse ela, sorrindo. — Eu não sei exatamente o que me passa... Acho que cada um interpreta de um jeito, eu teria que pensar muito para chegar a uma ideia concreta do que entendi sobre o poema. Mesmo assim, eu adorei. — repetiu.

Scorpius sorriu bobo.

— Quer que eu leia outro?

— Adoraria — disse Rose.

Ela podia ter pensado apenas nas notas dos N.O.M.s até chegar à porta de casa, mas lembrar-se de Scorpius lendo os poemas do livrinho cor de caramelo para ela era uma memória tentadora. Ficava ali e não queria sair. O som da voz dele ecoava enquanto o cheiro de livros novos temperava o ar. Se Rose fechasse os olhos, podia ver os lábios se mexendo e as palavras flutuando no ambiente abafado da livraria. Não era atoa que ela havia ficado paralisada a cada novo começo, só não sabia o que lhe causava aquele efeito, que fazia com que os poemas parecessem bonitos de verdade e ficassem gravados na cabeça dela... O modo como foram lidos ou talvez como eles soavam na voz daquele leitor.

Rose percebeu que Scorpius guardava beleza em características não muito notadas — superficialmente — dele mesmo. E sem querer, quanto mais insistia nesses pensamentos, mais encantada e distraída ela ficava.

O turbilhão de pensamentos lhe deu um basta quando ela quase deu de cara na porta de sua casa. Sacudindo a cabeça para “acordar”, bateu duas vezes na madeira que começava a ficar desbotada. Hermione surgiu à sua frente no hall de entrada, dando espaço para que a filha passasse. Ansiosa, ela observava Rose como se estivesse tentando ler seus pensamentos.

Rose, um pouco assustada com a ansiedade da mãe, entregou o envelope a ela. Direcionou seus pensamentos apenas para os exames, somente isso importava agora.

Hermione passou os olhos pelas notas da filha e ficou olhando para o papel, imóvel e impassível. Rose chegou a perguntar-lhe se queria um copo d'água e, então, ela levantou os olhos para cima lentamente e a menina os encarou cheios de lágrimas do jeito que estavam.

Hermione puxou-a para um abraço. E as duas ficaram assim, no meio do hall, Rose sentiu as lágrimas da mãe em seu ombro, que já estava encharcado.

— Estou tão orgulhosa... — repetia Hermione, os olhos castanhos brilhando emocionados. — Tão, tão, tão orgulhosa de você, Rosie!

A garota apertou mais o abraço, sorrindo com o nariz nos cabelos soltos e perfumados da mulher. Ela adorava o cheiro da mãe; era o cheiro de casa, do colo confortável que sempre a estava esperando no final de junho.

Separaram-se, contudo, após minutos envoltas em um único abraço que transpassava sentimentos complexos e simples ao mesmo tempo, entre mãe e filha. Como se as duas tivessem um fio que as conectava inconsciente e eternamente. O amor que sentiam uma pela outra era recíproco, verdadeiro e incondicional.

Podia até parecer dramático demais, afinal, Rose havia apenas conseguido notas indiscutivelmente boas nos Níveis Ordinários em Magia. No entanto, isso não era pouco, não para as duas abraçadas no hall de entrada da casa Granger-Weasley. Rose estivera muito nervosa e aquelas simples notas fariam uma grande diferença em seu futuro. Hermione queria muito que a filha conseguisse ser aprovada em todas as matérias que cursava, o que não tinha dúvidas de que iria acontecer de fato. Ainda que a mais nova tivesse esperanças, não conseguia acreditar ser capaz de se sair tão bem assim, nem mesmo sua mãe, quem mais teve fé nela, havia se apegado à possibilidade de a garota conseguir a nota máxima em tudo.

***

Estava quase na hora do jantar quando Ron e Hugo chegaram d'A Toca e Rose ouviu de seu quarto o pai soltar uma exclamação — razoavelmente alta — de comemoração. Ele chamou pela filha ao pé da escada e, quando ela desceu para a sala, abraçou-a e bagunçou seus cabelos, orgulhoso.

— Parabéns, Rosie — disse, o rosto iluminado com um grande sorriso. Rose agradeceu, feliz. — Pode ser que o seu irmão siga o exemplo. — Ronald riu, puxando o filho mais novo para juntar-se ao abraço.

Hermione assobiava alegremente uma melodia — provavelmente de alguma das antigas canções trouxas que ela gostava de ouvir, pois Rose não a reconheceu — que condizia perfeitamente com o seu humor àquela altura, enquanto rodopiava pela cozinha preparando o jantar, pois, naquela noite, era sua responsabilidade.

Os Granger-Weasley tinham um complexo sistema de divisão das tarefas da casa formulado exclusivamente por Hermione. Embora complicado na teoria — nem tanto para Rose —, os outros três componentes da família se esforçaram e aprenderam rapidinho.

Quando se tratava de preparar o jantar, cabia a cada um, por uma ordem estabelecida de acordo com as responsabilidades dos presentes — Ron, Hermione, Rose e Hugo —, cozinhar pelo menos uma vez na semana. Os domingos eram de Rose, pois ela cozinhava bem em vista da mãe e do irmão. As segundas, quartas e sextas eram de Ron, o melhor cozinheiro dos quatro e o que mais custara a descobrir os dotes culinários. Hugo ficou com as terças-feiras, o dia em que, por acaso, o jantar sempre acabava pelo menos um pouquinho queimado. Por fim, Hermione cozinhava às quintas-feiras e aos sábados.

Rose sentia falta disso às vezes. Ela não cansava de pensar no quanto era bom estar ali, estar de volta.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Espero que vocês tenham conseguido entender com clareza o que a Rose passou enquanto o Scorpius lia para ela... Bem, os arrepios ainda nem começaram.

Até o próximo capítulo (que provavelmente sai no fim dessa semana, se eu conseguir me organizar e editar até sábado)!
Beijos.



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