Debaixo das Asas escrita por KariAnn


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Disseram-me que seria possível fazer uma peça teatral com esse conto. Achei que sim, seria uma boa ideia. Em todo caso, resolvi publicá-la aqui porque realmente gostei desse conto.



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Debaixo das Asas

Vê-se um rapaz pequeno que está em pé, ereto, olhando para uma vastidão branca. Sua expressão é de indiferença. Só, ele apenas está parado.

De mansinho, começa a sentir uma brisa a balançar-lhe os cabelos, e um aroma de mirra e glória aos poucos começa a entrar-lhe pelas narinas. Olha para o lado.

À sua esquerda O Homem o encara – está distante. O Homem de aparência reluzente, cujo corpo emana santidade e beleza, cujos olhos refletem a verdade e cuja presença inspira majestade e grandeza.

Ele sorri um sorriso sincero, como se fosse incapaz de ser de outro modo. Ele todo é bondade e paz, como se fosse mais que um homem; como uma essência, o bem personificado a encarar o rapaz, que é todo vazio.

O Homem estende sua mão, a chamar pelo pequeno que, agora, é um misto de surpresa e felicidade. Some-lhe do rosto a indiferença, e ele, sem esperar por mais nada, caminha em direção Àquele que lhe estende graciosamente a mão, como se a dizer que não temesse mais nada.

O pequeno, mais do que pegar Sua mão, O abraça como se sua vida fizesse mais sentido agora. Faz! Um alívio toma conta dele e toda tristeza que se acumulou no passado e construiu sua expressão vazia, sumiu subitamente; é a presença do Homem que expulsa toda a culpa, todo sentimento negativo, todo mal e tudo o que contribuí para apagar a felicidade daquele que agora se torna seu protegido.

O rapaz olha para sua direita. Não muito perto e nem muito longe, vê um homem que veste uma camiseta com um desenho do que parece um planeta – o mundo.

O mundo estampa no rosto um sorriso largo e ao seu redor há várias coisas que excitam a curiosidade do rapaz. São sedutores os olhos daquele homem e mais sedutor todas as coisas que ele possui; o pequeno quer conhecê-lo.

O Homem olha para o lado preocupado e, subitamente, o rapaz solta sua mão e caminha em direção ao mundo, que tem algo preso nas orelhas que o faz balançar a cabeça e movimentar os lábios.

Do rosto do Homem escorrem lágrimas. Está sendo abandonado? O rapaz, por sua vez, está muito interessado nas coisas que o mundo lhe mostra. São tantas coisas que parecem divertidas. É prazeroso!

O Homem, resignado, apenas aguarda o retorno do rapaz. E continua a aguardar. E continua a aguardar!

O mundo e o rapaz se divertem.

Subitamente, ao redor do pequeno, abre-se um enorme buraco. Assustado, ele olha para baixo. Um abismo, aparentemente sem fim, o cerca. E ele isolado num pequeno espaço de chão.

De um lado está o mundo, com seus itens prazerosos, de costas para ele; fugira sem ajudá-lo. E vai embora, sem mesmo lhe dirigir o olhar.

O rapaz senta, e chora. O abismo parece se alargar. Acima dele aparecem nuvens escuras. Cai água.

De repente, ele olha para o outro lado. Lá está o Homem. Um sorriso triste em Seu rosto. Lágrimas escorrem. As duas mãos estendidas em sua direção.

O rapaz quer abraçá-Lo novamente. Começa a se lembrar da paz que sentiu ao vê-Lo pela primeira vez; o cheiro de mirra... A bondade... O prazer... A segurança. Se ainda estivesse ao seu lado, aquele abismo, mesmo tendo se aberto em torno dele, não o amedrontaria porque o Homem estaria ao seu lado. As nuvens escuras sobre ele não o intimidariam, pois o Homem o protegeria. E não lhe viraria as costas.

O Homem... Os braços abertos para ele... Mas ele não pode abraçá-lo novamente, pois há um abismo entre os dois. Um abismo largo e sem fim. E a angústia o invade até a mente. E as lágrimas vertem abundantemente. E, em seu interior, ele pede por perdão.

O Homem sorri. Pronuncia a frase. “Eu te perdoo”. Pois ouviu seu coração amargurado Lhe pedir perdão. Pois conhece mais o pequeno do que ele mesmo se conhece. Pois o ama tanto que o perdão jamais lhe será negado. Pois todo Ele é misericórdia e benignidade.

Uma ponte de amor e graça surge, ligando aquele espaço isolado que era a prisão do pequeno, ao chão onde está O Homem com os braços estendidos, a ansiar pelo retorno daquele que é seu filho amado.

O rapaz não espera. Sente uma ânsia, sente uma sede, sente uma fome, sente uma necessidade... E corre em direção ao único que realmente o ama. E o abraça. E chora. E o exalta.

O Homem, que agora sorri, senta-se, o pequeno em seu colo o abraçando com todas as forças, o agarrando mais do que agarraria a própria vida. De Suas costas saem duas imensas asas que se fecham em torno dEle e de seu protegido.

Nesse momento, o pequeno tem a consciência dos atributos daquele que o abraça calorosamente; eternidade, imutabilidade, onipresença, soberania, verdade, misericórdia, graça, longanimidade, sabedoria, amor... E tantos outros.

Escondido debaixo das asas daquele que é seu Pai, a segurar sua mão, em seu coração ele pensa:

“Pai, segura minhas mãos. Se eu segurar, vou soltá-las novamente, mas se Tu segurares as minhas, sei que jamais soltarás. Mesmo que outro abismo se abra sob meus pés, estarei seguro, sustentado por Ti.”

O Homem ouve tudo o que ele diz no silêncio do seu coração. E sorri mais e mais.

Sobre ele foi derramado um óleo de unção, e escondido debaixo daquelas enormes asas protetoras, oculto nos braços do Homem, ele sentiu paz outra vez. Por isso, chama seu protetor de Shalom, que significa paz.

Habitarei no teu tabernáculo para sempre; abrigar-me-ei no esconderijo das tuas asas.

(Salmos 61:4)

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada!



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