Deuses Entre Nós escrita por Lirah Avicus


Capítulo 2
Uma Conversa Avulsa no Johnny Rocket' s




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/649093/chapter/2

—Acho que estou velho demais para isso...

Os três homens ao redor da mesa encararam o senhor idoso, de óculos, cabelos brancos, meio encurvado, que observava tristemente um X-Bacon, o qual de tão quente soltava vapor e borbulhava a mussarela. Estavam numa lanchonete, mais especificamente o Johnny Rocket’ s, cujo ar retro e excelentes pratos traziam clientes de todos os cantos de Nova York. O senhor idoso coçou a cabeça. Suspirou de novo, ainda olhando o X-Bacon.

—Você está velho demais para reclamar... — disse o senhor ao seu lado, este um homem alto, cheio de vida, com cabelos acinzentados cheios de mechas negras, e um charuto na boca. Segurou o charuto com a mão esquerda, encarando o amigo. — Reclamar é coisa de adolescente. E você não me parece ter 16 anos.

—Não... — murmurou o senhor encurvado. — Devo ter mais de 200 anos em meu espírito...

—Deixe-o, Jameson, — disse o homem à frente do senhor de cenho triste. Era um homem negro, grande, e tinha um típico olhar irônico. — Norman está num de seus dias deprimentes.

—Sim, — riu o outro, que pinçava seguidamente várias batatas fritas, e tomava prazerosamente uma Coca-Cola. Também tinha um tapa-olho sobre seu olho esquerdo. — logo ele vai começar a recitar a Bíblia.

Os homens riram. Ninguém notou. Na verdade, além daqueles quatro homens, naquela lanchonete, havia apenas uma garçonete e um atendente detrás do balcão. E nenhum dos dois pareceu interessado naquela conversa.

Uma verdadeira pena...

Na verdade, aquela conversa tinha todos os ingredientes para em algum momento se tornar interessante. Especialmente levando-se em conta quem eram os homens sentados ali.

Norman McCay, pastor metodista, famoso por seus discursos anti-preconceito. Seu grande ídolo era Martin Luther King. Ele se opunha a qualquer tipo de preconceito, fosse contra negros, homossexuais ou meta-humanos. Suas palestras eram vigorosas, inteligentes e verbosas, e isso lhe concedeu o respeito do mais alto escalão tanto da política como dos militares, do mundo do entretenimento e das pessoas comuns. Ele era um opositor ferrenho aos preceitos do Sen. Robert Kelly. E agora observava tristemente seu X-Bacon.

Jonah Jameson, editor chefe e dono do Clarim Diário, assim como da revista Now Magazine, fumava seu charuto e não pedira nada para comer. Dissera que já havia comido em casa. Mentira, ele jamais comia antes, durante ou depois de fumar, e levando-se em conta o quanto ele fumava, podia-se concluir que ele comia muito pouco. Todos sabiam disso, mas chamá-lo de mentiroso não iria convencê-lo a comer, portanto ninguém se dava ao trabalho de inquiri-lo sobre o assunto. Detestava qualquer herói mascarado, chamando-os de criminosos, bandidos, escória, e outros nomes menos educados, e gastava a maior parte de seu tempo pensando no título perfeito de uma manchete que destruiria a reputação de todos estes heróis, especialmente do Homem-Aranha, seu maior desafeto.

Perry White, jornalista e chefe de edição do Planeta Diário, se mudara para Nova York quando o jornal montou uma filial naquela cidade. Convidado a chefiá-la, aceitou o convite, e trouxe consigo seu time de repórteres e fotógrafos, pois gostava de trabalhar com pessoas que já conhecia. Muito respeitado no ramo jornalístico, já cobrira mais manchetes que qualquer outro, pois era corajoso, teimoso e perfeccionista. Agora como editor, deixara o trabalho de campo, mas sempre expressava o desejo de retornar. Pedira uma salada e um ovo frito, junção que os outros três na mesa estranharam e Jameson fez questão de reclamar.

—Isso não é comida de homem. — resmungara.

Phil Sheldon, fotógrafo especializado em eternizar os maiores confrontos entre heróis e vilões na forma de imagem, pegou mais uma batata. Era respeitado por todos e idolatrado por alguns, apesar de ter sido apelidado de “Long John Silver” pelos mais íntimos. Isso não arranhara sua reputação. Ele registrara os acontecimentos mais marcantes envolvendo seres dotados desde a década de 70, deixando um empório formado por mais de 40 anos de fotos impressionantes. Tão famoso, tão requisitado. Numa lanchonete atacando as batatas.

—Não preciso recitar a Bíblia a três ateus convictos. — disse McCay, cruzando os braços. — Não vou jogar minhas pérolas aos porcos.

—Essa doeu. — diz White.

—Não sou um ateu convicto. — diz Sheldon, balançando a batata entre seus dedos para dar ênfase ao que dizia. — Ainda tenho minhas dúvidas. Estou aberto a novas informações.

—Pensando bem não devíamos ser ateus. — comenta White. — Afinal somos frequentemente visitados por um deus musculoso e loiro que invoca trovões com um martelo.

—Sim, — diz Jameson. — e que se mete no que não lhe interessa.

—Ele só quer ajudar.

—Então por que ele não ajuda o planeta, constelação ou buraco negro de onde ele veio? Ninguém o convidou para a Terra.

—Cuidado... — zomba Sheldon. — Você pode atrair a fúria de Odin.

—Ah, ele que se dane!

Os homens riem, em meio a fumaça que as baforadas de Jameson produziam. Sheldon coloca o cotovelo sobre a mesa, apoiando o queixo na mão.

—Certa vez eu o fotografei lutando contra o irmão, Loki, eu estava com uma Nikon P900... — Sheldon fecha os olhos, suspirando. — Perfeita... Eles estavam se estapeando no alto da Torre Stark, e eu estava de pé no asfalto lá embaixo, mas isso não foi problema. Deu até para ver os arranhõezinhos no capacete de rena do sujeito.

—O homem parece um cabrito. — diz Jameson.

—Você entrou no meio da briga? — pergunta White. Sheldon aquiesceu.

—O que queria que eu fizesse? Queria que eu respeitasse o perímetro marcado pelos policiais e ficasse tentando um bom ângulo de lá?

—Você tem problemas, Phil.

Sheldon suspira, comendo nova batata.

—Já me meti em brigas piores... Lembra quando a Mulher Maravilha entrou na porrada com o... Como é o nome daquela coisa?

—Como eu vou saber?

—Era uma coisa do espaço. — diz Jameson. — Eu o chamei de Venom. Retardados e alienígenas precisam ter nome.

—Mas de qualquer forma... — começa White. — Era uma criatura que estava sendo controlada telepaticamente pelo empresário Maxwell Lord.

—Aquele porco... — murmurou McCay, falando pela primeira vez. — Por causa dele muitos meta-humanos sofreram represálias sem terem a menor culpa pelo acontecido.

—O fato — diz Sheldon. — é que a amazona teve que suar aquele topper dourado e sensual para derrubar tanto a criatura como seu mestre. E eu estava lá.

—Eu me lembro de ver as fotos. — diz White. — Você pegou o momento exato em que ela atirou a criatura de volta para o espaço, partida em milhares de pedaços.

—E quando quebrou o pescoço de Lord. — lembrou Jameson.

—Foi um ato extremamente violento. — diz McCay.

—O que você queria? — Jameson fala com o charuto na boca. — O sujeito estava louco, queria controlar até a própria mãe, ela não teve a menor escolha!

—Defendendo a Mulher Maravilha? — sorri White.

—Ela não usa máscara.

—Enfim, foi uma batalha que destruiu praticamente toda a Long Island. Vocês devem se lembrar de quão poucas construções se aguentaram em pé. E eu me enfiei no meio dos destroços e fotografei o duelo. E cá estou eu, vivo.

—Vocês, fotógrafos e repórteres, deviam ser mais cuidadosos. — McCay cutuca seu hambúrguer. — Por suas vidas. Não deviam confiar tanto na sorte.

Jameson aponta para o amigo.

—Pois eu lhe digo, Norman, que encontrar bons fotógrafos dispostos a tais coisas, hoje em dia, não está fácil. É como encontrar uma mulher que não queira gastar dinheiro.

—Fotografar é uma arte. — explica Sheldon. — Não basta ter uma boa câmera, você tem que sentir a paisagem, o espaço que você ocupa, discernir o que está acontecendo e o que merece a mira de sua lente. É algo muito intuitivo... Penso que talvez seja um dom ou algo assim.

—Deve ser algum assim... — murmura White. Jameson revira os olhos.

—Eu estou querendo me matar por causa dos meus fotógrafos. Melhor, quero matar cada um deles. E tem alguns piores que outros. Peter Parker, aquele falastrão. Vive na pendura, acho que nasceu para ser pobre, pegou tantos empréstimos nossos que vai ficar mais de um ano trabalhando para mim de graça. É um coitado. Mas não me trás o que eu quero nem por decreto. — Jameson levanta uma das mãos. — Fotos do Homem-Aranha! Seria mais fácil ele me mandar uns nudes.

—O que são nudes? — pergunta McCay.

—Ele já conseguiu fotos do Aranha? — diz White.

—Sim, e aí é que está! Ele é capaz, mas ou é um baita preguiçoso, ou está do lado do Aranha e não gosta de minhas manchetes.

—“Ameaça Aracnídea Ataca Novamente”. — recita McCay. — Não me parece uma manchete que um fã do Homem-Aranha iria gostar.

—Ele não tem o que gostar, é a droga do trabalho dele! E agora com a eleição de Tony Stark para o Senado, vou precisar de alguém que não tenha medo de se enfiar em qualquer buraco para o qual eu o mande.

—Eu poderia te ceder um de meus repórteres. — diz White. — Ele ainda está trabalhando na sede do Planeta Diário, em Metrópolis, afinal estamos com o time completo em Nova York. Eu soube que ele estava querendo trocar de ares, poderia falar com meu superior para te quebrar um galho.

—Está falando sério? — se anima Jameson.

—Ele é muito bom, foi o responsável por nossas fotos do Superman.

—Uh... — murmurou Jameson, balançando a cabeça devagar.

—Material raro. — diz Sheldon.

—Clark Kent. Depois que o Superman desapareceu ele ficou por conta de matérias internacionais, mas está meio parado no momento. Trabalhava junto com Lois Lane.

—Mas ela não está...

—Não estão mais juntos.

Sheldon cerra os olhos.

—Eles estavam juntos... Quer dizer... Juntos?

—Não estão mais. De qualquer forma eu não podia trazê-lo, já tenho a equipe necessária, mas você, Jameson, poderia fazer isso por mim. Eu quebro seu galho, você quebra o meu. — White usa o garfo para fincar uma grande quantidade de nacos de alface. Abre um sorriso manso. — Acho que vir para cá fará bem a ele.

—Pode mandá-lo, — Jameson se recosta em sua cadeira. — tenho o trabalho perfeito para ele... Perfeito para esquecer mulheres.

—Vai levá-lo a um bordel? — ri Sheldon.

—Não. — diz Jameson, mirando um olhar confuso no amigo.

—Senhores... — começa McCay. — Digam-me: o que acharam da eleição de Tony Stark para o Senado?

—Uma bosta. — diz Jameson.

—Não vi nada demais. — diz White.

Sheldon solta uma risota.

—Não vê nada demais? O homem usa sua fama como “super-herói” para conseguir votos, não acha essa atitude uma grande...

—Uma grande falta de caráter. — completa Jameson. — Aquele pedaço de latão... “Olhe para mim, eu sou um tanque de guerra voador e platinado, eu mereço ser eleito”... Ha! Aquele verme intestinal vai causar problemas, marquem minhas palavras.

—Não gostei da campanha dele. — afirma Sheldon. — Lembrou-me Lionel Luthor anos atrás. Sempre que eu via Luthor eu sentia um mal estar na boca do estômago. Todos diziam que era idiotice minha, mas alguns anos depois nós conseguimos, eu e Victor Sage, bom camarada, descobri-lo e mostrá-lo ao mundo como o lixo que ele realmente era.

—É... — resmunga White. — E você curtiu 4 anos de exílio por causa disso.

—Dane-se o exílio, adoro Londres, o fato é que eu estava certo. E sinto a mesma coisa quando vejo Stark, não gosto disso, levando-se em conta o poder e dinheiro do homem, ainda mais agora que ele é senador.

—Ele cobre a cara. — diz Jameson. — Pode ter se revelado ao mundo depois, mas começou cobrindo a cara como qualquer outra escória que sabe voar. Não gosto de quem oculta quem é, ele pode ter contado para todo mundo que é o Homem de Ferro, mas quem garante que ele realmente tirou a máscara?

White dá de ombros.

—Só acho que ele já salvou muitas vidas, e que talvez queira a mesma coisa ao entrar na política.

Jameson cai na gargalhada.

—Quem neste mundo esquecido por Deus já entrou na política com o intento de salvar vidas?

—Ele tem uma política perigosamente anti-mutantes. — diz McCay. — Sua amizade com Robert Kelly, agora aposentado, reforça isso. E ele tem laços muito fortes com a LexCorp.

—Lex Luthor... — rosna Sheldon. — A cobrinha do papai.

—A ameaça careca. — solta Jameson. McCay continua:

—Há alguns meses, Lex demitiu todos os empregados que possuíssem o gene meta-humano, mesmo existindo a Emenda que proíbe que empresas demitam funcionários por razão de sua cor, raça, escolha sexual ou genética. Essa demissão em massa ocorreu, coincidentemente, 15 dias depois ao acordo entre a LexCorp e as Indústrias Stark no ramo de inteligência artificial. Se você quiser chamar isso de coincidência...

—Muitos senadores não morrem de amores pelos meta-humanos.

—O problema, Perry, é quando um político utiliza sua aversão como trampolim de campanha. — Sheldon junta as mãos, pensativo. — Pensem em Adolf Hitler. Como ele chegou ao poder?

—Incendiando o Parlamento. — afirma Jameson.

—Sim, mas o povo poderia ter se rebelado. Mas não, ele ganhou o povo primeiro, ganhou a maioria ariana que vivia na Alemanha. Acendendo um fervor nacionalista jamais visto no pós-guerra, ele incitou as massas arianas contra a minoria judia, polonesa e russa. Ele justificou seus atos por dizer que fazia isso em prol do povo. Maquiou sua crueldade e falta de humanidade com patriotismo. As massas foram convencidas, e testemunhamos o maior massacre da História. Não estou dizendo que Stark se tornará Hitler... Mas ambos se utilizam do desgosto, do não-gostar que já existe dentro das pessoas, para ser benquisto.

Jameson olha pela janela, pensativo.

—Ele se aproveita de que já existe o preconceito contra mutantes, atiça-o por meio de discursos, e todos que não gostam de mutantes ficam do lado dele, como estes são a maioria, ele ganha um lugar no Senado. — o editor balança a cabeça. — Cruel, mas esperto.

—O inimigo de meu inimigo é meu amigo.

—Bem lembrado, Norman.

—Eu não entendo... — diz White, baixando a cabeça. — Ele é um herói. Ele nos salvou, e isso mais de uma vez. Junto com os Vingadores, protegeu-nos de uma invasão alienígena. Ele mesmo carregou um míssil nuclear nas costas para que Nova York não virasse um buraco gigante, e estava disposto a ir junto com ele para outra dimensão. Ele se sacrificou, se entregou por nós e...

Jameson o interrompe.

—Pare de falar assim, estou lembrando de Jesus...

—Não estou negando o que ele ou qualquer outro dos Vingadores fez naquela invasão. — explica Sheldon. — Estou colocando em cheque por que Stark usou isso para se promover. Jamais o desmereceria pelo que ele e sua equipe fizeram no ataque a Nova York, eu vi o que fizeram, eu estava lá. Mas isso não muda o fato de que, herói ou não, podemos sim duvidar das intenções de Tony Stark ao se eleger ao Senado, especialmente levando-se em conta quem o apoia e quem ele apoia.

—Se o problema é Lex Luthor...

—Sim, o problema é Lex Luthor. — diz Jameson, furtando uma batata frita de Sheldon, comendo-a e voltando a falar. — Não é segredo para ninguém que o homem é um ego ambulante, extremamente artificial, manipulador e maquiavélico, qualidades impressionantes para um moleque de 29 anos. Mas se quer saber, chamá-lo de víbora é um insulto às víboras.

—O problema de Lex sempre foi o Superman. — diz White. — Ele sempre viu-o como uma ameaça, pois todos amavam o Superman, ele era o maior herói de todos os tempos, e Lex detestava isso, pois sempre desejou a atenção para si. Mas agora que o Superman se foi, Lex pode se esbaldar como quiser, seu objeto de ódio não existe mais. Ele não é mais...

—Ele é um canalha dissimulado, que pensa tanto em si que vai acabar casando consigo mesmo. — Sheldon suspira, dando de ombros. —Não me admiraria se um dia ele inventasse de virar presidente. E ele não gosta de meta-humanos, já deixou isso bem claro em várias de suas aparições públicas.

—E Stark, agora travando relações com ele, está começando a trilhar o mesmo caminho. — Jameson levanta o charuto à altura dos olhos. — Se prestarem atenção nos discursos mais recentes dele, dá para notar sua aversão a mutantes, muito mesclada entre promessas de paz e beijos para as fãs, escondido como uma erva daninha. Não me admiraria se isso fosse por influência de Luthor ou mesmo de Kelly.

—Luthor é um gênio. — diz McCay. — Ele conhece finanças, conhece ciências, e mais importante, conhece a alma humana. Ele tem a capacidade de brincar com todos, mexer as peças, só podemos rezar para que, junto com Tony Stark, outro gênio...

—Bilionário, playboy, filantropo... — ecoa Jameson.

—Sim, muito bem... Só podemos rezar para que os dois juntos não estejam planejando nada.

—É claro que estão planejando... — diz Sheldon. — Esses caras inteligentes vivem entediados, e por causa disso vivem inventando sarnas para os outros ficarem se coçando. Como nós não somos gênios, temos de esperar para ver no que vai dar.

—Eu vou ser sincero... — suspira McCay. — Não duvido de mais nada desde o atentado em Gotham...

—Por favor, Norman, não me lembre disso. — implora White. — Aqueles mutantes nojentos...

—Nunca foi provado que foram realmente eles.

—Está defendendo meta-humanos, Jameson?

—Eles não estavam de máscara.

—Perdemos o único homem que poderia se levantar contra estes bilionários. — lamenta McCay.

Jameson levanta uma sobrancelha.

—Bem... Tecnicamente, nós não o perdemos...

—Seis anos... Seis anos e nenhuma melhora. Estamos condenados, senhores. Condenados.

—Um milagre pode acontecer.

—Não zombe de mim, Philip.

—Pense bem, nós estamos numa cidade controlada pelas grandes empresas, na verdade, num mundo governado por elas. Temos Luthor, Stark, Queen, Napier... — Sheldon respira fundo. —Wayne. Temos seres de todos os tipos nos cercando, com os mais variados ideais e ideias. Mesmo que alguns se unam com objetivos obscuros, alguém sempre se levanta contra eles, seja levantando-se de uma cadeira, uma sarjeta ou... De uma cama. Alguém sempre se opõe. Alguém sempre luta. Esperemos, meus amigos. O palco está pronto. As cortinas estão se abrindo. Hora do show.

Após esse pequeno discurso cheio de esperança, o ânimo dos quatro homens para conversar desapareceu lentamente. Eles se calaram, quem tinha lanches à sua frente os comeu, inclusive McCay, que finalmente fez as pazes com seu X-Bacon. Não ouve mais nenhuma conversa significativa após isso.

Perry White foi o primeiro a se levantar. Desejou sorte aos amigos, prometeu falar com seu superior sobre Kent, e assegurou Jameson de que o repórter estaria em Nova York antes da cerimônia de posse de Tony Stark, e da subsequente festa no Hotel Plaza.

Jonah Jameson se levantou pouco depois. Afirmou que queria andar um pouco e fumar mais.

Ao observar Jameson passar pela porta e caminhar pela calçada, Norman McCay sentiu uma melancolia estranha. Era como se soubesse que nunca mais poderia ter uma reunião social como aquela. Sentindo seu coração apertar, levou a mão ao peito, o que assustou Sheldon.

—Norman? Tudo bem?

—Tudo bem...

—Você não deveria ter comido todo aquele bacon, quer que eu chame...

—Não é o bacon, é... Tristeza. Sinto-me mal, como se algo ruim fosse acontecer.

—Você é muito sensível... Se mete tanto com essas coisas de espiritualidade que acaba por ficar sentindo coisas.

—Você é o repórter, acha que estou certo?

Sheldon arregala seu único olho, espantado.

—Eu não sei. Parei de tentar adivinhar as coisas desde que um projétil me furtou um olho. Não sei, Norman, não sei.

—Eu tenho medo, Phil. Somos tão pequenos... Tão frágeis.

—Norm, eu...

—Eles estão juntos. Todos eles. Se um se virar contra nós, os outros farão o mesmo. E não conseguiríamos resistir, nós somos... Vulneráveis.

—Vai ficar tudo bem.

—Tem certeza?

—Não.

Norman McCay contentou-se com a sinceridade do amigo, virando os olhos novamente para o mundo além da janela. Seus olhos se encheram de lágrimas, e seus lábios se abriram, murmurando um trecho do livro bíblico de Apocalipse:

“E juntaram os reis de toda a terra, para a guerra, para um lugar que em hebraico se chama Armagedom.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tenho que dizer, especificamente no fim deste capítulo, o quanto me sinto honrada por unir estas quatro lendas dos quadrinhos numa simples mesa de lanchonete. Era um sonho antigo fazer isso e... Como é gostoso!
Se por algum acaso vocês, queridos, não conhecerem algum destes homens, pesquisem por eles, achem suas histórias. Garanto que não vão se arrepender. E se conhecerem, bem... Vocês entendem por que gostei tanto de dar-lhes vida mais uma vez.
Milhões de beijos e até o próximo capítulo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Deuses Entre Nós" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.