Ascendente escrita por Jessy F


Capítulo 1
00| A flor e os espinhos


Notas iniciais do capítulo

| capítulo revisado |



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Muitas flores nascem frondosas em meio a espinhos com suas raízes fincadas em um terreno pedregoso. De maneira semelhante Scindet floresceu em meio à fome e a dor sendo regada pelas lágrimas de seus filhos.

Após bruscas mudanças climáticas, desastres naturais e guerras alimentadas por vingança e poder, a antiga Europa foi consumida pela destruição e alguns países conseguiram sobreviver recebendo assim o nome de remanescentes.

Possuidora de grande poder bélico e dona de toda a energia gerada na antiga Europa, os países remanescentes decidiram se unir a Rússia através de um acordo onde a antiga líder da União Soviética passaria a ser responsável pela reconstrução e bem estar dos remanescentes.

Contudo, não foi tão prático como parece.

No dia 1 de junho de 2057 houve um plebiscito a qual os habitantes europeus escolheriam entre a democracia ou o sistema monárquico. Tomados pelo medo de voltarem à destruição que os levaram a tal situação, mais de treze mil pessoas votaram pela monarquia. Desse modo, o território foi dividido em onze províncias respeitando as fronteiras de cada país. Seus nomes foram substituídos por números de acordo com a ordem de agregação de cada território ao sistema.

Autoridades anteriormente escolhidas pelo povo tornaram-se príncipes e receberam ajuda do rei para reconstruir suas províncias. E foi dessa forma que o reino se ergueu e cada uma das províncias manteve suas raízes individuais. O único país que não se juntou a monarquia foi a Moldávia, sendo nomeada de província zero. Seus habitantes migraram para outras províncias antes de alguns radicais moldavos se voltarem contra o rei.

Temendo que o dia 17 de julho de 1918* se repetisse, o governo foi obrigado a agir e apesar do derramamento de sangue, a paz voltou a habitar nas fronteiras de Scident.

Devido a isso, anualmente, os príncipes são convocados pelo rei a comparecerem a um encontro no Palácio Real para comemorarem.

Os três dias que se seguem durante a estadia dos príncipes são regados por boa bebida, excelente música e saborosa comida. Porém, as comemorações não servem apenas para celebrar a paz, mas também é a oportunidade dos príncipes manterem uma boa relação com o rei e pedir favores a ele.

Aleksei Koening, o quinto rei de Scindet, era tido como um dos mais poderosos de sua linhagem. Ele tinha os punhos de ferro do seu bisavô e o carisma de sua mãe e guiava as comemorações em Kor, o coração de Scident, a charmosa capital da província um. Os convidados estavam satisfeitos e o rei estava pronto para o seu último compromisso oficial antes de fechar os portões do palácio.

O banquete de despedida já aguardava os príncipes que logo voltariam para suas províncias cheios de entusiasmo e novas ideias.

Inesperadamente, Aleksei chegou ao salão com a mesma simpatia dos dias anteriores, mas desta vez sem a rainha ao seu lado. Por mais estranho que a situação parecesse para os príncipes, o almoço correu como o planejado e ao cair da tarde não havia mais nenhum visitante na residência real.

Acompanhado pelo seu conselheiro, Aleksei deixou o salão real e foi até a sala de conferências onde Irina, a rainha, o aguardava ao lado de sua guardiã.

— Eu espero que vossa majestade real seja justo. — a guardiã falou ao vê-lo entrando na sala.

— Selena, você sabe como a constituição funciona. — Aleksei retrucou ao colocar seus olhos em Irina.

A rainha que um dia encantou seus olhos não parecia mais a mesma. Os longos cabelos loiros dela escondiam as bochechas rosadas do seu fino rosto e também cobriam a mancha de vinho sobre o tecido cintilante que deslizava pelo seu ombro esquerdo.

— Acredito que tudo não passa de um mal entendido.

— Selena, deixe ela falar. — ele respirou fundo.

A ruiva pegou as mãos pálidas de Irina e sussurrou algo em seu ouvido que a fez levantar a cabeça. Seus olhos azuis tentavam evitar Aleksei, mas quando o rei sentou em uma cadeira na sua frente, evitá-lo não era mais uma opção.

— Pode começar. — o rei cruzou as pernas e pousou suas mãos sobre a mesa de mármore que separava os dois.

— Você havia saído para uma reunião na América. — ela começou chorar e Selena a abraçou. — Eu estava carente e acabei me apaixonando por ele, mas não era para você ter descoberto dessa maneira! Armaram para mim!

— Há quanto tempo? — ela se manteve em silêncio. — Há quanto tempo?! — Aleksei bateu a palma da mão direita sobre a mesa. Seu rosto estava vermelho e uma de suas veias saltou em sua testa.

— Três meses. — ela falou entre soluços desesperados.

— Você sabe melhor do que ninguém o que combinamos antes de assinarmos o contrato de casamento. — ele respirou fundo para tentar retomar o seu controle. Apesar de o esforço parecer em vão.

— Eu sei. — ela escondeu o rosto entre as mãos. — Desculpa.

— Não estou nenhum pouco curioso no seu interesse amoroso. — ele tirou a aliança do dedo e sentiu suas orelhas esquentarem. — Afinal, você sabe o que sente e tem total responsabilidade sobre a sua vida. — ele expirou pela boca.

— Você não está bravo por causa do Bruce?

— Porque escolheu mentir para mim? — ele se levantou ignorando a pergunta de sua rainha.

— O que vai fazer com ela majestade? — Selena intrometeu-se. Ela sabia que Aleksei não daria a pena de morte, mas temia que ele estivesse sendo movido pela euforia da traição.

— Você ainda pode confiar em mim. Foi apenas uma falha. Eu garanto. — Irina finalmente levantou e encarou os olhos de Aleksei. — Isso não vai mais acontecer.

— Não tenho confiança em você. Se você mentiu sobre um caso, pode mentir sobre qualquer coisa.

— Você me conhece Aleksei, sabe que não é assim.

— Irina, você está destituída do cargo de rainha e tem setenta e duas horas para encontrar um lugar para morar. — ele caminhou até a porta e parou antes dela ser aberta. — Em breve meu advogado lhe dará os papéis de divórcio e fará um acordo justo com você. — Irina voltou a chorar — Quanto a você Selena. — ele virou a cabeça e olhou para a guardiã. — Está livre para escolher. Pode ir com Irina ou ficar.

— Obrigada majestade.

As portas se abriram e Aleksei olhou para o seu conselheiro.

— Precisamos encontrar outra rainha o mais rápido possível.

 

—___________________________________________

* Dia da execução dos Romanov, a família real russa, comandada pelos bolcheviques.


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