Eu a conheci quando tinha onze anos, um rato de estimação e uma sujeira no nariz. Sempre achei que ela seria aquele tipo de pessoa que você quer a vida inteira do seu lado. E com o passar dos anos, fui tendo ainda mais a certeza de que isso aconteceria.

Apaixonei-me por aquela garota. Apaixonei-me pelos cabelos sempre cheios com um cheiro que me enlouquecia, pelo nariz que era meio achatado, por estar sempre enfiada nos livros, pelo jeito mandão de ser e pela forma que ela sempre ajudava Harry e eu quando precisávamos. Apaixonei-me pelo seu andar, pelo seu sorriso, pela forma como ela me olhava. Merlim... Encantei-me por aqueles olhos cor de chocolate que sempre brilhavam de forma intensa.

E foi com ela que descobri o poder da amizade, do amor, da coragem, do ciúme e do medo que eu sentia em pensar que ela poderia não ser minha.

Foram longos anos em que fui apaixonado por Hermione Jean Granger e muitos outros achando que ela nunca me veria além de amigo. Como estava enganado.

De acordo com Harry, eu parecia até mesmo uma garota.

Vivia sonhando com nós dois juntos e imaginando o quanto isso tudo seria perfeito. Eu tinha a certeza de que ela era a pessoa perfeita pra mim. Já idealizava nosso futuro juntos, com nossos filhos... Isso se eu tivesse coragem o suficiente pra me declarar pra ela um dia.

Tão de repente quanto a conheci foi como a perdi.

Em um dia estávamos nos divertindo com a arrumação do casamento de Gui e pensando sobre o que íamos fazer depois da guerra, e no outro estávamos no meio de uma missão.

A missão de procurar e acabar com as Horcruxes de Voldemort. Nós procuramos, achamos e acabamos com cada uma delas. Isso tudo dentre diversas outras coisas que aconteceram ao longo de um ano quase infinito.

Foram dias tristes, dias que nem tínhamos direito o que comer e dias que eu me detestava por não ser merecedor do amor dela.

Dias que eu achava que era melhor mesmo Harry ficar com ela. E por mais que ao longo desse tempo tenhamos passados muito mais momentos juntos, somente eu e ela, eu ainda não conseguia enxergar o que estava bem a minha frente.

Ainda me lembro das conversas quando Harry estava de vigia, ou quando eu acordava cedo demais e ia ajudá-la a fazer algo. Da vez em que dormimos de mãos dadas e de quando vimos o pôr do sol com sua cabeça encostada no meu ombro.

E eu tinha a certeza de que sempre que me lembrasse desses momentos, meu coração seria despedaçado ainda mais.

Finalmente o dia da guerra havia chegado.

Não sabíamos se estávamos prontos.

Só sabíamos que tínhamos que fazer. E que era tudo ou nada.

Eu precisava lutar pela minha família, por um mundo melhor e por um futuro que eu sempre planejei.

Precisava lutar contra essa guerra para que eu conseguisse abrir espaço pra batalha que acontecia no meu coração.

Estava em casa. Foi tudo o que pensei quando pisei novamente em Hogwarts.

E se foi em Hogwarts que a conheci, que virei seu amigo e que me apaixonei por ela, também foi em Hogwarts que a beijei pela primeira vez.

Não precisou que nenhum de nós dois disséssemos nada. Em um segundo estava falando sobre elfos e logo em seguida nos beijando. E como eu queria um vira-tempo pra poder repetir aquilo mais uma vez e salva-la do que aconteceu em seguida.

Ao mesmo tempo em que estava feliz e pronto pra seguir com a guerra adiante um baque aconteceu e me vi sem chão. Alguns comensais apareceram e vi meu irmão cair a alguns metros, morto. De repente, tudo começou a girar e a parecer como um daqueles filmes trouxas que rodam em câmera lenta.

A mão de Hermione se desprendeu da minha e eu não consegui mais sair do lugar, como um feitiço muito forte, que nunca tinha ouvido falar.

A última coisa que ouvi dela foi seu grito, chamando pelo meu nome...

E quando me se virei, acordando por uns instantes, vi que ela estava na minha frente. Seus olhos sempre vibrantes, agora já não tinham mais cor. Uma lágrima escorreu em seu rosto e sua pele agora era extremamente pálida.

Tudo o que consegui fazer foi amparar seu corpo antes que chegasse ao chão, e cair junto com ela.

O rosto do comensal sorria como uma criança que acabara de ganhar um doce. E ao invés de me matar também, simplesmente saiu daquele corredor, provavelmente sabendo que isso seria fácil demais.

—Hermione? Hermione por favor. Acorda e diz que está tudo bem. Por favor...

Não podia acreditar no que estava acontecendo. Ela estava morta. Estava morta em meus braços porque queria me salvar.

E nem ao menos tive a oportunidade de dizer que a amava e nem que queria passar o resto da vida ao lado dela.

­ —Eu te amo Hermione... Por favor.

Não me lembro direito o que aconteceu depois. Só me lembro de alguém me arrastando pra fora dali e me dizendo o tempo inteiro que tudo ficaria bem.

Mas sinceramente, não sei como tudo pode ficar bem!