A Noiva do Drácula escrita por Chrissy Keller Books


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Vou começar a postar mais.
Nao vou mais deixar vcs na mao.

Se quiserem, podem acompanhar pelo blog
http://chrissykellerbooks.blogspot.com.br/2016/08/a-noiva-do-dracula-capitulo-20_13.html



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A NOIVA DO DRÁCULA

 

 

CAPITULO 20

 

 

 

 

 

Ele já não estava agüentando mais. Não se tratava apenas do calor insuportável dali, mas da indiferença com que Luana insistia em tratá-lo. Já estava ficando insuportável ser tratado como um nada pelo ser que mais amava no mundo. E tudo tinha piorado desde que ela ficara noiva. David percebe Fred chegando com uma sacola cheia de latas de cerveja.

— David. - Fred senta olhando para ele. - O que está fazendo aqui sozinho?

— Pensando na vida. - David resmunga sem olhar para ele.

— Ah, entendo... - Fred fala olhando de esguelha para David enquanto joga as latas dentro do isopor já com mais água do que gelo. - Aqui. -  ele estende uma lata para David. - Toma uma.

David encara a lata estendida com certo receio.

— Hum... Não. Acho que não quero. Obrigado.               

— Toma, cara. Vai dar uma refrescada na mente.

David ri a contragosto.

— Acho que nada pode refrescar minha mente. - ele pega a lata de cerveja da mão de Fred.

— Quer me dizer o por que?                                                                                              

David o olha, receoso, e abre a lata.

— O mesmo de sempre.

— Esquece ela, cara.

— Impossível.

— Não é impossível. É difícil, eu sei. É só você tentar.

— Eu não quero tentar nada. - David responde de imediato. Não ficar longe dela. Ela e minha, Fred. Só minha.

— Fred se senta em sua cadeira de praia.

— David.  Todo mundo sabe que ela não e sua. Ela e de outro cara. Tente aceitar isso.

— Mas eu não vou aceitar! - David fala alterando o tom de voz. - Eu não quero aceitar e ponto final!

Fred suspira e pega uma lata para si, abrindo.

— Bem, se você quer continuar vendo a mulher que ama com outro cara, o problema e seu. Mas e a Nina?

— Nunca prometi nada a ela.

Fred o olha cautelosamente e da um gole em sua cerveja.

— Nossa. Bem profundo.

— Ah, e. - David fala, e da um gole em sua cerveja. Ele faz uma careta. O gosto era péssimo. - Oh, céus...

— O que foi?

David estende a lata para Fred, ainda fazendo uma careta.

— Toma. Isso aqui está horrível.

— Nossa. - Fred pega e coloca ao lado da cadeira em que está sentado. - Acho que você está com alguma doença que não te deixa sentir o gosto de nada. Como ontem, na boate.

David fica surpreso com o comentário repentino.  

— Por que diz isso?

— Ora, você mal bebeu alguma cerveja, nem mesmo comeu os pedaços de frango que eu comprei. E ontem você estava estranho também.

David se ajeita desconfortável na cadeira. Parece que suas atitudes estavam sendo notadas. Teria que ter a maior cautela possível antes que descobrissem seu segredo.

— É... Acho que sim.

Depois de um minuto em silencio Fred pergunta.

— Mas o que será?

David o olha sem entender.

— O que?

— Isso que você tem. Não sentir o gosto das coisas. Seria garganta inflamada?

David morde o lábio para não rir. Afinal, nunca contaria o que possivelmente estava acontecendo a ninguém.

— Pode ser. Não sei. A pergunta seria, o que esta causando isso?

— Verdade. Mas e aí? O que está causando isso?

— O amor. - diz simplesmente, olhando para o nada.

— O amor? - Fred pergunta. - Ele faz isso?

David sorri.

— Faz até pior.

Eles ficam mais um minuto em silencio. David olha para o mar, observando toda aquela beleza e as pessoas correndo e brincando com o vento balançando seus cabelos. Era tudo tão bonito... por que não podia aproveitar tudo aquilo com Luana? Apenas os dois sozinhos, sem ninguém ara atrapalhar. Ele suspira pesadamente. Não adiantava nada admirar tamanha beleza se seu corpo não estava mais aceitando aquilo. Sua pele estava ardendo mais que o normal e o sol estava cada vez mais forte. Com a respiração começando a ficar pesada, David se inclina para frente, apoiando a cabeça nas mãos. Tinha que se controlar. A pouco tempo estava dando tudo de si, porem parecia prestes a sucumbir. Não estava agüentando mais.

— Me conte, David. - a voz de Fred soa de repente. - Como vocês se conheceram?

David sorri. Nem precisava perguntar de quem Fred estava falando.

— Eu a conheci numa farmácia. Uma drogaria.

— Tinha ido fazer o que lá?

— Tinha me machucado, então fui comprar um esparadrapo e uma atadura.

— Então você se apaixonou e o machucado cicatrizou? - Fred brinca.

David ri, achando graça. Claro que tinha omitido o fato que o machucado tinha cicatrizado segundos depois de ter entrado na farmácia.

— Não exatamente. A verdade é que me apaixonei de cara. Ela era tão linda... – ele diz, lembrando da antiga e doce Luana. – Bem diferente de tudo que já tinha visto antes.

— Me desculpe a pergunta, David. Mas de onde você veio?

David engole em seco. Que mudança repentina de assunto.

— Romênia.                                                                                                   

Fred o encara surpreso.

— O que? Você é gringo e só estou sabendo agora?

— Não me considero “gringo”. Não me considero nem mesmo de lá. – David diz sem encarar Fred.

— Mas como você veio parar aqui?

David suspira. Não queria mesmo entrar naquele assunto.  

— Meus tios nasceram lá. Meu pai e minha mãe também. Eu também. Minhas empregadas vieram da França, mas ficaram bastante tempo por lá também. – ele se recosta na cadeira, apesar de estar mais vulnerável ao sol. – E, respondendo à sua pergunta, nos viemos pra cá porque... – ele engole em seco. – Bem, o clima lá era ruim.

— Muito frio?

David o olha de esguelha.

— Não me refiro ao tempo. Alias, nesse momento, prefiro o clima de lá.

— Não gosta de calor?

— Não muito. – David responde, secando o suor ardente que corre por seu pescoço. Estava agoniado.

— Deve ser por isso que você é tão branco.

David ri achando graça com o comentário. Entretanto, em um milésimo de segundo, ele volta a ficar sério ao lembrar todo o trauma que sofrera naquele lugar.

— Mas, me diga. Qual o clima de la?

— Ruim. – David responde rápido. – Pelo menos, onde eu vivi.

— Uau. Pelo visto, você não se dava muito bem com as pessoas de lá.

David retesa o queixo, contrariado.

— Sim.

Depois de uma pausa, Fred volta a perguntar.

— Mas você mora com quem agora?

David já estava cansado daquele interrogatório.

— Meus tios. E minhas criadas. Quero dizer, empregadas.

— E seus pais?

David, frustrado, se levanta. Já estava odiando aquela conversa. Na verdade, tinha odiado desde que começara.

Fred o observa enquanto ele pega suas roupas e seus pertences.

— Ué. Onde você vai?

— Vou embora.

— Mas já? – Fred olha seu relógio de pulso. – David, ainda vai dar uma hora.

David veste a calça por cima da bermuda e veste a camisa de qualquer jeito.

— Tenho que ir. Esse sol está me matando.

— A gente pode ficar em alguma sombra, se você quiser. Você nem mesmo mergulhou no mar. Deve ser por causa disso.

— Não, Fred. – David coloca seus óculos escuros. – Agradeço por ter me ouvido. Tanto na noite anterior, como agora. Você foi um bom amigo. Mas não posso mais continuar aqui. – ele diz, percebendo a confusão no olhar de Fred. - E não é só por causa do sol. Você sabe a que estou me referindo. E eu simplesmente não posso ficar aqui enquanto ela me ignora o tempo todo. 

— Bem, se e assim... Você ate faz certo. – Fred se levanta, estendendo a mão em cumprimento que logo David aperta. – Mas tenta melhorar, cara. Mesmo que não de certo com nenhuma das duas, dará certo com outra. E só ter calma.

David da um sorriso amarelo.

— Obrigado, Fred.

Dizendo isso, David anda rápido até a orla, carregando seus pertences.

Eu vou derreter... Ou morrer queimado.                                                    

Ele continua correndo, ate que vê Luana andando praticamente em sua direção. Ela estava de cabeça baixa, andando a passos curtos e firmes. Parecia irritada. Mas o que tinha acontecido?

— Luana. – ele chama ela.

Luana o olha rapidamente e continua andando a passos firmes. Mas o que deu nela?, ele pensa.

Ele entra em sua frente, impedindo-a de continuar.

— Luana, precisamos conversar.

— Conversar? – ela pergunta cética. – Nos não temos nada pra conversar, David. Entenda isso!

Ela estava bastante alterada. David olha para os lados, notando que algumas pessoas estavam os observando.

— Luana, fale baixo. Nossa, o que deu em você?

— O que deu em mim é que já estou de saco cheio de você. Você me irrita!

David para por um momento, absorvendo aquelas palavras e o rosto irritado dela. Definitivamente, aquela não era a doce e tímida Luana que ele conhecia. Não mais.

— Eu te irrito... – ele fala lentamente, tentando controlar suas emoções. – Não e?

— Sim. E muito. – ela diz sem nenhum remorso. – Cara... David, você era tão diferente. Or que você mudou? 

David fica surpreso com o contra-ataque.

— Eu mudei? Eu sou o mesmo, Luana. Parece que foi você quem mudou. Alias, não parece. É certeza que mudou. Desde que conheceu esse...

— “Esse” o que? – ela ergue o queixo em desafio, não o deixando continuar. – Ele, pelo menos, me ama e me trata como mereço.

— E eu também te amo! – David fala alto, encarando-a. Não conseguia controlar a raiva.

Como ela podia achar que um quase desconhecido nutria mais sentimentos por ela do que ele? Só em ver o quanto ela estava cega o deixava com mais ódio.

— Não. Você não me ama. Você diz isso, mas nem ao menos sabe o que e amor. – a forma como ela falava era puro desprezo.

Podia agüentar qualquer raiva vindo dela, mas não o desprezo. Aquilo, não.

— Por que diz isso, Luana? – ele pergunta já beirando o desespero. – Que mal eu te fiz?

Ela da um sorriso sarcástico.

— Que mal você me fez? Nenhum, David. Pelo menos, não ainda. Mas sabe a Nina? À ela você fez. E muito.

David arqueia as sobrancelhas, entendendo que ela quis dizer. Não poderia estar falando sério.

— Você só pode estar de brincadeira... – David ri tentando esconder seu nervosismo. – Porfavor, Luana. Nina e eu não temos nada. Eu não sou obrigado a passar minha vida inteira com ela só porque ficamos uma vez! – ele diz mal contendo a raiva.

Mas que droga Nina tinha falado para ela? Aquilo estava ficando ridículo.

Depois de passarem um tempo se encarando, Luana suspira pesadamente.

— Isso não importa agora. O que importa e que fiquei uma das minhas melhores amigas. E sabe por que? Nina me odeia agora e disse que nunca mais vai olhar na minha cara. – ela ajeita uma mecha de seu cabelo para traz da orelha. – Mas não se preocupe. A culpa não e só sua, mas minha também. Afinal, aquilo nunca teria acontecido se eu soubesse me impor.

David a encara sem entender.

— Não estou entendendo, Luana.

— Estou dizendo que ela sabe. Ela sabe do que aconteceu ontem entre nós. E agora me odeia. – ela da um triste sorriso. – Obrigada, David.

Ah, não...

David passa a mão no rosto obscurecido pela dor. Não por Nina, mas por Luana. Conhecia aquela expressão desde que a conhecera. Ela estava sofrendo. E a culpa era toda dele.

— Luana, eu... – balança a cabeça, ainda tentando colocar tudo em ordem. – Eu não sei o que dizer.

— Não diga nada, David. Só isso. Afinal, o que você tem a dizer? – a expressão de tristeza dera lugar a raiva. – Você acabou de dizer que mudei, mas o único a mudar aqui foi você. Do meu melhor amigo você simplesmente “evoluiu” pra um babaca sem coração que usa duas amigas e faz ter discórdia entre elas. Achava que você era melhor que isso.

— Não foi exatamente assim. Eu nunca...

Luana levanta a mão, impedindo-o de falar.

—Chega, ok? Já estou farta. E quer saber, David?Nunca mais quero olhar na sua cara. Por que pra mim, você morreu.

Dizendo isso, Luana sai pisando duro para longe dele. Não podia saber exatamente para onde ela estava indo, pois não conseguia se mexer. Alias, nem ao menos conseguia respirar. O que ela acabara de dizer o tinha afetado de tal forma que podia sentir seu coração sendo arrancado com brutalidade para fora de seu peito. Não ligava mais para o sol, nem mesmo para as pessoas que o observavam, curiosas. A única coisa com que se importava era com a dor que sentia. Dor tamanha que arrancava lágrima de seus olhos na frente de todos que o observavam.

Uma pequena menina acompanhada de sua mãe vem ao seu encontro, tocando sua perna. Com dificuldade, David olha para a garotinha. 

— Sai do sol, moço. Você está ficando vermelho.

David demora um pouco para sair de seu transe, notando que sua pele ficar quase em carne viva. Outras partes estavam sangrando.

— Ah, não...

Ele cata seus calcados e a bermuda que tinha caído na areia, e corre a toda velocidade para o quiosque mais próximo. Já tendo alcançado, ele relaxa contra a parede, ainda respirando com muita dificuldade. Sua pele estava bem diferente de antes. Estava mais pálida e machucada. Seu corpo estava fraco. Como sairia dali?

— Deseja alguma coisa, rapaz? – ele ouve mais do que vê um homem perguntar.

Provavelmente era o dono do quiosque, e sua expressão era de preocupação. David tenta o Maximo possível prestar atenção no homem.

— Sede... – ele fala respirando com dificuldade. – Fome...

— Ok. Por aqui, jovem.

O homem gentilmente o guia ate uma mesa que esta na sombra. David se senta com dificuldade. Seu corpo todo ardia.

— O que vai querer?

David olha para ele.

— Não. Nada. Não vou querer nada. Só quero que me ajude a sair daqui.

— Não vai querer nada pra comer ou pra beber?

David engole em seco. Nem tentaria ingerir algo sabendo que não conseguiria. Seu paladar não era mais o mesmo.

— Não, obrigado. Eu só quero ir pra casa. O sol. – o homem o olha sem entender. – O sol fez isso comigo.

David mostra suas feridas no pescoço e nos braços para o homem, que olha espantado.

— Minha nossa!

— E eu preciso sair daqui, mas não posso.

— Olha, eu nunca vi isso acontecer com ninguém. Você deve ser bem sensível ao sol. Mas não tem ninguém que você possa recorrer? Alguém que venha te buscar?

David olha para o bolso traseiro de sua calca e nota o celular que Alan lhe deu. Ele pega o celular e vê que o telefone de sua casa esta gravado nos contatos. Ele disca o número.

— Vou tentar resolver isso. – ele diz para o homem enquanto espera a chamada.

— Ok, eu vou voltar pro meu trabalho. Se precisar de alguma ajuda, pode chamar.

O homem sai.

— Anda... Vai. – David repete nervoso. Estava começando a ficar desesperado. E se seus tios e as criadas só acordassem bem mais tarde? Não podia esperar esse tempo todo. – Anda!...

— Alô. – atende uma voz feminina. Era Miranda.

— Miranda, sou eu. David.

— Oh, lord David. O que deseja?

— Acorde Alan. Agora. – ordena.

— Ele já está acordado, milorde.

— Chame ele.

— Oui. – Miranda responde em sua língua natal, e a linha fica muda.

— David? – Alan atende depois de um tempo.

— Alan. Preciso de você aqui. Agora.

— Agora? Mas o que houve, David?

— Estou machucado. E muito. – David diz encarando as cadeiras e os guarda-sóis soterrados na areia. Não se referia apenas aos machucados físicos, mas também aos emocionais. 

— Não me diga que... Mas, já? – Alan pergunta espantado.

David conhecia aquele espanto. Sempre quando ocorria algo sobrenatural com ele, seus tios achavam que era prematuro demais.

— Sim. Já. Por favor, me tire daqui.

— Tudo bem, David. Já estou indo. Agüente mais um pouco.  

David desliga o telefone, suspirando pesadamente. Quem diria? Tanto tempo sem ter um telefone à mão por achar que seria desnecessário, e agora o mesmo objeto salvara sua vida.

Um jovem rapaz vestindo bermuda e camiseta caminha ate sua mesa segurando uma bandeja de plástico, e lhe entrega uma garrafa d’água sem gás e um pequeno prato contendo alguns pedaços de carne.  

— O que e isso? – David pergunta ao rapaz, sem entender.

— Por conta da casa, senhor. – o rapaz diz, e logo se retira.

David olha para dentro do quiosque. Certamente foi o dono quem fizera aquilo.

Ele abre a tampa da garrafa e encara a carne.

— Será que eu consigo?

David da um gole na água. Parecia normal, como sempre. Pelo menos a água não alterava seu paladar. Rapidamente, pega um pedaço de carne e enfia de vez na boca, se contorcendo de nervoso por estar comendo algo tão ruim. E o pior e que antes aquilo era uma verdadeira delicia. Contudo, agora não podia sentir nenhuma delicia naquilo.
Terminando de mastigar – e quase vomitar – David empurra levemente o prato ainda cheio de carnes para outro canto da mesa. Ele observa um cachorro de rua faminto vindo em sua direção, e discretamente joga as carnes para o vira-lata. Ele observa o pequeno cachorro comer com satisfação algo que ele amava, mas agora repudiava.

David passa a mão na testa suada e quente. 

Aquilo era o começo de uma nova vida. E um de seus maiores infernos.

 

* * *

 

— Você está muito nervosa, Luana. Tem certeza que esta bem? – Fred pergunta, percebendo o aparente mau humor dela.

Luana bebe um gole de cerveja olhando para o mar.

— Nada, Fred. Coisa minha.

— Nossa. Você e David estão tão mudados de um tem pó pra cá.

Ela o olha com raiva.

— Tem como não falar dele, por favor?

Fred a observa inquieto.

— Vocês brigaram, não foi?

Luana suspira pesadamente e aperta os olhos com força. Voltando a abri-los, ela o encara. 

— Sim, brigamos. – ela engole em seco. – Mas, Fred... Não me leve a mal. Não quero falar sobre isso. Não agora.

Fred assente.

— Ok, vou te respeitar. – ele encerra o assunto dando outro gole em sua cerveja. – Cadê as meninas?

— Já devem estar vindo. – Luana fala quase num sussurro.

Ainda doía ver uma de suas melhores amigas cuspindo aos quatro ventos que a odiava. Não sabia exatamente como Nina tinha descoberto o que ela e David fizeram, pois a mesma nem lhe dera chance de falar. Não havia uma pessoa na orla que não olhasse para ela naquela situação humilhante e vexaminosa. As pessoas iam e vinham cochichando enquanto Nina gritava que sabia o que ela e David tinham feito e o quanto a odiava.
Jessica tentava apaziguar a situação, mas na maioria das vezes ficava calada e observando. Alias, podia ate mesmo re parar uma espécie de desprezo nos olhos dela também. Jessica também sabia. Mas fazia questão de se manter neutra para não gerar mais confusão do que já estava tendo.

— Eu quero que você fique longe de mim. – Nina disse com lagrima nos olhos. Aquilo era de cortar o coração. – Você não e mais minha amiga. Nem agora, nem nunca. 

Luana olha em volta. Nenhum sinal de David.

Ela suspira triste.

Tinha odiado a forma como o tratara. Ainda que a culpa fosse dele por sempre tentar seduzi-la, ainda assim ele não merecia que ela lhe dissesse aquilo.       

Uma pequena lagrima cai de seu olho e Luana rapidamente enxuga. Não queria mais interrogamentos por parte de Fred. Ela se levanta da cadeira.

— Vou dar um mergulho.

— Ok.

Luana corre ate a água e mergulha com toda a vontade. Desde que chegara só tinha ficado embaixo do guarda-sol comendo e bebendo. Não tivera tempo para nada, a não ser ganhar a desconfiança de Jessica, brigar com Nina e David, e ser interrogada por Fred. Com toda a certeza, seu dia na praia estava sendo um horror. Jamais pensara que aquilo fosse acontecer, pois nenhuma das outras vezes que saíra com seus amigos houvera tantas magoas e aborrecimentos.
Tirando a noite passada, pensa.
Entretanto, não havia sido tão horrível quanto esse dia.

Maldito David!

Ela sai do mar, torcendo a água do cabelo.
Por um lado sentia pena pela forma como o tratara. Mas por outro, estava com muita raiva. Pois se aquele dia estava sendo ruim, era por causa da noite anterior. E tudo por causa de David.
Ela veste sua saída de praia.
Iria logo sair de lá. Não agüentaria ficar no mesmo lugar onde só Fred a tratasse como amiga. Nina a odiava, Jessica também. Não tinha mais nada a fazer naquele lugar.

Ela volta para pegar suas coisas e percebe que Nina e Jessica estão sentadas na toalha estendida na areia, conversando. Teria que sair dali o mais rápido possível.

— Luana. – Jessica a chama.

Luana guarda seus pertences na bolsa com certo nervosismo. Não podia evitar. Nina mal a encarava, e quando o fazia podia sentir ódio em seu olhar. Ela a odiava. Definitivamente.

— Oi, Jessica. – Luana tenta falar de forma mais tranqüila. – O que foi?

— Você está indo embora?           

Luana olha para ela, confusa. A expressão de Jessica não era de raiva, como a expressão de Nina. Era apenas de surpresa e desapontamento. Ela não parecia pronta a julgar, mas de tentar apaziguar.

— Sim. – Luana da uma olhadela para Nina, que a encara com desgosto. – Preciso cuidar da minha madrinha.

— Mas, já? – Fred pergunta. – Ainda está cedo, Luana.

— É. – Jessica concorda. – E você falou pra sua madrinha que iria embora quando fossem cinco horas. Não são nem duas!

— Ela vai ficar aqui? – Nina pergunta com uma falsa paciência para Jessica.

— Nina, por favor...

— Não. – Luana se levanta, pegando seus pertences, e olha para Nina. – Não se preocupe. Já estou indo embora.

Fred a olha, confuso.

— Não estou te entendendo, Luana. Por que não fica com a gente? David já foi embora. Agora você?

— David já foi embora? – Nina pergunta alarmada. Era óbvio que sentia algo por ele.

— Fred, tenho que ir. E serio. – ela responde, dando-lhe um sorriso tranqüilizador. – Quem sabe na próxima vez passamos mais tempo juntos.

— Juntos? Juntos, quem? – Nina fica em pé, a encarando. Ela exalava ódio e desprezo. – Nóstodos, ou você e David?

Jessica se levanta e se põe ao lado de Nina.

— Nina, por favor!

Fred, ainda sentado, olha para as três mulheres, não entendendo nada.

Jessica tenta pegar o braço de Nina, mas a mesma se desvia.

— Bem, eu te digo, Luana. Se for a primeira opção, saiba que eles vão ter que escolher entre você e eu. Pois nunca vou querer ficar ao lado de uma traíra nojenta como você. – ela fala destilando ódio. – E mais uma coisa. Eu vou lutar por ele. – ela ri com deboche. – Então, a segunda opção também não conta. E, se eu fosse você, ficava bem longe dele. 

Luana engole em seco, piscando para deter as lágrimas. Não sabia que Nina podia ser tão rancorosa. Mas havia entendido o recado.

— Não se preocupe, Nina. Ele e todo seu.

Dizendo aquilo, Luana ai em retirada ouvindo Jessica discutindo com Nina e Fred dizer que não estava entendendo nada e que queria uma explicação.
Ela tenta se recompor para não deixar as lagrimas caírem. Não se daria a esse luxo. Principalmente na frente das pessoas. Já sofrera humilhação demais por um dia.
E naquele momento de tristeza só queria encontrar seu noivo e abraçá-lo bem apertado.

 

* * *

 

David quase despenca da cadeira. Já não estava agüentando mais. Sentia que iria morrer ali mesmo.
A conhecida Lamborghine vermelha com detalhes dourados estaciona em frente à orla da praia. Seu tio Alan sai de la todo vestido de preto, e com capuz. Estava ridículo. Alan caminha em sua direção e cruza os braços sorrindo.

— Ora, ora. Que situação, hein?

— Não posso dizer o mesmo da sua roupa. – David diz amuado.

Alan vai ate ele e o ajuda a se levantar.

— Mal humorado como sempre, não e? Que outra roupa você queria que eu viesse? Sou um vampiro!

— Isso, fale mais alto. – David rosna, tentando acompanhá-lo. – Como soube que eu estaria aqui?

— Pude sentir você.

David o olha confuso.

— Esqueceu que você não me disse em que praia estaria? – Alan pergunta.

David franze o cenho. Não lembrava se tinha falado ou não. Estava muito fraco e com sono.

Quando esta prestes a cair, Alan o segura.

— Vamos, David. Você agüenta.

— É fácil você falar. Nunca passou por isso. – David fala com a voz rouca.

Chegando no carro, Alan abre a porta do carro para David, colocando-o sentado no banco.

— Tem razão. Mas você pode agüentar mais um pouco. É um rapaz forte.

David olha para seu tio encapuzado. Alan era um cara legal, tinha que reconhecer. A pesar de não querer saber de mais nada, apenas dormir. Estava com sono além do normal. Seria isso a morte?

— Alan...

— Sim?

— Obrigado. – ele diz sem jeito.

— Não precisa agradecer. Além do mais, aquele celular que te dei serviu para alguma coisa, não acha?

À contragosto, David ri.

— Pois é. Obrigado.

— Você parece muito cansado. Mas que roupa ridícula é essa que você está segurando desde que saímos daquela casinha?

— Quiosque. – David o corrige. – Essa bermuda foi um amigo quem comprou pra mim. – ele joga a bermuda no banco de traz. – Vamos embora daqui, Alan. Não estou agüentando mais.

— Sim. Mas antes, vou fazer uma coisa. – Alan responde olhando na direção da praia. – Fique aqui, por enquanto.

— Aonde você vai? – David pergunta, não conseguindo deixar os olhos abertos. Estava morto. Quase literalmente.

— Parece que minha noiva esta aqui.

David abre os olhos com surpresa.

— Sua noiva?

— Sim, ela esta aqui na praia. Quer conhecê-la?

David o encara pensativo. Não queria lhe fazer aquela desfeita. Mas não estava físico ou emocionalmente bem para falar com quem quer que fosse.

— Acho que não. Estou muito cansado. Alias, você disse que hoje à noite vai ter um jantar lá em casa. Ela não vai?

— Ah, sim. – Alan sorri. – E sua namorada? Por que não a convidou?

David revira os olhos, recostando-se ao banco.

— Não tenho namorada. – ele rosna.

— Oh. Mas ainda e jovem. Vai conseguir uma, não se preocupe.

David cerra os dentes nervoso.

— Da pra calar essa boca e falar com essa mulher? Estou cansado. – fala rispidamente.

Alan sorri balançando a cabeça.

— Você e seu mau humor.

— Anda.

— Tudo bem.

Alan fecha a porta do carro e caminha ate uma morena esbelta. Ela lhe parecia um tanto familiar. Mas no momento não podia ver mais, pois seus olhos não deixavam.

 

* * *

 

Luana ajeita a bolsa no ombro. Maldita a hora em que topou sair com eles. Nunca tinha passado por tanta complicação em sua vida. Aquele dia, realmente, não tinha sido bom para ela. Por onde passava não havia quem não a olhasse. Afinal, foi caso de duas brigas. Ou seria apenas impressão sua? Talvez só estivesse imaginando coisas.
Ah, o que mais queria era ir embora dali e esquecer-se de tudo.

— Bela Lua.

Luana arregala os olhos espantada. Conhecia quem a chamava assim.

Drácula?

Luana levanta a cabeça encarando o sujeito todo vestido de preto a sua frente. Ele estava de calça preta, sapato preto e casaco preto com capuz. Em uma praia!

Luana franze o cenho achando aquilo tudo esquisito. Por que ele parecia tanto com David?

— Drácula? O que está fazendo aqui?

Ele sorri vindo em sua direção.
Nossa. Não cansava de admirar a beleza daquele homem. Ele era tão lindo... Tanto quanto David.

— Bela Lua. – ele acaricia levemente seu rosto. – Tudo bem?

Luana engole em seco e desvia o olhar. Não queria ter que encará-lo logo numa situação daquelas.

— Tudo bem? – ele levanta levemente seu queixo encarando-a intensamente.
Olhos quase tão intensos quanto... Ah, tinha que tira-lo da cabeça! Por que estava pensando em David?

Luana encara aqueles olhos azuis vividos que a encaravam de volta. Não eram de forma alguma olhos predadores. Eram olhos de alguém apaixonado, amigo e protetor. Para falar a verdade, era assim que se sentia com Drácula; calma e tranqüila. Ele não exigia mais dela. Apenas dava mais do que ela merecia. Era tão fácil se apaixonar por ele.

— Nada. – ela meneia a cabeça. Só me abrace.

Atendendo a seu pedido, Drácula a abraça colocando a cabeça dela apoiada em seu peito. O cheiro dele era tão gostoso. Era bem diferente também.

— Sabe que eu posso ler seus pensamentos, não sabe?

Luana levanta a cabeça para olhá-lo.

— Sei. Mas você faria isso?

Ele sorri.

— Na verdade eu posso fazer tal coisa, Bela Lua. Mas a verdade e que tenho preguiça.

Ela ergue a cabeça e sorri para ele. Um vampiro preguiçoso?

— Preguiça?

— Sim. Gosto de ser surpreendido. Gosto de saber o que ira acontecer e não interferir antes. Mesmo que seja algo ruim. – acrescenta com um toque de amargura na voz.

O que deu nele? Seu humor havia mudado da água para o vinho.

— Algum problema?

Ele a olha e sorri.

— Nada a se preocupar, Bela Lua. Assuntos do passado.

— Ah, sim...

— Mas, e então? Irá ao jantar hoje comigo? – ele pergunta mudando de assunto.

Luana sorri para ele.

— Juro que tinha esquecido. Vou, sim. Foi bom você vir me lembrar.

— Ah, ótimo.

Drácula lentamente encosta a boca perto da sua, como se pedindo permissão. Luana meche levemente seus lábios lhe dando a total permissão que ele queria. Seus lábios eram tão bom estar ali. O melhor lugar do mundo. Definitivamente fizera a melhor escolha em ser noiva dele.

Luana o solta.

— Obrigada.

— Pelo que, Bela Lua?

— Por me animar. – ela sorri. – Você é bom nisso.

Ele sorri para ela e acaricia sua bochecha.

— Você merece, Bela Lua.

— Alias, me diga. O que veio fazer aqui? Não veio só me ver, não é?

— Não. Lhe vi por acaso. Não sabia que estava aqui.

— Então...

— Vim buscar meu sobrinho.

Luana franze o cenho confusa.

— Sobrinho?

— Acho que já lhe falei sobre ele.

— Ah, sim. Me lembro. Mas ele estava aqui?

— Sim. Não sabia que vocês estariam no mesmo lugar. Quer conhecê-lo?

— Ele ainda esta aqui? – ela pergunta olhando para os lados.

— Esta no meu carro. – ele a ponta para sua Lamborghine vermelha com detalhes dourados estacionada em frente à orla. – Quer entrar? Posso te levar em casa.

— Na minha?

— Sim.

— Ah, sim, mas... – Luana olha com hesitação para o carro. Não queria se aproveitar dele. Alem do mais, tinha que colocar os pensamentos em ordem. – Acho melhor não.

— Por quê? – ele a olha sem entender.

— Obrigada pelo convite. – ela sorri agradecida. – Mas quero ir sozinha pra casa.

— Tem certeza, Bela Lua?

— Tenho. Não se preocupe. Vou ficar bem. E fale pro seu sobrinho que quero muito conhecê-lo hoje à noite.

Ele sorri.

— Ele também quer muito te conhecer, Bela Lua.

Luana sorri e se ergue para dar um beijo na bochecha dele.

— Obrigada, Drácula. Você é um anjo na minha vida.

— Anjo? – ele sorri incrédulo.

Luana sorri também. Tinha esquecido que vampiros e anjos não se encaixavam na mesma historia.

— Bem, eu já vou.

— Posso lhe acompanhar ate um ponto de ônibus, Bela Lua?

— Vou de táxi.

— Posso lhe acompanhar ate lá?

— Sim, claro. Mas não vai te machucar?

— Me machucar? – pergunta sem entender.

— O sol.

— Ah, então você sabe...

—Claro. Você não e um vampiro?

— Sim, sou. Mas não se preocupe, Bela Lua. Foi por isso que vim com esta roupa.

 

* * *

 

— David?

David esfrega os olhos ao acordar, vendo seu tio no volante.

— Alan?

— O mesmo. Ainda com sono?

David se ajeita no banco.

— Ainda cansado. Quero sair desse sol infernal.

— Vejo que ligou o ar-condicionado. – Alan diz ligando o carro.

— Claro. O carro estava todo fechado. – David fala num tom acusatório.

— Acredite, David. Se estivesse aberto, você morreria.

David engole em seco. Estava mesmo se transformando em vampiro. E ao contrário do que seus tios tentassem colocar em sua cabeça, sabia que aquela época seria a pior de sua vida.

— Não se preocupe, David. Virar vampiro não e tão ruim assim. – Alan da a partida com o carro.

David o encara.

— Lendo meus pensamentos?

— Não preciso ler seus pensamentos. Afinal, não gosto disso. Basta apenas analisar sua expressão. Ela diz tudo.

David olha para a estrada através do vidro fumê do vidro da janela.

— Você diz isso porque nunca virou vampiro. Já nasceu um.

— Sim, verdade. Mas não é o fim do mundo.

— Nem mesmo quando te chamam de “mestiço imundo”? – David pergunta com aspereza na voz.

Seu tio o encara estagnado. Certamente havia se arrependido de entrar naquele assunto tanto quanto ele.

— David, eu...

— Vamos mudar de assunto. – David se ajeita mais uma vez no banco. – E sua noiva?

— Ah, sim. Paguei um táxi para ela.

— Ela não quis entrar no carro?

— Eu perguntei à ela se queria que a levasse para casa. Inclusive te conhecer. Mas ela não aceitou.

— Hum.

— Mas hoje à noite vocês irão se conhecer. Seria bom se você levasse sua amiga para ela conhecer também. Acho que as duas se dariam muito bem.

David contrai a mandíbula. Só de lembrar-se de Luana o deixava louco.

— Vamos logo pra casa. Só esse papo de jantar esta me deixando com fome. – David diz amuado.

— Claro, menino David. – Alan sorri. Estava tão acostumado ao mau humor do sobrinho. – Claro. 

 


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Notas finais do capítulo

Nos vemos no jantar.



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